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O CONSELHEIRO DO CRIME (The Counselor)


por Tiago Paes de Lira

Existem filmes densos e que nos fazem refletir. E existem outros que são puramente um soco no estômago, como esse ótimo exemplo trazido por Ridley Scott e Cormac McCarthy, voltando ao violento mundo do crime que havia visitado em Onde os Fracos Não tem Vez (livro que os Coen basearam seu filme No country For Old Man, de 2007). É uma história pesada e tensa, que mostra cicatrizes que nunca curam, e como uma série de eventos, que pode vir da má sorte, atinge os inocentes.

O Conselheiro (Michael Fassbender) é um advogado que por um motivo não detalhado na história se envolve com um pesado tráfico de drogas. Junto do conhecido Reiner (Javier Bardem) e do contato dos dois, Westray (Brad Pitt), ele entra num negócio que pode render um lucro de bilhões. Prestes a se casar com Laura (Penélope Cruz), ele se sente seguro. Até que a carga da droga é desviada de seu caminho e os donos acreditam que o Conselheiro é o culpado.


Existem grandes momentos no filme, e um dos melhores é a construção dos personagens. A cena inicial do Conselheiro e Laura fazendo formas no lençol, depois para dentro dele para closes dos dois, com cortes lentos, mostram um casal apaixonado. Desde o começo, o diretor nos faz simpatizar com o casal, por mais torpe que seja a atitude do advogado. A cena de Reiner e Malkina (Cruz) também é cheia de simbolismos, um tanto óbvios até, que é a caça de duas chitas de estimação – se é que se pode dizer isso – caçando coelhos no deserto. A personalidade de Reiner e completada por seu visual exagerado – bronzeamento artificial, cabelo estilo Brian Grazer – e Malkina por suas tatuagens que mimetizam um felino. E quando o Conselheiro e Westray se conhecem, ele usa cores claras, é colocado na luz, mostrando-se mais experiente no assunto, em oposição ao advogado, sempre de preto, mais escondido.

Malkina é a personagem mais interessante da trama, apesar de ser impossível não saber que Scott colocasse a atriz apenas para ser par romântico de um senhor das drogas. Isso não estraga a experiência, mas com certeza fica mais fácil de entender o desfecho. Ela é dissimulada, como uma gata é, e suas frases mostram que ela é uma mulher forte. Sedenta por dinheiro, ela até deixa de lado a sutileza ao usar um canino de ouro na boca. Ela tem uma personalidade impossível e imprevisível, desde os momentos que ela tenta “comer” Laura, ao mesmo tempo em que tem uma fixação estranha com a fé da noiva do advogado, finalizando na bizarra história de quando ela transou com um carro de Reiner. Sim, é tão estranho quanto parece.

A história tem poucas sutilezas, mas é difícil de entender o jeito que o diretor trata do sexo. Como é de costume, a violência é mais aceita pelas audiências tradicionais. Então, temos pessoas executadas de variadas maneiras – uma das mais interessantes é a do motoqueiro que tem a cabeça decepada – mas é pudico com os corpos dos personagens, tanto homens como mulheres. Conseguimos ver um "sideboob" de Cameron Diaz e Penélope Cruz, e só. Não é demérito, apenas um detalhe que nesse universo seria uma coisa natural de acontecer.

Todos os elementos estão bem encaixados. Começando com uma moto que cruza ao fundo a cidade onde o Conselheiro e Laura estão, as advertências que vem de todos os lados, inclusive de Westray que dá um conselho importante ao advogado – “saia fora” – as conversas que parecem esparsas e até uma parede completamente pintada de roxo, um símbolo ligado à morte, na casa de Reiner enquanto ele e o Conselheiro conversam sobre o negócio.

O Conselheiro do Crime - Scott consegue segurar a atenção de nós espectadores do começo ao fim. Enquanto vamos participando da história, Ridley nos prende num sentimento de humano, onde existe uma esperança mínima que tudo de certo no final, e que o desfecho iminente seria muito injusto. Afinal, por que não punir aquele que é o verdadeiro pecador? Mas não seria uma história tão boa, apenas menos chocante se o culpado fosse o sofredor físico. E tudo acaba com uma entrega e com uma felina dizendo que está com fome. Mais um prova de boníssimo cinema.


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