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JOÃO E MARIA - Caçadores de Bruxas


por Rogério de Moraes
 

João e Maria: Caçadores de Bruxas chega como mais uma produção-sintoma do atual momento da indústria de cinema de Hollywood. O momento, segundo diz-se, é de crise de criatividade, e a consequência disso é uma avalanche de produções que adaptam ou repaginam histórias conhecidas. Nesta onda têm entrado HQs, contos infantis, refilmagens, continuações, prólogos e reinício de franquias de sucesso.
A verdade é que não há crise de criatividade alguma. O que ocorre é uma onda de conservadorismo de investimento. Tem-se preferido apostardinheiro em produções com possibilidade de alavancar público – pelo fato de soarem “familiar” a esse público –, ao invés de apostar em ideias originais, cujo sucesso é sempre uma incógnita. Já a questão de como somos atraídos pelo conforto do que é familiar, em oposição ao novo, fica para outra oportunidade.


 Retomando o filme, João e Maria entra no sub-sub-gênero das adaptações de contos infantis clássicos com roupagem de ação e aventura. Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, A Bela e a Fera, João e o Pé de Feijão fazem parte, entre outros, desse segmento.


O básico, todos conhecemos: João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma Arterton), irmãos, na floresta, encontram uma casa feita de doces. Comem até se fartarem e acabam aprisionados por uma bruxa má que quer assá-los para uma farta refeição. A bruxa não enxerga mesmo muito bem, eles vão tapeando a malvada, até que escapam e matam a megera em seu próprio forno. No filme, os irmãos tornam-se celebridades e crescem aprimorando-se na arte de caçar e exterminar bruxas.

Mesmo não se levando a sério (e isso fica claro logo no início, quando João nos aconselha a nunca entrar em uma casa feita de doces [!]), chama atenção o modo como o filme não tem vergonha de ser troncho, para não dizer mal acabado. Não nos quesitos técnicos e de efeitos, que são aceitáveis. Mas no quesito roteiro e elementos internos da história, dos quais o filme faz uma grande salada.

 
Contratados para encontrar crianças desaparecidas de um vilarejo, os irmãos têm em seu arsenal armas de fogo, embora a ambientação remeta a uma era medieval. As bruxas, por sua vez, dispõem de “varinhas” e vassouras voadoras, no melhor estilo Harry Potter, mas sempre com a aparência malévola e deformada das bruxas más. Na salada, entra também figuras como um troll, um ser que parece estar em moda nos filmes de fantasia, além de personagens cuja função na trama é não ter função alguma.

Mais constrangedor, contudo, é o arranjo desarranjado do roteiro. Seus desdobramentos e enlaces são absolutamente precários, deixando transparecer um desmazelo quase ofensivo na sua elaboração. Lançado também em 3D, o conjunto dessa produção não demonstra nenhum esforço em disfarçar seu cunho unicamente comercial.
Claro que nesse aspecto, o comercial, a produção não difere de quase tudo que se faz em cinema, incluindo aí boa parte do cinema dito de arte. Afinal, quase todos querem faturar. A diferença é que em geral há um mínimo de esforço em entregar ao espectador um produto acabado, mesmo que esse acabamento seja pobre de conteúdo e qualidade.

Por isso, o que incomoda em João e Maria é a desfaçatez de nem ao menos se preocupar em fazer seu roteiro ter um mínimo de coerência interna. Os elos que desdobram as sequências do filme são quase infantis, quando não são simplesmente inexistentes.

Nas cenas de ação, o filme segue a cartilha do gênero, mas também sem grande esforço, cumprindo com o básico em lutas, perseguições e objetos vindos na direção dos óculos 3D. Para quem conseguir desligar totalmente qualquer sentido crítico ou de atenção à história, os minutos podem até passar sem sofrimento. Mas para quem não abre mão de prestar um mínimo de atenção à trama e aos personagens, ficará a clara sensação de que falta muita coisa para aquilo ser chamado de filme no sentido narrativo da palavra.
 

 

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O MESTRE (The Master)


por Beto Besant

Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um ex-marinheiro alcoólatra incapaz de segurar seus acessos de raiva nem seu voraz apetite sexual. Certo dia conhece Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), persuasivo líder de uma seita que acabara de criar denominada "A Causa", que utiliza da hipnose para curar traumas de infância e vidas passadas. Quell é o aprendiz rebelde, cujos métodos empregados não surtem efeito.
A relação entre ambos é complicada mas sempre há uma amizade mútua quase paternal que impede que se desliguem totalmente.
 
 
Dirigido por Paul Thomas Anderson (de Sangue Negro e Magnólia), o filme vem acumulando elogios pela maior parte da crítica, que chega a chamá-lo de "um dos melhores filmes de todos os tempos". Porém, minha visão é bem mais comedida. O elenco é ótimo - principalmente Phoenix e Hoffman, mas isso já era de se esperar. Inclusive o segundo está indicado ao Oscar de melhor ator e o primeiro de melhor ator coadjuvante - assim como Amy Adams (que interpreta a mulher do líder religioso).
 
O Mestre é muito bem dirigido, escrito e interpretado, bem fotografado e com bela trilha sonora, porém com uma montagem lenta e longa, com suas duas horas e quarenta minutos.
 
Tenho a sensação de que conforme a "poeira" for baixando, os elogios efusivos ao filme darão mais vasão às reservas que o filme tem.

 

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AMOR (Amour)


 

por Rogério de Moraes

Mesmo quando fala da condição delicada do amor, Michael Haneke o faz pelo viés do sofrimento. Acusado algumas vezes de sádico ao impor uma espécie de tortura do espectador em seus filmes, o diretor austríaco exige sempre de seu público a vontade necessária para suportar a angústia. Seja essa angústia de cunho claramente violento, como em Violência Gratuita (1997), seja de terror psicológico, como em Caché (2005), seja na exploração na natureza de um mal atávico em A Fita Branca (2009).

Em Amor, Haneke lança seu olhar para o envelhecimento ao retratar a
vida de um casal de idosos. Aspectos como compaixão, sofrimento, solidão e eutanásia são as linhas mestras que conduzem esse drama.
Indicado duplamente a Oscar de melhor filme (concorre ao mesmo tempo ao prêmio de melhor filme e de melhor filme estrangeiro), Amor retrata um processo degenerativo na vida do casal, quando um deles adoece irremediavelmente.

Na estrutura narrativa, o diretor concentra-se na intimidade do casal. Apresenta elipses entre um agravamento e outro da doença, mantendo sempre tesa a linha do drama. Dentro do apartamento onde vive o casal, cresce uma tensão aflitiva, um tipo de aprisionamento por sobre outro aprisionamento. Ali, o espaço da convivência de uma vida em comum e ali também o espaço de uma relação afetuosa que se desdobra pelo cuidado, mas também pela verdade do transtorno de quem sofre e de quem vê sofrer.


Para dar estofo dramático a essa profunda jornada de amor e solidão, Haneke coloca em cena o peso de três nomes sem os quais não se conta a história do cinema francês. Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Huppert são, respectivamente, marido, esposa e filha. Esta última com aparições pontuais, que mais enfatizam a solidão do casal do que a possibilidade de compartilhamento do fardo dessa solidão. Mas são as atuações de Trintignant e Riva que dão ao filme sua força de assombro dolorido e a sensibilidade crua típica do cinema de Haneke.





Um cinema que tem na sua veia a polêmica, aqui representada pela discussão da eutanásia. Mas como a obviedade é fator escasso na obra do diretor, essa discussão se apresenta pela surpresa, construída de forma delicada e sensível, mas sempre com traços de uma brutalidade humana, que mesmo revestida de amor, não se torna menos brutal para quem assiste, nem para quem executa.


Para dimensionar e multifacetar essa delicada brutalidade, constrói-se um drama do qual também somos vítimas e testemunhas do sofrimento. Habita aí o aspecto recorrente do cinema de Haneke, que é o de nos fazer passar pelo filme não apenas como espectadores passivos, mas como cúmplices da violência e da inquietude. Sempre com uma perspectiva que nos desconcerta e aflige. Disso não escapamos em Amor, que ao construir suas cenas transmite com dolorosa verdade a intensidade de cada momento.


Amor é filme que fala do fim da vida, da dignidade que merecemos ao chegar perto desse fim e que nem sempre nos é reservada. Seu sentimento de mundo é a solidão inevitável da velhice, é um aprisionamento do corpo ante o descompasso de querer liberdade e de querer libertar.


Por isso o amor de Haneke não é idílico, como também não é cínico. É um amor feito de verdade, com sentimentos que vão além da beleza simples e traduzem a complexidade do que é real e humano. Mais do que sobre o amor, é um filme sobre a liberdade e sobre o que cabe nessa palavra quando vista pelo olhar do tempo que se estende mais do que a vida e o sentimento suportam.
 
 

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SACRIFÍCIO (Sacrifice)



por Beto Besant

Após longos anos de domínio do clã Zhao, Tu'an Gu (Xueqi Wang) consegue tomar o poder e decide eliminar todo o clã rival para que estes não tenham a mínima chance de ressurgirem. Para não restar dúvida, elimina todas as crianças recém nascidas.
Um médico Cheng Ying (You Ge) tem seu próprio filho e mulher mortos mas consegue esconder Cheng Bo, uma das crianças do clã e a cria como seu filho para que  vingue todo o clã.
A criança cresce tendo seu maior rival como padrinho.


Sacrifício é exatamente o que esperamos de um filme chinês da atual e excelente safra de filmes. Tem as dimensões do país em todos os sentidos: grande elenco, centenas de figurantes, locações gigantescas, direção de arte luxuosa e grandes lutas coreografadas para contar mais um épico.

Dirigido por Chen Kaige (do sensacional Adeus Minha Concubina), o filme não tem o mesmo brilho de sua obra de estreia, mas ainda assim é um grande exemplo da atual safra cinematográfica chinesa.

Para nós ocidentais é meio confuso absorver uma trama onde rostos nos parecem similares e nomes impronunciáveis. Porém, a belíssima produção nos convence a prestarmos atenção até que nos sintamos familiarizados com história. Por se tratar de uma trama oriental, não deixa de ter um ritmo peculiar, num tempo diferente ao que estamos acostumados, mas isso não impede que se assista a essa belíssima produção chinesa.





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JACK REACHER - O Último Tiro (Jack Reacher)



por Beto Besant

Um franco-atirador é preso após balear 5 pessoas aleatoriamente. Em seu depoimento, apenas pede que encontrem o ex-militar que dá nome ao filme e é interpretado pelo astro Tom Cruise.
Hellen (Rosamund Pike) é a advogada de defesa do assassino, o que considera caso encerrado. Reacher é o típico militar condecorado e com todas as habilidades possíveis a uma pessoa. Aparece de repente e passa a investigar o caso junto com a advogada, utilizando de métodos próprios.



Como já era de se esperar, o filme possui todos os clichês possíveis, como tiroteio, perseguições, sedução, lutas etc. Mas isso não impede o diretor e roteirista Christopher McQuarrie de fazer um bom filme, que apesar de não sair do previsível, consegue segurar a atenção do espectador até durante todo o filme.

Cruise, apesar de seus cinquenta anos, "segura" bem o papel, que lhe exige bastante disposição física.
Além de Cruise, o filme tem o sempre competente Robert Duvall e o cineasta Werner Herzog

Filme indicado para quem quer ver uma boa diversão descomprometida e para fãs do gênero.



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