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TRANSFORMERS - A Era da Extinção (Transformers: Age of Extinction)


por Tiago Paes de Lira

É preciso deixar uma coisa bem clara. Não importa o que eu ou outra infinidade de críticos digamos. Transformers: A Era da Extinção é Michael Bay sendo mais uma vez Michael Bay. Se for isso que você busca, irá se divertir muito. Mas está claro que essa cinesséerie precisa de um descanso, semplots gigantescos que não se fecham e sempre pedindo uma continuação. É triste, mas nem tudo por ser salvo por um robô gigante montando um dinossauro robô gigante. Por mais incrível que isso soe.

Quatros anos depois da batalha que devastou Chicago no filme anterior, Optimus Prime (Petter Cullen) e os outros Transformers estão sendo caçados pela CIA e por Harold Attinger (Kelsey Grammer) – sejam eles Autobots ou Decepticons – para um propósito escuso com a ajuda de outro ser robótico, Lockdown (Mark Ryan). Os caminhos de Optimus e do inventor Cade Yeager (Mark Whalberg) se cruzam por acidente, e uma nova aliança entre humanos e Autobots se forma contra uma força que tem maior número e poder de fogo.

Bay, apesar de sua insistência em gastar tempo de filme, não consegue avançar na história que conta, como se quisesse reiniciar o universo criado em 2006. Para isso ele usa dos mesmos arquétipos: um líder, um aprendiz, a dama em perigo, cavaleiro no cavalo branco e o guerreiro. Pior, ele mantém Bumblubee (também voz de Ryan) o eterno imaturo, como vemos na cena em que ele e Shane (Jack Reynor) invadem o show room da KSI. Hound (John Goodman) e os outros Autobots citam que, na ausência de Optimus, Bumblubee foi o líder deles. Só se for para ficar tirando onda de Camaro Amarelo (oquei, péssima piada).

O diretor pode ser criativo, quando muito, nas cenas de ação. Mas não consegue fazer uma transição ou cena dramática. Vejam por exemplo a cena inicial, onde seres orgânicos em espaçonaves transformam parte da vida da Terra em metal, e logo depois há um pulo de bilhões de anos: não há um movimento, um raccord que seja para dar suavidade ou continuidade ao momento. De novo é Michael Bay sem saber o que fazer quando precisa de uma cena que não seja regada de explosões e transformações de robôs.

É importante admitir que, pelo menos nisso, o filme funciona. A transformação de Transformers para automóveis e outros tipos de máquinas da Terra é impressionante, e com detalhes que enchem os olhos para o design de produção. Principalmente o visual escolhido para Lockdown. Tendo algo de caçador de recompensas em si, ele transforma-se não apenas em um Lamborghini Aventador, mas no momento da perseguição seu rosto transmuta-se num canhão: o que ele vê é morte, destruição, guerra. A nova geração dos novos Decepticons tem um conceito interessante com seus construtos voando pelo ar e montando-se novamente. Ao mesmo tempo, é bem menos interessante visualmente, como se fossem milhares de pixels que se juntam para dar forma a Galvatron (Frank Welker) e os outros inimigos dos Autobots.

Por causa desse cuidado que é difícil de aceitar falhas essências no visual. Enquanto a nave-prisão de Lockdown impressiona pelo tamanho e pelo design gigeriano – uma bela homenagem a filmes como Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979, Dir Ridley Scott) – Bay e Kruger esquecem alguns conceitos básicos de artilharia. Chega a ser engraçado Cade encontrar dentro de um Optimus Prime danificado cápsulas de projéteis. Parece que diretor e roteirista estavam vendo desenhos animados demais, onde as cápsulas saem inteiras do tambor. Eu me pergunto quem é o consultor técnico dessa produção, e como deixou passar uma coisa dessas. Além disso, fazer Drift (Ken Watanabe) se personificar como um Samurai, mas usando um chassi de um carro francês – um Bugatti Veyron – é imperdoável.

Mas há tantas decisões erradas nesse filme que chega a doer. Além do roteiro arrastado – com 2h45min você sabe que a cada ponto de virada ainda vem mais coisa por aí – Bay exagera nosslow-motions, nos ângulos de baixo para cima focando James Savoy (Titus Welliver) – já entendemos na primeira vez que ele é perigoso – e na moralidade que vem de qualquer lugar quando resolvem matar um personagem que seria o traidor, por assim dizer.

Todo filme precisa de receita, sabemos disso. Mas quem pensou no Marketing Indireto (ou product placement) deveria ser demitido. Aparições totalmente sem sentido da marca IMAX e de uma cerveja light – que sem motivo Cade resolve beber depois de atropelar um caminhão da marca enquanto foge da nave espacial – são, no mínimo, ridículas.

E a preguiça do roteiro continua nas suas grandes conveniências. A primeira é o fato de Shane ser um experiente piloto de corridas e estar, por acaso, na fazenda de Cade e Tessa (Nicola Peltz) – personagem que consegue ser mais sem graça ainda do que a mocinha do filme anterior – quando Savoy e seu grupo procuram por Optimus. Mais tarde, na nave de Lockdown, os Autobots desligam alguma parte qualquer do sistema de navegação e, como efeito colateral, acionam arpões que se prendem num arranha-céu ao lado, possibilitando uma fuga do trio humano. E claro, ainda há espaço para artes marciais salvarem o dia quando Joshua Joyce (Stanley Tucci) se acha acuado na China e é salvo por Su Yueming (Li Bingbing) que, apesar de ser uma SEO de uma empresa de tecnologia, achou espaço na agenda para aprender com maestria o kung-fu.

O filme é um exagero até nos erros. Sem nenhuma noção de como construir uma cena tensa de ação, Bay joga ao fundo da luta entre Optimus e Lockdown uma trilha sonora cantada – provavelmente pela banda Imagine Dragons, mas não temos certeza porque o design de som não permite que se escute nada da letra – ao invés de apostar no silêncio, ou numa música orquestrada que seja.

Esse não é um filme agradável. Entendo a fan-base criada, mas é preciso senso crítico. As piadas (Cade perguntando o preço do caminhão, referenciado o primeiro filme; a brincadeira da cópia barata feita na China que não funciona direito) e questões filosóficas que são apenas pinceladas (alma, a procura pelo criador) não salvam o filme. Vejam questões pequenas que se resolveriam facilmente, como a caça aos Transformers: Cade é genial suficiente para hackear uma câmera espiã baseada na tecnologia de Cybertron e acessar as imagens dela, mas não pensou no mais óbvio para expor os culpados, fazendo um upload para algum serviço de streaming? Uma criança de 12 anos teria essa ideia.

Transformers: A Era da Extinção é mais um amontoado de ideias recicladas, que busca inspiração nos clássicos – impossível não nos lembrarmos do mito do Rei Arthur quando Optimus saca uma espada e é chamado de Cavaleiro – mas não dá sequer um minuto para pensar no que estamos vendo. O 3D é dispensável, e só vai contribuir para a sua dor de cabeça. Porém, tem público cativo e que, aparentemente, não vai se importar nem um pouco com o que estou dizendo.


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