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Entrevista: MEU PASSADO ME CONDENA - por Beto Besant

Entrevista feita com a diretora Júlia Rezende e os atores Fábio Porchat e Miá Mello.



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MATO SEM CACHORRO

por Beto Besant

Deco (Bruno Gagliasso) é um carioca que vive estirado no sofá do apartamento herdado de seus pais. Certo dia quase atropela um cão com narcolepsia – doença que provoca desmaios repentinos, e ao socorrê-lo conhece Zoé (Leandra Leal), uma radialista apaixonada por cães. Os dois se envolvem rapidamente e vão morar juntos e adotam o cão de nome Guto.
Como Deco continua jogado no sofá, Zoé lhe deixa e vai com seu cão morar com Fernando (Enrique Diaz), um ex-namorado empresário "natureba" bem-sucedido dono de um SPA canino.
Para completar, Leléo (Danilo Gentili) - primo paulistano de Deco, vai morar em seu apartamento no Rio de Janeiro, tirando o pouco sossego que lhe restava. Então Deco planeja sequestrar o cão com a ajuda de seu primo.



Longa-metragem de estreia na direção do ator e montador Pedro Amorim, Mato sem Cachorro é uma comédia romântica que, apesar dos diversos trunfos, não “decola”. A começar pelo elenco, que tem como casal protagonista os sempre excelentes Leandra Leal e Bruno Gagliasso (ainda subvalorizado no cinema). Leandra e Bruno são convincentes em seus papeis e tem química suficiente para que o público torça para que eles terminem juntos. Danilo Gentili (que faz sua estreia no cinema) já tem uma participação mais contida. Por ter no improviso seu maior trunfo, no filme perde um pouco a graça – mesmo tendo liberdade para colocar diversos “cacos” (palavras que não estavam no roteiro), apelando muitas vezes para piadas sem graça e palavrões.

Pedro Amorim e Bruno Gagliasso
Enrique Diaz também está muito bem, encontrando o tom certo para viver o empresário “bonzinho e natureba”. Sandy faz uma divertida participação especial no papel dela mesma, brincando com a imagem de pureza que a mídia lhe apregoa. O mesmo pode-se dizer de Rafinha Bastos, que interpreta um veterinário excêntrico. Gabriela Duarte é provavelmente o maior erro de elenco, que tenta ser engraçada e sedutora, mas não convence nem ao cão do filme.  Mesmo acontece com a participação de Marcelo Tas, que interpreta dois irmãos gêmeos que mais parece filme da Xuxa.

O cão estrela do filme e seu adestrador americano
Amorim não consegue juntar todo este belo elenco de maneira satisfatória. O roteiro de André Pereira se perde na história e o diretor também não é capaz de salvá-lo. A abertura do filme, onde há uma mixagem de John Lennon é engraçada mas a repetição da fórmula perde a graça. A fotografia do experiente Gustavo Hadba é interessante mas não tem muito o que fazer num filme do gênero.


Uma coisa estranha numa comédia do gênero é o fato do personagem carioca ser “paradão” enquanto o paulistano ser “malandro esperto”. Resumo: diversão mediana ou para quem tem o riso muito solto.


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O CONSELHEIRO DO CRIME (The Counselor)


por Tiago Paes de Lira

Existem filmes densos e que nos fazem refletir. E existem outros que são puramente um soco no estômago, como esse ótimo exemplo trazido por Ridley Scott e Cormac McCarthy, voltando ao violento mundo do crime que havia visitado em Onde os Fracos Não tem Vez (livro que os Coen basearam seu filme No country For Old Man, de 2007). É uma história pesada e tensa, que mostra cicatrizes que nunca curam, e como uma série de eventos, que pode vir da má sorte, atinge os inocentes.

O Conselheiro (Michael Fassbender) é um advogado que por um motivo não detalhado na história se envolve com um pesado tráfico de drogas. Junto do conhecido Reiner (Javier Bardem) e do contato dos dois, Westray (Brad Pitt), ele entra num negócio que pode render um lucro de bilhões. Prestes a se casar com Laura (Penélope Cruz), ele se sente seguro. Até que a carga da droga é desviada de seu caminho e os donos acreditam que o Conselheiro é o culpado.


Existem grandes momentos no filme, e um dos melhores é a construção dos personagens. A cena inicial do Conselheiro e Laura fazendo formas no lençol, depois para dentro dele para closes dos dois, com cortes lentos, mostram um casal apaixonado. Desde o começo, o diretor nos faz simpatizar com o casal, por mais torpe que seja a atitude do advogado. A cena de Reiner e Malkina (Cruz) também é cheia de simbolismos, um tanto óbvios até, que é a caça de duas chitas de estimação – se é que se pode dizer isso – caçando coelhos no deserto. A personalidade de Reiner e completada por seu visual exagerado – bronzeamento artificial, cabelo estilo Brian Grazer – e Malkina por suas tatuagens que mimetizam um felino. E quando o Conselheiro e Westray se conhecem, ele usa cores claras, é colocado na luz, mostrando-se mais experiente no assunto, em oposição ao advogado, sempre de preto, mais escondido.

Malkina é a personagem mais interessante da trama, apesar de ser impossível não saber que Scott colocasse a atriz apenas para ser par romântico de um senhor das drogas. Isso não estraga a experiência, mas com certeza fica mais fácil de entender o desfecho. Ela é dissimulada, como uma gata é, e suas frases mostram que ela é uma mulher forte. Sedenta por dinheiro, ela até deixa de lado a sutileza ao usar um canino de ouro na boca. Ela tem uma personalidade impossível e imprevisível, desde os momentos que ela tenta “comer” Laura, ao mesmo tempo em que tem uma fixação estranha com a fé da noiva do advogado, finalizando na bizarra história de quando ela transou com um carro de Reiner. Sim, é tão estranho quanto parece.

A história tem poucas sutilezas, mas é difícil de entender o jeito que o diretor trata do sexo. Como é de costume, a violência é mais aceita pelas audiências tradicionais. Então, temos pessoas executadas de variadas maneiras – uma das mais interessantes é a do motoqueiro que tem a cabeça decepada – mas é pudico com os corpos dos personagens, tanto homens como mulheres. Conseguimos ver um "sideboob" de Cameron Diaz e Penélope Cruz, e só. Não é demérito, apenas um detalhe que nesse universo seria uma coisa natural de acontecer.

Todos os elementos estão bem encaixados. Começando com uma moto que cruza ao fundo a cidade onde o Conselheiro e Laura estão, as advertências que vem de todos os lados, inclusive de Westray que dá um conselho importante ao advogado – “saia fora” – as conversas que parecem esparsas e até uma parede completamente pintada de roxo, um símbolo ligado à morte, na casa de Reiner enquanto ele e o Conselheiro conversam sobre o negócio.

O Conselheiro do Crime - Scott consegue segurar a atenção de nós espectadores do começo ao fim. Enquanto vamos participando da história, Ridley nos prende num sentimento de humano, onde existe uma esperança mínima que tudo de certo no final, e que o desfecho iminente seria muito injusto. Afinal, por que não punir aquele que é o verdadeiro pecador? Mas não seria uma história tão boa, apenas menos chocante se o culpado fosse o sofredor físico. E tudo acaba com uma entrega e com uma felina dizendo que está com fome. Mais um prova de boníssimo cinema.


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11º CURTA SANTOS



por Beto Besant

Nesta terça-feira, 15 de outubro houve a Cerimônia de Abertura do 11º CURTA SANTOS, o principal evento cinematográfico do litoral paulista. O evento aconteceu no SESC Santos, tradicional parceiro do festival.


A cerimônia teve seu início com o ator Sidney Herzog, que entrou pela plateia cantando e caminhando até o palco. Em seguida, foi a vez da banda Tarja Preta apresentar suas músicas, com destaque para Falsa Abolição, concorrente a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.


Depois foram apresentados os 10 curtas-metragens que concorrem na categoria Olhar Caiçara e mais 10 da categoria Olhar Brasilis, seguidos pelos 10 concorrentes a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.

O diretor do evento Ricardo Vasconcellos, em tom de desabafo, subiu ao palco e falou sobre as dificuldades que um festival tão tradicional como o Curta Santos enfrenta, mesmo após 11 edições realizadas. Tendo que suprir todas as limitações impostas, inclusive algumas de última hora, deixando-os apreensivos sobre a viabilização do festival. Convidou ao palco o prefeito de Santos, Sr. Paulo Gomes e a Deputada Estadual Sra. Telma de Souza, que naquele dia conseguiu viabilizar com o Governo do Estado a verba que faltava para a realização do evento.

O ator Raffa Oliveira entrou em cena pelo mezzanino do teatro, onde faz um monólogo enquanto descia as escadas e alcançava o palco para anunciar o grande homenageado da noite: o ator Caio Blat. Ele fez um discurso emocionado, sobre a importância que o festival alcançou entre os eventos do gênero do país, sobre a dificuldade de um ator viver da profissão e sua felicidade em ter participado de 26 longas-metragens. Mas o momento mais especial foi quando revelou que, há vários anos, esteve num hotel da cidade e uma pessoa muito carismática e apaixonada por artes chegou até ele e falou que estava começando um festival de cinema na região e que ele tinha que participar. Essa pessoa era o querido Toninho Dantas, idealizador e Diretor Artístico do Festival, falecido em 2010.

Júnior Brassalotti, diretor artístico do evento, subiu ao palco e fez um discurso muito inflamado que contagiou a plateia. Em suas palavras citou as dificuldades que um evento do tipo enfrenta por ter políticas públicas mais interessadas em angariar votos do que levar cultura à população. Citou pessoas que lhe influenciaram a ingressar na vida artística e a se posicionar como cidadão, que luta pelos direitos de acesso à cultura, e como artista, que necessita de espaço público para apresentar seu trabalho e de condições financeiras para viver dignamente de seu ofício. Convocou os artistas da região a buscarem seu espaço, a irem à luta em cada local e exigirem seu direito de apresentarem sua arte. Com sua forma firme porém tranquila, conseguiu empolgar a plateia que lotava o teatro do SESC Santos.

O DJ Wagner Parra apresentou suas músicas simultaneamente à projeção de trechos de importantes obras da cinematografia nacional.
Depois os diretores convocaram o público a falarem o que julgassem pertinente, levando seus microfones a eles.
Resumo, foi uma grande festa, marcada pela reivindicação de políticas públicas que deem condições para que a classe artística possa viver de seu ofício. Pequenos problemas técnicos ocorreram, pois a forma não convencional de atores entrarem pela plateia e descerem escadas, fez com que, por vezes o microfone falhasse. A apresentação de Parra e a parte final, onde o público diz o que achar pertinente tiveram certa morosidade e deveriam ser mais enxutos. Mas nada que diminuísse o brilho dos discursos apaixonados e engajados de Blat e Brassalotti.

Durante os 4 dias de festival, aconteceram oficinas de direção de arte, interpretação e realização cinematográfica, além de debates mediados pelo jornalista e crítico de cinema Celso Sabadin. Também aconteceram mostras paralelas e exibições dos longas-metragens convidados: O dia que durou 21 anos (de Camilo Tavares), A memória que me contam (de Lúcia Murat) e Cores (de Francisco Garcia). Hoje o festival faz seu encerramento, apresentando os premiados de cada categoria.

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GRAVIDADE (Gravity)


por Tiago Paes de Lira

É fantástico como uma ideia tão simples pode render algo tão excelente. Gravidade tem uma premissa mínima, mas que desenvolvida nos carrega durante seus 90 minutos, passando por ótimos momentos dramáticos e com senso de urgência. O que Alfonso Cuarón trouxe foi uma experiência cinematográfica incrível, cheia de lirismo, coragem e, no fim das contas, uma homenagem à humanidade.

Durante uma missão espacial, a Dra Ryan Stone (Sandra Bullock), em seu primeiro voo orbital, é acompanhada pelo veterano Matt Kowalski (George Clooney), que está na sua última expedição fora do planeta. Enquanto trabalham no telescópio Hubble, a NASA informa que um teste conduzido pelos russos deu errado, destruindo vários satélites, e que os destroços se dirigem à localização deles. A reação em cadeia destrói a nave dos dois, que ficam à deriva no espaço. Sem transporte, eles tem que chegar até outra estação espacial para voltar à Terra com vários perigos iminentes: a volta dos destroços que estão orbitando o planeta, a comunicação interrompida com a agência, e o baixo suprimento de oxigênio de suas roupas.

Você vai concordar que esse é um argumento simples. Personagens tem que ir do ponto A ao ponto B antes que o pior aconteça. Porém, o excelente desenvolvimento da história dirigida por Cuarón faz com que essa seja uma jornada de descoberta. Em determinado ponto, Ryan diz que o que ela mais gosta no espaço é o silêncio, e que lá temos momentos para reflexão. Durante os minutos iniciais da história filmada em plano sequência – em uma ótima junção de tecnologia digital e a técnica do plano sequência em si – vivenciamos esse espaço silencioso e com a câmera acompanhando o flutuar na gravidade zero. O diretor, com enorme competência, nos torna parte desse cenário, onde o silêncio é quebrado pela conversa dos astronautas e belíssima trilha de Steven Price.

Numa guinada, Cuarón transforma toda essa paz de espírito em desespero quando os destroços atingem a nave. É desesperador, e a vontade que temos é de gritar para que os personagens olhem para trás é monstruosa. É uma pequena percepção do que é ficar sem parte dos sentidos, guiando-se só pelo que se vê, sem os sons para ajudar. Para piorar, apesar da urgência tátil, os astronautas se movimentam com lentidão própria do espaço, não havendo a ser feito.

Pela primeira vez um filme 3D convertido tem sucesso e ajuda a trama. Em vários momentos, Cuarón nos coloca na visão subjetiva de Ryan. Assim como ela, não temos experiência no espaço sideral. O desespero dela é o nosso, a desorientação dela é a nossa. Poucas vezes no cinema recente houve uma imersão tão profunda entre protagonista e plateia. Afins de comparação, o efeito é o que deveríamos ter visto em O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, 2012), mas infinitamente menos tímido.

A construção dos personagens é outro elemento digno de palmas. Ao invés de apelar para flashbacks ou narrações em off, Cuarón faz que Matt tranquilize Ryan falando de seu passado. Não precisamos de cenas dela com a filha, ou mostrando a casa em que cresceu para criarmos identificação, ou entender que a morte da filha a fez buscar isolamento. Já Matt é retratado pela música que ouve, e pela sua tranquilidade e vontade de quebrar o recorde de permanência no espaço, características que fazem entender o destino do personagem.

Assim como a própria condição humana, o filme tem camadas e mais camadas para serem destrinchadas. Existem homenagens à outros filmes espaciais, com a voz do controlador da NASA ser de Ed Harris, reprisando seu papel Apollo 13 (Apollo 13, 1995) e uma brincadeira com um extintor no estilo Wall-E (Wall-E, 2008). A fotografia de Emmanuel Lubezki lida com momentos chaves do filme, passando pela urgência banhada em vermelho pelo sol no momento do acidente, e da escuridão logo depois quando Ryan se encontra girando no meio do vácuo do espaço, além de trabalhar incrivelmente bem quando as luzes precisam ser diferentes nos momentos dentro dos módulos, por causa da suas várias mudanças de posição. E é impossível não falar sobre a mise en scène, belamente construída, atingindo seu ápice na cena que emula uma gravidez, com direito à cabos soltos, que funcionam como o cordão umbilical. Não existe outra palavra além de linda para a sequência toda. E para provar que consegue manipular a audiência mais ainda, o diretor brinca mais uma vez com a relação de Ryan e Matt na cena do reencontro, mas mantém a personagem feminina forte, sem precisar apelar para um salvador masculino.

Passando por despedidas inesperadas, e momentos envolvidos pela beleza do espaço – por mais que não dê tempo de curti-las, já que a uma missão deve ser concluída –, o filme nasce para se tornar um novo clássico. Não apenas da ficção científica, mas como um todo. É uma produção espetacular, desde questões técnicas, movimentos e enquadramentos de câmera e direção dos dois fantásticos atores.

[E se você não viu o filme, pule o próxima parágrafo para evitar spoilers]

Não é exagero dizer que em Gravidade é, no final, uma homenagem de Cuarón à própria raça humana. Existe um motivo para tudo em cena. Então, quando o diretor filma Ryan em posição fetal na Estação Espacial Internacional, ele mostra a crença na teoria de que a vida começou no espaço. E para completar essa visão, Cuarón faz com que a astronauta caia no mar, nade até a superfície, e com pernas bambas, chegue à terra firme, transformando assim Ryan na representação poética do ser humano.

[Fim dos spoilers]

Profundo e brilhante são poucos elogios à essa obra de arte, que figurará por muitos anos na imaginação dos apreciadores dessa arte que é o cinema.


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NOVE CRÔNICAS PARA UM CORAÇÃO AOS BERROS


por Beto Besant

Como diz o título, o filme conta nove histórias do cotidiano de pessoas comuns com problemas existenciais.
Simone (Simone Spoladore) cansou de ser prostituta e procura um homem que a assuma e tire-a da prostituição. Leopoldo (Leonardo Medeiros) tenta criar coragem para abandonar seu trabalho e mudar o rumo de sua vida. Júlio (Júlio Andrade) tem uma vidinha medíocre que se divide em morar com a mãe e ir para um trabalho entediante. Um músico (André Frateschi) faz um anúncio no jornal para formar uma banda.
Estes e outros personagens vivem seus problemas e desilusões sentimentais e de vida.



Construído na intenção de formar um mosaico de personagens e suas vidas, Nove crônicas para um coração aos berros é uma sucessão de erros. O roteiro de Gustavo Galvão e Cristiane Oliveira não consegue dar uma unidade aos personagens e a impressão que temos é que foram feitos vários curtas e unidos aleatoriamente para virarem um longa-metragem.


As situações não tem verossimilhança, conceitos como o que se evita ao máximo o uso de diálogos fazem com que aconteçam situações completamente sem sentido. A direção de Galvão tenta fazer planos sequência que fazem o filme ficar mais lento e entediante ainda.
Além disso, toda a direção de arte ambienta o filme no início dos anos 80, mas no final mostra um Fiat 96.

É realmente difícil de acreditar como atores do gabarito de Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Marat Descartes aceitaram participar de um filme tão imaturo.


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Coletiva: O TEMPO E O VENTO


por Beto Besant

Livremente adaptado da obra O Continente (de Érico Veríssimo), o filme parte de uma noite de conflito entra duas famílias gaúchas rivais onde Bibiana (Fernanda Montenegro) recebe a visita de seu grande amor, o capitão Rodrigo, morto há décadas. Assim, ela lhe conta 150 anos de história de sua família. 





A máxima de que “cinema é imagem” neste filme deveria ser mudada para: cinema não é apenas imagem. Alardeado como o primeiro filme no mundo finalizado em 4K (algo como uma super definição) logo percebemos a velha máxima: quando um filme não se sustenta sozinho, usa-se argumentos de ineditismo em algum outro quesito. Dirigido pelo renomado diretor de telenovelas Jayme Monjardim, O Tempo e o Vento é uma sucessão de equívocos. 


Na coletiva, o diretor já começou se justificando que gosta de fazer histórias populares, fáceis de entender, com início meio e fim. Isso mostrou que ele sabia que seria criticado pelo tom novelesco da trama. Tudo no filme nos dá a estranha sensação de estarmos assistindo a uma novela em tela grande: da forma didática com que Bibiana conta a saga da família ao elenco recheado de estrelas da TV Globo, que parece querer atrair para as salas de cinema o público habituado às produções televisivas. Nem os 27 tratamentos do roteiro, escrito por Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, foram capazes de salvá-lo. Na ânsia de querer contar o romance, a guerra entre as famílias e tudo que aconteceu com a família de Bibiana e com o Capitão Rodrigo, o roteiro não consegue se aprofundar em nada, como se fosse o trailer de uma série de TV. 

Vemos tudo acontecer numa velocidade assombrosa e não nos identificamos com nenhum dos personagens. A trilha sonora (belíssima composição de Alexandre Guerra) além de sempre acentuar o melodrama ou heroísmo, é de uma constância ensurdecedora. Não sei se foi um erro do compositor ou do diretor, mas o fato é que o filme parece querer fazer com que a trilha sonora obtenha do público a emoção que o roteiro não consegue. E não dá um minuto de descanso aos nossos ouvidos, como um longo trailer de publicidade. 


O elenco em geral está bem. Thiago Lacerda, que carrega a pecha de um galã de novela, está muito convincente como capitão Rodrigo. Principalmente na cena em que ele está bêbado e não dá importância ao grave estado de saúde de sua filha recém-nascida. Fernanda Montenegro está bem como sempre, mas não excepcional. Cléo Pires e Suzana Pires são o ponto fraco entre as atuações, que contam ainda com dois estrangeiros: o argentino Martin Rodriguez e o uruguaio César Troncoso (sempre ótimo). 

Apesar de tudo, o filme conta com a belíssima fotografia de Affonso Beato (que trabalhou até com Pedro Almodóvar) em lindas paisagens alaranjadas bem ao estilo E O Vento Levou. Monjardim confessa que filmou a mais para que o filme possa ser alongado para a exibição na TV Globo como minissérie. E diz que não teria feito o filme se Fernanda Montenegro não aceitasse interpretar Bibiana. Talvez fosse o caso da atriz ter pensado melhor antes de aceitar o personagem.



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OBSESSÃO (Paperboy)



por Rogério de Moraes

Por mais óbvio que seja, nunca é demais repetir que literatura e cinema são linguagens diferentes. Por esse motivo, a transposição de um para o outro, as chamadas adaptações para o cinema, como o próprio nome diz exige... adaptação. É aí que mora o perigo, já que a fidelidade ao original nem sempre funciona na tela.

Obsessão é a transposição para o cinema do livro “Paperboy”, de Pete Dexter (trad. Ivar Panazzolo Junior, ed. Novo Conceito, 336 págs. R$29,90). A direção é de Lee Daniels, nome que ganhou destaque em 2010 ao dirigir Preciosa – Uma História de Esperança e concorrer a seis Oscars, incluindo o de melhor filme e melhor direção (levou dois: melhor atriz coadjuvante para Mo’Nique e melhor roteiro adaptado).



Para esta adaptação, Daniels reuniu um elenco de rostos conhecidos. Matthew McConaughey interpreta Ward, um jornalista que nos anos 60 retorna à cidade natal na Flórida para investigar um julgamento que resultou em uma condenação à pena de morte para Hillary Van Wetter, interpretado por John Cusack.
Para tentar provar que o julgamento não foi justo, Ward conta com a ajuda de Charlotte Bless, uma mulher vulgar que se corresponde com presidiários e se apaixona por Wetter. Interpretada por Nicole Kidman, ela despertará o desejo e a paixão do irmão caçula do jornalista, Jack, vivido por Zac Efron.

Ao final de Obsessão, não é preciso ter qualquer informação prévia sobre a fonte da história para deduzir que se trata de uma adaptação literária. A transposição da história para o cinema é tão falha que revela na sua própria estrutura e má funcionalidade o ruído entre uma linguagem em outra.


Da ambientação aos personagens, passando pelas situações vividas por todos e pelas diversas questões que o filme pincela (preconceito racial, direitos civis, moralidade e inocência), tudo está montado e amarrado como um livro, não como um filme. Não há uma fruição, mas solavancos que denunciam capítulos condensados, enfileirados e filmados.


Mais do que perder-se na tradução (risco inevitável em qualquer adaptação), Obsessão não se esforça em transformar uma coisa em outra. Seu roteiro não busca uma linguagem que amarre e faça fluir a história com naturalidade, deixando transparecer uma resistência em cortar, em condensar.

Não que os 107 minutos de duração sejam prolixos, eles são apenas mal aproveitados ao tentarem espremer o que poderia ser cortado e substituído por um olhar mais próximo dos personagens e suas motivações. Isso porque quase todos os personagens da trama têm um visível potencial dramático que o filme simplesmente desperdiça com a superficialidade.

Também não colaboram para melhorar o resultado as atuações que se vê na tela. Elas vão de um Zac Efron sem atributos dramáticos, passam por um Matthew McConaughey no piloto automático, revelam uma Nicole Kidman irregular para finalmente chegar ao ápice de um John Cusack várias notas acima do tom.

Entre cenas constrangedoramente ruins e algumas boas promessas nunca concretizadas narrativamente, Obsessão é um filme que se mostra preguiçoso como adaptação, ineficiente como thriller e frágil como arco dramático.


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