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DENTRO DA CASA (Dans La Maison)



por Beto Besant

Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura de meia idade cansado de seus alunos que não dão nenhuma importância à matéria que leciona.

Diariamente leva para casa as redações de seus alunos de um colégio parisiense e as lê para que sua mulher Jeanne (Kristin Scott Thomas), uma marchand de uma galeria de arte contemporânea. 
Dentre as dezenas de redações inexpressivas, o professor descobre que Claude (Ernst Umhauer), aluno de 16 anos, é um talento promissor. O jovem descreve sua aproximação e contato diário e cada vez mais íntimo com seu colega Rapha Jr (Bastien Ughetto) e família.
O curioso é que o rapaz escreve cada redação como capítulos de um folhetim, aguçando a curiosidade do professor e sua mulher para os próximos acontecimentos.
Pouco a pouco, a história vai chegando a um nível extremo, onde o professor não sabe se trata-se de uma descrição de fatos ou mera criação literária, com isso teme não tomar nenhuma atitude e não impedir que algo grave aconteça ou falar e tolher a criatividade e talento do aluno.


O ótimo roteiro foi baseado na peça El Chico de la Última Fila, do premiado dramaturgo espanhol Juan Mayorga.

Escrito e dirigido pelo cultuado François Ozon (Potiche - Esposa Troféu), Dentro de Casa é uma incrível experiência de como a literatura pode mexer com a mente humana. É muito interessante ver como o casal fica preso aos textos enviados semanalmente de seu talentoso aluno. 

Podemos até imaginar como deveriam ser a noites em família, antes da invenção do rádio, quando todos se reuniam para lerem o novo episódio do folhetim comprado durante o dia.

Transportando para os dias de hoje, não há como não associar com as pessoas que param tudo diariamente para estarem na frente da TV no horário de sua telenovela favorita.

Além de um ótimo roteiro e direção precisa, o filme conta com um elenco "afinado" e o jovem Umhauer protagonizando com a segurança de um veterano.

Um filme que se baseia mais nas palavras do que em imagens, ao contrário dos preceitos do cinema, tem uma narrativa extremamente cativante, prendendo o público durante todo o filme e deixando um final aberto, onde o público sai da sala de cinema questionando os valores éticos que o filme põe em discussão.  Excelente.


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THERESE D.


por Beto Besant

Com ideias muito "avançadas" para a então década de 20, Therese (Audrey Tatou) casa-se com Bernard (Gilles Lellouche), irmão de Anne (Anais Demoustier), sua melhor amiga.

O casamento é nitidamente por conveniência, pois a protagonista mal suporta seu marido. Ao contrário de Anne, com quem Therese se entende tão bem e toma atitudes tão possessivas, que fica nas entrelinhas uma possível paixão platônica ou até mesmo algo consumado na adolescência, porém não explicitado.

A aversão à sua vida chega ao ponto de querer matar seu marido quando passa a tomar, por indicação médica, gotas diárias de arsênico. O inconformismo vai levando, pouco a pouco, toda sua sanidade, chegando a um estado lastimável.



Baseado no romance Thérèse Desqueyroux (de Fraçois Mauriac, lançado em 1927), é a segunda versão para as telonas. A anterior foi feita em 1962.

No papel da protagonista, que antes havia sido interpretado pela sensacional Emmanuelle Riva, agora é a vez de Audrey Tatou (eterna Amélie Poulain).


Tatou cumpre a função com dignidade, e adiciona à personagem o peso de seus conflitos.

Lellouche também está muito bem no papel do marido de atitudes questionáveis, mas apesar disso, as boas atuações não são suficientes para salvar o filme.

Escrito e dirigido pelo aclamado Claude Miller (morto em Abril de 2012), tem um bom argumento e bom elenco, apesar de começar bem, se perde e torna-se lento e cansativo.

Como qualquer filme de época que se preze, tem belos figurino, direção de arte e fotografia, mas peca num roteiro fraco.

A montagem linear (ao contrário do livro, todo feito em "flashbacks") torna o filme mais maçante ainda. Passamos boa parte do filme esperando que vá acontecer uma reviravolta mas isto não acontece, até percebermos que teremos que nos contentar com ela assim mesmo.

Um erro de escalação que poderia ser amenizado com a maquiagem é que na adolescência, as duas amigas aparentam ter praticamente a mesma idade, porém quando elas já são adultas, Tatou aparenta ser bem mais velha que Demoustier.

Apesar do cinema francês fazer, talvez, o melhor cinema da atualidade (considerando uma média entre as produções), este é um equívoco. Um filme que deve agradar a pouquíssimos espectadores.



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MAMA

por Beto Besant
Lilly (Isabelle Nelisse) e Victória (Megan Charpentier) são duas meninas abandonadas numa cabana, após a morte violenta de seus pais. Cinco anos depois, são encontradas e vão morar com seu tio Luke (Nikolaj Coster-Waldau) e a namorada Annabel (Jessica Chastain), baixista de uma banda de rock.

As meninas desenvolveram um comportamento animal, se rastejando como bichos. Começa então a batalha por civiliza-las, uma tarefa enfrentada de forma corajosa pelo jovem casal.

Com a ajuda do psicólogo (Daniel Kash), o jovem casal enfrenta a nova situação mesmo tendo sempre evitado filhos. Através dele, descobrem que as meninas foram criadas por alguém que chamam de "Mama", que em princípio pensam ser fruto da imaginação delas.




Dirigido por Andres Muschietti, o filme foi baseado em seu curta homônimo, descoberto por Guillermo del Toro (Labirinto do Fauno e Hellboy).
Del Toro produziu o filme, que tem na fotografia seu maior trunfo. Toda sombria e "pesada", tem ainda o apoio de bons efeitos especiais para contar a história, bem desenvolvida pelo diretor junto com Neil Cross, Andy Muschietti e Barbara Muschietti.

O curta-metragem que deu origem à trama, tinha apenas três minutos e tornou-se uma das cenas do longa. Apesar de bem adaptado, o roteiro tem as limitações da grande maioria dos filmes do gênero, que utilizam de clichês na origem do mistério e em seu desenvolvimento.

O filme tem no personagem psiquiatra um bom início mas que acaba tornando-se apenas uma "desculpa" para que Annabel descubra o passado das meninas.
O mesmo ocorre com a tia materna das meninas, que surge numa disputa pela guarda mas que acaba demonstrando ser dispensável. Talvez fosse o caso de unir os dois personagens em um  e dar melhor desenvolvimento a este.
Para quem crê que bons roteiros sempre apresentam mudança das personagens, neste caso Annabel passa de uma roqueira inconsequente para uma mulher corajosa e decidida em manter as meninas consigo, assim como Victória passa de uma menina rebelde, defensora da "personagem" que dá nome ao filme para uma fiel escudeira da namorada de seu tio. O contrário de sua irmã.


A virtude do roteiro é que o final chega a ser diferente do convencional e do que esperamos quando este se aproxima.
Apesar dos problemas, a direção não decepciona, ao escalar bem um elenco que tem no triângulo feminino uma boa "química" e um bom desempenho na atuação, principalmente da pequena Nelisse.
Não é um grande filme mas vai agradar aos fãs do gênero, e aos que não trem no terror seu maior vínculo também não se decepcionarão.

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DEPOIS DE LÚCIA (Después e Lucía)

 
 
Beto Besant
 
Após a morte de Lúcia, seu marido Roberto (Hernán Mendozae sua filha Alejandra (Tessa Ia) mudam-se de Puerto Vallarta para a Cidade do México.
A jovem começa a se enturmar com os novos colegas de escola, até o dia em que é filmada fazendo sexo com um deles. A partir daí, passa a sofrer de "bullying" cada vez maior.
O medo de que seu pai descubra a filmagem faz com que se torne apática e aceite todos os atos de violência e covardia a que é submetida. Até o ponto em que a situação torna-se insustentável.
 
 
Premiado de forma merecida na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2012, Depois de Lúcia é um grande filme, que tem em seu maior mérito a forma com que o diretor omite vários fatos e informações. 
Dirigido pelo mexicano Michel Franco, é um, filme frio, utilizando pouco de trilha sonora. Sua sobriedade mais lembra um filme do norte da Europa.
 
Apesar de adolescente, a protagonista encontra o tom exato de interpretação, numa personagem que pouco fala, tendo que atuar mais com o olhar.
 
Depois de Lúcia discute como os jovens podem ser tão cruéis a partir de um motivo banal, chegando às piores consequências sem o mínimo de culpa.
A sequencia de fatos ocorridos no filme vão deixando o público cada vez mais revoltado com tamanha injustiça.
 
Serve como um alerta, em tempos que o tema tem sido tão discutido, de que algo semelhante pode acontecer com alguém tão próximo a nós e só percebermos quando não houver mais tempo de socorrer.
 
 
 
 
 
 

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VAI QUE DÁ CERTO


por Beto Besant


Rodrigo (Danton Mello) é um pianista de barzinho que perdeu o emprego e levou um "fora" da namorada, indo morar com sua mãe. Seu primo Danilo (Lúcio Mauro Filho) lhe oferece um emprego de segurança de carro-forte. A real intenção é fazerem um roubo de malote e se darem bem na vida.

Para o plano convidam seus amigos de escola: Vaguinho (Gregório Duvivier), Amaral (Fábio Porchat) e Tonico (Felipe Abib). Claro que o plano não dá certo e eles se complicam cada vez mais.
A solução encontrada envolve o político Paulo (Bruno Mazzeo) e a sensual Jaqueline (Natália Lage).


Dirigido de forma competente por Maurício Farias, Vai que dá certo é um bom filme besteirol. Um dos fatores é o bom roteiro, assinado por Farias com Fábio Porchat, onde as ações acontecem de forma rápida, bem ao gosto do público jovem, aficionado por videogames e videoclipes. O bom elenco é outro mérito do filme. Farias consegue deixá-los muito à vontade, mesmo não permitindo improvisações, devido aos diálogos serem escritos por Porchat, um dos melhores humoristas da atualidade.

Para o público paulistano, pode incomodar um elenco basicamente carioca interpretando como se fossem paulistanos, porque o sotaque muitas vezes soa a forçado e caricato, dando a impressão de ser proposital por ser uma comédia, o que foi negado pelo diretor.

Quem melhor se sai com o sotaque é Danton Mello, e o pior é Bruno Mazzeo.

Duvivier é responsável por boa parte das risadas, por ter encontrado o tom certo de interpretação. Mello, que não é muito ligado a comédias, consegue uma boa performance, ao procurar interpretá-lo com seriedade.

O filme é exibido em 450 salas por todo o país, sendo 300 em película. 

A melhor comédia nacional dos últimos tempos tem tudo pra fazer um enorme sucesso de bilheteria, o grande número de salas mostra que a distribuidora Imagem Filmes está apostando forte num filme de relativo baixo orçamento: dois milhões de reais.



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