Tecnologia do Blogger.
RSS

NOSSA IRMÃ MAIS NOVA (Umimachi Diary)


por Beto Perocini


Inspirado no mangá Umimachi Diary de Akima Yoshida, com direção de Hirokazu Koreeda - que também assina o roteiro com Yoshida - Nossa irmã mais nova é um drama que conta a história de três irmãs já adultas, Sachi, Yoshino e Chika, interpretadas respectivamente por Haruka Ayase, Masami Nagasawa e Kaho.

Após o divórcio de seus pais, a mãe acaba se mudando para outra cidade e o pai constrói uma nova família numa cidade ainda mais distante. Sachi toma pra si a responsabilidade de criar suas irmãs, mantendo assim o elo familiar. Elas vivem sozinhas numa casa antiga que pertencia à avó já falecida.

Nossa Irmã Mais Nova : FotoO filme inicia quando as três irmãs estão em luto pelo falecimento de seu pai que não viam há 15 anos. Apesar do distanciamento, as lembranças e a saudade estão bastante presentes. Na cerimonia fúnebre as três conhecem sua meia-irmã Suzu (Suzu Hirose). Antes de partirem, Sachi convida Suzu para passar um tempo com elas, Suzu aceita.

A direção de Hirokazu Koreeda (Pais e Filhos, 2013) desenvolve aqui a sutileza das relações, o quanto pequenas descobertas no dia a dia podem encantar quem as percebe. Também demonstra como as tradições familiares podem continuar sendo cultivadas pelas novas gerações. O senso de respeito e moralidade - dentro da convivência do ciclo social apresentado no filme - pode ser um choque para os que apreciam uma obra como esta pela primeira vez. Muitas das cenas ocorrem em pequenas reuniões entre as irmãs durante pequenos passeios e também nas refeições, momentos em que geralmente as famílias estão reunidas.

A fotografia de Mikiya Takimoto - que também colaborou com o diretor em Pais e Filhos - traz belas imagens da cidade litorânea com ares de interior de nome Kamakura, mostrando as paisagens montanhosas e arborizadas, as ruas adornadas com suas árvores e copas robustas e seus jardins repleto de flores de ameixeiras. Planos-conjunto marcam grande parte dos diálogos, com closes usados sutilmente entre uma cena e outra. Há sequências que sugerem um certo desconforto, uma premeditação de quebra

Nossa Irmã Mais Nova : Foto
É interessante perceber como o roteiro vai revelando, no desenrolar da trama, as diferentes personalidades das irmãs, mesmo que se contrapondo também se completam. Com a chegada e convívio com Suzu, é através do olhar dela que passamos a conhecer melhor cada personagem. As atrizes apresentam um ótimo trabalho, realmente acreditamos nos laços ali criados por este pequeno núcleo familiar, trazendo também um ar de ingenuidade.

Mas em meio a toda forma poética e singela de mostrar este cotiano, sentimos alguns vestígios de sub-trama que acabam por não serem exploradas. Algumas situações no decorrer da história surgem como ameaças ao mundo comum das irmãs, como a confiança demasiada que elas depositam em seus pares amorosos e certos mistérios que são sugeridos sobre o passado do pai. Mesmo assim, a história permanece dentro do contexto familiar. Além de que toda essa construção se estende por 128 minutos de filme, criando a expectativa de término em diversas momentos finais, mas acabavam seguindo para outra sequência, outro passeio, quebrando a imersão do expectar naquele universo. Se tivesse alguns minutos a menos, seria uma experiencia ainda melhor.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

ANOMALISA (idem)


por Diego Castro

Charlie Kaufman é um cineasta incrivelmente competente, sempre trazendo histórias desafiadoras. Hoje em dia alguns desses filmes se tornaram clássicos, e com Anomalisa não é diferente. 

No filme conhecemos Michael Stone, que vê o mesmo rosto e voz em todas as pessoas à sua volta. Percebe que perderá algo que ele mesmo prega - sendo um palestrante multinacional - até conhecer Lisa, uma jovem encantadora e muito otimista.

Anomalisa : FotoA animação é soberba, o controle da técnica de stop-motion é de tirar o folego. Os bonequinhos conseguem passar expressões humanas cativantes, remetendo a atores reais, tudo bem amarrado com o roteiro. Apesar da ótima animação, o ritmo é um pouco prejudicado com o primeiro ato lento, demora um pouco para se localizar no mundo criado pelos diretores, até o final do primeiro ato. Depois disso o filme deslancha, principalmente quando a protagonista entra em cena, conquistando o público com o um jeito meigo e realista.

Brincando com as expectativas que se espera de uma animação, Anomalisa tem uma sequência cheia de ação, reviravoltas, totalmente fora do contexto do resto do filme, que escolhe o desenvolvimento de personagens ao invés de ritmo, trazendo uma trama íntima, sendo tocante nos momentos certos, quase um espelho da realidade de como são as pessoas no dia a dia.

Os diretores mostram com as primeiras cenas, o domínio sobre o cenário, usando uma luz opaca, cheia com tons de sépia, ajudam com teor da animação. 

Anomalisa : Foto

A mensagem que a animação traz é brutal e triste, diferente de outras animações que trazem um conteúdo leve. Como crítico, saí do cinema com a cabeça “a mil”, e escrevendo essa crítica não consigo parar de pensar, como os personagens inanimados conseguiram alcançar tantas emoções genuínas. Sem dúvida mérito da equipe que trabalhou arduamente para alcançar esse nível emocional contagiante. Mesmo tendo problemas de ritmo, essa é, sem dúvida, uma obra que merece ser assistida e reassistida.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

A 5ª ONDA (The 5th Wave)


por Diego Castro

Outra obra literária conhecida, Distopias Juvenis ganha as telas do cinema. Desta vez tendo o elenco liderado pela a conhecida Chloë Grace Moretz (Kick Ass), que encarna a personagem Cassie Sullivan, adolescente normal que tem o seu mundo - literalmente - virado de ponta cabeça.
Após uma nave alienígena aparecer no céu, alguns ataques começam. Apelidados de ondas, a primeira foi um pulso eletromagnético, a segunda foram maremotos, varrendo cidades inteiras. A terceira onda foi um vírus que matou parte da população no planeta e a quarta foi a possessão de seres humanos pelos alienígenas (igual ao filme Invasores de Corpos). Se não assistiu, por favor assista, é ótimo. 
Com medo, os seres humanos apenas sabem que a quinta onda está próxima, e Cassie tem certeza de que vai estar no centro dela. 

Este filme tem uma premissa interessante, afinal este é um tema que Hollywood não usa há muito tempo. Por outro lado, o filme se perde num roteiro pobre e um diretor sem domínio da sua arte. As cenas perdem força, mesmo que a intenção seja outra. O longa tem um primeiro ato sólido e intrigante, mas no segundo ato desmorona.

O desenvolvimento da história vai ficando pior a cada instante, pois ela se divide entre Cassie procurando seu irmão - que foi levado pelo exército - e um garoto chamado Ben Parish (Nick Robinson) que foi recrutado pelo exército depois da morte da família.
O roteiro faz questão de ter essas duas partes no enredo, uma correndo paralelamente à outra, nunca se aprofundando totalmente em nenhuma delas. Não há tempo de construir relações com Ben Parish, pois não sabemos quem é ele antes do ataque, nem a história da Cassie.
Além de parar no meio chega a ser entediante, a personagem fica fora das grandes reviravoltas da trama, que são importantes para o filme conquistar sua audiência. Ou seja, existe uma história muito interessante acontecendo e você não pode ver, pois a protagonista não está no centro do furacão, como a sinopse diz.


Um ponto positivo é a montagem do longa, sabendo dosar a informação necessária para o espectador durante a cena. Contudo, cada frame mostra quanto o diretor opta pelo básico, sem arriscar.

O elenco parece apático. Chloë Grace Moretz, por exemplo, sabe entregar uma boa atuação quando o diretor consegue extrair. Porém, quando ela precisa atuar com o seu par romântico, é quase sofrível ver os dois em tela, a química chega a ser lastimável, mesmo os produtores jogando em uma trama segura como a da Bela e a Fera. O romance insinuado pelo casal fica fraco e bobo.

Sendo assim a 5ª Onda é uma oportunidade desperdiçada e genérica, quem sabe melhora numa continuação, caso isso aconteça.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

REZA A LENDA


por Beto Besant

O cinema brasileiro sempre viveu de "ondas". As mais recentes foram Favela Movie e comédias conhecidas como Neo Chanchadas. Porém, as mesmas pessoas que criticam o cinema monotemático, rechaçam as poucas tentativas de se fazer algo diferente, genuíno.

Neste caso, Reza a Lenda foi vendido como o "Mad Max brasileiro". Obviamente, um filme que custou poucos milhões de reais não pode ter o mesmo resultado de outro que custou centenas de milhões de dólares. Portanto, este marketing é uma "faca de dois gumes".

Reza a Lenda : FotoO filme conta a história de um grupo de motoqueiros de uma região árida nordestina que não chove há muito tempo, liderados por Ara (Cauã Reymond) e Severina (Sophie Charlotte). Segundo a crença local, a santa padroeira - roubada pelo fazendeiro Tenório (Humberto Martins) e exposta a visitação mediante cobrança - é responsável para que volte a chover.
Os motoqueiros roubam a santa com o objetivo de devolvê-la ao seu lugar original, o que provoca uma caçada sangrenta por parte do coronel.

Reza a Lenda começa muito bem, com  uma cena de grande impacto que só ocorreria cronologicamente uns vinte minutos depois se não fosse a bela "sacada" do experiente montador Manga Campion. Nos seriados americanos, essa abertura instigante é chamada de Tease.

Com uma bela produção - fotografia, direção de arte e figurinos impecáveis - o filme causa muita curiosidade sobre seu desfecho, mas como o cinema não vive só de técnica, por algum motivo a história não se completa. Talvez porque o elenco seja composto basicamente de rostos conhecidos do grande público mas não exatamente as pessoas ideais para interpretar essa história. Não que Cauã, Humberto e Sophie não estejam bem - estão bem melhor do que habitualmente - porém ainda deixam a desejar ao interpretarem personagens tão fortes e rústicos. Ainda assim, deve ser a melhor interpretação de Cauã até o momento.
Os dois melhores atores do elenco - Júlio Andrade e Jesuíta Barbosa - estão subaproveitados, Júlio, por exemplo, interpreta uma espécie de xamã, personagem completamente dispensável à trama.

Reza a Lenda : Foto

Filme de estreia de Homero Olivetto - que assina o roteiro com Patrícia Andrade e Newton Cannito - lembra uma espécie de Mad Max misturado com Easy Rider, e peca ao lapidar mais a forma do que o conteúdo. De qualquer forma, é sempre bom ver cinema nacional bem produzido e tentando apresentar algo diferente do padrão. Fica o gostinho na boca ao imaginarmos se tivesse sido escrito, dirigido e atuado por artistas que fizeram do cinema pernambucano o melhor cinema do país.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

SNOOPY E CHARLIE BROWN PEANUTS - O FILME (The Peanuts Movie)


por Diego Castro

Charlie vem há vários anos encantando adultos e crianças, tendo o mesmo efeito da Turma da Monica aqui no Brasil. Contudo, ao invés de se adequar com o seu tempo se distanciando do carisma original para agregar uma nova audiência, vemos que Charlie Brown tem uma evolução bem mais sutil do que a Monica, mantendo o carisma para todas as idades, não importando que época você nasceu, sendo esse filme prova irrefutável desse pensamento.

No bairro de Snoopy e Charlie Brown muda-se uma nova garotinha de cabelos ruivos, por quem nosso garotinho de roupa amarela se apaixona e vai tentar de tudo para conquistá-la, tendo ajuda de seu fiel companheiro Snoopy

Snoopy e Charlie Brown - Peanuts, O Filme : FotoA premissa do longa é simples, parecida com muitos filmes do Snoopy e sua turma (os especiais para TV nos EUA). Logo no início é impossível não perceber como os animadores casaram harmoniosamente o estilo 2D com o 3D, criando em cada frame um quadro lindo e estilizado de forma primorosa, deixando animação diferente de outros estúdios (Pixar e Dreaworks), criando uma identidade própria e bem-vinda, o que poderia se chamar de 2.5D, uma evolução clara do mundo do Peanuts.

Claro que a estética do filme cairia por terra, se não houvesse uma história à altura da animação. Os roteiristas conseguem preencher este - que era o maior desafio - contar uma história singela, passando várias lições humanas e esbanjando nostalgia, sem ficarem presos a fórmulas do passado, mas apenas prestando homenagem a elas, mostrando algo novo para a audiência infantil e sem esquecer seu antigo público, que se encontra no cinema com seus próprios filhos. Esse é um dos pontos positivos da animação, sem esquecer o trabalho lindo da dublagem, que se mistura bem com o espirito do longa (sendo dublado apenas por crianças). É uma boa interpretação de um elenco inexperiente, onde as vozes conseguem apresentar todas as qualidades e defeitos dos personagens, além de Snoopy - que rouba cada cena - enchendo a tela de carisma acompanhado pelo passarinho Woodstock.


BlueSky Studios se destaca com uma distinção formidável, mesmo tendo alguns aspectos para chamar atenção dos pequenos (músicas pop que embalam algumas cenas) que não prejudicam a experiência nostálgica, aproveitam para explorar com admirável sutileza os cenários e os ambientes propostos. Nada parece forçado, tudo flui com a trilha sonora original, que faz você pensar nos sábados de manhã vendo a TV.

O ritmo desacelerado do filme pode pegar as pessoas desprevenidas, mesmo sendo um pouco maior do que uma tirinha de jornal, contudo a animação consegue contagiar a todos ao assistirem, principalmente os pimpolhos de todas as idades, até os mais velhinhos.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

A GRANDE APOSTA (The Big Short)


por Tiago Lira


A Grande Aposta é um filme hilariante e genial. E ao mesmo tempo causa asco ao espectador. O diretor Adam McKay destrinchou uma história bem complicada para os mais leigos e tentou trazer para um nível mais popular uma das piores crises financeiras da história. A maneira que ele faz isso é de bater palmas. Ao mesmo tempo não deixa de lado os culpados de lado nessa questão. É aí que o espectador tem vontade não de levantar e bater palmas, mas sim bater no primeiro banqueiro que encontrar.

De maneira um tanto documental, McCkay acompanha três núcleos que previram de um jeito ou outro a futura crise. Para entender suas motivações ou visão de mundo, o diretor conta a história deles por meio de flashbacks e por depoimentos de outros personagens. E nesse meio caminho entre dramatização e documentário, temos fatos sendo explicados por narrações off e de maneira espetacular por pessoas mais próximas da nossa realidade: as atrizes Margot Robbie e Selena Gomez, o economista Richard Thaler e o chef Anthony Bourdain explicam as dezenas de siglas e como o mercado funciona em situações de crise. É tão inesperado e tão engraçado que esses momentos mereciam aplausos no meio da sessão. Mesmo que você saia confuso com as explicações.

A Grande Aposta (The Big Short)O diretor quebra a quarta parede com as explicações dos que estão de fora e dentro daquele mundo tão complicado, numa interação espectador/filme pouco vista no cinema atual. E ao invés de usar esses elementos de narração como muleta, o diretor serve a narrativa com ela. Por exemplo, ao contar a história de como Michael Burry (Christian Bale) perdeu um olho McCkay humaniza o personagem. E ele faz o contrário quando Jared Vennett (Ryan Gosling) faz uma piada racista com o seu contador oriental – que é tão americano quanto ele – para reforçar a imagem escrota desse personagem.

Apesar da comédia que permeia todo o filme, McCkay é competente o suficiente para manter os pés da audiência no chão. De vez em quando, ele nos lembra de que muita gente sofre nesse ínterim – enquanto aponta o dedo para aqueles que merecem. Vejam Mark Baum (Steve Carell), que tem um nojo por esse mercado que participa – um sentimento atrelado a um evento recente – e por isso vai com afinco na proposta de Vennett, que poderia prejudicar as víboras de Wall Street. Numa marcante cena que ocorre em Las Vegas, vemos que o personagem estava a ponto de esmurrar um banqueiro que se vangloria do jeito que ficou rico.

A Grande Aposta (The Big Short)
McCkay continua divertindo os espectadores sem esquecer-se da realidade. Ainda na primeira metade do filme, quando Baum e seus sócios começam a pesquisar in loco grandes propriedades em bairros de alto padrão praticamente vazios, conhecemos um homem que paga seu aluguel em dia, mas que não faz ideia como o dono da casa está financeiramente. Um pouco mais a frente os amigos Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock) entram na jogada e percebem que podem ganhar muito dinheiro. E quase inocentemente começam a dançar de alegria e são repreendidos por Ben Rickert (Brad Pitt) que explica para os jovens – consequentemente para nós – a real dimensão da crise.

Determinado momento uma frase sem autor conhecido aparece na tela: “A verdade é como poesia, e a maioria das pessoas detesta poesia”. A Grande Aposta fala algumas verdades, coisas que nós, dentro de um relativo conforto, preferimos ignorar. É uma história sobre ganância e de como podemos ser facilmente enganados por aqueles que nunca vão sofrer numa crise. Criamos ódio desses personagens tão torpes, principalmente no tom mais sombrio do terceiro ato. E o que mais faz mal é saber que nada mudou. Talvez produções que atinjam as massas possam abrir os olhos de mais gente. Mas a verdade é que é preciso muito otimismo para esperar isso.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

DIPLOMACIA (Diplomatie)


por Antonio Carlos Egypto

O novo filme do grande diretor alemão Volker Schlöndorff, chamado “Diplomacia”, é baseado na peça teatral do mesmo nome de Cyril Gely, que fez o roteiro do filme, em parceria com o diretor.

O assunto é o mesmo do filme de René Clément, Paris Está em Chamas?, lançado em DVD há pouco tempo. Esse filme é de 1966, mas só o vi recentemente. É curioso ver o tema da explosão de Paris por Hitler retomado neste Diplomacia, de 2014, que chega agora aos cinemas.

Segunda Guerra Mundial. 25 de agosto de 1944. Na Paris ocupada pelos alemães, a entrada dos Aliados para a retomada da cidade é iminente, assim como o fim da guerra, que está próximo. Ela está perdida para o Eixo, capitaneado pela Alemanha. O general Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup), que coordena as forças de ocupação alemãs em Paris, é fiel ao Terceiro Reich e recebe ordem expressa, vinda de Hitler, para explodir a capital da França, incluindo suas pontes, monumentos e museus. A ideia era oferecer aos vencedores terra arrasada. Sabemos o final da história, mas o filme de Schlöndorff constrói um belo suspense com isso. O que fará o general? Está tudo pronto para explodir, fartamente carregado de dinamite, falta só a ordem para a explosão. Ela virá?

O que acabará determinando tal decisão é o relacionamento do general com o cônsul-geral da Suécia em Paris, Raoul Nordling (André Dussolier). Do embate intelectual entre ambos far-se-á a luz. 

O filme se centra na relação dos dois personagens, como se ela estivesse ocorrendo toda na noite fatídica da decisão. As cenas originais de rua servem apenas de elemento ilustrativo. É do confronto dos dois que se alimenta todo o filme. Em econômicos 88 minutos, acompanhamos toda a evolução da conversa que colocava em jogo um dos maiores patrimônios culturais da humanidade e vidas humanas em profusão. Os dois protagonistas, atores brilhantes, que já haviam vivido os mesmos papéis no teatro, em 2011, carregam magistralmente a trama.

André Dussolier, que faz o cônsul-sueco, é um dos atores que mais atuaram com Alain Resnais, que o tinha como um de seus prediletos. Mas trabalhou também com François Truffaut, Claude Chabrol, Claude Lelouch, Erich Rohmer, Coline Serreau, Bertrand Blier e muitos outros. Niels Arestrup, o general, trabalhou com Chantal Akerman, Claude Lelouch, Marco Ferreri, István Szabó, Jacques Audiard, Steven Spielberg, Bernard Tavernier e, também, Alain Resnais. Outra bela trajetória. Com atores assim, o resultado é eletrizante. Mesmo tudo se passando basicamente entre as paredes da sala de trabalho do oficial nazista.

Em comparação com a superprodução francesa Paris Está em Chamas?, que reuniu um dos maiores elencos e participações especiais às pencas, a economia de recursos e de tempo de Diplomacia é incrível. René Clément contou com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola. Teve no elenco Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, Alain Delon, Kirk Douglas, Glenn Ford, Yves Montand, Anthony Perkins, Michel Piccoli e até Orson Welles, no papel do cônsul sueco. Precisou de 165 minutos para registrar o mesmo fato. Mas escolheu outro caminho: o do minucioso detalhamento das batalhas de rua na Paris em que a Resistência tentava reconquistar pontos estratégicos, à espera do embarque aliado. Interessante do ponto de vista histórico, com base nos fatos e resgate de imagens originais em grande quantidade, mas longo e cansativo. Diplomacia, ao contrário, foca no embate razão e emoção, no seguir ordens absurdas sem questioná-las, ou do medo de enfrentá-las ou, ainda, da coragem de fazê-lo, dos riscos a correr, da capacidade de avaliar a monstruosidade que estava em jogo.

Volker Schlöndorff, em O Mar ao Amanhecer, de 2011, já se debruçava sobre a questão humana que a guerra abala e destrói de forma absurda, sem falar na sua obra-prima, O Tambor, de 1979, em que um menino grita e bate um tambor para enfrentar os absurdos da guerra e da vida. Seu estilo contundente de filmar nos obriga a encarar realidades estranhas e desagradáveis. E constrói um forte humanismo como resposta.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

ATÉ QUE A SORTE NOS SEPARE 3 - A FALÊNCIA FINAL.


por Beto Besant

Numa época em que se discute lei de cotas pra filmes brasileiros, em que distribuidoras fazem um "acordo de cavalheiros" de limitar a quantidade de salas a filmes estrangeiros - logo quebrada pelo blockbuster Velozes e Furiosos 7 -  a chegada de uma franquia de tanto sucesso é extremamente oportuna.

Até que a Sorte nos Separe apresenta sua terceira parte - o que por si só já é um grande feito - uma vez que isso nunca ocorreu no cinema nacional e tanto se discute o desenvolvimento de uma indústria cinematográfica brasileira. E chega em grande estilo: cerca de 900 salas - o maior lançamento de um filme nacional da história - o que prova que o filme ainda goza de muito prestígio e credibilidade. A sequência conseguiu ser bem sucedida em todos os obstáculos que enfrentou. Se atualmente o ator Leandro Hassum é praticamente sinônimo de fartas bilheterias, na época do primeiro filme isso ainda era uma incógnita. Foi a dupla Paulo Cursino (roteirista) e Roberto Santucci (diretor) que "inventou" o fenômeno Hassum, obviamente identificando o talento à época ainda velado. Até que a Sorte nos Separe (2012) foi a maior bilheteria do ano, atingindo três milhões e meio de espectadores.

Em Até que a Sorte nos Separe 2 (2013), a produção teve que substituir Danielle Winits por Camila Morgado no papel de Jane - mulher do protagonista Faustino (Leandro Hassum). O filme também foi a maior bilheteria do ano, com cerca de quatro milhões de espectadores.

Nesta terceira parte, anunciada como o episódio final, tiveram que superar a mudança do protagonista - que emagreceu setenta quilos após uma cirurgia no estômago - através de uma bela "sacada" de Cursino. Após duas partes onde o protagonista enriquece no início e passa o filme inteiro gastando a fortuna, o filme conseguiu se reinventar através de vários "pontos de virada" (é como roteiristas se referem aos momentos em que a história toma outro rumo). 

Como um filme feito para atingir o grande público, a trama segue padrões do cinema clássico, com as limitações que um campeão de bilheteria deve seguir para não desagradar seu público. Mesmo assim, tem a ousadia que já dava sinais em outro trabalho da dupla: o filme O Candidato Honesto (2014).

Se lá Cursino e Santucci já ousaram em fazer diversas piadas políticas e críticas sociais, em Até que a Sorte nos Separe 3 eles "colocam o dedo na ferida" com muito mais veemência, e se valem do pouco tempo que tiveram pra fazer o filme - as filmagens terminaram em outubro e o lançamento aconteceu em dezembro - pra criticarem o atual momento político do país. Algo que normalmente só programas semanais de TV conseguem.


Mas vamos finalmente à história. O filme começa com Faustino (Leandro Hassum) no programa do Luciano Huck disputando um milhão de reais com André Marques para ver quem mais emagreceu. Ao contrário do que o público imagina, o protagonista não ganha o dinheiro e continua trabalhando como ambulante. Atropelado, passa algum tempo desacordado e quando recobra a consciência descobre que o rapaz que o atropelou (Bruno Gissoni)  é filho do homem mais rico do Brasil e quer se casar com sua filha Teté (Júlia Dávila). O milionário oferece um emprego com alto salário e Tino termina por falir o país.

O milionário - uma clara alusão a Eike Batista - é o tipo vaidoso, que usa peruca e tem um carro na sala, além de uma mulher linda (Emanuelle Araújo) uma ex capa de revistas masculinas que usa uma coleira com seu nome. Além disso, o protagonista vai a Brasília e conversa com a presidanta - como é chamada por Tino - interpretada por Mila Ribeiro, que se não é idêntica à presidente da república, tem a voz absolutamente igual.

Na passagem pela capital federal, são feitas piadas com as famosas "pedaladas", com a mandioca e até mesmo com o executivo Nestor Cerveró e seu olho caído. Interpretado de forma hilária pelo bissexto Bemvindo Siqueira.

Mais do que a história, Até que a Sorte Nos Separe 3 carrega diversos méritos e é um dos principais pilares para o fortalecimento do cinema nacional.
Sua bilheteria fantástica - em 15 dias atingiu a marca de dois milhões de ingressos vendidos - mostra que a franquia continua "com tudo" e merece um "Até que a Sorte nos Separe 4". Quem sabe com o subtítulo de A Nova Derrocada.



  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

OS OITO ODIADOS (The Hateful Eight)

Os Oito Odiados : Poster

por Tiago Lira


Os Oito Odiados é longo, não economiza película – literalmente, já que a produção foi original concebida em 70mm, apesar de não podermos vê-la assim no Brasil. Por isso acaba sendo contemplativo e até difícil de acompanhar. Porém, é uma produção interessante desde a tipografia usada no título do filme, na épica trilha de Ennio Morricone, no desenvolvimento dos personagens pelos diálogos e no belíssimo contraste do vermelho com o branco. O clima de mistério envolvente nesse faroeste invernal – algo bem incomum no gênero – não é o melhor trabalho do diretor, mas ainda é um bom filme com o já tradicional humor e ação de Quentin Tarantino.

A cena inicial do filme trem aproximadamente cinco minutos. É um plano longo mostrando uma carroça vinda ao longo de uma imensidão branca à enquanto vemos os créditos do filme. Já é suficiente para entender o clima que, apesar da contemplação e do símbolo da figura de Cristo enterrada na neve, poderia sim ser diminuída. Se há algo para se reclamar do filme é esse exagero dos seus 160 minutos – algo que Bastardos Inglórios e Django Livre pareciam não ter.

O que temos a seguir, nesse e no ato seguinte, é um road movie onde Tarantino desenvolve a personalidade distinta de metade dos oito odiados. Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) é mais louca, porém perigosa. Ela é uma mulher tão forte – num sentido mais figurado que literal – que precisar ser presa em correntes. Ainda nessa situação, ela confronta John “O Carrasco” Ruth (Kurt Russell), um caçador de recompensas desconfiado e dono de mais força bruta. O Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) é mais prático e seguro de si e, como vamos entender melhor mais à frente da narrativa, sabe o que precisa fazer para sobreviver num país assolado pelo racismo.

Chris Mannix (Walton Goggins) aborda a carroça durante essa viagem, servindo de elo entre atos ao se apresentar como o novo xerife de Red Rock, onde Ruth será enforcada e Ruth receberá sua recompensa. É nesse momento em que Tarantino planta habilmente a semente da desconfiança dessas pessoas. Elas estão lá por ser o que dizem ser e é uma incrível coincidência estarem ali? Com isso, você volta alguns minutos atrás e se pergunta até se os motivos de Warren são verdadeiros.

Com os novos personagens isolados começamos a pegar as inspirações de Tarantino para essa nova produção. Ecos de O Enigma do Outro Mundo e o romance E Então Não Sobrou Nenhum (de Agatha Christie, também conhecido como O Caso dos Dez Negrinhos) estão lá para quem quiser ver. Bob (Demián Bichir), Oswaldo Mobray (Tim Roth), Joe Gage (Michael Madsen), e Sanford Smithers (Bruce Dern) podem ser ou não o que dizem. E essa duvida vai corroer não só Warren, Ruth e Mannix, mas também o espectador, auxiliado por uma narração off, mas sutil, que mostra detalhes que perdemos por causa de uma discussão entre o soldado negro e Smithers, um general confederado e tão racista quanto o novo xerife.

Outra grande qualidade da produção, se não for a maior, é a ausência de heróis. Não quer dizer que o protagonista – e que desafio é determinar quem seja – não passe pela chamada “jornada do herói”, mas cada um dois oito são bem desgraçados, cada um a sua maneira. São personagens tão detestáveis que você dificilmente gostaria de viajar com eles, o que se reflete na hesitação de O.B. Jackson (Parks) em receber mais gente em sua carroça.

Em outros filmes Tarantino usou a figura do oprimido contra o opressor – uma mulher em Kill Bill, os judeus no já citado filmes de 2009 – e aqui repete o papel do negro como já tinha sido em 2012. Não é à toa quando digo que esse filme é uma representação de parte da história dos EUA, o que fica bem explícito em um dos diálogos de Warren com Ruth sobre uma carta que o antigo combatente sempre leva consigo, escrita pelo então presidente Abraham Lincoln. E também no embate que Warren tem com Smithers, mostrando o que um negro tem que fazer para sobreviver na América – mostrando o grande ator que o personagem é.

Com boas surpresas e cheio de diálogos inteligentes, Os Oito Odiados tem alguns problemas na escolha do diretor de alongar demais a narrativa, o que pode tornar a experiência maçante para alguns – provavelmente o montador Fred Raskin não tem o poder que Sally Menke tinha no diretor. No entanto, demora bem pouco para as cenas interessantes acontecerem – a cena com Warren sentado em três cadáveres empilhados na neve enquanto espera que alguma carroça apareça é impagável. É uma eficiente mistura de violência, comédia e tiros. Poderia ser menos violento? Sim, mas não seria Tarantino.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

VICTORIA

por Beto Besant

Vez por outra surge um filme tentando inovar a linguagem cinematográfica, seja pela forma de atuar, de roteirizar ou mesmo de se montar o filme. Neste caso, a “não-montagem” do filme. Pois, ao invés de usar vários planos que se alternam – como quase todos os filmes – aqui não há cortes, tudo é filmado sequencialmente e sem cortes, da forma que assistimos. É o chamado plano-sequência.

Como estratégia de marketing, foram amplamente divulgados os 134 minutos ininterruptos. Obviamente, isso só tem efeito para estudantes de cinema ou cinéfilos, pois o público médio nem repara nos cortes. Exceto nos casos em que a ordem cronológica é bruscamente interrompida – como em Pulp Ficition, 21 gramas, Babel, etc. Inclusive, o cinema clássico presa exatamente por fazer com que o público não perceba os cortes e assim se identifique mais facilmente com a história. 

A forma de se filmar - alardeada pelos distribuidores - acaba por ofuscar os méritos do filme. Prova disso é que este texto não pode falar do filme sem antes mencionar a técnica.


Na trama, Victoria (Laia Costa) é uma espanhola que vive há três meses na Alemanha. Sem amigos, vai até um clube noturno onde conhece quatro rapazes: Sonne, Boxer, Blinker e Fuss. Sem outra opção, a garota decide acompanhar os rapazes delinquentes pela noite de Berlim. Logo surge um interesse mútuo por Sonne (Frederick Lau), uma mistura de Marlon Brando com Gary Oldman, que demonstra ser o mais “ajuizado” do grupo - o que não garante muita coisa – e preocupado com o bem estar da garota.

No primeiro terço do filme – um pouco lento – fica a impressão errada de que o filme ficará apenas mostrando um retrato da juventude já abordado em outros filmes como Kids (1995) e Trainspotting (1996), mas em vez disso, o filme vai se tornando gradativamente mais tenso e levando a protagonista a uma situação cada vez mais descontrolada e surpreendente que - apesar da limitação de ritmo imposta pelo plano-sequência – é capaz de nos prender na poltrona e não perceber o tempo passar.

Bem dirigido pelo também ator Sebastian Schipper (Corra Lola, Corra), Victoria tem como suas maiores virtudes o bom elenco – sabiamente conduzido por Laia e Frederick – que conseguiu dar muita naturalidade aos improvisos feitos em apenas 12 páginas de roteiro. Tecnicamente, o mérito maior fica na mis en cene criada pelo diretor e habilidade na câmera do diretor de fotografia.

Mais uma boa experiência do cinema alemão, que é um dos mais sólidos e contundentes do planeta. Imperdível.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS