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NO CORAÇÃO DO MAR (In the heart of the sea)



Por Tiago Lira

Uma história com um personagem tão grandioso parece ter sido feita para ser apresentado na tela do cinema. No Coração do Mar é uma produção visualmente arrebatadora, assim como o seu design de som e tantos outros elementos como a fotografia e o design de produção. A base para a história de Moby Dick é de uma época nefasta, que dava glórias em caçar esses seres tão belos. Na narrativa, Ron Howard conta aventuras, soberbas, desesperos e redenções, pintando a tela do cinema como uma pintura bucólica e triste na maior parte do tempo. Se era melhor contar o mito à realidade, como diz o ditado popular, fica a cargo do espectador. Agora, por causa da popularidade do cinema, podemos ter os dois.

Howard monta um cenário muito rico visualmente na visita de Herman Melville (Ben Whishaw) a Thomas Nickerson (Brendan Gleeson). Um está buscando inspiração para a história que viria a ser Moby Dick; o outro, não querendo contar essa história, se esconde por trás de garrafas vazias que estão assim pelo fato do marujo beber todas, para depois transformá-las em arte com os navios em miniatura que coloca dentro delas. Interessante que, simbolicamente, Nickerson guarda sua vida dentro das garrafas, assim como esses pequenos navios, a ponto de não compartilhar suas experiências com ninguém, nem mesmo a esposa (Michelle Fairley).

Dividindo com eficácia os três atos da história, Howard leva a audiência junto com o Essex nos seus momentos de glória e desespero. Sabendo que o interessante é a aventura no mar o roteiro leva pouco tempo em solo, apenas o suficiente para conhecermos os motivos de Owen Chase (Chris Hemsworth) e George Pollard (Benjamin Walker) tem para embarcar e, eventualmente, voltar para casa. Owen será pai logo e tem que aceitar outro trabalho como imediato por causa de uma promessa quebrada. George se torna o capitão do Essex tão somente por seu nome. O diretor frisa bem a diferença entre os personagens quando percebemos as cicatrizes e marcas que Chase carrega em oposição ao seu capitão de cara mais limpa.

O início então é mais lento, como deveria ser uma longa jornada mar à dentro, o que dá tempo de incluir algumas tomadas inexpressivas como os donos da nave observando seu negócio velejando para longe. Um problema bem grave e que acompanha não só esse início, mas praticamente toda a história, é a música de Roque Baños. Não por não ser marcante, mas por estar presente em praticamente todos os momentos da narrativa. Durante os quase 120 minutos de projeção, a trilha do compositor espanhol não sairá dos seus ouvidos, mostrando que não se soube usar o silêncio, o que também é culpa de Howard.

Voltando aos temas visuais, a fotografia de Anthony Dod Mantle traz oposições nos diferentes mundos. Usando uma paleta de cores variada, que passa do dourado até o cinza, o diretor de fotografia conta a história também por cores. Num dos extremos vemos cores fortes na casa de Owen e sua esposa, o mesmo tom de quando a tripulação está no mar e consegue sua primeira caça. No meio do caminho há um tom ainda amarelado, porém pálido, que aparece no marasmo do Essex ficar meses sem avistar uma baleia sequer. Já o cinza está predominantemente na cidade tão avessa a Owen.


E é importante mencionar que até metade do filme não conhecemos a protagonista – contada do ponto de vista do jovem Nickerson (Tom Holland). A Grande Baleia branca é representada como uma verdadeira força bruta da natureza. Apesar da cor predominante clara, os responsáveis pelo seu design deixaram marcas que lembram camuflagem, como se ela estivesse preparada para a guerra. Além das várias feridas que apresenta ao longo do gigantesco corpo. E é impossível deixar de notar como esse episódio influenciou o jeito de contarmos histórias até hoje. Além de inspirar o próprio Herman Melville a escrever seu livro mais famoso, podemos encontrar ecos até mesmo em filmes como Rambo – a frase do filme de Stallone “é ele que está nos caçando” tem inegável inspiração na epopeia da destruição do Essex.

Celebrando algo odioso – a glorificação é errada, mas é um retrato da época – e escorregando em tornar os personagens mais carismáticos No Coração do Mar se destaca menos que o conto que inspirou. Os detalhes da produção valem a pena ser apreciados e serve também de estudo de um estudo de caso enquanto ouvimos um papo marítimo que parece realista e alguns detalhes da extração do óleo de baleia. As partes mais interessantes ficam por conta dos ataques do cachalote, sem dúvida. É uma pena que o visual supere a história em si, que perde um pouco de credibilidade até quando insiste em adiar a decadência do visual de um personagem que ficou meses à deriva apenas pela conservação da sua imagem de galã. Não é exatamente uma depreciação, mas ficou menos cru e realista que o resto do filme tanto pregou.


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O CLÃ (El Clan)


por Beto Besant

Como diz um famoso slogan: "Quando a realidade supera a ficção, está na hora de fazer documentário"O novo filme do cineasta argentino Pablo Trapero conta uma história tão absurda, que se não fosse baseada em fatos verídicos, iriam acusar de inverossímil. E se fosse então uma produção nacional, aí sim que acusariam de não fazer o menor sentido.

O Clã conta a vida de uma família tradicional, com crianças pequenas e filhos adolescentes cujo patriarca  - Arquímímedes Puccio (Guillermo Francella) - é um militar que pratica sequestros e mata após o pagamento do resgate. E tudo sob a conivência do governo e polícia local num período em que a ditadura militar havia acabado muito recentemente na Argentina (início dos anos 80).

São tantos pontos assustadores que até fica difícil definir qual o mais grave. Por exemplo: os sequestrados são pessoas mais abastadas do convívio da família. E se já é preciso ser bastante frio e calculista pra cometer um sequestro (seguido de morte), mais grave ainda quando tudo isso acontece com pessoas que se tem uma certa "amizade".


Outro fato assustador é que o cativeiro seja o quarto de hóspedes da própria residência. O diretor apresenta muito bem isso numa cena em que a família assiste TV enquanto ouve-se gemidos vindos do quarto.

Uma história tão assustadora foi muito bem roteirizada e dirigida por Trapero que consegue mostrar as contradições da família tradicional, religiosa e carinhosa sem didatismo e formar um elenco coeso, liderado pelo comediante Francella. Com uma bela montagem, seu ritmo consegue manter a tensão do espectador durante todos os seus 110 minutos. É muito interessante ver - ao final do filme - imagens dos personagens reais e saber o que aconteceu com cada um.

Com o espanhol Pedro Almodóvar como coprodutor, O Clã atingiu a segunda maior bilheteria do cinema argentino e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Trata-se de cinema argentino da melhor qualidade, como costumam ser o filmes argentinos que chegam por aqui. Mas apesar de todos os méritos, O Clã é interessante porém está longe de ser sensacional.


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MACBETH: AMBIÇÃO E GUERRA (Macbeth)

por Antonio Carlos Egypto

Macbeth é uma das mais importantes peças de William Shakespeare (1564-1616). Escrita provavelmente entre 1603 e 1607, foi apresentada pela primeira vez nos palcos em 1611. E é continuamente reencenada em todo o mundo. Agora mesmo, em São Paulo, há uma montagem teatral de Macbeth em cartaz, até o final de janeiro de 2016, dirigida por Ron Daniels, com Thiago Lacerda e Giulia Gam nos papéis principais.

No cinema, Macbeth já foi filmada por mestres da sétima arte, como Orson Welles, em 1948, ou Roman Polanski, em 1971. Akira Kurosawa também a adaptou, no filme Trono Manchado de Sangue, em 1957. Temos, em 2015, uma nova versão cinematográfica, que vem do Reino Unido, sob a direção de Justin Kurzel e que faz jus à importância e ao significado cultural que Macbeth ostenta.

A nova versão é bem sofisticada em termos visuais. Explora a baixa luminosidade de largas paisagens escocesas e envolve as batalhas em densa neblina. Esse clima, onde prevalecem as brumas, dá conta da escuridão de sentimentos que acompanha a matança pelo poder. E não só a das batalhas, mas a de todo o reino, que se mantém e se renova pela violência. 

Se é de sangue que se trata, o filme explora, em belos enquadramentos, cenas em vermelho. Sombrio, mas também luminoso. O recurso da câmera lenta e do congelamento da imagem evita que um excesso de sangue se exponha desnecessariamente. E simplifica a filmagem de algumas cenas de batalhas.


Silhuetas se destacam no cinzento da névoa, no entardecer, no cromatismo rouge. A chuva cumpre seu papel na plasticidade dos planos retratados.

Bruxas, que aparecem e desaparecem, conduzem a história por meio de seus presságios e antevisões, que falam da conquista de grandes poderes e de elementos aparentemente mágicos que podem trazer derrotas. Os personagens construirão com planejamento, artimanhas, medo e espadas, os vaticínios das bruxas.


Por poder se mata, se mente, se deteriora o humano. Onde estarão os limites, pergunta Shakespeare? Nada mais atual.

Macbeth, bem interpretado por Michael Fassbender, grande ator contemporâneo, e Lady Macbeth, pela versátil atriz francesa Marion Cotillard, protagonizam o trágico casal real que atravessou séculos de história para nos contar da íntima conexão entre poder e violência e das terríveis consequências que advêm deles. O que, infelizmente, testemunhamos todos os dias neste atormentado século XXI.


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TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS

por Beto Besant

Nova produção da Gullane, Tudo que Aprendemos Juntos é uma clara tentativa de fazer cinema popular mas que também agrade aos festivais. Para isso, convidaram seu principal parceiro, o diretor e roteirista Sérgio Machado e a renomada autora de novelas Maria Adelaide Amaral para que fosse adaptada a peça teatral Acorda Brasil, do empresário Antônio Ermírio de Moraes.

Também assinam o roteiro o cineasta Marcelo Gomes e a roteirista Martha Nehring.

Na trama, Laerte (Lázaro Ramos) é um violinista virtuose que - após ser reprovado na audição para a orquestra da OSESP - é "forçado" a dar aulas na Comunidade de Heliópolis para poder pagar suas contas. O professor tem um choque imediato ao deparar-se com aulas ministradas numa quadra ao ar livre, com o baixo nível técnico dos alunos, com a falta de educação e modos deles e com o desrespeito com que tratam a si mesmos e ao professor.

Como não poderia ser diferente, aos poucos o grupo vai se afeiçoando ao mesmo tempo em que os problemas da vida na favela invadem e dificultam o aprendizado.

Partindo do clichê filme de professor que leciona para alunos pobres e de realidade violenta, Tudo que Aprendemos Juntos consegue escapar de parte deles. O primeiro deles deve-se ao fato do professor não ser um idealista (na verdade, Laerte não quer lecionar e passa a detestar quando vê as condições que terá que enfrentar). Apesar do desfecho melodramático, o filme foge do clichê felizes para sempre.


A escolha de Lázaro para o papel faz com que seja impossível dissociar o personagem ao clássico Ao Mestre com Carinho (1967). Apesar de não estar brilhante, o ator está bem. A direção de Sérgio Machado também é competente, pois além de desviar de alguns clichês, consegue ser mais "sóbrio" evitando o melodrama óbvio. 

O elenco de "não atores" e de atores iniciantes é bem coeso e interessante. O trabalho de preparação de Fátima Toledo - que durou um ano - mais uma vez obtém um bom resultado.

Se o roteiro de Tudo que Aprendemos Juntos possui alguns problemas, também possui o mérito de não demonizar a criminalidade nem colocar favelados como "coitadinhos" ou os mais abastados como vilões.

O diretor conta que optou por filmar em película (segundo o produtor Fabiano Gullane, o último filme da América Latina feito de maneira analógica) a pedido do diretor de fotografia Marcelo Durst. Dessa forma, o resultado foi uma fotografia mais "crua" e escura - da forma que havia pedido o diretor - pois ele explicou que na favela há pouca iluminação.

O filme ainda tem as participações dos cantores Criolo e Happin Hood, que não comprometem.

Em tempos onde todos estão acostumados à textura do digital, é interessante poder voltar a ver um filme em película.


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DOIS AMIGOS (Les Deux Amis)


por Antonio Carlos Egypto

Louis Garrel talvez seja o jovem ator francês de sua geração (em torno dos 30 anos de idade) de maior sucesso no mundo do cinema. Agora ele, além de atuar, dirige seu primeiro longa-metragem. E veio ao Brasil para divulgá-lo. É Dois Amigos, um filme sobre relacionamentos humanos que se mostram complicados porque há segredos, subentendidos, falta de sinceridade e medo, nos contatos. Na base deles está o desejo, a possibilidade do envolvimento amoroso e o que, por algum motivo, não pode acontecer.



A temática, claro, tem tudo a ver com a herança da nouvelle vague. O jeito de filmar, cool e próximo dos personagens, também. Afinal, Louis é filho do grande cineasta Philippe Garrel, com quem trabalhou como ator em filmes que retratam as muitas formas de vivenciar o amor e seus problemas, como Amantes Constantes (2005), Fronteira da Alvorada (2008), Um Verão Escaldante (2011) e Ciúme (2013). 

Ator frequente também em filmes de Christophe Honoré, Louis Garrel divide com ele o roteiro de Dois Amigos. Honoré costuma trabalhar com personagens em busca de amor e afeto, mas um tanto estranhos e desencontrados. Ou bizarros, para ficar num termo frequente em língua francesa. Em Paris (2006), Canções de Amor (2007), A Bela Junie (2008) e As Bem-Amadas (2011) são exemplos de filmes que Honoré dirigiu, tendo Louis Garrel no elenco.


A experiência do ator e essas influências são muito positivas no que se vê em Dois Amigos. O filme se centra em dois personagens masculinos bem construídos. Frágeis, carentes, dependentes um do outro e com uma alma feminina, convivem com uma mulher forte, intensa e algo misteriosa, que luta para sobreviver, enquanto aguarda sair da prisão. Já está em regime semiaberto, trabalhando fora, mas isso ainda limita muito sua vida. O papel é da atriz iraniana Golshifteh Farahani, que já mostrou seu talento em filmes como Procurando Elly (2010), no Irã, e em Pedra de Paciência (2014), no Afeganistão. Ela vive na França e nem pode pensar em voltar a seu país de origem, depois que posou nua para uma revista. A propósito, ela está linda e sensual em Dois Amigos, é o grande destaque do filme. Uma estrela.

Além de Louis Garrel, que consegue dar conta de dirigir e atuar, está no filme Vincent Macaigne, o amigo, em belo desempenho. Ambos girando em torno da figura marcante da jovem mulher que, na prática, comanda as ações e dá luminosidade ao filme.




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BEM CASADOS


por Beto Besant

O mercado de comédia nacionais divide opiniões: o público adora, por outro lado os mais puristas criticam a qualidade de seus roteiros e falta de originalidade. Nada que não acontecesse nos áureos temos de Atlântida versus Vera Cruz.

Lançado sob a chancela de "comédia" - talvez para aproveitar o bom momento das atuais bilheterias do gênero - Bem Casados se enquadra mais na categoria Comédia Romântica.


A mais nova produção do cineasta Aluízio Abranches (de Um Copo de Cólera de 1999 e Do Começo ao Fim de 2009) conta a história de Heitor (Alexandre Borges) - um fotógrafo de casamento conquistador e solteirão convicto - que conhece "quase" por acidente a personagem Penélope (Camila Morgado) - uma solteirona e independente que busca vingança de seu ex-amante, ao impedi-lo de se casar. Obviamente, surgirão muitas confusões causadas pelos protagonistas apoiados por Alice (Bianca Comparato) - fotógrafa da equipe de Heitor, e Lili (Letícia Lima) - empregada doméstica de Penélope que age como se fosse a patroa.

O filme é bastante irregular, desenvolvendo subtramas dispensáveis - como a participação de Cristine Fernandes no papel de um ex-romance do protagonista - e um casal que não convence: Alice e Fernando (Fernando São Tiago). A fotógrafa tem um jeito masculinizado que deixa dúbia sua sexualidade, bem como seu par romântico, que interpreta um garçon que entra para a equipe mas numa cena em que ensina o ofício a outro garçon sugere "algo a mais" entre os dois.

Outro problema é o subaproveitamento de Letícia Lima, que tem uma pequena participação mas faz com que o filme ganhe novo brilho a cada cena sua. Camila Morgado está muito bem num papel cômico porém não caricato, assim como Alexandre Borges (num personagem ao qual está mais habituado).

Bem Casados fica no limiar entre comédia e comédia romântica, e teria sido melhor se o diretor (que também assina o roteiro ao lado de Fernando São Tiago) tivesse se definido pela segunda opção.

O filme parte de uma premissa interessante mas perde-se no seu desenvolvimento, deixando passar a oportunidade de abordar, por exemplo, as dificuldades que os profissionais de casamento enfrentam com contratantes que não separam um local para se estabelecerem, não se preocupam com sua alimentação e coisas do tipo. Algo que, vindo de um roteirista e diretor que tem um passado como fotógrafo de casamento, seria de se esperar.

Apesar de não ser um grande filme, é bem agradável de se assistir e um grande lançamento: 450 salas em todo o país.


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CALIFÓRNIA


por Beto Besant

A cineasta Marina Person - mais conhecida pelos jovens como VJ nos tempos áureos da MTV - apresenta seu primeiro longa-metragem de ficção e mostra que o sangue dos Person (é filha do cultuado cineasta Luiz Sérgio Person) possui talento hereditário para cinema.

Califórnia conta a história de Estela (a estreante Clara Gallo), uma adolescente que tem em seu tio Carlos (Caio Blat) - um repórter e correspondente musical - sua maior referência, com quem sonha conhecer a Califórnia, onde Carlos mora. Seu pai (Paulo Miklos) é um militar que a cria com a rigidez da profissão. Sua ida ao exterior é adiada por conta da vinda do tio para o Brasil.

Obviamente, um filme sobre adolescentes não poderia tratar de outro assunto senão as primeiras paixões da garota e dificuldade em se relacionar com o mundo. Aqui ela se divide entre sua paixão por Xande (Giovanni Gallo) e JM (Caio Horowicz). O primeiro faz o tipo "galã pegador" e o segundo o tipo "exótico e alternativo".

A trama é toda ambientada na década de 80 e fica impossível não buscar elementos autobiográficos, uma vez que se passa na época em que a diretora era adolescente e a inegável semelhança dela com a atriz.

Para quem viveu os anos 60 é impossível não sentir-se saudosista ao ouvir hits da época de bandas como The Smiths, David Bowie, The Cure, Titãs, Kid Abelha, Metrô, Blits, entre outros.

O filme é bem dirigido e Marina extrai boas interpretações de Clara Gallo e Caio Horowicz - premiados respectivamente nos festivais Mix Brasil e Festival do Rio - mas é Caio Blat que brilha em sua interpretação contida e delicada, nunca indo para o caricato. A cada aparição do ator o filme cresce, e fica nítida a sensação de subaproveitamento de seu talento.

Califórnia é uma bela experiência de se abordar a adolescência, e se não evita todos os clichês, escapa de boa parte deles. Apesar de estar longe de se tornar um ícone do gênero - como é o caso do filme As Vantagens de Ser Invisível (2012) - ainda assim é um filme delicioso de se assistir e merece muito ser visto. 


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Coletiva de imprensa: A FLORESTA QUE SE MOVE

Veja como foi a Coletiva de Imprensa do filme A Floresta que se Move. Com os atores Gabriel Braga Nunes, Ana Paula Arósio, Nelson Xavier, Fernando Alves Pinto, o diretor Vinícius Coimbra e a produtora Elisa Tolomelli.


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Entrevista: DEPOIS DE TUDO

Beto Besant entrevista os atores Otávio Müller, Felipe Cardadeiro e Maria Casadevall, do filme Depois de Tudo.


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OS 33 (Los 33)


por Beto Besant

Desde o início do cinema que histórias de comoção nacional são alvos preferidos de diretores e produtores, quando alcança repercussão internacional então, torna-se irresistível.
Dirigido pela mexicana Patricia Riggen, o filme conta a história dos 33 operários soterrados numa mina do Chile em 2010. 

Como seria impossível se aprofundar nas histórias de todos os operários, o roteiro destaca Mario Sepulveda (Antonio Banderas), o líder dos operários, Maria Segovia (Juliette Binoche), irmã de um dos operários, e Laurence Gouborne (Rodrigo Santoro), ministro que luta para que os mineiros sejam salvos.

Com todos os elementos pra se construir uma boa trama, a diretora não consegue ir além do mediano. Se por um lado, tem bons atores encabeçando a história, por outro, a presença deles eleva muito o custo a produção, fazendo com que optassem por fazer o filme todo falado em inglês com um sotaque que "lembre" o espanhol. Isso para facilitar a distribuição ao mundo todo.

A barreira da língua faz com que fique impossível se identificar completamente com a história, uma vez que soa falso o tempo todo.


A melhor "sacada" do filme foi apresentar uma última refeição - fazendo alusão à Última Ceia - onde uma espécie de alucinação faz com que cada um veja seu maior desejo. Uma cena bastante poética em contraponto à dura ralidade dos personagens.

Também faltou uma mão mais "pesada" da diretora, ou um diretor com estilo mais autoral. Talvez o formato ideal para a história fosse uma minissérie, assim seria possível desenvolver melhor a história de cada um dos operários.

Uma ideia interessante foi de apresentar imagens dos mineiros verdadeiros ao final do filme. Apesar de Os 33 ser bem "palatável", de belas atuações e produção cuidadosa, é um filme para se esquecer pouco após sua exibição.


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PONTE DOS ESPIÕES (Bridge of Spies)


por Tiago Lira

Uma das magias da arte do cinema é ser universal, ainda que certos personagens e histórias não falem exatamente sobre nós. Quase sessenta anos nos separam dos eventos Ponte dos Espiões e da Guerra Fria. Milhares de quilômetros entre o nosso país e os envolvidos naquele conflito. Ainda assim, podemos achar paralelos e perceber que a história tende a se repetir. Vivemos num mundo de extremos, onde parece que se você não está do nosso lado é automaticamente tachado de uma dezena de termos depreciativos. Essas posições polarizadas deixam pouco espaço para o diálogo, criando uma cortina de ódio perigosa e talvez sem volta. Olhar o outro lado e perceber que estamos lidando com pessoas é a maior mensagem do novo filme de Steven Spielberg, um dos maiores fãs da humanidade.

O diretor não perde tempo com rodeios e nos primeiros minutos de projeção sabemos sem sombra de dúvida que Rudolf Abel (Mark Rylance) é um espião. Essa decisão coloca a audiência, pelo menos nos primeiros momentos, numa luta de nervos contra a decisão do advogado James Donovan (Tom Hanks) de não só defende-lo, mas de ir às últimas consequências por uma convicção. Nada disso é simplesmente jogado na tela por Spielberg e pelo trio de roteiristas, mas é traçado em poucos momentos. Na primeira cena vemos Abel pintando um autorretrato mostrando não só sua veia artística, mas como um homem que está conhecendo a si mesmo. James é apresentado como alguém firme e seguro de si, observador e engraçado – tudo isso em menos de cinco minutos com poucas e precisas linhas de diálogo.

Percebemos que Jim também sabe da origem de Abel e que luta com sua fibra contra o senso comum de culpa-lo sem um julgamento justo. Ele próprio vivendo numa sociedade polarizada hesita por um curto momento em aceitar o caso, mas a batalha interna não é nada comparada com a externa. Jim, um homem que serve a lei, tem que ouvir de outras esferas da sociedade que ele estaria fazendo alguma coisa errada: um juiz, um policial e a própria família está repetindo uma propaganda sobre o medo de um ataque nuclear vindo dos seus inimigos. O que é uma crítica monstruosa de como o Estado pode segurar seu povo dentro de uma bolha de perigo constante.

Spielberg coloca diversos paralelos na história e os aplica na narrativa tanto por meio da montagem de Michael Kahn e raccords para ligar e contrapor certos momentos. No primeiro julgamento o diretor mostra Jim e Abel (e toda a corte) se levantando à presença do juiz do caso, enquanto algumas crianças na escola do filho do advogado fazem o mesmo movimento para saudar a bandeira americana. Em outra situação, Jim é mostrado entrando na Suprema Corte enquanto no outro campo de batalha Powers (Austin Stowell) embarca na sua aeronave de reconhecimento. Por meio desse elemento fílmico, Spielberg faz a junção de dois momentos que são ideologicamente estejam separados, mas que tratam da mesma coisa: uma crença.

Esse é um filme bem direto e, como já é a assinatura de Spielberg, muito humano. Assim como fez com Oscar Schindler o diretor ousa, por assim dizer, defender outro inimigo jurado dos EUA. O comunista e espião tem medos e receios, se preocupa com seu advogado verdadeiramente e é mostrado frágil – porém, não idiota. Quando o FBI invade o apartamento onde Abel está trabalhando, em meio à certa truculência, o russo está praticamente sem roupas decentes e sem os dentes. É nessa fragilidade que Spielberg continua mostrando o destino de Abel e no que Jim se segura para fazer a coisa certa. E esses três personagens – Jim, Abel e Powers – não são tão diferentes um do outro. Eles se mantêm naquilo que acreditam.

É um ponto de vista diferente. Filmes do período da Guerra Fria tem sido raros – apesar de O Agente da U.N.C.L.E também ser de 2015 – então vale a pena experimentar o que Spielberg nos trouxe. Nos perdemos junto com Jim na Alemanha Oriental, ao ponto de o estúdio não legendar as falas em alemão. Apesar da língua ser a 10ª mais falada no mundo, quantas pessoas você conhece que são fluentes nela? Assim, temos que nos orientar com a pouca experiência da língua que o advogado tem. Aliás, a mudança de foco aparece também em fatos poucos vistos por nós como o desejo de reconhecimento da República Democrática Alemã – RDA – ou a construção do muro de Berlim, já que o mais comum é o vermos já levantado.

A produção consegue em certos momentos ter uma leveza, mesmo que não durem muito. Os minutos iniciais com Jim aprontando para que o assistente não leve sua filha para sair, a perplexidade na diferente Berlim Oriental com bicicletas nos corredores ou a constante preocupação com a falta de preocupação de Abel são momentos que trarão sorrisos ao rosto da plateia. Em oposição é um filme bem sério no campo político. A fotografia de Janusz Kaminski usa cores frias tanto nos encontros de Jim com Abel quanto na congelante Berlim. Há outras cenas marcantes que valem a pena serem lembradas, em especial a do tiroteio que Jim presencia nos limites do muro e depois a tensão representada pela figura de duas duplas de atiradores de elite.

Ponte dos Espiões funciona tanto como retrato de uma época quanto a representação de que se algo é justo e certo para um, deve ser assim para todos. Há momentos de emoção e revolta, outros que deixam no ar a pergunta de como duas nações tão poderosas influenciaram negativamente o mundo, mostrando como o medo é uma arma eficaz. Longe de ser um filme de guerra nos moldes clássicos, tão pouco um de júri, é uma produção que veio em boa hora, considerando essas discussões acaloradas que hoje vemos. Pode servir para aprendermos a nos entender e discutir ao invés de agredir.


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EU ESTAVA JUSTAMENTE PENSANDO EM VOCÊ (Comet)


por Beto Besant

"Em briga de marido e mulher, não se mete acolher". Como sugere o velho dito popular, histórias de casal não são interessantes e deve-se manter distância.
O filme Eu estava justamente pensando em você trata-se justamente de uma DR (discussão de relacionamento) de quase duas horas de duração.

Para nossa sorte, aqui temos uma agradável experiência, onde uma história simples  - que é o período de início ao fim de um namoro - é o que conduz a narrativa de forma leve e inteligente.



O filme do estreante Sam Esmail tem praticamente só dois personagens - os outros aparecem rapidamente e sem nenhuma grande relevância - e conta a história de Dell (Justin Long), que vai a um evento onde as pessoas irão assistir a passagem de um cometa. Quase é atropelado por um carro e é Kimberly (Emmy Rossum) quem o salva. A tensão sexual entre ambos surge instantaneamente, mas ela está com seu namorado, um bonitão que não tem "muito o que dizer". Daí em diante passamos a acompanhar o relacionamento do casal ao longo de três anos. A partir daí, o filme apresenta paralelamente quatro momentos importantes do casal: o dia em que se conheceram, uma discussão por telefone, uma viagem a Paris e um encontro casual no trem.


O que tinha tudo pra ser um filme chato e arrastado, resulta num filme interessante graças aos diálogos inteligentes, à montagem ágil e fora de ordem cronológica, e à fotografia esmerada e cuidadosa, que subverte regras fotográficas, colocando os personagens no canto do quadro, na maior parte do tempo, dando a sensação de desequilíbrio, sufoco e instabilidade.

A sensação de desequilíbrio é tanta que os atores - que tem características físicas que em muito lembram filmes latino-americanos - causam estranhamento por viverem Estados Unidos e falarem inglês. Algo como se fosse um filme argentino dublado em inglês.

Não é um filme extremamente palatável, mas vai agradar aos que preferem filmes mais cerebrais e de casais. Tem grande chance de se tornar cultuado pelos casais como aconteceu com Closer (Mike Nichols, 2004).



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Entrevista: OPERAÇÕES ESPECIAIS

Beto Besant entrevista os atores Cleo Pires, Thiago Martins, Fabrício Boliveira e o diretor Tomás Portella - do filme Operações Especiais.


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Coletiva: OPERAÇÕES ESPECIAIS

Veja como foi a Coletiva de Imprensa do filme Operações Especiais, acontecida dia 5/10 em São Paulo.
Presença do diretor Tomás Portella e dos atores Cleo Pires, Thiago Martins, Fabrício Boliveira e Antonio Tabet.



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HORAS DE DESESPERO (No Scape)


por Tiago Lira

Há uma mistura de sentimentos depois de assistirmos Horas de Desespero, uma sensação que está ao alcance de um braço, mas ainda fica difícil de notar. Ainda que seja uma produção embalada nos mesmos moldes dos filmes de ação, o diretor John Erick Dowdle consegue afastar seus personagens de gente como Bryan Mills ou Frank Martin e ainda é seguro o suficiente na direção para criar uma trama tensa. Por outro lado, a problemática desenvoltura dos inimigos como se fosse uma horda de zumbis é o ponto mais fraco do filme. Um pouco mais de tato nessa questão destacaria mais a produção que, infelizmente, resolver tomar o caminho mais fácil.

Uma das qualidades do filme é perceber os ecos estão acontecendo em algumas partes do oriente. Sinais de uma ditadura – fotos e bustos do primeiro ministro em todos os lugares, cidade às escuras à noite lembrando Pyongyang, sem sinal de TV, telefone ou internet – e situações parecidas com o Isis e o Boko Haram dão atualidade à história. Tanto quanto a intervenção americana e inglesa representada Jack (Owen Wilson) e Hammond (Pierce Brosnan). E no meio da guerra desse Camboja (ou um Laos) fictício, nos apegamos à família de Jack principalmente por causa da doçura das filhas dele e de Annie (Lake Bell).

É claro o contraste exagerado das tropas orientais, onde um comandante sem nome e extremamente mal lidera um mar de pessoas desumanizadas que caçam os estrangeiros no seu país. Não é que isso seja mentira – as notícias que chegam para nós mostram tais barbáries –, mas seria tarefa do diretor mostrar um pouco mais de empatia para com a família de Jack. Para minimizar a situação, Dowdle mostra um encontro da família Dwyer com duas boas almas: um jovem que está no meio da horda e depois um senhor idoso que os esconde. O interessante na cena em que os quatro estão fugindo e cruzam com esse jovem é o fato dele não estar mascarado como seus companheiros, que estão representando um sistema ou algum regime.

Fazendo o papel de advogado do diabo, o filme leva a outra possibilidade se nos colocarmos na pele de Jack, pego no meio do fogo cruzado. Vejam a emblemática cena em que ele se encontra no meio do conflito dos revoltosos e da força policial, por exemplo. Aquela é a percepção do protagonista: perdido num conflito que ele desconhece – se bem que é difícil acreditar que não sabia que o país estava à beira de um conflito armado –, num lugar que não fala a língua e ainda com a família em perigo é bem aceitável que ele veja os cidadãos como inimigos. Assim como os orientais sobre os estrangeiros em sua terra. Pensando assim, não é tão difícil entender o posicionamento tanto um como o do outro.

Ainda que o filme seja acusado de ser racista e xenofóbico, é inegável que Dowdle sabe dirigir os quase 100 minutos de filme equilibrando momentos de ação e de extrema tensão. A não ser por uma pequena inserção cômica de Kenny Roger (Boonthanakit) a produção não perde o pique, efeito auxiliado pela montagem que coloca os problemas logo no começo. Depois de voltar na narrativa, sabemos que falta pouco para descobrir qual é o resultado de um assassinato. A cena de Jack subindo pelo elevador para encontrar a família parece infinitamente mais longo do que realmente é por não sabermos qual é a situação real. Além disso, o diretor sabe quando usar o silêncio, emudecendo tanto a trilha quanto os sons ambientes numa agoniante cena envolvendo as duas filhas pequenas do casal.

Dowdle é competente também em contar a história visualmente sem apelar para narrações ouflashbacks. Ele mostra rapidamente as marcas no rosto de Hammond, ali já definindo sua personalidade e dando uma dica de suas intenções. No figurino é interessante notar que Jack passa pelos piores momentos da sua vida usando por baixo da camisa social uma camiseta da sua cidade natal (Austin, Texas) que representa a saudade que ele tem de casa. A câmera na mão e os ângulos holandeses completam o estado de tensão que o diretor quis transmitir para a audiência, e nisso obtém sucesso.

A ironia do final e a boa jogada de não usar o clássico herói de ação são outros pontos positivos de Horas de Desespero. As qualidades da história não devem ser postas de lado quando analisamos os problemas já apresentados, principalmente na caracterização de um povo, mesmo que esse país não tenha um nome para que ninguém aponte dedos. Mas, como thriller, é eficaz. E se essa foi a intenção do diretor, de nos deixar respirar só quando um personagem diz que podemos, a missão foi cumprida. O que não quer dizer que devemos desviar os olhos para as outras questões.


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Coletiva: VAI QUE COLA


por Beto Besant

Aconteceu na última segunda-feira na capital paulista a Coletiva de Imprensa do filme Vai que Cola. Estavam presentes os atores Fernando Caruso, Cacau Protásio, Samantha Schmutz, Catarina Abdalla, Fiorella Matheis, Emiliano D'Ávila e o diretor César Rodrigues.

Baseado na serie de TV paga, o filme conta a história do empresário Valdomiro (Paulo Gustavo), que tem uma boa vida no Leblon mas perde tudo num esquema fraudulento em que é colocado por seu sócio (Márcio Kieling). Dessa forma vai morar na pensão da Dona Jô (Catarina Abdalla) no bairro periférico do Méier. 
Os outros moradores são os caricatos Ferdinando (Marcus Majella) - homossexual que se intitula consierge da pensão, Jéssica (Samantha Schmutz) - "periguete" que sonha namorar alguém famoso e assim se tornar uma "celebridade", Velna (Fiorella Matheis) - a loira fatal, Maicou (Emiliano D'Ávila) - o musculoso burro e Teresinha (Cacau Protásio) - a gorda divertida.

César Rodrigues e Catarina Abdalla
Após a pensão ser interditada, todos vão morar com o protagonista no bairro do Leblon. Lá conhecem o síndico Brito (Oscar Magrini) e o morador Quaresma (Werner Schünemann).

Completam o elenco o humorista Fernando Caruso - no papel de um eletricista apaixonado pela dona da pensão - e Klebber Toledo - no papel dele mesmo.

De forma talvez um pouco forçada, os atores procuraram demonstrar o tempo todo o quanto estavam entrosados e tinham liberdade de provocar uns aos outros, principalmente Caruso e Samantha.

Samantha Schmutz e Fiorella Matheis
O diretor conta que estava muito feliz em levar a série para as telonas e sobre o limite entre brincarem e improvisarem à vontade: "Apesar de  serem todos muito talentosos e criativos, as brincadeiras eram sempre equilibradas. Tínhamos cinco semanas de filmagem então diariamente todos sabiam exatamente o que teriam que fazer" - disse César Rodrigues.

Num plano-sequência (cena sem corte) onde Paulo Gustavo e Majella conversam na praia, o diretor conta que parecia "certinha demais". Com isso, o protagonista pediu pra rodar de novo, e sem avisar ninguém passou uma rasteira em seu colega. César usou esse exemplo pra explicar o quanto o ator é talentoso e criativo na improvisação. 

Fernando Caruso, Cacau Protásio e Emiliano D'Ávila

A série do Canal Multishow é um imenso sucesso, e apesar do filme ter tudo pra ser outro enorme sucesso nas bilheterias, se perde no seu estilo televisivo. Tudo é falado demais, durante os 90 minutos Paulo Gustavo conversa com o público - olhando pra câmera - explicando cada pensamento e cada situação. Em nome de uma pseudo-espontaneidade, o filme fica mais com cara daqueles vídeos de internet que pipocam diariamente.

Um dos melhores momentos é quando a trupe faz a mudança para o Leblon e Majella vai sentado sobre a Kombi, numa sátira ao filme Priscila, a Rainha do Deserto (1994). 

Apesar do trailer divertidíssimo, o filme não corresponde à expectativa, se limitando a personagens estereotipados, piadas forçadas e humor histriônico.


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UM SENHOR ESTAGIÁRIO (The Intern)


por Tiago Lira

Há um conceito errado e até bem difundido sobre desligar o cérebro pra assistir certos filmes – tema discutido na edição 24 do nosso podcast –, uma falácia que não deve ser aplicada nem mesmo em filmes leves e simpáticos como é o caso de Um Senhor Estagiário. É uma produção que não ofende ninguém e é feito para qualquer pessoa, como podemos ver pela fotografia bem iluminada e na razão de aspecto 16:9, o widescreen dos modelos de TV atuais. De vez em quando é bom se deixar levar sem precisar pensar em conflitos, o que é bem diferente de desligar alguma parte sua que não se pode. Mas não dispense essa comédia pois, no fundo, ela tem um quê de representatividade.

A diretora e roteirista Nancy Meyers faz uma brincadeira com o título que vale a pena destacar. Apesar de remeter Ben Whittaker (Robert De Niro), toda a história vai avançando naturalmente para mostrar a verdadeira protagonista. Ainda que a justificada narração off inicial dê destaque ao septuagenário, você vai notar que toda a narrativa é em torno da atarefada Jules Ostin (Anne Hathaway) – personagem que parece uma evolução de Andy Sachs (de O Diabo Veste Prada, 2006). Os problemas que ela enfrenta serão acompanhados de perto por Ben, que representa a audiência dentro do filme. Com exceção de uma narração off de Jules, que poderia ser traduzida simplesmente pelo olhar que ela dá para uma bagunçada mesa, sabemos o que o estagiário sabe, o que em determinado ponto chega a ser agoniante por um segredo que ele guarda.

Meyers consegue construir personagens ótimos, carismáticos e tridimensionais e quais podemos gostar, desde a dupla principal até os coadjuvantes. Ben é uma pessoa extremamente adorável, talvez aquele que a maioria de nós nunca será: observador, natural, se desataca – por motivos que vão além de sua idade – e é bom com todos, inclusive com quem não mereceria (como o motorista de Jules) e se torna impossível não gostar dele. Os outros personagens são automaticamente atraídos para ele de forma natural. Isso parece refletir a própria personalidade do ator, que podemos confirmar na relação paternal de Ben com Jules – representada pela mãe dela que só ouvimos a voz e do filho dele que nunca vimos a cara.

Em determinado ponto você tende a se perguntar de onde virá o conflito, pois estamos tão acostumados ao clichê de ter que acontecer alguma coisa entre esses dois, que esperamos isso a cada minuto de projeção. Interessante que Meyers não explora esse clichê e a rusga entre os dois se resolve tão rápido que nem vale a pena se remoer por isso. O que reforça a escolha não tão clara de Jules como a protagonista, pois os conflitos são inteiramente dela: as conversas com a mãe, a situação com o marido, o julgamento de outras mães e o fato dela liderar uma companhia de sucesso. Então, entre ela e Ben não existe essa necessidade.

Isso não quer dizer que o filme escape de outros clichês. Ben parece ser o tio mais legal do mundo, portanto fica óbvio desde os primeiros minutos é que ele quem vai resolver o problema de moradia de Davis (Zack Pearlman), um jovem estagiário. Ou ainda que vá existir uma relação com a massagista da empresa, Fiona (Rene Russo), sendo eles os mais seniores da equipe. Para dosar essa sensação há momentos que são feitos para todo mundo sair com o maxilar doendo de tanto rir. Duas cenas de massagem protagonizadas por Fiona e Ben – piadas sexuais, mas contidas – e o roubo que é protagonizado pelos estagiários são exemplos de como essa produção é despojada sem ser forçada.

Há filmes mais marcantes sobre o envelhecer e sobre como se destacar num mundo onde você era o dominado e não o dominador, que é o papel tanto de Jules quanto de Ben – ela numa posição majoritariamente masculina, no qual acha que buscar a solução para tirar o peso dos ombros ajudará no casamento e no papel clássico de mulher/esposa/mãe; e ele buscando um lugar num mundo de jovens – mas Um Senhor Estagiário é tão cheio de bons momentos, sejam eles simbólicos ou visuais, que é fácil dizer que saímos da sessão conquistados, leves, edificados e nos sentindo para cima. Algo que precisamos de vez em quando.


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A PELE DE VÊNUS (Venus in Furs)


por Beto Besant

Uma das maiores dificuldades que um roteirista pode enfrentar é ter que escrever um filme que se passe apenas em uma locação. Normalmente, quando surge algum filme do tipo é adaptado de uma peça teatral, e mesmo assim quase sempre se procura inserir novas locações com o intuito de dar ritmo ao filme.
Aqui, o experiente Roman Polanski tenta novamente adaptar uma peça teatral - seu filme anterior Deus da Carnificina também foi uma adaptação - porém este novo trabalho atinge um resultado bem mais satisfatório, apenas com uma locação e dois atores.


Na trama, Thomas (Mathieu Amalric) é um diretor de teatro fazendo seleção para a atriz de sua nova peça. O surgimento de Vanda (Emmanuelle Seigner) e seu insistente pedido para que possa ser avaliada em princípio irrita o artista, que terminar por ceder. A mulher - que aparenta ser o oposto de quem procura - o surpreende, deixando-o cada vez mais fascinado por sua personalidade voluptuosa. Aos poucos, a realidade dos personagens e texto teatral que interpretam vão se misturando, proporcionando alternância de poder e até mesmo de gênero entre Vanda e Thomas.

Pele de Vênus é uma adaptação da peça A Vênus das Peles de David Ives - que também divide o roteiro com Polanski - e por sua vez é baseado no romance de Leopoldo von Sacher-Masoch, de onde surgiu a palavra masoquismo.

O diretor embarca numa história com fortes elementos autobiográficos, desde sua famosa acusação de abuso de menor até o fato de escalar sua mulher para o papel da atriz e Mathieu - que é idêntico a Polanski na juventude - para interpretar o diretor.
Ainda há a "brincadeira" de iniciar o filme com a câmera entrando no teatro e terminar com ela saindo, como se o próprio público entrasse e saísse da história.

Contrariando o cinema, é um filme extremamente verborrágico, porém tudo feito com muito cuidado e diálogos inteligentes e precisos. Como não poderia deixar de ser, um filme com uma locação e dois atores acaba por ter um ritmo mais lento para quem está habituado ao cinema comercial, porém a montagem de Hervé de Luze e Margot Meynier - somada às excelentes interpretações, direção e diálogos, fazem com que o filme flua com tranquilidade.


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NOCAUTE (Knockout)


por Tiago Lira

A vida, essa coisa injusta, está aqui para dar pancada na gente. E filmes de superação não faltam para nos lembrar disso. Nocaute tem muito bons momentos, ótimas atuações e um Antoine Fuqua mostrando que sabe como se portar como diretor. O clichê do tema, tanto visitado em outros filmes, é bem claro e pode ser algum tipo de empecilho para conhecer a obra. Então, não é original, mas pelo menos é empolgante. Com uma virada inesperada e muito melancólica, o filme consegue dar seus próprios passos, ainda que de vez em quando nos lembremos de outro canhoto que também fez sucesso lutando boxe nos anos 1970.

Há uma sensação constante de tristeza na produção. Billy (Jake Gyllenhaal – quase irreconhecível) é um ótimo lutador, mas a quantidade de socos que leva no ringue, ainda que iluminado pelas luzes do holofote, trazem um olhar de pesar para Maureen (Rachel McAdams). A esposa está sempre presente na plateia e, por não poder fazer nada além de olhar, encarna um semblante triste que só vai embora quando está na tranquilidade de casa junto dele e da filha Leila (Oona Laurence). Essa melancolia é reforçada tanto pela paleta do cinematografo Mauro Fiore – usando muito da meia luz – quanto pelo figurino de Billy, predominantemente preto por praticamente dois atos.

Billy é um personagem muito interessante, e a narrativa consegue apresentar suas características no melhor jeito mostre e não fale: a sua concentração, sempre olhando para os punhos, se isolando com música, seu jeito jocoso de ser com os adversários, suas tatuagens (nascimento da filha, nomes, pai, lutador) e uma das coisas mais marcantes, que mistura um problema fisiológico com um psicológico, que é quando Billy começa a cuspir sangue depois da luta da abertura, mesmo depois de horas do fato. Literalmente, ele pode ter algum tipo de hemorragia não controlada, mas não podemos ignorar uma leitura subjetiva, a impressão de que algo está muito errado por dentro do boxeador.

A virada do primeiro para o segundo ato é um soco no estômago da audiência e, obviamente, para o próprio Billy. Ouvindo as pessoas erradas, como o agente Jordan (Cent Jackson) e afogado nesse mar de tristeza – perceba que Fuqua coloca o lutador constantemente isolado, seja no ginásio, em casa ou no pequeno apartamento para o qual ele tem que se mudar –, Billy parece encarnar o próprio Ceifador, como podemos notar nas cenas em que ele usa um capuz para esconder o rosto e os próprios propósitos de vingança. E é na câmera subjetiva, bem usada pelo diretor, que sentimos a perda de foco do protagonista.

A mudança do personagem finalmente vem e é seguida de perto pelo novo treinador Tick (Forest Whitaker), um homem experiente e tão amargurado quanto Billy, com seu visual mais bagunçado, triste e acabado. Como tantos outros mentores, ele não deve ser julgado pelo tamanho ou aparência. Billy, que perdeu a guarda da filha, busca redenção e Fuqua vai aos poucos mudando a personalidade do personagem no mesmo estilo que o apresentou no começo. Agora, Billy usa menos figurionos pretos, passando por cinza e eventualmente usando luvas brancas na luta final. Também há uma mudança de atitude no estilo de luta, agora cortes de câmera mais longos e menos sangue pingando na tela.


Outros elementos interessantes que completam a psique dos personagens são o olho constantemente inchado de Billy – que faz um paralelo com o cego que Tick tem –, a Bíblia que o treinador sempre segura, e a postura de Jordan tão detestável, porém crível, e a lucidez e o brilho que Maureen trazia são bem definidos por Fuqua. O slow motion nas percepções de Hope ou as duras palavras que a filha usa com ele também são marcantes. O problema reside na construção do oponente Miguel (Miguel Gomez), exageradamente cretino sem necessidade, principalmente no embate final contra Billy.

Conseguindo misturar tensão e momentos muito doces, sendo ótimos exemplos os que precedem a luta final e logo depois dela – de um lado a tensão do vestiário, e do outro quando a câmera, que é o espectador, se afasta de Billy e Leila – mostram que Fuqua é um bom diretor. Nocaute tem situações que já vimos em outros lugares e mesmo assim está longe de ser esquecível. As comparações serão inevitáveis, e a estrutura do roteiro em si vai contribuir para isso. Ainda assim, você poderá apreciar o filme, seja tratando-o como uma homenagem a Rocky ou se deixando levar pela mensagem de superação.


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