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MERCENÁRIOS 3 (The Expendables 3)


por Tiago Paes de Lira


Há coisas que nunca mudam, e Stallone e companhia apostam nessa máxima de novo em Os Mercenários 3: divertido, mas não muito mais que isso. Mesmo apelando para o clichê de justificativas prontas – o que mais se esperar de um filme desses – é notória que a fórmula se esgotou e a tentativa de trazer personagens novos funciona apenas em parte. Se antes o efeito era quase orgástico para os fãs de filmes de brucutus, a introdução de caras jovens sofre o reverso, com atores e personagens com pouco ou nenhum carisma, numa tentativa falha de atualizar esse novo-velho universo.

Durante uma missão, os Mercenários – Barney Ross (Sylvester Stallone), Lee Christmas (Jason Statham), Gunnar Jensen (Dolph Lundgren), Toll Road (Randy Couture) e Hale Caesar (Terry Crews), juntos do recém-liberto Doutor Morte (Wesley Snipes) – descobrem que um antigo desafeto chamado Conrad Stonebanks (Mel Gibson) é seu alvo. Fantasmas do passado voltam para assombrar Barney e para acabar com eles e cuidar para que seus amigos não morram, ele contrata um novo time para caçar Stonebanks e captura-lo para o novo contato de Barney na CIA, o agente Max Drummer (Harrison Ford).

Com dois filmes pré-estabelecidos, o diretor Patrick Hughes utiliza o prólogo para poucas palavras e muita ação, representadas principalmente nas ações do Doutor, que só vai abrir a boca depois. Diferente dos anteriores, onde a ação inicial tem algum tipo de reflexo posterior – no primeiro, a personalidade questionável de Gunnar. No segundo, o resgate de Trench Mauser (Arnold Schwarzenegger), que deverá um favor ao grupo –, a destruição da prisão serve apenas para introduzir o novo personagem. Logo após, é bom ver Snipes se desprender de críticas pessoais ao permitir que seu personagem, em uma piada, diga que foi preso por evasão de impostos – motivo que o manteve preso na vida real entre 2010 e 2013. Divertido também é o Doutor mostrar ao mesmo tempo sua habilidade com facas e sua masculinidade quando faz a barba à seco com uma faca que tem o tamanho de um antebraço. É dele também a frase mais marcante do filme, que se mistura com onomatopeia, ao ver as placas de identificação dos antigos Mercenários mortos, imitando o som do tilintar delas batendo.

Outra coisa nítida é a diminuição do gore em relação ao anterior. Em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012, Dir Simon West) apelava-se para um sangue digital, o que dava um tom falso àqueles momentos. Isso não quer dizer que não continue um filme violento, visto que ambos filmes têm censura PG-13 nos EUA. Pelo contrário, continuam os muitos tiros, explosões e agora se adicionam alguns cortes de gargantas, que são sutilmente cortados (piada pronta) na montagem.

Mesmo sendo um filme com ação desenfreada, há lampejos de uma boa direção. O mais marcante é quando Hughes não apela para o caminho mais fácil de um flashback para mostrar a relação entre Barney e Stonebanks. Ao contrário, ele segura essa informação para mostra-la depois para um dos jovens contratados por Barney para caçar o vilão por meio de um dossiê. Só ali é que descobrimos que Stonebanks é um ex-Mercenário, o que podemos ver pela tatuagem que tem.

A fotografia também tem destaque, apostando em tons amarelos – com a formação clássica – depois azul, como se fosse algo mais high tech e moderno. Nota-se claramente isso quando Barney, John Smilee (Kellan Lutz), Luna (Ronda Rousey), Thorn (Glen Powell) e Mars (Victor Ortiz) invadem o prédio em que Stonebanks vai fazer negócio. A cor reforça a modernidade do prédio de vidro e aço, com luzes que parecem neon.

Pena que a qualidade não se mantenha, a começar pelo jovem elenco. Os personagens são desinteressantes, e é difícil lembrar quem é quem – com exceção de Luna, obviamente – tão grande é a falta de carisma deles. A inclusão do Doutor e de Galgo (Antonio Banderas) funciona melhor. Mas se a tentativa dessa mistura de atores vindos de produções questionáveis – Lutz, por exemplo, da Saga Crepúsculo, onde era Emmett Cullen – e do mundo do UFC/MMA serviu para atrair o público mais jovem, isso pode ter sido um tiro no pé da franquia.

Indo além, o roteiro parece não decidir qual é a personalidade de Barney. Ele parece inteligente e observador num momento, enquanto no outro é só mais uma montanha de músculos com pouco cérebro. Ele troca de uma arma para outra porque sabe que é mais rápido fazer isso do que recarregar, e presta atenção na história de Galgo, apesar dele falar sem parar. Mas também esquece de revistar Stonebanks quando este é capturado – mesmo com sua trupe de jovens acostumados com tecnologia – e caí numa armadilha muito óbvia, que se via de longe que ia acontecer.

Além de faltar força para a produção deslanchar, é preocupante a alternância entre bons e maus momentos. Ainda que seja engraçado ouvir frases como “O Church está fora da jogada”, que tem muito mais sentido em inglês – “Church is out of the Picture” – e as homenagens prestadas – como Drummer dar uma de Han Solo para salvar o dia –, fica difícil de aceitar coisas como o CGI fraco e a insistência em Barney reforçar duas ou três vezes que o Doutor é um bom Doutor, no sentido médico da palavra, e isso não ser aplicado na prática no filme, dando a impressão que seria alguma coisa importante para o desenvolvimento da história.

Os Mercenários 3 tenta emular a evolução do estilo do brucutu – comentada no TigreCast 7: Brucutu Style – onde músculos são trocados por alguém mais técnico e ágil, mas ficou apenas na caricatura. Sim, o próprio filme diz, e há de se concordar: diversão é importante. Só faltou alguém dizer que simplesmente jogar esses atores tão queridos na tela não funciona sozinho, como foi no começo da franquia. Que venha um Mercenários 4 para arrumar essa situação, e fechar com chave de ouro esse encontro que esperamos praticamente 30 anos para ver.


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AMANTES ETERNOS (Only Lovers Left Alive)


por Antonio Carlos Egypto

Uma história de amor que dura séculos, como a de Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton) não chega a ser surpresa, num filme de vampiros. Adam and Eve? Seriam os vampiros mais ancestrais do nosso planeta? Não importa muito. 

O que mais me chamou a atenção no filme “Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch, foi o modo como ele trata das velhas e conhecidas questões vampirescas que sempre estiveram presentes na história do cinema e nas suas constantes atualizações.


Vampiros do século XXI , refinados e sofisticados, já não saem por aí atacando as jugulares das pessoas. Que coisa mais primitiva e arriscada! Muito mais elegante e atual é subornar um profissional de saúde de um bom hospital, o que garante não só a boa qualidade do sangue, como já o entrega devida e adequadamente embalado para transporte e armazenagem. E, em vez de se lambuzar todo de sangue, que tal sorvê-lo convenientemente em pequenas taças, como se faz com o melhor vinho? Também é possível inovar e fazer picolés de sangue em forma de sorvete, mantidos no congelador.


Vampiros sofisticados será que ainda têm medo de alho? Não se vê alho no filme e, a não ser por uma frase en passant, o assunto já não se coloca. E aquela história de cruzes e outros símbolos religiosos, capazes de destruir os seres vampirescos? Esqueça, isso é um papo antigo, que lembra o período medieval das caças às bruxas. Bem, é claro que os vampiros se lembrarão não apenas desse episódio histórico, mas de muitos outros que eles viveram nos últimos quinhentos anos. Só que o mundo mudou e eles mudaram, também. Hoje, os medos e os perigos que os envolvem são outros.

Adicionar legenda
É preciso evitar a luz solar, viver à noite, afinal, isso é da natureza dos vampiros por todos os séculos. Mas um risco maior, atualmente, é o do sangue contaminado. Especialmente num mundo globalizado não se pode consumir qualquer sangue, não. Isso, sim, é capaz de pôr fim à existência de um vampiro que, por exemplo, foi contemporâneo de Shakespeare e, como ele, escritor: Marlowe (John Hurt).


O problema também é que nem todos os vampiros alcançam o nível dos nossos protagonistas. Ava (Mia Wasikowska), a irmã mais nova de Eve, é um caso sério: é bagunceira, nunca se sacia e não resiste a uma jugular atraente. A ponto de matar seu fornecedor. Uma coisa é morder e vampirizar a presa, outra, é matá-la. Tudo tem limite.

Quanto aos zumbis, os mortos-vivos que convivem com os vampiros, eles podem estar em qualquer lugar, seja na indústria do cinema, em Los Angeles, seja na indústria fonográfica, e atrapalhar muitas coisas. Mas também podem ser muito úteis em diversas situações, como a relação entre Adam e Ian (Anton Yelchin), que aparece no filme, demonstra. 


Essas são questões que surgem no filme “Amores Eternos”. Eu pincei algumas das que me pareceram mais atraentes. Elas perpassam a história de amor, dando-lhe um sabor especial (epa!). Não significa que façam do filme uma comédia. “Amantes Eternos” tem muito humor, mas se desenvolve num registro sério e romântico, até com baixo astral. Adam, por exemplo, é um vampiro sofisticado, que compõe e adora música e instrumentos musicais maravilhosos e especiais, mas é um ser desanimado com a vida, depressivo. Coisas que acontecem com o passar de tanto tempo. Só mesmo o reencontro com Eve poderá mudá-lo. Então, não espere agilidade, rapidez, correria. Afinal, os vampiros têm todo o tempo do mundo, quando o sangue está à disposição e devidamente armazenado. Essa estabilidade será rompida e aí as coisas se complicam. Nem por isso o filme se acelera, mas o suspense cresce.


Se você gostou do que apresentei neste meu relato, não vai deixar de ver esse filme, claro. Se você acha tudo isso irrelevante, tente uma outra estreia cinematográfica. Simples assim.


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Entrevista: VESTIDO PRA CASAR

Beto Besant entrevista a atriz Júlia Rabello e os diretores Gerson Sanginitto e Paulo Aragão, do filme Vestido pra Casar.

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O HOMEM DAS MULTIDÕES


por Antonio Carlos Egypto

“O Homem das Multidões”, ou melhor, o homem solitário em meio à multidão. Que caminha só, no mar de gente que circula pelas plataformas urbanas de trens. Que caminha junto aos trens e aos seus trilhos. Que entra no trem. Que observa do alto a passagem dos trens. Sua vida parece se resumir aos trens.


Esse homem é Juvenal (Paulo André), maquinista de metrô em Belo Horizonte. Vive e mora só e cumpre bem sua função no trabalho. Relaciona-se na função com Margô (Sílvia Lourenço), controladora do fluxo dos trens. Há mais silêncios do que contatos verbais nessa relação.

Margô está para se casar, põe convite para seu casamento na oficina de trabalho. Mas é igualmente uma mulher solitária. O casamento resultou de um site de relacionamentos na Internet, em que encontrou o perfil ideal para ela. E, supõe-se, valha o mesmo para o consorte. Relacionamentos virtuais se complicam quando passam para o mundo real. Coisas prosaicas, como ter um padrinho, podem se tornar um problema, porque aí não valem as categorias utilizadas pelas redes sociais. Amigos não se obtêm com um toque.


É dessa substância reflexiva -- solidão, isolamento, incomunicabilidade, virtualidade – no esgarçado tecido urbano das grandes cidades, que se nutre o filme de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.

Há muita beleza nas imagens que eles produzem, nos enquadramentos expressivos, que dizem muito, nos tons esmaecidos, sem vida, que compõem com precisão a forma que relata o que experimentam os personagens. Mas há outro fator que é ainda mais marcante: a redução intencional da imagem.

Quando a projeção começa, você vê que o filme ocupa pouco mais do que o terço central da tela do cinema. Quase dois terços estão vazios, há espaço semelhante ao projetado, tanto à direita, quanto à esquerda. E mais: o tamanho da tela parece pequeno para o que se quer mostrar. As coisas estão espremidas na imagem, pessoas que interagem ficam fora do quadro, às vezes, ou alguém cobre parte do quadro, como que a mostrar que o resto da tela que não está sendo usado faz falta. O mundo se apequena, se espreme, se reduz. As possibilidades humanas de viver estão limitadas pela solidão profunda em meio à multidão. Isso está na utilização da tela, tanto quanto ou mais do que nas cenas mostradas.




A redução da existência incomoda, prende, limita também o espectador. O tempo custa a passar, dá vontade de sair dali, respirar com desenvoltura, ocupar o espaço e interagir com os outros. Sair do sufoco.

Como se pode ver, o filme incomoda porque é muito bem feito, atinge seus objetivos. Certamente, não diverte. É um filme experimental, que está buscando outras coisas. E explorando as múltiplas possibilidades da linguagem cinematográfica.

O trabalho do pernambucano Marcelo Gomes e seus parceiros, no caso, aqui, o mineiro Cao Guimarães, tem sido marcado pela busca de renovação dessa linguagem, como atestam filmes como “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de 2005, e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de 2009, trabalhos indispensáveis para quem quer apreciar o que de melhor se fez no cinema brasileiro, nos últimos anos. “Era Uma Vez Eu, Verônica” (veja crítica publicada aqui, em novembro de 2012), embora menos inovador, é um trabalho igualmente denso e consistente. “O Homem das Multidões” é um filme que merece toda a atenção, embora se dirija a um público restrito, por sua concepção.


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