Tecnologia do Blogger.
RSS

OBSESSÃO (Paperboy)



por Rogério de Moraes

Por mais óbvio que seja, nunca é demais repetir que literatura e cinema são linguagens diferentes. Por esse motivo, a transposição de um para o outro, as chamadas adaptações para o cinema, como o próprio nome diz exige... adaptação. É aí que mora o perigo, já que a fidelidade ao original nem sempre funciona na tela.

Obsessão é a transposição para o cinema do livro “Paperboy”, de Pete Dexter (trad. Ivar Panazzolo Junior, ed. Novo Conceito, 336 págs. R$29,90). A direção é de Lee Daniels, nome que ganhou destaque em 2010 ao dirigir Preciosa – Uma História de Esperança e concorrer a seis Oscars, incluindo o de melhor filme e melhor direção (levou dois: melhor atriz coadjuvante para Mo’Nique e melhor roteiro adaptado).



Para esta adaptação, Daniels reuniu um elenco de rostos conhecidos. Matthew McConaughey interpreta Ward, um jornalista que nos anos 60 retorna à cidade natal na Flórida para investigar um julgamento que resultou em uma condenação à pena de morte para Hillary Van Wetter, interpretado por John Cusack.
Para tentar provar que o julgamento não foi justo, Ward conta com a ajuda de Charlotte Bless, uma mulher vulgar que se corresponde com presidiários e se apaixona por Wetter. Interpretada por Nicole Kidman, ela despertará o desejo e a paixão do irmão caçula do jornalista, Jack, vivido por Zac Efron.

Ao final de Obsessão, não é preciso ter qualquer informação prévia sobre a fonte da história para deduzir que se trata de uma adaptação literária. A transposição da história para o cinema é tão falha que revela na sua própria estrutura e má funcionalidade o ruído entre uma linguagem em outra.


Da ambientação aos personagens, passando pelas situações vividas por todos e pelas diversas questões que o filme pincela (preconceito racial, direitos civis, moralidade e inocência), tudo está montado e amarrado como um livro, não como um filme. Não há uma fruição, mas solavancos que denunciam capítulos condensados, enfileirados e filmados.


Mais do que perder-se na tradução (risco inevitável em qualquer adaptação), Obsessão não se esforça em transformar uma coisa em outra. Seu roteiro não busca uma linguagem que amarre e faça fluir a história com naturalidade, deixando transparecer uma resistência em cortar, em condensar.

Não que os 107 minutos de duração sejam prolixos, eles são apenas mal aproveitados ao tentarem espremer o que poderia ser cortado e substituído por um olhar mais próximo dos personagens e suas motivações. Isso porque quase todos os personagens da trama têm um visível potencial dramático que o filme simplesmente desperdiça com a superficialidade.

Também não colaboram para melhorar o resultado as atuações que se vê na tela. Elas vão de um Zac Efron sem atributos dramáticos, passam por um Matthew McConaughey no piloto automático, revelam uma Nicole Kidman irregular para finalmente chegar ao ápice de um John Cusack várias notas acima do tom.

Entre cenas constrangedoramente ruins e algumas boas promessas nunca concretizadas narrativamente, Obsessão é um filme que se mostra preguiçoso como adaptação, ineficiente como thriller e frágil como arco dramático.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário