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ESSES AMORES



por Beto Besant

Esses Amores é uma síntese da carreira do renomado diretor francês Claude Lelouch. Aos 73 anos de idade, Lelouch apresenta seu 43º longa metragem como uma verdadeira declaração de amor ao cinema, criando uma obra extremamente rica e recheada de referências cinematográficas (suas e de outros cineastas).
Diria que é um “primo rico” do clássico “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore. Ambos tem a mesma “atmosfera” saudosista e apaixonada.
O filme é um épico sobre a história de uma família paralelamente à história do cinema. Fatos marcantes do século XX servem como “pano de fundo”, como as duas Grandes Guerras e o surgimento do “swing” (ritmo que daria origem ao rock’n roll).
Na trama, Ilva Lamoine (interpretada pela lindíssima Audrey Dana) é uma mulher à frente de sua época. Sua vida, sob forte turbulência de fatos e amores, é conduzida de forma espontânea e apaixonada.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Ilva envolve-se com um oficial nazista (apesar de ter um padrasto da resistência francesa), abandonando um namorado apaixonado. Mais tarde, inicia um romance com dois soldados americanos. E por fim, apaixona-se por um advogado e músico judeu chamado Simon (interpretado por Laurent Couson), responsável pela narração da história.
A jovem utiliza-se do cinema onde trabalha para esconder um menino judeu, que mais tarde apaixona-se por cinema, tornando-se cineasta. O menino é interpretado por Sachka Lelouch, filho do diretor, numa clara alusão à sua paixão.
Além de um desfecho extremamente interessante, o filme faz referências ao cinema, apresentando na sala de projeção da trama vários filmes como: “E o Vento Levou” (de Victor Fleming), “Trágico Amanhecer” e “Hotel do Norte” (ambos de Marcel Carné) e “Águas Tempestuosas” (de Jean Gremillon). Também apresenta cartazes de filmes, como “Disque M para Matar” (numa cena claramente inspirada em Alfred Hitchcock).
No início da história utiliza-se de cenas do filme “Toda Uma Vida”, que o próprio Lelouch dirigiu em 1974.
No final presta uma singela homenagem à atriz Anouk Aimée, que trabalhou com o diretor em seu filme mais famoso: “Um Homem, Uma Mulher”. A atriz mostra como é possível ter uma atuação marcante sem proferir sequer uma palavra e quase nenhum gesto.
Só mesmo o talento e experiência de um diretor como Lelouch, prestes a completar 74 anos, para ter tamanha liberdade de direção. Lelouch não exita em ser “comercial” quando acha que deva contar a história de maneira clássica. Da mesma forma que não exita em quebrar a narrativa, dando saltos cronológicos e utilizar de câmera “na mão” para transmitir o “nervosismo” de outra sequencia.
Apesar de ser um romance misturado com drama, utiliza-se de recursos dos musicais para transmitir o que se passa na mente da protagonista.
A direção de fotografia é irretocável, transmitindo a frieza dos campos de concentração em contraposição ao calor humano dos clubes de jazz.
Claude Lelouch


















É uma superprodução, com esmero que nada deve às produções americanas. Apresenta os horrores da guerra, como a invasão da Normandia, com o maior realismo.
A direção de arte também é impecável, reproduzindo os campos de concentração, bares de jazz, cinema da época, e até uma corrida no século XIX, tudo na mais perfeita verossimilhança. Além dos figurinos e maquiagens com o mais absoluto realismo. É possível acompanharmos várias décadas da vida da personagem principal sem nos incomodarmos com uma possível maquiagem mal feita (o que não é muito comum quando não se trata de superproduções americanas). Minha única observação negativa neste quesito é o fato de os prisioneiros do campo de concentração estarem fortes e saudáveis, além do que estariam pessoas em tais circunstâncias.
A trilha sonora é lindíssima, por vezes emocionando pessoas com maior sensibilidade. Talvez devesse ser um pouco menos presente, pois todo o filme tem alguma trilha sonora, mas mesmo assim não chega a incomodar, devido ao fato de ser de extremo bom gosto.
Todo o filme é baseado na vida de Lelouch. O cinema chama-se "Eden Palace" por considerar o cinema o melhor lugar do mundo. A protagonista não segue regras, guiando-se por seu coração, que é a forma com que o diretor sempre conduziu sua vida. A guerra tem forte participação no filme, pois é um fator extremamente marcante na vida do diretor. Por fim, o filme mistura drama, romance, comédia, tragédia, etc, pois é como o diretor entende ser a vida.
Resumo: é um grande filme. Uma espécie de “testamento cinematográfico” de Claude Lelouch. Deve agradar tanto ao público mais ávido por romances e dramas quanto ao público cinéfilo.

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COPACABANA


por Beto Besant
 
Segundo longa metragem do parisiense Marc Fitoussi, Copacabana conta a história de uma mulher inconsequente. Apaixonada por música brasileira, a personagem interpretada pela talentosíssima Isabelle Huppert sonha morar no Rio de Janeiro. Até o dia em que descobre que sua filha não a quer em seu casamento, então passa a sentir necessidade de conseguir um emprego para poder dar um presente digno a ela. Muda-se para a Bélgica para trabalhar com venda de apartamentos populares e lá se vê num ambiente hostil, onde todos buscam desesperadamente seu sustento e detestam as funções que realizam.
A experiente atriz domina com maestria todos os meandros da personagem, consegue encontrar o perfeito tom de Dramédia necessário para tornar a personagem “real”.
A personagem inicia o filme de forma irritante e desprezível, causando confusão por onde passa e tentando sempre obter vantagem sobre as coisas. Aos poucos vamos notando que ela “não é de todo mal” e lentamente vamos simpatizando com ela, ao mostrar seu lado divertido, escrachado e humano de encarar a vida.
É o tipo do filme que se perderia sua essência se a atriz escolhida para o papel principal não tivesse pleno domínio do personagem.
Quem interpreta a filha da protagonista “Babou” é a atriz Lolita Chammah (filha de Isabelle Huppert na vida real). A jovem atriz está muito bem interpretando uma filha que tem vergonha de sua mãe e de certo modo mimada, chegando até a provocar repulsa e um sentimento oposto ao do início do filme, onde nos solidarizamos com ela ficando contra a imagem repulsiva de sua mãe.
Apesar de ser anunciado como uma comédia, o filme é muito mais do que isso, pois oscila entre comédia, drama, romance, road movie e outros gêneros com “precisão cirúrgica”.

















A direção é concisa, não deixa os personagens caírem em estereótipos (o que seria fácil para filmes do gênero), os atores estão muito bem situados (existe uma “química” entre eles) e o roteiro, assinado pelo próprio diretor, consegue desviar de piadas obvias (o que este tipo de filme poderia sugestionar a um roteirista menos experiente).
A trilha sonora (especialmente para nós brasileiros) é muito agradável, recheada de música brasileira da melhor qualidade, passando por Jorge Bem (na época em que ainda não tinha o “Jor” no nome), Chico Buarque, Astrud Gilberto, etc.
A única coisa que o filme “peca” é quando apresenta mulatas dançando samba. Para nós que estamos acostumados a ver as grandes escolas de samba, sabemos que o que elas dançam no filme é “samba de gringo”. E que qualquer criança de comunidade carioca dança cem vezes melhor do que as mulatas mostradas no filme. Problema que dificilmente será percebido em outros países. Mas este problema é “perdoável”, considerando que é uma produção europeia (e que por isso não tem o conhecimento que nós brasileiros temos sobre o assunto) e todo o resto do filme, que é de esmerada qualidade.
É muito bom (talvez ufanismo de minha parte) assistir a um filme feito na Europa, com uma das grandes atrizes francesas do momento, onde nossa música é tão valorizada. Até mesmo ouvir bossa–nova com claro sotaque francês se torna agradável. Talvez isso também seja pelo fato de que essa música (tão respeitada em todo o mundo) seja tão desvalorizada em seu próprio país. Mas isso já é uma outra história...
São 107 minutos que passam de forma muito agradável, o filme tem duração adequada para contar a história de forma plena. Com este filme, Marc Fitoussi nos deixa uma boa expectativa sobre seus futuros trabalhos. Demonstra ser um roteirista e diretor maduro, para a pouca idade e experiência que possui. Deve ser um dos cineastas que irão manter a dignidade do cinema francês por mais algumas décadas.

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ASSALTO AO BANCO CENTRAL

 
Por Beto Besant
Vinícius de Oliveira (surpreendente) e Milton Gonçalves
Primeiro filme dirigido pelo experiente diretor de novelas Marcos Paulo, apesar do interessantíssimo argumento, é um filme que não “decola”.
O Assalto ao Banco Central de Fortaleza/CE foi executado de forma magistral, em agosto de 2005. Sem dispararem nenhum tiro levaram 164,7 milhões de reais.
Este tema, tão fascinante e ao mesmo tempo com todos os ingredientes para se fazer um filme de ação que agrade a crítica e público (vide exemplos como Cidade de Deus e Tropa de Elite) se perde num roteiro fraco, direção superficial e elenco descomprometido. O elenco é recheado de estrelas conhecidas pelo público, como: Lima Duarte, Tonico Pereira, Giulia Gam, Heitor Martinez, Cassio Gabus Mendes, Antonio Abujamra e Milton Gonçalves. E outros não tão populares mas não menos talentosos como: Gero Camilo, Milhen Cortaz, Hermila  Guedes e Vinícius de Oliveira. Apesar do elenco experiente e talentoso, a maior parte do elenco está deslocada, destacando-se apenas Tonico Pereira, Heitor Martinez, Hermila Guedes e Vinícius de Oliveira, que surgiu ainda criança no filme Central do Brasil (de Walter Salles Jr) e está muito bem como coadjuvante.
Destaque do filme: Tonico Pereira
Nota-se que é uma produção bem esmerada, com um belo orçamento. Mesmo assim, erros crassos ocorreram, como a tatuagem no braço esquerdo do assaltante “Mineiro” (interpretado por Eriberto Leão), visivelmente uma tatuagem de henna, coisa que seria facilmente produzida com outras técnicas de maior qualidade (como foi feito em dezenas de atores e figurantes no filme “Carandiru”).

A trilha sonora está sempre repetindo o que a imagem já mostra, ao invés de ajudar a contar a história. Em determinada cena, onde a personagem Carla (interpretada por Hermila Guedes) entra no túnel cavado pela quadrilha, a trilha é feita por um solo de sax (quase uma caricatura de uma cena de sedução). Ou na cena em que as vans transportam o dinheiro roubado com um tema que parece ter saído de um comercial e TV.
Como se não bastasse, a direção é feita como se estivesse em uma minissérie televisiva, com muitos planos fechados e piadas fáceis, de gosto duvidoso. Além de “quebrar o eixo de câmera” diversas vezes.
Milhen Cortaz
A montagem tenta tornar o filme mais ágil, alternando três épocas distintas. Apesar de boa, não consegue salvar o filme. Talvez uma montagem linear prendesse mais a atenção do público, pois não “entregaria” com antecedência quais criminosos seriam presos.
É um filme que deve ser visto mais pela curiosa história ocorrida em Fortaleza do que pela “obra cinematográfica”. Apesar de ter sido feito claramente visando o grande público que lotou as salas de cinema em Tropa de Elite I e II, não atinge seu objetivo em dialogar com o público.
Para quem quiser conhecer um pouco melhor a história fantástico do assalto, vale à pena assistir. Mas quem busca uma “obra cinematográfica”, quem possui conhecimento técnico de cinema, vale mais à pena aguardar que logo o filme estará na TV Globo.

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Medianeras - um filme singelo

 
 
por Beto Besant
 
Medianeras, longa-metragem de estreia do argentino Gustavo Taretto, é o tipo de filme que deveria ter sido lançado no dia dos namorados. O tão desgastado gênero comédia romântica, aqui vem com fôlego renovado, num filme leve, divertido e com boas “sacadas”.
O título “Medianeras” refere-se a um tipo de apartamento (ou kitchnet) muito comum em Buenos Aires, que fica entre o apartamento de frente e o apartamento de fundos dos prédios, ficando assim entre duas paredes e sem nenhuma janela. E é neste tipo de moradia que vivem os protagonistas da trama.



O filme começa apresentando a cidade de Buenos Aires, num estilo quase documental. Com fotos e locuções em off. Em alguns minutos nos é apresentado o casal protagonista (ou o futuro casal). Martin (interpretado pelo argentino Javier Drolas) vive “trancado” em seu apartamento, seu único contato com o mundo é via internet. Mariana (vivida pela espanhola Pilar Lopez Ayala) trabalha em uma loja de roupas, arrumando manequins de vitrine, enquanto se recupera do fim de um romance de muitos anos.Aos poucos vamos conhecendo as vidas de cada um deles, certos do final feliz, com a tradicional cena de beijo.

Os atores são muito competentes, tem carisma e fazem com que o público “compre” a ideia deles juntos. Tomados pelo tédio, a certa altura Mariana “transa” com o manequim da vitrine. Por outro lado, Martin percebe uma semelhança entre as mulheres que conhece pela internet e os lanches do Mc Donald’s: na foto são sempre melhores.

Apesar de sabermos que o beijo “tem” que acontecer, o filme brinca com o público, ao apresentar um final feliz sem o famoso beijo, algo que, no contexto do filme, se torna irrelevante.



Em certos momentos, Medianeras lembra a forma com que Wood Allen descreve Nova Iorque, com os problemas que toda metrópole tem e as dificuldades de relacionamento que causam nas pessoas.

Apesar de ser uma produção de baixo orçamento, mostra que mesmo assim é possível fazer um filme de qualidade (algo que deveria ser melhor assimilado por nós, cineastas brasileiros). O roteiro é bem “amarrado”, segurando a atenção do público, a direção de arte é precisa, sem exageros nem deficiências, e ainda conta com uma belíssima fotografia, em certo momento lembrando muito um quadro renascentista (cena em que a atriz espanhola aparece refletida num espelho). Outro destaque do filme é a trilha sonora, muito bem escolhida e que utiliza do pretexto de um vizinho pianista da personagem para inserir temas que reflitam seu estado de espírito. Nos acessos de raiva, ela atira objetos na parede e imediatamente o pianista para de tocar.

A última piada do filme dá-se no fato de que, um casal que era completamente anônimo e discreto, torna-se um sucesso de internet.
Algo bem apropriado para os dias atuais.Para mim, o ponto negativo do filme é cair no clichê (muito comum no cinema brasileiro) de personagens consumirem maconha. Algo como se, para o personagem ser “antenado”, “descolado”, precisasse “fumar unzinho”. Talvez por ser algo praticado por grande parte dos “pretensos cineastas”.

Não é o tipo de filme que tenta “refletir sobre os dramas existenciais” ou “revolucionar a cinematografia mundial”, mas sim um filme que se propõe a entreter e divertir. E isso ele consegue muito bem, de forma mais original e interessante que a maioria dos filmes do gênero.

Com apenas cinco curtas-metragens na “bagagem”, o diretor e roteirista Gustavo Taretto (que esteve em São Paulo em 2008) trás muito de sua experiência (repetidas vezes premiada) em comerciais para surpreender como estreante em longa-metragem, mostrando qualidades que muitos diretores brasileiros, com vários filmes na carreira ainda não conseguiram atingir.
Apesar de não ter conseguido sucesso de crítica, Medianeras teve grande sucesso de público em festivais internacionais e deve agradar principalmente a casais e solteiros em busca de sua “alma gêmea”.
 

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Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating)

Por Beto Besant

Se fosse resumir o filme em uma só palavra, diria que é um filme “morno”. Isso mesmo. Apesar de ter uma boa direção (considerando-se um filme de estreia), um bom elenco (algo previsível por ter um diretor tão talentoso e experiente como ator), um roteiro bem escrito, não é um filme que empolga, nem um filme que deixa aquela vontade assistir novamente. Mas flui. É filme para ser visto apenas uma vez.
Destaque para a atriz Amy Ryan, que mostra sua personagem frágil, com sérios problemas psicológicos, de forma digna. Sem cair em estereótipos nem em melodrama.
Hoffman também está bem como ator, convincente, mas não é o ator brilhante de outros filmes, como no caso de “Capote”. Algo totalmente compreensível, afinal, além de ser sua estreia como diretor, ainda acumula a função de ator - protagonista.
O filme tem uma bela trilha sonora, muito bem escolhida e apropriada. Os quatro atores (que formam os dois casais principais) tem uma boa sintonia e empatia com o público.
É o tipo de filme que os estúdios financiam sabendo que não renderá lucro (muito pelo contrário), mas mesmo assim o fazem para deixar o ator-diretor grato, para que numa próxima produção o estúdio possa contar com sua brilhante atuação. Como é de se imaginar, muito poucos atores (ou diretores) tem esse suporte de um estúdio para realizarem seus projetos pessoais.
Primeiro filme dirigido pelo ator Phillip Seymour Hoffman, “Vejo Você no Próximo Verão” conta a história de um solitário motorista de limusine chamado Jack (interpretado por Hoffman) que aos poucos vai se envolvendo com Connie (interpretada de forma competente pela atriz Amy Ryan). Connie é uma moça tímida, cheia de complexos, frequentemente agredida física e moralmente pelos homens. Enquanto o casal se entende, outro casal (responsável pelo encontro de ambos) se desfaz.

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