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AMANTES ETERNOS (Only Lovers Left Alive)


por Antonio Carlos Egypto

Uma história de amor que dura séculos, como a de Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton) não chega a ser surpresa, num filme de vampiros. Adam and Eve? Seriam os vampiros mais ancestrais do nosso planeta? Não importa muito. 

O que mais me chamou a atenção no filme “Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch, foi o modo como ele trata das velhas e conhecidas questões vampirescas que sempre estiveram presentes na história do cinema e nas suas constantes atualizações.


Vampiros do século XXI , refinados e sofisticados, já não saem por aí atacando as jugulares das pessoas. Que coisa mais primitiva e arriscada! Muito mais elegante e atual é subornar um profissional de saúde de um bom hospital, o que garante não só a boa qualidade do sangue, como já o entrega devida e adequadamente embalado para transporte e armazenagem. E, em vez de se lambuzar todo de sangue, que tal sorvê-lo convenientemente em pequenas taças, como se faz com o melhor vinho? Também é possível inovar e fazer picolés de sangue em forma de sorvete, mantidos no congelador.


Vampiros sofisticados será que ainda têm medo de alho? Não se vê alho no filme e, a não ser por uma frase en passant, o assunto já não se coloca. E aquela história de cruzes e outros símbolos religiosos, capazes de destruir os seres vampirescos? Esqueça, isso é um papo antigo, que lembra o período medieval das caças às bruxas. Bem, é claro que os vampiros se lembrarão não apenas desse episódio histórico, mas de muitos outros que eles viveram nos últimos quinhentos anos. Só que o mundo mudou e eles mudaram, também. Hoje, os medos e os perigos que os envolvem são outros.

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É preciso evitar a luz solar, viver à noite, afinal, isso é da natureza dos vampiros por todos os séculos. Mas um risco maior, atualmente, é o do sangue contaminado. Especialmente num mundo globalizado não se pode consumir qualquer sangue, não. Isso, sim, é capaz de pôr fim à existência de um vampiro que, por exemplo, foi contemporâneo de Shakespeare e, como ele, escritor: Marlowe (John Hurt).


O problema também é que nem todos os vampiros alcançam o nível dos nossos protagonistas. Ava (Mia Wasikowska), a irmã mais nova de Eve, é um caso sério: é bagunceira, nunca se sacia e não resiste a uma jugular atraente. A ponto de matar seu fornecedor. Uma coisa é morder e vampirizar a presa, outra, é matá-la. Tudo tem limite.

Quanto aos zumbis, os mortos-vivos que convivem com os vampiros, eles podem estar em qualquer lugar, seja na indústria do cinema, em Los Angeles, seja na indústria fonográfica, e atrapalhar muitas coisas. Mas também podem ser muito úteis em diversas situações, como a relação entre Adam e Ian (Anton Yelchin), que aparece no filme, demonstra. 


Essas são questões que surgem no filme “Amores Eternos”. Eu pincei algumas das que me pareceram mais atraentes. Elas perpassam a história de amor, dando-lhe um sabor especial (epa!). Não significa que façam do filme uma comédia. “Amantes Eternos” tem muito humor, mas se desenvolve num registro sério e romântico, até com baixo astral. Adam, por exemplo, é um vampiro sofisticado, que compõe e adora música e instrumentos musicais maravilhosos e especiais, mas é um ser desanimado com a vida, depressivo. Coisas que acontecem com o passar de tanto tempo. Só mesmo o reencontro com Eve poderá mudá-lo. Então, não espere agilidade, rapidez, correria. Afinal, os vampiros têm todo o tempo do mundo, quando o sangue está à disposição e devidamente armazenado. Essa estabilidade será rompida e aí as coisas se complicam. Nem por isso o filme se acelera, mas o suspense cresce.


Se você gostou do que apresentei neste meu relato, não vai deixar de ver esse filme, claro. Se você acha tudo isso irrelevante, tente uma outra estreia cinematográfica. Simples assim.


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