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TESE SOBRE UM HOMICÍDIO (Tesis sobre un homicidio)



por Roberto Bouchiglioni

A importância dos detalhes é uma ideia que se repete ao longo desta “Tese Sobre um Homicídio”, uma coprodução hispano-argentina dirigida pelo argentino Hernán Goldfrid (de Música em espera, 2009). O roteiro, escrito por Patrick Vega, é baseado em um romance homônimo, do escritor Diego Paszkowski.

Roberto Bermudez (Ricardo Darin), especialista em Direito Penal, está envolvido na investigação de um crime que aconteceu no estacionamento da Faculdade de Direito, a poucos metros da sala de aula onde leciona, em Buenos Aires.

Bermudez toma a solução do caso como um desafio pessoal depois de um pouco de pesquisa e reflexão, pois tem razão para acreditar que o culpado é Gonzalo Cordera (Alberto Ammann), um dos alunos que mais se sobressaem no seminário ministrado por ele.

Gonzalo, idealista, não mora na Argentina. É um advogado promissor em início de carreira e decidiu especializar-se na pós-graduação, escolhendo ser orientado por este a quem aprendeu a admirar, mesmo à distância: Bermudez formou-se com o pai dele - Felipe Ruiz Cordera, hoje juiz na Espanha - e foi, por longos anos, amigo íntimo da família. A fim de aproveitar ao máximo a proximidade com o mestre, Gonzalo sempre busca o diálogo. Num dos encontros, na tarde de autógrafos de lançamento do livro escrito por Bermudez, Gonzalo faz menção a Nêmesis, deusa grega da indignação e do castigo, que perseguia os perpetradores de crimes impunes. Na concepção do mestre, Nêmesis é a deusa da vingança.

A obsessão germina na mente de Bermudez e se espalha por seu corpo como uma doença. O professor estimado, bem relacionado também no meio policial de Buenos Aires, se convence de que o assassino vai matar novamente, para demonstrar seu ideal de justiça. Bermudez fará todo o possível para proteger quem poderia ser, em sua visão, a próxima vítima, no caso a irmã da jovem assassinada. A menina que corre perigo chama-se Laura Di Natale (Calu Rivero). Ela passa a ocupar a lacuna deixada pela irmã no restaurante em frente à Faculdade de Direito, trabalhando como garçonete.

Neste aspecto, a adaptação do roteiro segue um caminho diferente do material original: enquanto no livro a história é contada a partir de dois diferentes pontos de vista (a atuação da polícia de Buenos Aires também é levada em conta), o filme centra-se em Bermudez. Se por um lado a decisão permitiu melhor emprego do suspense ao criar sequências de investigações do especialista, com narrativa em primeira pessoa, propiciou a contrapartida de tornar a trama condutora em excesso, deixando pouco espaço para as conclusões do espectador. Será?


Há evidências sutis de que Bermudez, desde o início do seminário, não se sente confortável com a presença de Gonzalo, em razão do passado, da convivência que teve com a família Cordera. Ao resgatar de sua estante antigo projetor de slides, há muito aposentado, Bermudez demonstra inquietação. As imagens do aniversário de sete anos do garoto Gonzalo, na casa dos Cordera, mesclam-se com os pensamentos obsessivos de Bermudez. Parece que todos nós, na sala de cinema, desvendamos o crime junto com o protagonista. Será?

Aspecto fundamental - talvez mais importante que trazer à luz o autor do crime - é tratado no diálogo de Bermudez com a psicóloga que é sua ex-mulher (interpretada por Mara Bestelli), a quem ele recorre para melhor entender os traços psicóticos do criminoso. Ela questiona, enfim: qual o destino que Bermudez quer dar ao final deste excelente filme? Trata-se de sustentar aquilo que ele crê que seja a verdade, ou de criar condições para que se faça a justiça? Muitas vezes - nem sempre - duas perguntas tem a mesma resposta.


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O CONCURSO


por Tiago Paes de Lira
 
Vejam a analogia surpreendente que nos é colocada no começo desse petardo: um número sobre a quantidade de pessoas que prestam concursos e em média quantos cada pessoa passa para conseguir entrar em um desses concorridos cargos. O diretor parece ter se espelhado na sua própria carreira, com um dezena de novelas dirigidas, emulando o seu preparo para o cinema, a tão desejada tela grande. É a vida de Pedro Vasconcelos, figuradamente, em película. E ele conseguiu? Não! Junto do roteirista LG Tubaldini Jr, esta produção é irritante em praticamente todos os sentidos, e figura facilmente na lista de piores produções do ano.

Num começo que emula “Se Beber, Não Case” (The Hangover, 2009), o filme centra em quatro personagens que concorrem ao disputado cargo de juiz federal, num
concurso que ocorrerá no Rio de Janeiro. O diretor usa estereótipos ambulantes para seus personagens: Caio (Danton Mello) é o carioca malandro; Rogério Carlos (Fábio Porchat) é o gaúcho com a masculinidade questionável; Bernardo (Rodrigo Pandolfo) o interiorano nerd de cabelo lambido que ainda mora com a mãe, e Freitas (Anderson Di Rizzi) que apela para a religião como sua sorte. Quando Caio sugere aos colegas que eles devem comprar o gabarito da prova das mãos de mafioso do morro carioca, as coisas fogem do controle, e essa turma só vai arranjar confusão – frase no melhor estilo narrador Sessão da Tarde.

 
Prefiro começar com o único aspecto que esse filme tem alguma qualidade: a fotografia. Entendam, não é nada de diferente ou impressionante. É bem comum, mas está anos à frente do estilo hiper-iluminado das novelas, que não existem nuances, e onde as pessoas vão dormir de luz acessa. Então, Vasconcelos e o diretor de fotografia usam mudanças na cena onde cada um imagina como seria voltar como um derrotado para suas cidades de origem, depois na festa que acontece no morro, e só. Depois, é tudo ladeira abaixo.

Em suma, esse filme é o mundo cão dentro da tela grande. Os produtores esperam que o espectador ria de coisas que parecem ter sido tiradas de programas de auditório do pior tipo. Então, vemos uma luta entre dois pequenos – anões, se preferirem – draq queens se espancando, piadas bairristas – “gaúcho que fracassa é catarinense” -, piadas repetidas – Caio usa a mesma em menos de quinze minutos: “Isso não é crime. No máximo, uma contravençãozinha” – e a triste presença da atiradora de facas Martinha Pinéu (Sabrina Sato) que apela para palavras de baixo calão para arrancar alguma risada que seja.

 
 
Mas quando a ex-BBB fala para Bernardo “se você não me comer, eu te mato” o sentimento é repulsa, talvez vergonha. A graça passou longe daqui. É uma tentativa pífia de criar uma personagem feminina forte, desbocada e dominadora sexual, mas que ao mesmo tempo é submissa e se sujeita a qualquer coisa pelo suposto amor da vida dela. Resumindo, apesar do diretor ter comparado o talento da apresentadora com o de Fernanda Montenegro, você sente vê claramente que Sabrina Sato não é atriz. E ela mesmo admite isso em outra entrevista.

Uma piadinha ou outra dá certo, como o sonho da mãe de Bernardo dele ser alguém importante como “funcionário público dos Correios ou do Banco do Brasil”, e a questão dos cupons de compras coletivas de internet serem uma dor de cabeça, mas a maioria não se salva. Nem mesmo as que aparecem no trailer, o que é bem raro. E, se você gostar do assunto, Sabrina Sato aparece de calcinha e sutiã na tela grande. A cena é antecedida por outra bem ridícula, envolvendo chimarrão e a propaganda descarada de uma empresa de lâminas de barbear. Considerem como uma recompensa pelo tanto que o diretor já te fez passar.
O Concurso representa o que há de pior no cinema nacional: é uma comédia fraca, cheia de momentos preconceituosos e que espera chamar mais público com uma carinha famosa na divulgação. Infelizmente, a comédia brasileira no cinema continua sendo usada como antítese do seu próprio gênero. Os produtores tem que aprender mais com os dramas para que o estigma do nosso próprio com o cinema nacional – as máximas “é bom, apesar de brasileiro” ou “é ruim, tinha que ser brasileiro" – desapareça. Não falta gente disposta, mas sim empenho e uma determinação de não aceitar qualquer coisa que se apresente como roteiro. Infelizmente, se quisermos da risada com o cinema nacional vamos ter que esperar mais um pouco. Aqui, se acha pouco, se é que existe algum.
 
 


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TRUQUE DE MESTRE (Now You See Me)


por Beto Besant


Quatro jovens mágicos são recrutados para montarem um espetáculo digno da Broadway. São eles: a bela Henley Reeves (Isla Fisher), especialista em fuga, Merritt McKinney (Woody Harrelson), um mentalista capaz de descobrir tudo que quiser de quem estiver à sua frente, Jack Wilder (Dave Franco), especialista em "bater carteira", J. Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), especialista em truques de cartas e líder do grupo. O espetáculo chamado Os Quatro Cavaleiros faz enorme sucesso em Las Vegas, apresentando truques inéditos, como teletransportar um homem para o cofre de um banco francês e promover uma chuva de dinheiro na plateia.

Por conta deste número, a polícia francesa envia a investigadora francesa Alma (Mélanie Laurent) aos EUA investigar o caso junto com o policial do FBI Dylan Rhodes (Mark Ruffalo). Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), é quem faz sucesso na TV desmascarando ilusionistas, que neste caso não consegue entender o que se esconde por trás dos Quatro Cavaleiros.


A direção é de Louis Leterrier (Fúria de Titãs, O Incrível Hulk, Carga Explosiva), que apesar de ter um orçamento modesto para suas pretensões tenta fazer um espetáculo de imagens extremamente impactante. Isso ajuda a disfarçar os furos no roteiro de Boaz Yakin, Ed Solomon e Edward Ricourt, que apresenta uma reviravolta a cada dez minutos, o que também ajuda a desviar a atenção dos problemas de roteiro e falta de realismo.


No meio do filme, como se pode esperar de todo filme com pretensões a blockbuster, acontecem as famosas perseguições de carro, um elemento típico deste tipo de filme.

A fotografia do filme é impecável e o elenco estelar convincente.

As imagens são bonitas e os efeitos especiais dos truques tão bem feitos, que realmente vale à pena ver o filme, claro que, como diz um amigo "deixando o cérebro em casa".
Pelo sucesso que o filme vem fazendo, percebe-se que o público não se importa mesmo com isso.


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HANNAH ARENDT


por Rogério de Moraes

Hannah Arendt já era uma pensadora de prestígio em 1962 quando se ofereceu à revista The New Yorker para cobrir, em Jerusalém, o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann.

Foi a partir do julgamento de Eichmann, conhecido como o principal responsável por arquitetar a logística da chamada “solução final” – encarregada de exterminar judeus durante os anos de Hitler no poder –, que Arendt passou a formular seu pensamento para aquilo que ela viria a denominar de a “banalidade do mal”.
Hannah era uma judia que fugira para os EUA durante os anos de perseguição na Alemanha, chegando ser presa em um campo de prisioneiros na França ocupada. Na América, tornou-se uma respeitável pensadora e professora universitária, tendo publicado obras importantes como As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958) e Sobre a Revolução (1963).

É a partir da decisão da pensadora, interpretada pela atriz Barbara Sukowa, em presenciar e relatar o julgamento do “monstro” Eichmann, que o filme Hannah Arendt inicia seu caminho em retratar a coragem da escritora e o inferno que se tornou sua vida ao levar essa coragem às últimas consequências: a publicação do artigo na revista e, depois, a publicação do livro intitulado Eichmann em Jerusalém.
Essa coragem está nas consequências que Hannah sofreu ao ter a ousadia de não demonizar Eichmann como o monstro que todos queriam ver descrito em suas palavras, especialmente a comunidade judaica. Para ela, o tal monstro não era mais que um burocrata medíocre que cumpria suas ordens sem refletir moralmente sobre suas consequências.

Para ainda maior descalabro da comunidade, Hannah não apenas afirmava que não via Eichmann como um antissemita, como teve ainda a ousadia de tocar em assuntos-tabus, como a colaboração de alguns judeus no extermínio de seu próprio povo.

Ainda que ver o filme e conhecer este aspecto da história do século 20 seja algo quase obrigatório, não se pode deixar de notar que, como narrativa de cinema, Hannah Arendt resulta numa obra burocrática, de amarração frágil e condução irregular.

Seus problemas como narrativa vão da obviedade exageradamente sublinhada à construção sem resultado de uma memória em flashback. Muitas vezes, a direção adota uma construção e encadeamento de quadros que lembram um telefilme – lembrando que a diretora, Margarethe von Trotta, tem boa parte de sua carreira na televisão. Nas vezes em que se busca um efeito cinematográfico o resultado é artificial; ora deslocado, ora dramaticamente ineficiente.
Logo na abertura do filme, pode-se perceber uma abordagem óbvia ao mostrar a protagonista, uma pensadora, pensando. Mesmo recurso televisivo que ao final fecha a narrativa, semelhante ao desfecho de qualquer episódio de telessérie. Além disso, dos enquadramentos à montagem, o filme muitas vezes insiste em sublinhar o que deveria ser sutil.

Exemplo disso é o momento em que Arendt, observando Eichmann durante o julgamento, tem o “click” para a compreensão daquilo que seria o pilar de seu artigo. O que poderia ser algo sutil torna-se um exagero de construção óbvia, com a câmera se aproximando da personagem, a música acentuando o momento e a atriz, aparentemente, sendo instruída a mudar sua expressão. Tudo isso para remeter o público a uma forçosa denotação de descoberta, de revelação.

Do artificial, fica o modo como se constrói em flashback a relação amorosa entre uma Hannah juvenil, ainda na Alemanha, e seu professor Martin Heidegger (Klaus Pohl), 17 anos mais velho. A seriedade do quão escandaloso seria para a época esta relação com um homem casado e professor universitário passa ao largo dessa lembrança, assim como não se preenche nesses flashbacks qualquer sentimento ou laço mais forte. Tudo fica no campo da burocrática amostragem a conta-gotas.

A presença dessa memória no filme pretende reforçar o efeito de uma cena perto do final, como se os flashbacks fossem a construção de um sustentáculo para amparar no fim todo um sentimento de perda emocional e sentimental a partir de um rompimento intelectual e político.

Contudo, apenas uma pequena parte desse sentimento é alcançado, muito mais pela atuação de Barbara Sukowa do que pela pretensa construção emocional da narrativa.

Ficam ainda arestas abandonadas sem maiores consequências, como é o caso da secretária de Hannah, Lotte Köhler (Julia Jentsch). O filme insiste em atribuir a ela uma devoção oblíqua, com momentos que vão da adoração à tensão homoerótica. Mas deixa pelo caminho qualquer desdobramento dessa personagem.

Enquanto filme, Hannah Arendt é uma experiência pobre, ainda que tenha o mérito de nunca descer ao ponto de se tornar cansativo. Mas esse mérito talvez esteja mais na história que o embasa do que nos seus atributos fílmicos. Mesmo assim, merece ser visto como registro de um pensamento, o pensamento de Hannah Arendt, que provoca o senso comum e instiga debates até os dias de hoje.


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GUERRA MUNDIAL Z (World War Z)


por Beto Besant

Uma misteriosa doença contamina rapidamente a população mundial. Na tentativa de conter a epidemia, o governo do Estados Unidos forma uma equipe para viajar o mundo na direção dos infectados afim de descobrir a solução. Gerry Lane (Brad Pitt) é um ex-investigador da ONU (Organização das Nações Unidas) que é convocado para formar a equipe. Apesar de sua intenção de dedicar-se mais tempo à sua mulher Karen (Mireille Enos) e suas filhas, mas decide enfrentar o problema por saber que se não for solucionado, todo o planeta estará condenado.


Aproveitando a "onda" de filmes de zumbi, Guerra Mundial Z desvia da temática sobrenatural justificando o problema como uma doença que atinge a população. Isso serviu para uma redução drástica da quantidade de sangue, o que permite com que um público de idade mais reduzida possa entrar nas salas de cinema.
Além do tema zumbi suavizado, o filme aborda o gênero cinema-catástrofe. Nada mais comercial.

Como era de se esperar de um autêntico blockbuster, o filme é uma correria sem fim. Estrelado pelo ídolo Pitt, segue a receita dos filmes comerciais. Não é preciso mais de cinco minutos para sabermos o que acontecerá durante toda a trama. Nem mesmo o patriotismo típico dos filmes americanos foi deixado de lado.

Filmes com grandes pretensões comerciais costumam ter atuações são "pasteurizadas", o elenco não passa de "peças de xadrez". Porém, para piorar, Pitt está com um cabelo "à la galã das adolescentes" que nada combina com o personagem. Nada como ser um ator influente e produtor para poder se dar a esses luxos...

Baseado no livro Guerra Mundial Z – Uma História Oral da Guerra dos Zumbis, de Max Brooks (filho e Mel Brooks), o filme começou a ser rodado antes mesmo de ter seu roteiro finalizado. Após divergências de opinião entre o astro Brad Pitt, o diretor Marc Forster, as filmagens foram paralisadas até que o roteiro fosse finalizado. Somando os problemas foram gastos quase 200 milhões de dólares. Este foi outro motivo que fez com que o filme seguisse à risca a "receita do cinema comercial".



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JUAN DOS MORTOS (Juan de los Muertos)


por Beto Besant


Os amigos Juan (Alexis Díaz de Villegas) e Lazaro (Jorge Molina) vivem de pequenos "bicos" na ilha de Cuba. Certo dia, durante uma pescaria, pescam um zumbi e logo percebem que a ilha está tomada por centenas deles. Com o senso de oportunismo de quem é "cria da rua", veem a oportunidade de lucrarem executando as criaturas, parentes dos moradores. Para isso formam um grupo totalmente heterogêneo de "caçadores": um musculoso, um homossexual, um galã e a bela Camila (Andrea Duro), filha de Juan que abandonou a Espanha devido à atual crise financeira.



Segundo longa-metragem do diretor Alejandro Brugués, um argentino criado na ilha de Fidel, Juan dos Mortos é uma deliciosa sátira aos filmes de zumbi que também brinca com filmes de artes marciais.
Os zumbis são uma representação dos "velhos socialistas" em contraposição ao capitalismo que cada vez mais invade a ilha.

Apesar do baixo orçamento, com o capital vindo da Espanha, o filme é uma excelente opção de diversão que está muito longe de ser apenas um "besteirol". É possível notar que os efeitos especiais são limitados, mas isso em nada tira o sabor de assisti-lo.
O elenco está coeso e tem muita "química", com destaque para os protagonistas Villegas e Molina, excelentes atores. Com destaque para a cena onde o segundo pede um pequeno "favor" ao amigo.

O roteiro não tenta aprofundar obre a origem do problema, o que em nada diminui na sua qualidade. A direção é competente e extrai momentos hilários dos atores. A montagem é "enxuta" e tem bom tempo de comédia.

Primeiro filme de zumbis de Cuba, Juan dos Mortos ganhou o prêmio de Melhor Filme Iberoamericano no Goya, em 2013, principal festival de cinema espanhol.


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SEGREDOS DE SANGUE (Stoker)


por Beto Besant

India Stoker (Mia Wasikowska) é uma jovem que tem seu pai (Dermot Mulroney), assassinado misteriosamente no dia de seu aniversário de  18 anos.
Após o velório recebe a visita de Charlie (Matthew Goode), seu tio paterno cuja existência era desconhecida. Charlie decide morar na casa com ela e sua mãe Evelyn (Nicole Kidman). Logo começa um romance com a mãe, ao mesmo tempo que troca olhares com a filha e mortes estranhas acontecem.


Roteiro de estreia do inglês Wentworth Miller (conhecido no Brasil como o galã da série Prison Break), não é nenhuma obra-prima mas tem o mérito de segurar o público sem abusar de clichês. A opção pela direção do sul-coreano Chan-wook Park (famoso pelos filmes Oldboy e Sede de Sangue) foi uma boa escolha, pois o diretor conduz o filme com personalidade e originalidade.

A direção de fotografia é de Chung-hoon Chung, antigo parceiro do diretor e um dos responsáveis pelas belas imagens e enquadramentos do filme.


O trio principal do elenco também é um dos trunfos do filme, pois são responsáveis pela tensão psicológica que permeia todo o suspense. Há ainda a bela participação especial da atriz autraliana Jackie Weaver.

Apesar de não ser uma obra-prima, é um belo trabalho, que além de sair do suspense convencional americano, mostra que é possível um diretor estrangeiro estreiar em Hollywood sem perder suas características.



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O GRANDE GATSBY (The Great Gatsby)


por Beto Besant


No início da década de 20, o jovem escritor Nick Carraway (Tobey Maguire) conta ao seu psicólogo como conheceu o lendário Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Ao mudar-se para Nova Iorque, Carraway fica sabendo de seu vizinho, famoso por oferecer festas descomunais sem quase ninguém conhecê-lo. Sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan) vive com seu marido, o milionário Tom Buchanan (Joey Edgerton).


Escrito e dirigido por Baz Luhrmann (Moulin Rouge, Romeu + Julieta), a nova versão cinematográfica do romance de F. Scott Fitzgberald de 1925 é decepcionante. 
Nem a sofisticação visual e o 3D conseguem dar algum sabor e esta versão.
Chega um certo momento que o filme se torna tão longo e cansativo que tem-se a impressão de que já passaram mais de duas horas e meia.

Apesar do bom elenco, DiCaprio tem exatamente o tipo físico para o personagem, o filme "não funciona". Tudo é superficial. Os atores estão apáticos. Como dizia minha mãe: "por fora bela viola, por dentro pão bolorento". Este bem que poderia ser o slogan do filme.

Eu, que só assisti a versão de 1974, com Robert Redford e Mia Farrow encabeçando o elenco, passei a sentir saudades dela e sentir "como era boa e eu não sabia".

A trilha sonora procura inovar, colocando música contemporânea em plena década de 20. Inclusive colocando um RAP, provavelmente pelo fato do cantor de RAP Jay-Z ser o produtor executivo. Uma "inovação" pretensamente original e artística.

De nada adiante investir milhões de dólares para uma produção luxuosa se o filme não tem ALMA.


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FAROESTE CABOCLO - Coletiva de Imprensa


por Beto Besant

João (Fabrício Boliveira) deixa a cidade de Santo Cristo para tentar uma nova vida em Brasília. Começa a trabalhar como carpinteiro mas acaba e tornando traficante de seu primo Pablo (Cesar Troncoso). Conhece casualmente Maria Lúcia (Ísis Valverde) e se apaixonam perdidamente. O romance de João com a filha do senador (Marcos Paulo) provoca a ira de Jeremias (Felipe Abib), um traficante "playboy" da cidade apaixonado por Maria.


Filme de estreia do publicitário René Sampaio, Faroeste Caboclo é uma grande surpresa cinematográfica. A crítica, sempre desconfiada quando se anuncia um filme deste tipo, encabeçado por uma atriz famosa em novelas, foi quase unânime em reconhecer sua qualidade. É com muita segurança que Sampaio conduz o trabalho.

O bom roteiro, escrito inicialmente por Paulo Lins e depois por Marcos Bernstein e Victor Atherino, cumpre bem o que se propõe. Não é nenhuma revolução cinematográfica mas conta a história relatada na música de forma muito interessante, sem deixar de ser acessível ao público médio. Trata-se de um policial com pitadas de romance proibido e faroeste.

O roteiro não tem maniqueísmo, o protagonista mata friamente e aparentemente sem motivo até que depois este seja revelado. A "mocinha" do filme fuma maconha quase o tempo todo e casa-e com o vilão do filme. Decisões de certa forma ousadas para os padrões comerciais.

Tecnicamente, também é muito bem feito, com uma belíssima fotografia e direção de arte. Mas o grande trunfo do filme é o elenco. Preparado pelo prestigiado Sérgio Penna, o elenco é coeso, desde o trio principal - formado por Boliveira, Abib e Valverde (que interpreta com a alma transbordando pelos olhos) até a pequena participação de Flávio Bauraqui, que interpreta o pai de João de forma brilhante.

Para arrematar este grande trabalho, Filipe Seabra (baixista da banda Plebe Rude) foi o responsável pela excelente trilha sonora, que teve a sábia decis]ao de só colocar a música-tema nos créditos finais.


A COLETIVA

No último dia 20 de maio, a distribuidora Europa Filmes promoveu em São Paulo/SP, no Shopping Frei Caneca, uma coletiva de imprensa do filme.

o diretor René Sampaio
Estavam presentes o diretor René Sampaio, o trio principal Fabrício Boliveira, Ísis Valverde e Felipe Abib, Giuliano Manfredini (filho de Renato Russo) entre outros.

O diretor comentou que não quis fazer um videoclipe de cem minutos, como muita gente poderia supor. Falou sobre o filme ser lançado logo após o filme Somos Tão Jovens: "os filmes foram feitos quase simultaneamente, passadas as confusões iniciais sobre quem estava em qual filme, etc, chegamos a temer que um pudesse reduzir a quantidade de público do outro, mas hoje vemos que eles se complementam, por tratarem de universos totalmente diferentes de Renato Russo.

Fabrício Boliveira
O protagonista Fabrício Boliveira mostrou que além de grande ator, é muito bem articulado, engajado e carismático. Falou que as questões raciais surgiram no filme por conta de sua participação. Também disse que apesar das cenas de violência, considera mais chocantes as cenas de racismo que o filme apresenta.

A atriz Ísis Valverde contou que esteve com a mãe de Renato Russo e descobriu que a maioria dos personagens da música eram presentes na vida do compositor, então perguntou sobre a Maria Lúcia da vida real. A resposta que recebeu foi que a Maria Lúcia era uma mistura das várias mulheres da vida de Russo. Então, ao observar as fotos delas, notou que cada uma tinha uma característica, o que a levou a compor uma Maria Lúcia multifacetada.

Ísis Valverde
Ela também contou que conversava durante horas seguidas com o ator Marcos Paulo (que interpreta o pai de Maria Lúcia e foi seu último filme). Disse que o ator e diretor deu várias dicas importantes. Neste momento o diretor Sampaio contou que Marcos Paulo descobriu que tinha um câncer durante as filmagens, e para não prejudicar o trabalho, adiou por quinze dias o início dos tratamentos.

Um grande destaque do filme fica por conta da trilha sonora. O diretor conta que optou cor convidar Seabra por ser de uma banda de Brasília, por ter acompanhado a carreira da Legião Urbana e outras bandas da época, além de já ter feito trilhas para cerca de quatro filmes.

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O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 3D - A Lenda Continua (Texas Chainsaw 3D)


por Beto Besant

A residência da família Sawyer é cercada pela polícia e população, esta decide fazer justiça com as próprias mãos, incendiando a casa e linchando a família. Um dos invasores salva uma criança recém nascida e passa a criá-la como se fosse sua filha. Cerca de vinte anos depois, a belíssima Heather (Alexandra Daddario) é informada da morte de sua avó biológica, descobrindo a sua origem. Convida alguns amigos e namorado para irem até o Texas conhecer a mansão herdada e falar com o advogado Farnsworth (Richard Riehle). Após muito sangue derramado, descobre que herdou também o primo psicopata Jed.


Dirigido desta vez por John Luessenhop, o filme é o que pode-se esperar de uma franquia comercial de terror: uma sequencia de clichês, um roteiro fraco e um elenco recheado por atores com mais dotes físicos do que artísticos.

Essa nova versão em 3D nada acrescenta na história, é apenas um recurso para atrair ao público que vai ao cinema como quem vai a um parque de diversões, e uma boa forma das salas de cinema encarecerem os ingressos.

Com um roteiro muito fraco e direção idem, a única virtude do filme é inverter valores dos personagens ao final da trama.

O curioso é que nota-se a preocupação do produtor em não expor nus que naturalmente aconteceriam nas cenas de sexo ou quando a protagonista movimenta seus seios fartos numa camisa aberta. Desta forma, o filme pode ser liberado a uma classificação indicativa menor, público este, mais frequentador deste tipo de filme.

Mostrando que a receita comercial dá certo, o filme fez enorme bilheteria nos Estados Unidos e vem agradando ao público brasileiro.



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SOMOS TÃO JOVENS



por Beto Besant

Renato é o típico rebelde sem causa. Com intelectualidade acima da média para um adolescente, devora livros e dá aulas de inglês enquanto fuma seus "baseados" (um dos maiores clichês do cinema nacional) e aos poucos se encanta pelo punk rock inglês. Após uma grave doença que lhe deixou acamado por meses, decide formar sua primeira banda Aborto Elétrico, que viria a se tornar a cultuada Legião Urbana.


O principal mérito do filme é escolher amplificar o período que compreende da sua doença até eu primeiro grande show, ocorrido no Circo Voador (Rio de Janeiro). O roteiro do experiente Marcos Bernstein peca ao colocar trechos de músicas famosas do ídolo na boca dos personagens. Como se fosse assim que surgiram tais letras.

A direção Antônio Carlos de Fontoura comete diversos deslizes, dentre eles, deixar os atores interpretando de forma muito teatral, ou mesmo deixar que eles fiquem tão presos na imitação dos biografados que acabam por cair numa espécie de caricatura. Isso inclui o ótimo Thiago Mendonça, que apesar de estar perfeito como Renato Russo, inclusive cantando todas as músicas "ao vivo" (não foram usadas gravações posteriores para corrigir eventuais deslizes) acaba por exagerar na forma já exagerada de falar do cantor. Afinal, por mais que este tivesse um jeito todo peculiar de se expressar, é difícil acreditar que ele se comportaria da mesma forma até deitado em sua cama falando com sua melhor amiga. A atriz Laila Zaid, que interpreta Ana, a melhor amiga de Russo, é uma grata revelação.

Claro que é um filme que visa arrebatar a legião de fãs do biografado (trocadilho à parte), e apesar de não trazer nenhuma grande novidade, merece ser visto.


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EM TRANSE (Trance)


por Beto Besant

Um segurança de uma famosa casa de leilões (James McAvoy) é o encarregado de proteger as pinturas em caso de assalto ou qualquer outro tipo de ataque. Durante um assalto, ao tomar as medidas necessárias, é golpeado na cabeça pelo chefe da quadrilha (Vincent Cassel) e perde a memória. Uma especialista em hipnose (Rosario Dawson) é contratada para fazer com que se recorde onde deixou a pintura. Pouco a pouco vamos percebendo que ninguém é quem pensávamos.


Dirigido pelo renomado ganhador do Oscar Danny Boyle (pelo filme Quem Quer Ser um Milionário, 2009), o filme prende o público na poltrona desde o primeiro minuto. A tão gasta "desculpa" da hipnose para confundir o público, ganha novo gás neste trabalho. A cada dez minutos tudo que pensávamos ter entendido sobre a trama muda de rumo, a tal ponto que nos questionamos se estamos realmente acompanhando a história.

O elenco está bem, com destaque para o sempre impecável Cassel, a fotografia é primorosa, onde nada é por acaso. A montagem tem um ritmo alucinante que pode até cansar boa parte do espectador.

Apesar de ter uma "cara" de cinema-pipoca, é um bom exemplo de como se fazer filme comercial com qualidade e originalidade.



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DOMÉSTICA


por Beto Besant

Sete jovens registram por uma semana o cotidiano de suas empregadas domésticas.

Dirigido pelo pernambucano Gabriel Mascaro, o documentário aborda de forma muito transparente a delicada relação patrão X empregado. É possível perceber que por trás da politicamente correta amizade entre patrões e empregados, existem desde casos sinceros de amizade até casos onde a discriminação é latente.

O diretor conseguiu um panorama diversificado de representantes de ambos os lados. Como uma família abastada que possui diversas empregadas, uma doméstica que tem outra empregada cuidando de seu filho deficiente enquanto sai para trabalhar. Uma família que acolheu um homem abandonado pela família que acabou virando um misto de "empregado doméstico" com um amigo da família. Uma mulher que trabalha para uma família judaica onde tem a oportunidade de conhecer seus costumes.

Com uma boa montagem, o filme mostra momentos interessantes da vida das personagens, com momentos dramáticos, onde uma conta sobre a dor de ter um filho assassinado e não ter estado com ele em seus últimos meses de vida por estar no emprego, ou a empregada que realizou o sonho de aprender a dirigir e se emociona com a música de Reginaldo Rossi que toca no carro.


Por alguns momentos sente-se a necessidade de uma trilha-sonora, mesmo tendo músicas que são escutadas pelas trabalhadoras.
Obviamente, um filme feito por jovens estudantes não prima pela técnica, tendo problemas de foco e fotografia por vários momentos, mas não perdendo o essencial do cinema: alma.




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O ABISMO PRATEADO


por Beto Besant


Violeta (Alessandra Negrini) é uma dentista casada com Djalma (Otto Jr) e mãe de um adolescente. Apesar da sua intensa vida sexual, um casamento aparentemente sólido desaba repentinamente, quando recebe uma mensagem de seu marido dizendo que está se separando e indo morar em Porto Alegre.


A primeira reação de Violeta é o desespero, tentando pegar um voo para a capital gaúcha, que acaba perdendo. No intuito de se encontrar, vai para um pequeno quarto de hotel, mas inquieta, sai, bebe e conhece novas pessoas.

O filme todo se passa em apenas um dia na vida da personagem, que de forma muito introspectiva faz uma "viajem para dentro de si mesma" e se descobre mais forte do que poderia supor.


Escrito e dirigido pelo cearense Karim Ainouz, que assina o roteiro junto com Beatriz Bracher, o filme foi inspirado na canção Olhos nos Olhos - de Chico Buarque.

De forma muito delicada, o diretor utiliza da bela canção para iniciar a história, porém não se prende em tentar transcrever a canção, o que é um dos seus grandes méritos.

A direção segura é apoiada pela forte, porém discreta, presença de Negrini, que encontra o tom exato de interpretação do personagem, que esconde atrás de uma aparente tranquilidade o turbilhão de um furacão, de uma vida virada ao avesso.

Toda  a história é calcada na protagonista, que, sozinha, precisa transmitir as emoções e turbulência do personagem apenas com o olhar e gestos.

O destaque fica para a cena em que Negrini dança ao som de Maniac, tema do filme Flashdance (1983), reproduzindo a dança da personagem interpretada pela atriz Jennifer Beals, como num auto-exorcismo.


O ator Thiago Martins também tem uma rápida participação, porém bastante sólida, como o pai que está viajando com sua filha de volta para sua cidade nordestina.

Com uma montagem sensível e enxuta, o filme "dá conta do recado" e deixa o famoso "gostinho de quero mais" em seus 83 minutos. Mais um belíssimo trabalho de Ainouz, que fez a estreia mundial do filme na Semana dos Realizadores do Festival de Cannes 2011.





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