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ANNA KARENINA

 
por Rogério de Moraes
 
Calejado no difícil trabalho de verter obras literárias para o cinema, o diretor britânico Joe Wright inova-se ao adaptar para o cinema o clássico russo “Anna Karenina”, publicado por Leon Tolstoi entre 1873 e 1877.
Com este filme, Wright já soma quatro adaptações literárias em um currículo de cinco longas metragens, entre os quais se destacam Orgulho e Preconceito (2005) e Desejo e Reparação (2007).
A novidade nesta nova investida é a forma que o diretor opta para narrar os complicados dramas do amor e da felicidade presentes na obra original. Wright transforma a literariedade do romance em uma teatralidade cênica. Isso se dá através de um artificialismo calculado que faz do teatro, em sua totalidade física de palco, coxia e plateia o cenário que sustenta a narrativa.

Anna Karenina (Keira Knightley) é a esposa de um aristocrata da Rússia czarista. Eles vivem em São Petersburgo e têm um filho. Bonita e rica, Anna tem tudo para ser feliz. Mas numa viagem até Moscou para tentar reconciliar seu irmão com a esposa, conhece o conde Alexander Vronsky (Raphaël Personnaz), que pouco depois se torna seu amante.

Ao redor desse triângulo amoroso orbitam ainda outros personagens com seus dramas. São conflitos menores dentro da narrativa, mas significativos dentro do que a história concebida por Tolstoi propõe e que é sintetizada na famosa abertura da obra original: “Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma a sua maneira”.

Todo esse jogo dramático terá lugar nos espaços que fazem parte de um grande teatro, numa indistinção entre plateia, palco e coxia. Com exceção de poucas cenas em externas reais, quase tudo na ambientação do filme vem dessa artificialidade programada e teatral, mas que pela coordenação da mise-en-scène ganha vida própria, flertando com o operístico e com o musical, mas sem entrar em qualquer desses gêneros.

Ao menos na primeira metade do filme, o que não se pode dizer é que a câmera de Joe Wright é preguiçosa. Ela se move constantemente na construção de uma composição cênica cheia de dinamismo, na qual as ações dos personagens se aproximam do gênero musical em uma coreografia constante.
Esta artificialidade teatral pode até roubar parte do peso dramático e das emoções atribuladas que são a razão de ser do romance de Tolstoi. Mas neste caso o recurso funciona porque articula em imagens o que de outra forma poderia se tornar falatório literário, falha comum em adaptações literárias e que termina por tornar a narrativa arrastada.

Wright se arrisca ao escolher essa encenação inesperada, mesmo sob a pena de baixar em demasiado a voltagem do romance ao dar a ele traços farsescos. Na segunda metade do filme, nota-se uma redução dessa teatralidade, o que deixa crescer o melodrama natural da história, mas sem entregá-lo a um realismo que seria esteticamente contraditório.

Visualmente bem acabado, tanto na fotografia como no figurino (levou o Oscar nessa categoria), e em especial no sofisticado e dinâmico mise-en-scène, Anna Karenina escapa da mesmice e tem seguramente a coragem de mostrar respeito pela obra sem exaltar uma reverência subserviente. Especialmente porque se trata, como fica claro, de uma adaptação.
 
 

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