Tecnologia do Blogger.
RSS

DE CORAÇÃO ABERTO (À Couer Ouvert)

 
 
por Beto Besant
 
Mila (Juliette Binoche) e Javier (Edgar Ramírez) são um jovem casal na faixa dos quarenta, que vive de forma intensa. Saem, se divertem (sozinhos ou com amigos), brincam, e mais do que tudo: transam muito e intensamente. Essa vida apaixonada de adolescentes é completada na profissão: ambos são cardiologostas e trabalham no mesmo hospital. Como já era de se esperar, nada é perfeito. Ele é alcoólatra e ela não admite uma criança para atrapalhar o estado de eternos apaixonados que vivem. Tudo começa a mudar quando ela engravida inesperadamente e ele passa a sentir ciúmes da criança.
 
A diretora Marion Laine conduz o melodrama sem grandes novidades, porém a qualidade dos protagonistas já torna o filme interessante, apesar de ter sido um fiasco na França.
 
A estrela francesa foi convidada para o papel graças ao pedido de Ramírez, que sonhava fazer um filme com Binoche. O casal mostra boa sintonia, com destaque para Ramírez cantando Besame Mucho
Como era de se imaginar, vivem um casal formado por um sulamericano e uma francesa. A decadência do relacionamento, que vai do céu ao inferno, é mostrada sem rodeios, como o título do filme.
 
 
 
De Coração Aberto tem bela fotografia de Antoine Héberlé (que esteve no Brasil para fotografar o filme Última Parada 174 - de Bruno Barreto) e conta a história sem muitas sutilezas. Muitos até podem compará-lo jocosamente a uma novela, mas se for visto sem preconceitos, traz bons momentos. Destaque para o final poético do filme.
 
 


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

O VOO (Flight)

 
por Beto Besant
 
Whip Whitaker (Denzel Washington) é um piloto de aviação comercial que possui sérios problemas de dependência química. Em um dos voos, sob efeito de cocaína, realiza uma manobra inédita e consegue salvar seus passageiros, com a perda de apenas seis vidas.
Saudado como herói, sua sorte muda quando sai o resultado toxicológico e fica provado que pilotava sob efeito de cocaína e álcool. A partir daí trava uma batalha na justiça para se livrar da cadeia e outra em sua vida pessoal, para se livrar do vício.
 
O novo filme do diretor Robert Zemeckis (de grandes sucessos como Forrest Gump e a trilogia De Volta Para o Futuro) conta a história do piloto dependente químico de forma interessante, porém sem grandes novidades.

O personagem é apresentado cheirando cocaína após uma noite de sexo com uma bela mulher, este possui uma ex-mulher e um filho com quem não se relaciona bem. Em seguida, ficamos sabendo que ele é um inconsequente piloto de aviação comercial e ela a comissária de bordo. Agindo de forma jocosa, onde chega a dizer ao copiloto que "pilotar avião é como jogar videogame", mostra extrema habilidade para contornar turbulências, habilidade que lhe falta em sua vida pessoal.
Tal inconsequência é apresentada como um ônus a que o personagem terá que pagar, e de forma moralista, o filme apresenta o "inferno" que o herói terá de enfrentar, num roteiro assinado por John Gatins (Agentes de Aço) e também indicado ao Oscar por Roteiro Original.

 
O impasse do filme está em punir ou não um exímio piloto, que salvou praticamente todas as pessoas do voo, por estar drogado ao pilotar um avião com defeito. O roteiro perde a oportunidade de se aventurar pelas artimanhas das companhias aéreas em busca do lucro acima de tudo e de abafar quais quer escândalo. Mas a proposta comercial do filme não permitiria este viés polêmico.
 
O grande mérito do filme está nas atuações. Washington mostra definitivamente que é um grande ator e merecidamente está indicado ao Oscar. John Goodman, que interpreta brilhantemente o traficante Harling Mays (apesar de até sua caracterização estar estereotipada), está sensacional como de costume, trazendo as melhores piadas do filme. Kelly Reilly, que interpreta a viciada Nicole, também está bem fazendo par romântico com o protagonista enquanto tenta se livrar do vício.

A trilha sonora pop cai como uma luva na trama, principalmente em "Sympathy For The Devil", dos Rolling Stones.

O ritmo do filme é ótimo, e consegue segurar o público durante todo o filme. Apesar da nítida preocupação comercial e do final moralista-educativo, O Voo é uma boa diversão sem maiores compromissos e merece ser visto.

 

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

OS MISERÁVEIS (Les Miserables)

 
por Rogério de Moraes

Primeiro, avalie o elenco formado por Hugh Jackman, Anne Hathaway, Russel Crowe, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter. Em seguida, pondere: são eles que vão preencher, sempre cantando, as duas horas e trinta e sete minutos de duração do filme.
Antes de tudo, é este o quadro que inicialmente deve ser informado ao leitor a respeito de Os Miseráveis, musical dirigido por Tom Hooper que estreia nesta sexta (01) e disputa o Oscar em oito categorias.
Na esteira dos fatos, cabe lamentar que o livro homônimo de Victor Hugo, obra máxima da literatura ocidental do século 19, seja mais conhecido como o musical de extraordinário sucesso da Broadway do que como o importante romance que é. Nada em demérito aos 25 anos de merecido sucesso do musical, mas a real grandeza de uma obra literária só se alcança lendo-a. De preferência, sem música.

É como melhor se poderá conhecer a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), condenado a 19 anos de prisão por roubar um pão que tenta reconstruir sua vida. Ou a prostituta Fantine (Anne Hathaway), mulher que cai em desgraça por ser
mãe solteira. E o oficial de polícia Javert (Russel Crowe), implacável perseguidor de párias, não importando seu estado de fome e miséria. Assim vai-se à doce e apaixonada Cosette (Amanda Seyfried) e ao idealista e bravo Marius (Eddie Redmayne). Todos eles e mais outros presentes, fielmente ao livro, no longo musical de Hooper.


Mas nesta adaptação, é preciso dizer que o problema não está em atravessar sua longa duração, passada de cantoria em cantoria. A história que Victor Hugo escreveu há mais de 150 anos é suficientemente fascinante e comovente para segurar nossa atenção. Da mesma forma, as canções do musical, como comprovam seus 25 anos de sucesso nos palcos, são boas o bastante. Por isso, mesmo a esticada duração, quase inevitável ao se buscar fidelidade (ao livro ou à Broadway), poderia ser facilmente suportada se o
trabalho de direção fosse um pouco mais dinâmico. Pois é justamente na má direção que o filme perde sua força e seu poder de fazer as horas passarem.


Esse arrasto das horas acontece porque, ao contrário do que pode parecer num primeiro momento, essa adaptação sofre de uma cansativa pobreza de recursos visuais. Não que a direção de arte seja ruim. Ao contrário, o trabalho foi bastante bem feito, ainda que não de forma brilhante.


A pobreza de Os Miseráveis está no modo apequenado como ao longo do filme se desenha sua mise en scène*. E isso fica patente no uso exagerado de planos fechados, em especial no rosto dos atores cantando, revelando a falta de criatividade na construção da narrativa visual.


Essa opção de aproximação empobrece o cenário e empobrece também o inevitável tom operístico do musical. Ao exceder-se no modo como aproxima os atores do público, deixa-os descontextualizados na cena, o que acaba por burocratizar a narrativa e o dinamismo das cenas. Perde-se com isso a fluidez, algo indispensável para um musical, mesmo que a opção tenha sido por pouquíssimas cenas de dança e coreografia.


Quando à questão dos atores e suas canções, admitindo minha ignorância na seara da música e do canto, não soaram ruim aos ouvidos, como tampouco sobressaem-se nas interpretações. Na atuação, pode-se destacar Anne Hathaway e Hugh Jackman, mas sem grandes entusiasmos.

Figurando entre os candidatos ao Oscar de melhor filme, mas sintomaticamente, não ao de melhor direção, Os Miseráveis é um musical que se pretende grandioso (e a primeira cena do filme até faz crer que assim será), de épicas emoções. Mas fica mais na pretensão. De grandeza mesmo, o mais perto que chega é no tempo de sua duração.
-
(*) expressão francesa que, grosso modo, diz respeito à câmera em relação aos atores e ao cenário, os movimentos dentro do enquadramento ou do próprio enquadramento, a composição do plano etc.


 

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

PAÍS DO DESEJO

 
por Beto Besant
 
Roberta (Maria Padilha) é uma pianista com um sério problema renal que, após desmaiar durante uma apresentação na cidade fictícia de Eldorado, é internada no hospital local. Desta forma bastante clichê, conhece o padre José (Fábio Assunção).
O sacerdote é do tipo nada conservador, o que gera diversos atritos com a Igreja, pois é favorável ao aborto em casos de estupro e ao uso de camisinha.
Além disso, sua mãe está em coma, seu irmão César (Gabriel Braga Nunes) é um médico que cuidada de Roberta e seu pai é quem mais incentiva seu senso  libertário.



O filme é um tremendo erro, onde tudo precisava ser mais trabalhado.

O elenco de estrelas de TV está muito teatral, exceto Gabriel Braga Nunes, competente como sempre. A narrativa melodramática está muito mais para telenovelas do que para cinema. A trilha sonora acompanha o estilo decadente.
A fotografia mediana, encontra em enquadramentos deprimentes, ângulos que nunca deveriam ser utilizados, como na cena em que vemos a nuca de Fábio Assunção em primeiro plano. E ligando, se é que poderia se dizer assim, um roteiro fraco, superficial e clichê que tenta abordar temas polêmicos como religião, aborto, estupro, transplante de rim, erotismo, tudo limitando-se à apenas uma "camada". Ou seja, todos os personagens são o que parecem. Das várias questões levantadas, nenhuma é aprofundada e várias são deixadas de lado no decorrer do filme. Os diálogos são pavorosos.

Há ainda uma enfermeira japonesa (Juliana Kametani) que parece ter entrado no filme apenas para fazer uma cena de nu e outra onde come óstias com ketchup, o que pretensamente era pra ser polêmico.

O diretor Paulo Caldas, dos excelentes Baile Perfumado e Deserto Feliz, desta vez errou feio, saiu da classe C (onde o cinema pernambucano se tornou mestre) para abordar a classe média de forma superficial e vazia. Certa vez reclamou que as pessoas não aceitam que um diretor pernambucano possa falar da classe média, mas considerando o resultado de País do Desejo, seria melhor que tivesse continuado a falar sobre a periferia.

 

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS