Blog criado pelo cineasta Beto Besant para comentar os filmes que estão em cartaz.
Fiquem à vontade para deixar comentários e sugestões.
Sejam todos bem vindos!!!
Deco (Bruno Gagliasso) é um carioca que vive estirado no
sofá do apartamento herdado de seus pais. Certo dia quase atropela um cão com
narcolepsia – doença que provoca desmaios repentinos, e ao socorrê-lo conhece
Zoé (Leandra Leal), uma radialista apaixonada por cães. Os dois se envolvem rapidamente
e vão morar juntos e adotam o cão de nome Guto.
Como Deco continua jogado no sofá, Zoé lhe deixa e vai com seu cão morar
com Fernando (Enrique Diaz), um ex-namorado empresário "natureba" bem-sucedido dono de um SPA canino.
Para completar, Leléo (Danilo Gentili) - primo paulistano de
Deco, vai morar em seu apartamento no Rio de Janeiro, tirando o pouco sossego
que lhe restava. Então Deco planeja sequestrar o cão com a ajuda de seu primo.
Longa-metragem de estreia na direção do ator e montador Pedro
Amorim, Mato sem Cachorro é uma comédia romântica que, apesar dos diversos
trunfos, não “decola”. A começar pelo elenco, que tem como casal protagonista
os sempre excelentes Leandra Leal e Bruno Gagliasso (ainda subvalorizado no
cinema). Leandra e Bruno são convincentes em seus papeis e tem química
suficiente para que o público torça para que eles terminem juntos. Danilo Gentili
(que faz sua estreia no cinema) já tem uma participação mais contida. Por ter no
improviso seu maior trunfo, no filme perde um pouco a graça – mesmo tendo
liberdade para colocar diversos “cacos” (palavras que não estavam no roteiro),
apelando muitas vezes para piadas sem graça e palavrões.
Pedro Amorim e Bruno Gagliasso
Enrique Diaz também está muito bem, encontrando o tom certo
para viver o empresário “bonzinho e natureba”. Sandy faz uma divertida
participação especial no papel dela mesma, brincando com a imagem de pureza que
a mídia lhe apregoa. O mesmo pode-se dizer de Rafinha Bastos, que interpreta um
veterinário excêntrico. Gabriela Duarte é provavelmente o maior erro de elenco,
que tenta ser engraçada e sedutora, mas não convence nem ao cão do filme. Mesmo acontece com a participação de Marcelo
Tas, que interpreta dois irmãos gêmeos que mais parece filme da Xuxa.
O cão estrela do filme e seu adestrador americano
Amorim não consegue juntar todo este belo elenco de maneira
satisfatória. O roteiro de André Pereira se perde na história e o diretor também
não é capaz de salvá-lo. A abertura do filme, onde há uma mixagem de John
Lennon é engraçada mas a repetição da fórmula perde a graça. A fotografia do experiente
Gustavo Hadba é interessante mas não tem muito o que fazer num filme do gênero.
Uma coisa estranha numa comédia do gênero é o fato do
personagem carioca ser “paradão” enquanto o paulistano ser “malandro esperto”.
Resumo: diversão mediana ou para quem tem o riso muito solto.
Existem filmes densos e que nos fazem refletir. E existem outros que são puramente um soco no estômago, como esse ótimo exemplo trazido por Ridley Scott e Cormac McCarthy, voltando ao violento mundo do crime que havia visitado em Onde os Fracos Não tem Vez (livro que os Coen basearam seu filme No country For Old Man, de 2007). É uma história pesada e tensa, que mostra cicatrizes que nunca curam, e como uma série de eventos, que pode vir da má sorte, atinge os inocentes.
O Conselheiro (Michael Fassbender) é um advogado que por um motivo não detalhado na história se envolve com um pesado tráfico de drogas. Junto do conhecido Reiner (Javier Bardem) e do contato dos dois, Westray (Brad Pitt), ele entra num negócio que pode render um lucro de bilhões. Prestes a se casar com Laura (Penélope Cruz), ele se sente seguro. Até que a carga da droga é desviada de seu caminho e os donos acreditam que o Conselheiro é o culpado.
Existem grandes momentos no filme, e um dos melhores é a construção dos personagens. A cena inicial do Conselheiro e Laura fazendo formas no lençol, depois para dentro dele para closes dos dois, com cortes lentos, mostram um casal apaixonado. Desde o começo, o diretor nos faz simpatizar com o casal, por mais torpe que seja a atitude do advogado. A cena de Reiner e Malkina (Cruz) também é cheia de simbolismos, um tanto óbvios até, que é a caça de duas chitas de estimação – se é que se pode dizer isso – caçando coelhos no deserto. A personalidade de Reiner e completada por seu visual exagerado – bronzeamento artificial, cabelo estilo Brian Grazer – e Malkina por suas tatuagens que mimetizam um felino. E quando o Conselheiro e Westray se conhecem, ele usa cores claras, é colocado na luz, mostrando-se mais experiente no assunto, em oposição ao advogado, sempre de preto, mais escondido.
Malkina é a personagem mais interessante da trama, apesar de ser impossível não saber que Scott colocasse a atriz apenas para ser par romântico de um senhor das drogas. Isso não estraga a experiência, mas com certeza fica mais fácil de entender o desfecho. Ela é dissimulada, como uma gata é, e suas frases mostram que ela é uma mulher forte. Sedenta por dinheiro, ela até deixa de lado a sutileza ao usar um canino de ouro na boca. Ela tem uma personalidade impossível e imprevisível, desde os momentos que ela tenta “comer” Laura, ao mesmo tempo em que tem uma fixação estranha com a fé da noiva do advogado, finalizando na bizarra história de quando ela transou com um carro de Reiner. Sim, é tão estranho quanto parece.
A história tem poucas sutilezas, mas é difícil de entender o jeito que o diretor trata do sexo. Como é de costume, a violência é mais aceita pelas audiências tradicionais. Então, temos pessoas executadas de variadas maneiras – uma das mais interessantes é a do motoqueiro que tem a cabeça decepada – mas é pudico com os corpos dos personagens, tanto homens como mulheres. Conseguimos ver um "sideboob" de Cameron Diaz e Penélope Cruz, e só. Não é demérito, apenas um detalhe que nesse universo seria uma coisa natural de acontecer.
Todos os elementos estão bem encaixados. Começando com uma moto que cruza ao fundo a cidade onde o Conselheiro e Laura estão, as advertências que vem de todos os lados, inclusive de Westray que dá um conselho importante ao advogado – “saia fora” – as conversas que parecem esparsas e até uma parede completamente pintada de roxo, um símbolo ligado à morte, na casa de Reiner enquanto ele e o Conselheiro conversam sobre o negócio.
O Conselheiro do Crime - Scott consegue segurar a atenção de nós espectadores do começo ao fim. Enquanto vamos participando da história, Ridley nos prende num sentimento de humano, onde existe uma esperança mínima que tudo de certo no final, e que o desfecho iminente seria muito injusto. Afinal, por que não punir aquele que é o verdadeiro pecador? Mas não seria uma história tão boa, apenas menos chocante se o culpado fosse o sofredor físico. E tudo acaba com uma entrega e com uma felina dizendo que está com fome. Mais um prova de boníssimo cinema.
Nesta terça-feira, 15 de outubro houve a Cerimônia de Abertura do 11º CURTA SANTOS, o principal evento cinematográfico do litoral paulista. O evento aconteceu no SESC Santos, tradicional parceiro do festival.
A cerimônia teve seu início com o ator Sidney Herzog, que entrou pela plateia cantando e caminhando até o palco. Em seguida, foi a vez da banda Tarja Preta apresentar suas músicas, com destaque para Falsa Abolição, concorrente a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.
Depois foram apresentados os 10 curtas-metragens que concorrem na categoria Olhar Caiçara e mais 10 da categoria Olhar Brasilis, seguidos pelos 10 concorrentes a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.
O diretor do evento Ricardo Vasconcellos, em tom de desabafo, subiu ao palco e falou sobre as dificuldades que um festival tão tradicional como o Curta Santos enfrenta, mesmo após 11 edições realizadas. Tendo que suprir todas as limitações impostas, inclusive algumas de última hora, deixando-os apreensivos sobre a viabilização do festival. Convidou ao palco o prefeito de Santos, Sr. Paulo Gomes e a Deputada Estadual Sra. Telma de Souza, que naquele dia conseguiu viabilizar com o Governo do Estado a verba que faltava para a realização do evento.
O ator Raffa Oliveira entrou em cena pelo mezzanino do teatro, onde faz um monólogo enquanto descia as escadas e alcançava o palco para anunciar o grande homenageado da noite: o ator Caio Blat. Ele fez um discurso emocionado, sobre a importância que o festival alcançou entre os eventos do gênero do país, sobre a dificuldade de um ator viver da profissão e sua felicidade em ter participado de 26 longas-metragens. Mas o momento mais especial foi quando revelou que, há vários anos, esteve num hotel da cidade e uma pessoa muito carismática e apaixonada por artes chegou até ele e falou que estava começando um festival de cinema na região e que ele tinha que participar. Essa pessoa era o querido Toninho Dantas, idealizador e Diretor Artístico do Festival, falecido em 2010.
Júnior Brassalotti, diretor artístico do evento, subiu ao palco e fez um discurso muito inflamado que contagiou a plateia. Em suas palavras citou as dificuldades que um evento do tipo enfrenta por ter políticas públicas mais interessadas em angariar votos do que levar cultura à população. Citou pessoas que lhe influenciaram a ingressar na vida artística e a se posicionar como cidadão, que luta pelos direitos de acesso à cultura, e como artista, que necessita de espaço público para apresentar seu trabalho e de condições financeiras para viver dignamente de seu ofício. Convocou os artistas da região a buscarem seu espaço, a irem à luta em cada local e exigirem seu direito de apresentarem sua arte. Com sua forma firme porém tranquila, conseguiu empolgar a plateia que lotava o teatro do SESC Santos.
O DJ Wagner Parra apresentou suas músicas simultaneamente à projeção de trechos de importantes obras da cinematografia nacional.
Depois os diretores convocaram o público a falarem o que julgassem pertinente, levando seus microfones a eles.
Resumo, foi uma grande festa, marcada pela reivindicação de políticas públicas que deem condições para que a classe artística possa viver de seu ofício. Pequenos problemas técnicos ocorreram, pois a forma não convencional de atores entrarem pela plateia e descerem escadas, fez com que, por vezes o microfone falhasse. A apresentação de Parra e a parte final, onde o público diz o que achar pertinente tiveram certa morosidade e deveriam ser mais enxutos. Mas nada que diminuísse o brilho dos discursos apaixonados e engajados de Blat e Brassalotti.
Durante os 4 dias de festival, aconteceram oficinas de direção de arte, interpretação e realização cinematográfica, além de debates mediados pelo jornalista e crítico de cinema Celso Sabadin. Também aconteceram mostras paralelas e exibições dos longas-metragens convidados: O dia que durou 21 anos (de Camilo Tavares), A memória que me contam (de Lúcia Murat) e Cores (de Francisco Garcia). Hoje o festival faz seu encerramento, apresentando os premiados de cada categoria.
É fantástico como uma ideia tão simples pode render algo tão excelente. Gravidade tem uma premissa mínima, mas que desenvolvida nos carrega durante seus 90 minutos, passando por ótimos momentos dramáticos e com senso de urgência. O que AlfonsoCuarón trouxe foi uma experiência cinematográfica incrível, cheia de lirismo, coragem e, no fim das contas, uma homenagem à humanidade.
Durante uma missão espacial, a Dra Ryan Stone (Sandra Bullock), em seu primeiro voo orbital, é acompanhada pelo veterano Matt Kowalski (George Clooney), que está na sua última expedição fora do planeta. Enquanto trabalham no telescópio Hubble, a NASA informa que um teste conduzido pelos russos deu errado, destruindo vários satélites, e que os destroços se dirigem à localização deles. A reação em cadeia destrói a nave dos dois, que ficam à deriva no espaço. Sem transporte, eles tem que chegar até outra estação espacial para voltar à Terra com vários perigos iminentes: a volta dos destroços que estão orbitando o planeta, a comunicação interrompida com a agência, e o baixo suprimento de oxigênio de suas roupas.
Você vai concordar que esse é um argumento simples. Personagens tem que ir do ponto A ao ponto B antes que o pior aconteça. Porém, o excelente desenvolvimento da história dirigida por Cuarón faz com que essa seja uma jornada de descoberta. Em determinado ponto, Ryan diz que o que ela mais gosta no espaço é o silêncio, e que lá temos momentos para reflexão. Durante os minutos iniciais da história filmada em plano sequência – em uma ótima junção de tecnologia digital e a técnica do plano sequência em si – vivenciamos esse espaço silencioso e com a câmera acompanhando o flutuar na gravidade zero. O diretor, com enorme competência, nos torna parte desse cenário, onde o silêncio é quebrado pela conversa dos astronautas e belíssima trilha de Steven Price.
Numa guinada, Cuarón transforma toda essa paz de espírito em desespero quando os destroços atingem a nave. É desesperador, e a vontade que temos é de gritar para que os personagens olhem para trás é monstruosa. É uma pequena percepção do que é ficar sem parte dos sentidos, guiando-se só pelo que se vê, sem os sons para ajudar. Para piorar, apesar da urgência tátil, os astronautas se movimentam com lentidão própria do espaço, não havendo a ser feito.
Pela primeira vez um filme 3D convertido tem sucesso e ajuda a trama. Em vários momentos, Cuarón nos coloca na visão subjetiva de Ryan. Assim como ela, não temos experiência no espaço sideral. O desespero dela é o nosso, a desorientação dela é a nossa. Poucas vezes no cinema recente houve uma imersão tão profunda entre protagonista e plateia. Afins de comparação, o efeito é o que deveríamos ter visto em O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, 2012), mas infinitamente menos tímido.
A construção dos personagens é outro elemento digno de palmas. Ao invés de apelar para flashbacks ou narrações em off, Cuarón faz que Matt tranquilize Ryan falando de seu passado. Não precisamos de cenas dela com a filha, ou mostrando a casa em que cresceu para criarmos identificação, ou entender que a morte da filha a fez buscar isolamento. Já Matt é retratado pela música que ouve, e pela sua tranquilidade e vontade de quebrar o recorde de permanência no espaço, características que fazem entender o destino do personagem.
Assim como a própria condição humana, o filme tem camadas e mais camadas para serem destrinchadas. Existem homenagens à outros filmes espaciais, com a voz do controlador da NASA ser de Ed Harris, reprisando seu papel Apollo 13 (Apollo 13, 1995) e uma brincadeira com um extintor no estilo Wall-E (Wall-E, 2008). A fotografia de Emmanuel Lubezki lida com momentos chaves do filme, passando pela urgência banhada em vermelho pelo sol no momento do acidente, e da escuridão logo depois quando Ryan se encontra girando no meio do vácuo do espaço, além de trabalhar incrivelmente bem quando as luzes precisam ser diferentes nos momentos dentro dos módulos, por causa da suas várias mudanças de posição. E é impossível não falar sobre a mise en scène, belamente construída, atingindo seu ápice na cena que emula uma gravidez, com direito à cabos soltos, que funcionam como o cordão umbilical. Não existe outra palavra além de linda para a sequência toda. E para provar que consegue manipular a audiência mais ainda, o diretor brinca mais uma vez com a relação de Ryan e Matt na cena do reencontro, mas mantém a personagem feminina forte, sem precisar apelar para um salvador masculino.
Passando por despedidas inesperadas, e momentos envolvidos pela beleza do espaço – por mais que não dê tempo de curti-las, já que a uma missão deve ser concluída –, o filme nasce para se tornar um novo clássico. Não apenas da ficção científica, mas como um todo. É uma produção espetacular, desde questões técnicas, movimentos e enquadramentos de câmera e direção dos dois fantásticos atores.
[E se você não viu o filme, pule o próxima parágrafo para evitar spoilers]
Não é exagero dizer que em Gravidade é, no final, uma homenagem de Cuarón à própria raça humana. Existe um motivo para tudo em cena. Então, quando o diretor filma Ryan em posição fetal na Estação Espacial Internacional, ele mostra a crença na teoria de que a vida começou no espaço. E para completar essa visão, Cuarón faz com que a astronauta caia no mar, nade até a superfície, e com pernas bambas, chegue à terra firme, transformando assim Ryan na representação poética do ser humano.
[Fim dos spoilers]
Profundo e brilhante são poucos elogios à essa obra de arte, que figurará por muitos anos na imaginação dos apreciadores dessa arte que é o cinema.
Como diz o título, o filme conta nove histórias do cotidiano
de pessoas comuns com problemas existenciais.
Simone (Simone Spoladore) cansou de ser prostituta e procura
um homem que a assuma e tire-a da prostituição. Leopoldo (Leonardo Medeiros)
tenta criar coragem para abandonar seu trabalho e mudar o rumo de sua vida.
Júlio (Júlio Andrade) tem uma vidinha medíocre que se divide em morar com a mãe
e ir para um trabalho entediante. Um músico (André Frateschi) faz um anúncio no
jornal para formar uma banda.
Estes e outros personagens vivem seus problemas e desilusões
sentimentais e de vida.
Construído na intenção de formar um mosaico de personagens e
suas vidas, Nove crônicas para um coração aos berros é uma sucessão de erros. O
roteiro de Gustavo Galvão e Cristiane Oliveira não consegue dar uma unidade aos
personagens e a impressão que temos é que foram feitos vários curtas e unidos
aleatoriamente para virarem um longa-metragem.
As situações não tem verossimilhança, conceitos como o que
se evita ao máximo o uso de diálogos fazem com que aconteçam situações completamente
sem sentido. A direção de Galvão tenta fazer planos sequência que fazem o filme
ficar mais lento e entediante ainda.
Além disso, toda a direção de arte ambienta o filme no início
dos anos 80, mas no final mostra um Fiat 96.
É realmente difícil de acreditar como atores do gabarito de
Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Marat Descartes aceitaram participar de
um filme tão imaturo.
Livremente adaptado da obra O Continente (de Érico Veríssimo), o filme parte de uma noite de conflito entra duas famílias gaúchas rivais onde Bibiana (Fernanda Montenegro) recebe a visita de seu grande amor, o capitão Rodrigo, morto há décadas. Assim, ela lhe conta 150 anos de história de sua família.
A máxima de que “cinema é imagem” neste filme deveria ser mudada para: cinema não é apenas imagem.
Alardeado como o primeiro filme no mundo finalizado em 4K (algo como uma super definição) logo percebemos a velha máxima: quando um filme não se sustenta sozinho, usa-se argumentos de ineditismo em algum outro quesito.
Dirigido pelo renomado diretor de telenovelas Jayme Monjardim, O Tempo e o Vento é uma sucessão de equívocos.
Na coletiva, o diretor já começou se justificando que gosta de fazer histórias populares, fáceis de entender, com início meio e fim. Isso mostrou que ele sabia que seria criticado pelo tom novelesco da trama.
Tudo no filme nos dá a estranha sensação de estarmos assistindo a uma novela em tela grande: da forma didática com que Bibiana conta a saga da família ao elenco recheado de estrelas da TV Globo, que parece querer atrair para as salas de cinema o público habituado às produções televisivas.
Nem os 27 tratamentos do roteiro, escrito por Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, foram capazes de salvá-lo. Na ânsia de querer contar o romance, a guerra entre as famílias e tudo que aconteceu com a família de Bibiana e com o Capitão Rodrigo, o roteiro não consegue se aprofundar em nada, como se fosse o trailer de uma série de TV. Vemos tudo acontecer numa velocidade assombrosa e não nos identificamos com nenhum dos personagens.
A trilha sonora (belíssima composição de Alexandre Guerra) além de sempre acentuar o melodrama ou heroísmo, é de uma constância ensurdecedora. Não sei se foi um erro do compositor ou do diretor, mas o fato é que o filme parece querer fazer com que a trilha sonora obtenha do público a emoção que o roteiro não consegue. E não dá um minuto de descanso aos nossos ouvidos, como um longo trailer de publicidade.
O elenco em geral está bem. Thiago Lacerda, que carrega a pecha de um galã de novela, está muito convincente como capitão Rodrigo. Principalmente na cena em que ele está bêbado e não dá importância ao grave estado de saúde de sua filha recém-nascida. Fernanda Montenegro está bem como sempre, mas não excepcional. Cléo Pires e Suzana Pires são o ponto fraco entre as atuações, que contam ainda com dois estrangeiros: o argentino Martin Rodriguez e o uruguaio César Troncoso (sempre ótimo). Apesar de tudo, o filme conta com a belíssima fotografia de Affonso Beato (que trabalhou até com Pedro Almodóvar) em lindas paisagens alaranjadas bem ao estilo E O Vento Levou.
Monjardim confessa que filmou a mais para que o filme possa ser alongado para a exibição na TV Globo como minissérie. E diz que não teria feito o filme se Fernanda Montenegro não aceitasse interpretar Bibiana. Talvez fosse o caso da atriz ter pensado melhor antes de aceitar o personagem.
Por mais óbvio que seja, nunca é demais repetir que literatura e cinema são linguagens diferentes. Por esse motivo, a transposição de um para o outro, as chamadas adaptações para o cinema, como o próprio nome diz exige... adaptação. É aí que mora o perigo, já que a fidelidade ao original nem sempre funciona na tela.
Obsessão é a transposição para o cinema do livro “Paperboy”, de Pete Dexter (trad. Ivar Panazzolo Junior, ed. Novo Conceito, 336 págs. R$29,90). A direção é de Lee Daniels, nome que ganhou destaque em 2010 ao dirigir Preciosa – Uma História de Esperança e concorrer a seis Oscars, incluindo o de melhor filme e melhor direção (levou dois: melhor atriz coadjuvante para Mo’Nique e melhor roteiro adaptado).
Para esta adaptação, Daniels reuniu um elenco de rostos conhecidos. Matthew McConaughey interpreta Ward, um jornalista que nos anos 60 retorna à cidade natal na Flórida para investigar um julgamento que resultou em uma condenação à pena de morte para Hillary Van Wetter, interpretado por John Cusack.
Para tentar provar que o julgamento não foi justo, Ward conta com a ajuda de Charlotte Bless, uma mulher vulgar que se corresponde com presidiários e se apaixona por Wetter. Interpretada por Nicole Kidman, ela despertará o desejo e a paixão do irmão caçula do jornalista, Jack, vivido por Zac Efron.
Ao final de Obsessão, não é preciso ter qualquer informação prévia sobre a fonte da história para deduzir que se trata de uma adaptação literária. A transposição da história para o cinema é tão falha que revela na sua própria estrutura e má funcionalidade o ruído entre uma linguagem em outra.
Da ambientação aos personagens, passando pelas situações vividas por todos e pelas diversas questões que o filme pincela (preconceito racial, direitos civis, moralidade e inocência), tudo está montado e amarrado como um livro, não como um filme. Não há uma fruição, mas solavancos que denunciam capítulos condensados, enfileirados e filmados.
Mais do que perder-se na tradução (risco inevitável em qualquer adaptação), Obsessão não se esforça em transformar uma coisa em outra. Seu roteiro não busca uma linguagem que amarre e faça fluir a história com naturalidade, deixando transparecer uma resistência em cortar, em condensar.
Não que os 107 minutos de duração sejam prolixos, eles são apenas mal aproveitados ao tentarem espremer o que poderia ser cortado e substituído por um olhar mais próximo dos personagens e suas motivações. Isso porque quase todos os personagens da trama têm um visível potencial dramático que o filme simplesmente desperdiça com a superficialidade.
Também não colaboram para melhorar o resultado as atuações que se vê na tela. Elas vão de um Zac Efron sem atributos dramáticos, passam por um Matthew McConaughey no piloto automático, revelam uma Nicole Kidman irregular para finalmente chegar ao ápice de um John Cusack várias notas acima do tom.
Entre cenas constrangedoramente ruins e algumas boas promessas nunca concretizadas narrativamente, Obsessão é um filme que se mostra preguiçoso como adaptação, ineficiente como thriller e frágil como arco dramático.
Creio que dentro do imaginário coletivo, o gênero terror é mal visto por dois motivos: a sequencia infindável de filmes tidos com trash ou B e a recente leva de filmes que não assustam. Os últimos anos tem sido particularmente ruins para o gênero, mas Invocação do Mal escapa disso. Não é um filme brilhante, e visualmente tem características de outros grandes clássicos do terror. Mas é digno de sustos genuínos e provavelmente vai perturbar os mais sensíveis, e os que creem em possessão, demônios e outras coisas macabras.
Baseado numa história supostamente real que aconteceu em 1971, Carolyn (Lili Taylor) e Roger Perron (Ron Livingston) se mudam para uma casa de campo em Rhode Island. Eles e suas cinco filhas logo começam a se deparar com estranhos sons e cheiros na casa. Quando os eventos começam a ficar mais constantes e perigosos, Carolyn consegue entrar em contato com Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), um famoso casal especializado em demonologia e no oculto. Constatando que a família corre perigo por causa de uma antiga maldição, eles se preparam para enfrentar um mal que nenhum dos dois tinha visto até então.
O diretor James Wan consegue transformar um mundo alegre de uma família grande e que tem um sonho realizado num verdadeiro horror. Começa pela paleta de cores da fotografia, mais cinza e com tons pasteis, quase vintage. Além de emular cores setentistas, o diretor de fotografia John R Leonetti usa desse artifício para saturar toda a experiência que os Warren estavam passando. Com exceção de uma fotografia colorida de um período de férias, que Carolyn diz ter sido o último momento feliz deles, todo o clima é muito carregado e melancólico. É um peso que acompanha toda a projeção, como uma névoa que permeia todos os envolvidos.
Os movimentos de câmera são ótimas adições na trama. O diretor mistura estática e movimento para criar tensão. Numa investida inteligente, Wan mantém o tripé fixo nas cenas do lado de fora da casa dos Perron. E do lado de dentro, a câmera na mão é usada na maior parte, indicando uma presença, um observador que não é o espectador do filme. Os planos longos também são opressivos porque seguem os personagens na exploração de barulhos e vultos. E é ótimo quando os sustos vem dessa situação, porque o elemento não é jogado na nossa cara, e estava ali o tempo todo, mas você só percebe com a mudança de ângulo quando já é tarde. A cena da escada, quando Roger acorda e investiga barulhos e se espanta com a presença de uma das filhas parada na escada, é um susto genuíno.
Existem elementos que já foram usados em outros filmes de terror e repetidos aqui, mas isso não tira a qualidade da história. O design de som é muito vívido, e é interessante quando Wan consegue sincronizar as batidas sinistras com as do coração dos personagens. E não se surpreenda ao perceber que o diretor conseguiu perceber quais são as suas batidas. É essa é uma impressão que fica.
A surpresa fica pela pergunta que tanto fazem. O filme assusta ou não? Os mais sensíveis provavelmente darão mais pulos, e alguns mais céticos repetirão que é só mais um filme. É uma pena que Wan não consiga manter o ritmo de sustos subjetivos, quando na metade do filme tira a presença que estava nas sombras e a mostra de corpo inteiro. Ainda assim, até mesmo quem é mais acostumado com filmes de terror, deve levar um susto ou dois. Outras decisões técnicas também agradam, como na cena de investigação do porão, onde a razão de aspecto muda e se transforma num plano sequência. Por outro lado, Wan usa muitas vezes zooms da câmera, ao invés de se aproximar com ela do seu foco. Isso tira beleza do filme, deixando-o mais artificial.
A maior força de “Invocação do Mal” é a empatia criada com os personagens. Você simpatiza por causa do que aquela família está passando, desde a perda do cachorro até quando a entidade torna a situação pessoal e perigosa, na marcante cena em que todos os retratos dos Perron pendurados caem subitamente no chão. É uma pena que a mesma relação não é estabelecida com Ed e Lorraine. No fim das contas, é digno de se assistir. Se possível, numa sala grande de cinema, com pouca gente em volta. Mergulhar assim na tensão vai ser interessante.
Não há cena pós-créditos, mas fique um pouco durante eles para ver fotos e relatos reais dos Perron e dos Warren – uma necessidade presente nos cineastas para provar que a história foi realmente baseada em fatos reais . O filme provavelmente terá uma sequência, por causa da relação estabelecida entre uma casa e outra, envolvendo um espírito vingativo, numa cena que com a perturbadora boneca Anabel, criando gordura para a um novo capítulo.
João (Luis Fernando Guimarães) é um pai ausente e promete à sua ex-mulher Ana (Lavínia Vlasak) que passará um dia inteiro com seu filho Quinho (Gabriel Palhares) após ter faltado a mais um aniversário do menino. Seu colega de trabalho Ednelson (Leandro Hassum) sugere que pegue o carro de uma cliente médica de nome Márcia (Bárbara Paz), pois são manobristas de um estacionamento.
Obviamente, nada acontecerá como o planejado e situações supostamente engraçadas ocorrerão.
Terceiro longa-metragem de Paulo Fontenelle (que assina roteiro e direção), foi alardeado como o primeiro filme de ficção em 3D feito no Brasil, mas bem que poderia se chamar Se puder... ria!
Mais um título das recentes comédias populares sem graça que tentam fazer gordas bilheterias, o filme é uma sucessão de erros. A começar pelo uso desnecessário do 3D. No filme não existe nenhuma necessidade de usar-se esta técnica que encarece em muito a produção. Nota-se que é apenas para se dizer que foi o primeiro no país.
Outro erro é que nem a escalação de Luis Fernando Guimarães (habituado a fazer graça mesmo que não esteja apoiado em algum texto brilhante) consegue sustentar o filme, e parece constrangido em ter aceito o trabalho.
Na sequência da foto acima, tenta-se fazer graça com o nome do cachorro: Moleque. Além desta não ser das melhores piadas que o humor já produziu, o diretor tenta extrair alguma graça dela até a última gota, repetindo a tal "piada" durante cerca de um minuto, o que no filme parecem horas e horas.
Leandro Hassum é o único que chega perto de se conseguir fazer graça, o que, para um comediante talentoso e experiente como ele, mostra o nível de tragédia desta "comédia".
Para piorar, Fontenelle cria uma cena que visa atrair jovens garotas que se contentam apenas com um rosto bonito e um romance forçado. Escala os belos Reinaldo Gianecchini e Lívia de Bueno. Numa participação constrangedora, Gianecchini (que diz ter aceito o papel antes mesmo de saber do que se tratava - o que poderia tê-lo salvado deste vexame) é atropelado por Luiz Fernando Guimarães e é levado para o hospital. No caminho, o carro em que estão é guinchado, e a motorista do guincho é Lívia. Ao se verem, a cena é tão constrangedora que inclui até a bela moça soltando os cabelos em câmera lenta. Não satisfeito, o diretor ainda tenta fazer graça com escatologias como flatulências, lavagem estomacal e todas as necessidades físicas praticadas num banheiro.
O previsível melodrama final do entendimento entre pai e filho nada convence o público, pois o roteiro não tem desenvolvimento suficiente para emocionar no final. O que qualquer novela mexicana sabe fazer há décadas.
Ou seja, é o tipo de filme que só consegue arrancar risadas daquele tipo de público que vai ao cinema com tanta disposição pra rir que é capaz de dar gargalhadas até com uma tela vazia.
Daniel Lugo (Mark Wahlberg) é um "personal trainer" que já não aguenta mais sua vida financeiramente limitada. Assiste a uma palestra de auto-ajuda e, acreditando que o universo conspira com quem vá atrás de seu ideal, reúne mais dois fisiculturistas: seu colega de academia Adrian (Anthony Mackie) e Paul Doyle (Dwayne Johnson), um ex-presidiário convertido à vida religiosa.
O plano aparentemente infalível, ao menos para "brutamontes" que não tem em seus intelectos suas maiores virtudes, era sequestrar Victor Kershaw (Tony Shalhoub) seu cliente mais endinheirado, e fazê-lo passar tudo que possui para eles.
Como já era de se esperar, o plano não acontece como o previsto e eles tem que improvisar.
Dirigido por Michael Bay, criticado por muitos e idolatrado por tantos devido a enormes sucessos como Transformers e Armageddon, o filme é uma tentativa do diretor de se lançar num filme de "baixo orçamento", ao menos para seus padrões: 26 milhões de dólares.
Apesar de todos terem trabalhado por valores abaixo dos praticados, e o diretor usar sua própria casa como locação, as sequências sofisticadas de ação e câmeras ultra-lentas também estão na tela.
O roteiro escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely começa com ugo sendo perseguido pela polícia e parte para um grande "flashback", onde acompanhamos a história desde seu início. Não é um roteiro brilhante mas surpreende por começar de forma leve, com criminosos trapalhões, mas que vai evoluindo para uma violência capaz de assustar a muita gente.
Ao final, nos surpreendemos ao saber que uma história com tantos elementos que pareçam ficcionais seja uma história real. É interessante ver quem são as verdadeiras pessoas retratadas na trama, porém, se esta informação fosse apresentada desde o início tornaria o filme mais saboroso.
O elenco também não faz feio, Wahlberg está bem, e fisicamente bem mais forte do que já o conhecemos. Porém, a grande escolha foi Johnson, que apesar de seu limitadíssimo talento, foi a escolha certa para interpretar um fisiculturista pouco inteligente. O sempre eficiente Ed Harris completa o elenco interpretando o detetive que descobre todo o plano.
Apesar de ser o tipo de filme que vai agradar mais aos jovens, principalmente do sexo masculino, é uma boa escolha pra quem quer um divertimento com qualidade e com "estômago forte".
O filme retrata os anos em que a escultora Camille Claudel (Juliette Binoche) esteve presa num manicômio francês.
Tida como uma mulher que quebrou muitas barreiras em relação aos direitos femininos, teve um surto após o término de seu relacionamento com o escultor Auguste Rodin, que a levou a ser considerada louca. Seu talento incontestável, que na época não foi valorizado devido ao machismo vigente, coloca-a para muitos conhecedores como sendo superior a de seu amante Rodin.
Dirigido por Bruno Dumont (de filmes como Humanidade, Fora de Satã e O Pecado de Hadewich), o filme é extremamente lento. Ao invés do padrão do cinema clássico dividido em três atos (onde o primeiro mostra as coisas saindo de ordem, o segundo todo o processo para que o equilíbrio seja retomado, e o terceiro restabelecendo o equilíbrio), o diretor opta basicamente por ficar apenas no segundo ato.
O filme já começa com a protagonista internada e convivendo com as internas (que o diretor optou por colocas pessoas que realmente possuem distúrbios mentais), com o passar dos dias, a convivência, somada com a privação de liberdade e de poder realizar sua arte, a escultora vai se desesperando com a possibilidade de não sair mais. Principalmente quando fala com o médico e com seu irmão, o escritor Paul Claudel (Jean-Luc Vincent).
A escolha de não atores para comporem o manicômio foi acertada pelo diretor, conhecido por sempre trabalhar com não atores. Também foi acertada a escolha de Binoche para protagonizar, pois dificilmente outra atriz faria o filme com tal competência. A lentidão do filme foi a forma que Dumont encontrou para fazer com que o público percebesse o martírio que Camille deve ter sentido no tempo em que á esteve. O problema é que isso torna o filme extremamente lento e cansativo.
Apesar de ser talvez a melhor interpretação de Juliette Binoche, da excelente fotografia, direção e direção de arte, o filme é para um público muito específico, amante daqueles filmes europeus mais contemplativos.
Pierre-Auguste Renoir (1851-1919), o grande pintor impressionista francês que celebrava a vida, a alegria das pessoas, as festas, a beleza da natureza e o corpo feminino na Paris luminosa de antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, é o personagem principal do filme de Gilles Bourdos.
Só que a película “Renoir” remete ao final da vida do pintor, quando ele só consegue andar de bengala e pinta numa cadeira de rodas, com pincéis amarrados aos dedos, por conta do reumatismo que o afligia. Mas continuava demonstrando otimismo, vitalidade e serenidade, em que pese o esvair da vida. Perdera a mulher e seus dois filhos foram feridos na frente de batalha. Estamos em 1915.
É quando irrompe em sua residência, no sul da França, em Cagnes, uma jovem linda e exuberante, que será sua musa e lhe dará um novo alento e entusiasmo. Pierre-Auguste (Michel Bouquet) se encantará com a nova modelo para seus quadros: Andrée (Christa Theret). Ao mesmo tempo, Jean Renoir (Vincent Rottiers), filho do pintor e que se tornaria um dos diretores de cinema mais importantes da história, retorna à casa paterna com ferimentos de guerra e se envolve com a musa do pai, a tal ponto que ela será sua primeira esposa. A última grande musa do pintor será o primeiro amor do cineasta.
É dessa história e desse momento final da vida do pintor Renoir que se nutre o filme de Gilles Bourdos. A narrativa flui lenta e até um tanto rotineira, procurando mostrar um clima e uma situação de vida de um homem idoso no seu ocaso, mas de um talento e otimismo tão grandes que tudo isso pode ser muito estimulante para ele, consubstanciando-se na figura de uma mulher jovem, cheia de vida.
Para o espectador, acompanhar a história do modo como ela é contada não é tão estimulante assim. Chega a ser até aborrecida, em alguns momentos. Mas o filme tem um grande mérito: procura reconstruir em imagens as cores que caracterizavam os quadros impressionistas de Renoir. O ambiente da residência remete à pintura, com suas luzes e tons tão característicos.
O vínculo do pai pintor famoso com o filho que irá criar obras-primas da arte cinematográfica, como A Regra do Jogo, de 1939, e A Grande Ilusão, de 1937, também interessa. A pintura e o cinema, convivendo numa época, primeiro, dourada, depois conturbada da Europa, e sendo retratados no trabalho de um e de outro, merecem atenção. Embora o filme não explore isso, como poderia.
A figura do pintor é convincentemente vivida por Michel Bouquet. Já o futuro cineasta tem pouca força no filme. Aparece como jovem amante e filho, mas sem maiores referências ao grande artista que ele será. O ator Vincent Rottiers também não dá a dimensão devida ao personagem. A musa desejada por ambos, vivida por Christa Theret, tem vigor, energia e beleza para iluminar um filme, que é bonito, sem chegar a empolgar.
No dia 16 de julho aconteceu a pré-estreia da nova animação da DreamWorks. O evento aconteceu no Autódromo de Interlagos (São Paulo/SP) e contou com a presença do ator Bruno Garcia, que dublou a voz do protagonista e dos pilotos Bia Figueiredo e Tony Canaã, que assessorou os estúdios para a realização da animação trazendo mais realidade às cenas.
Toni Canaã, Bia Figueiredo e Bruno Garcia
O filme traz um Caracol chamado Theo que é um aficionado por corridas, apesar de sua natureza ser um empecilho. Para dar vasão a esta paixão, asiste a corridas pela TV colado ao vidro do aparelho, que num primeiro momento dá a impressão ao público de estar realmente correndo.
Durante o dia colhe tomates numa plantação, sempre ridicularizado pelos colegas e aconselhado por seu irmão a desistir do sonho, pois caracóis são lentos. Certo dia, num acaso (bem a calhar ao roteiro) adquire poderes de um "carro de corrida".
Ao se tornar famoso no You Tube e ser incentivado por Tito, um mexicano dono de uma lanchonete falida, decide brigar pelo direito de disputar uma corrida nas 500 Milhas de Indianápolis. Como pode-se deduzir, com um argumento mais fraco do que o que lhe dá superpoderes, consegue disputar a corrida contra o famoso francês Guy Champeón.
Dirigido por David Soren, que assina o roteiro junto com Robert Siegel e Darren Lemke, tem um resultado previsível até para uma criança, mas é divertido e sabe usar o bem 3D em sequências só possíveis em uma animação.
Conforme observou a piloto Bia Figueiredo, ela pode se identificar com o personagem pelo fato de que, antes de conseguir seu espaço em uma tão disputada competição, todos lhe diziam que mulheres não correm na Fórmula Indy.
Resultado, uma boa diversão, que agrada a crianças e adultos.