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Coletiva: AMAZÔNIA



por Beto Besant

Aconteceu no último dia 6 de junho, no Shopping JK Iguatemi - em São Paulo, a coletiva de imprensa do filme Amazônia. Coprodução entre Brasil e França, conta a história de um macaco carioca cujo avião cai na selva amazônica, forçando-o a conhecer os perigos e costumes da região, até se apaixonar por uma macaca e formar sua própria família.

Estavam presentes os roteiristas Luiz Bolognesi e Roberto Torero, os produtores Caio e Fabiano Gullane, o coprodutor e distribuidor Jean Thomas Bernardini - proprietário da distribuidora Imovision, e o ator Lúcio Mauro Filho.


Filmado como um documentário pelo documentarista francês Thierry Ragobert, Amazônia foi escrito por Bolognesi de forma a contar o ciclo natural de um macaco. Após o filme ser exibido em diversos festivais surgiu a sábia ideia de colocar vozes nos personagens como se fosse uma animação. Para escrever os diálogos foi convidado Torero, devido ao seu apreço por voz off e sua experiência com roteiros infantis. A acertada decisão fez com que o filme se tornasse mais acessível para toda a família, principalmente as crianças.

Lúcio Mauro Filho
As vozes do casal principal de macacos foram feitas pelos atores Lúcio Mauro Filho e Isabelle Drummond. Lúcio está muto bem e consegue sustentar o filme com competência, já Isabelle é excessivamente teatral, o que não deve incomodar às crianças.

O ator Lúcio Mauro Filho, acostumado a fazer vozes para animações teve neste filme uma experiência inédita: gravar a voz do macaco sem ter a imagem como guia. "Minha escola de locução foi o filme Kung Fu Panda, que tinha uma equipe internacional de excelentes profissionais, mas esta experiência nova, somada ao fato de eu ter sido o último a entrar na equipe, me fizeram ter medo de estragar o filme" - conta o ator sob risos.

Como o filme não tem atores falando, pois todas as vozes são off, foi possível que o filme fosse negociado com vários países. Dessa forma, cada região adaptou as falas ao seu público. Itália e Alemanha fizeram narrações diferentes da versão brasileira e a França optou por não ter voz off.

Caio Gullane e Jean Thomas Bernardini
Amazônia é o filme mais caro já rodado no Brasil, com um custo aproximado de 45 milhões de reais (13 milhões de euros), sendo a metade vindo da França. É fácil de se compreender o altíssimo custo: a equipe passou 3 anos na floresta amazônica com uma equipe de cerca de 300 pessoas e 45 toneladas de equipamento, tudo filmado em 3D. "Foram contratados franceses especialistas em treinar animais, para que a equipe ficasse totalmente segura e os animais não sofressem nenhum incômodo" - conta o produtor Caio Gullane.

Ainda sobre as dificuldades da produção, Fabiano Gullane explica: "Tivemos que fazer um trabalho com a equipe para se harmonizarem com a natureza e terem calma para esperarem o momento ideal". 

O filme é uma belíssima experiência - ainda mais rica em 3D, que mostra que é possível um filme leve, pra toda a família não ser banal e descartável. Bolonesi conta que gostou muito de uma frase que ouviu de especialistas na Amazônia: "O filme abre uma cortina e mostra a Amazônia como ela é".

Roberto Torero e Luiz Bolognesi
A coletiva foi muito descontraída e teve momentos muito engraçados como a explicação do coprodutor Jean Thomas Bernardini: "O único filme feito nos moldes de Amazônia foi A Marcha dos Pinguins, mas naquele caso, foi muito mais fácil fazer pinguins andarem do que fazer macacos subirem em árvores, tomarem chuva, onças passarem perto da equipe, etc" - despertando gargalhadas na imprensa presente.

"Para mim, este filme é questão de vida ou morte, devido aos problemas naturais que vivemos" - explica Bolognesi, completando: "Tudo é uma grande desculpa pra gente conhecer a Amazônia". O roteirista diz que a Amazônia é o grande protagonista do filme.

Amazônia é um grande filme, e merece ser visto pela maior quantidade possível de pessoas, pois é um grande investimento numa produção de altíssima qualidade, mas que não costuma atrair muito público.



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Jersey Boys: Em busca da música (Jersey Boys)


por Tiago Paes de Lira

Jersey Boys: Em Busca da Música é um filme direcionado a um nicho, os fãs dos Four Seasons e daquele estilo musical influenciado por Frank Sinatra. As músicas que são tocadas ao longo do filme com certeza emocionaram alguns, mas a narrativa em si não deslancha. Isso não quer a história verdadeira tenha sido desse jeito, mas assim foi apresentada na tela. Para quem viveu a época, servirá para relembrar os momentos enquanto encara uma história desinteressante.

O filme conta como Frank Valli (John Lloyd Young) saiu de um trabalho como barbeiro em Nova Jersey para se tornar um dos cantores mais famosos de seu tempo ao formar o Four Seasons junto com Tommy DeVito (Vincent Piazza), Nick Massi (Michael Lomenda) e Bob Gaudio (Erich Bergen). A história discursa a relação deles com a máfia, o sucesso, perdas e um pouco do processo criativo de músicas como Sherry, My Eyes Adored You e Can’t Take My Eyes Off You.

O diretor Clint Eastwood busca uma relação intimista com o público do cinema. E para isso ele coloca Tommy DeVito – e outros, eventualmente – quebrando a quarta parede, falando diretamente com o espectador, num papel onisciente de tudo o que viria nas duas horas de filme. Ao fazer isso, o diretor mostra a personalidade de Tommy em pouco tempo: cheio de si, confiante e arrogante. O personagem chega a dizer que se não fosse por ele, seus amigos seriam nada ou, pior, estariam mortos com um tiro na cabeça. Essas características se mantem por praticamente todo o filme, com Tommy sempre desmerecendo o talento de Frank e dos outros.

O diretor busca, em paralelo, humanizar os personagens. Isso se dá com Frank e os outros – ao mostrar seus vícios e defeitos – e com Angelo “Gyp” DeCarlo (Christopher Walken), membro de uma das famílias criminosas de Nova York nos anos 1950 e 1960. Gyp chora em determinado momento de emoção, quando vê Frank cantando uma música que era a preferida de sua mãe. Esse momento cria uma relação com o cantor, e os negócios escusos de Gyp são relevados. Eastwood opta por não mostrar o lado violento da história, o que amacia a figura dos agiotas. O máximo que acontece é uma brincadeira que Gyp faz ao ser cortado acidentalmente por Frank numa cadeira de barbeiro quando diz “o que é um pouco de sangue?”, como se dissesse que Gyp viu bem mais que isso.

E há outras brincadeiras que funcionam no filme, como um painel da casa de Frank retratando ao mesmo tempo o Papa e Frank Sinatra e a aparição de Joe Pesci (Russo) – sim, o ator – quando diz uma das suas linhas mais conhecidas de Os Bons Companheiros (Godfellas, 1990, Dir Martin Scorsese), e no começo do 3º ato a explosão que Nick quando conta o inferno que é compartilhar o quarto com Tommy durante as turnês – cena que é a mais engraçada da projeção. E, para não estragar a surpresa, sugiro que procurem o momento em que o próprio Clint Eastwood aparece num cameo nada tradicional.

Os melhores pontos do filme estão no design de produção e figurino espetaculares – ambientando bem a época – e as músicas. Eastwood optou por gravar ao vivo, tanto os vocais quanto os instrumentais, o que dá uma sensação fantástica de querer dançar e cantar com os atores em cena. Se você gostar do estilo, claro. Em linhas gerais, é correto dizer que o filme é uma grande ode à música.

Há outras decisões de muito bom gosto na direção de Eastwood. Percebe-se a iluminação gradual na fotografia – saindo do anonimato para a fama –; a posição em que Tommy é mostrado em vários planos, se sentindo superior aos outros, apenas para ser confrontado por um Frank mais forte e maduro, dessa vez tomando a maior parte da tela e claramente superior; e o uso restrito do flashback nos problemas financeiros de Tommy, onde só então percebemos, junto da banda, que a situação era bem pior que se imaginava. E há um momento particularmente emocionante, envolvendo um funeral, a música My Eyes Adored You e a criação da talvez mais conhecida música cantada por Frank Valli.

Apesar dos bons momentos, Jersey Boys: Em Busca da Música tem vários problemas. O filme vai reacender memórias – na sessão em que estive percebi que os mais velhos riram muito mais do que eu – mas é preciso mais do que nostalgia para marcar. A coreografia final é a parte mais interessante do filme (com What a night em flash mob), apresentando um final feliz para uma relação que vemos não acabou muito bem. Uma pena, mas nem as partes mais agradáveis conseguem salvar a experiência.


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O MÉDICO ALEMÃO (Wakolda)


por Beto Besant

Como dizia um antigo comercial de jornal, é possível dizer uma grande mentira falando apenas verdades.
A película argentina O Médico Alemão coloca uma lente de aumento nos propósitos científicos de um médico fazendo parecerem nobres seus objetivos de desenvolvimento humano.

Na trama, Eva (Natalia Oreiro) e Enzo (Ricardo Peretti) são um casal com três filhos viajando de carro à Patagônia para reabrir um antigo hotel herdado da família. No caminho, deparam-se com o médico alemão Helmut Gregor (Alex Brendemühl) que pede informações pra ir na mesma direção, e desta forma seguem todos em caravana. Aos poucos, o estrangeiro se aproxima da família, demonstrando atenção especial ela filha Lilith (Florencia Bado) e pela gravidez de sua mãe, que está numa gestação de gêmeos.

Apesar de Enzo demonstrar preocupação com a presença do alemão desde o início, não consegue recusar a oferta de seis meses de aluguel adiantado, e Gregor vai morar no hotel.
Lilith sofre de um sério problema de crescimento, apesar de ter 12 anos, possui tamanho de 9, o que gera vários problemas de relacionamento no colégio. Prontamente o médico se oferece para tratá-la, o que é recusado por Enzo mas tem o apoio de Eva, graças às pressões cada vez maiores que sua filha sofre no colégio.

O interesse de Gregor pela gestação de Eva também preocupa Enzo, que é obrigado a suportá-lo por motivos de saúde. Não demora muito até que o médico seja descoberto por Nora Edloc (Elena Roger), uma espiã do Mossad (serviço secreto israelense) que descobre tratar-se do médico nazista Joseph Mengele.


Escrito e dirigido por Lucía Puenzo (de XXY), O Médico Alemão tem como maior virtude o fato de humanizar uma pessoa tida como um dos maiores monstros da humanidade, fazendo com que seus propósitos pareçam nobres. Apesar de sabermos, com a distância que o tempo guarda, de quão nocivos ao ser humano eram os ideais nazistas, onde se procurava a chamada Raça Ariana como superior, a tentativa de dar crescimento normal à menina parece algo bom. Chega a parecer que ele o faz por ter certo carinho pela pré-adolescente - o mesmo acontece com seus irmãos gêmeos. Mas, sabendo-se hoje das atrocidades cometidas por Mengele, condenadas atualmente até quando praticadas contra animais, podemos ter uma visão mais imparcial de suas intenções.

Um paralelo interessante do roteiro é feito através do hobby de Enzo: construir bonecas. Ao contrário do médico, que acredita no aprimoramento em série do ser humano, o pai de Lilith faz cada boneca de forma única e com características individuais, chegando em certo momento a dizer para a filha que esta é a riqueza do ser humano. Sua boneca mais ousada é um modelo que possui coração que "bate" por um sistema de chave, similar a uma caixinha de música.

Conforme a trama vai ficando mais tensa, o médico consegue se aproximar do passatempo de Enzo a ponto de fazê-lo criar bonecas de uma forma que vão de encontro a tudo que ele acredita. Aliás, a simples imagem de bonecas iguais penduradas na pequena fábrica nos traz a terrível sensação de vermos as crianças torturadas anteriormente pelo alemão.

Tecnicamente o filme também é impecável, sua fotografia segue em tons frios, refletindo a frieza da relação entre o médico e a família. A direção de arte é um dos pontos altos do filme, reconstitui com perfeição as décadas de 40 e 50. Sua única falha é mostrar os desenhos que acompanham as anotações de Gregor com tamanha qualidade artística que mais parece o caderno de anotações de Michelangelo.

A atuação da pequena Florencia Bado é arrebatadora, e apesar de sua pouca idade, consegue "química" com Brendemühl.

Tal qual para uma mãe de criminoso seu filho seja sempre bom, pode ser a proximidade com o tema abordado em O Médico Alemão que tenha feito com que tantas pessoas (inclusive no Brasil) tenham sido favoráveis ao nazismo.


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OS HOMENS SÃO DE MARTE... e é pra lá que eu vou!

O cineasta Beto Besant entrevista o diretor Marcus Baldini e os atores Alejandro Claveaux, Mônica Martelli e Daniele Valente, do filme OS HOMENS SÃO DE MARTE... e é pra lá que eu vou!


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A CULPA É DAS ESTRELAS (The fault in our stars)


por Tiago Paes de Lira

Provavelmente você já viu uma centena de filmes românticos, um mais água que açúcar que o outro. E se você for homem, é mais provável ainda que o esquema “garoto conhece garota/garoto perde garota/garoto reconquista garota” não seja o seu estilo. Mas eis que A Culpa é das Estrelas vem para jogar para cima, pelo menos ligeiramente, esses conceitos. A história doce, romântica e triste é um paralelo da a vida em si. Como diz a protagonista, existe um pequeno infinito entre dias, mesmo que esses sejam contados. Surpreendentemente emocionante, é um filme para casais sim, mas com uma carga emocional que fará muita gente grande – inclusive homens – chorar.

Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley) é uma adolescente diagnosticada com um tipo de câncer terminal. Incentivada pela mãe (Laura Dern) ela começa a frequentar um grupo de apoio, onde ela conhece Augustus “Gus” Waters (Ansel Elgort). A relação dos dois começa a crescer, mesmo que Hazel se considere uma granada prestes a explodir. Apaixonado e sabendo do estado dela, Gus faz de tudo para realizar o sonho da protagonista: conhecer Peter van Houten (Willen Dafoe), seu autor favorito. E provam que mesmo uma relação fadada ao fim pode ter contornos de uma história de amor de anos.

Quem me acompanha já sabe da minha ojeriza por narrações off. Pois bem, esse filme tem bastante, mas, em muito tempo, foram bem usadas. Hazel começa a contar sua história já marcando que não será como uma música romântica de Peter Gabriel. Vamos ouvindo a sua voz durante os primeiros minutos de projeção, sobre sua vida e a relação com os pais. Porém, essa narração para no momento que ela conhece Gus. Poético isso. Naquele momento, a protagonista encontrou alguém que a completava, e a necessidade de falar de si mesma acabou. A partir do fim do primeiro ato, o que importa é a história dos dois juntos, e ninguém precisa falar sobre isso. É apenas preciso ver.

Sem muitas delongas, a história é exclusiva de Hazel e Gus. Com exceção do amigo Isaac (Nat Wolff) mesmo as pessoas mais próximas dos dois não são chamadas pelos nomes. Tanto os pais dele quanto dela são apenas Sr e Sra Lancaster e Sr e Sra Waters. O que não quer dizer que eles são descartáveis. A relação da Sra Lancaster (Dern) com a filha é muito doce. E junto do Sr Lancaster (Sam Trammel), os três tem uma relação bem interessante. Apesar da doença terminal de Hazel, eles não podam a filha exatamente por saber que a jovem tem pouco de vida. Sim, a mãe se preocupa se a filha está isolada demais, e o playground que ainda funciona no quintal dos Lancasters remete ao passado, mas a mãe é sempre uma incentivadora da filha, ao invés de superprotetora, como vemos na cena em que ela presenteia a filha com um vestido para o encontro romântico com Gus. É quase uma relação entre ídolo e fã.

O romance do filme é desviado por alguns momentos de comédia às vezes politicamente incorretos. Nos pegamos rindo porque um cego não consegue acertar um alvo. Também acontece quando vemos que Gus é um desastre sobre rodas, mas é fácil de se esquecer por um momento que isso pode ser porque ele tem uma perna mecânica e não sabe controlar direito um carro. Créditos ao diretor por nos colocar numa situação dessas.

E há os momentos dramáticos que pode trazer algumas lágrimas. Você se apega fácil ao casal e, como Gus aponta, essa é a história de Hazel e não do câncer dela. Por isso que as partes tristes são tão marcantes, como a crise respiratória da protagonista. Existe um certo conforto porque é Hazel que conta a história para nós – o que indica que ela estaria viva no fim do filme – mas subitamente nos lembramos que o câncer dela é terminal e que, mesmo nesse mundo fictício, a vontade de que os dois jovens fiquem juntos é verdadeira.

Existe sim o conflito clássico na narrativa. E ele é bem artificial e desnecessário, e serve só para ser conflito, que é resolvido rapidamente. Mas a sensação é que foi só para ganhar alguns minutos de projeção. Apesar de não prejudicar a experiência, há um certo incômodo pelo uso desse artifício.

Feliz também no design de produção e figurino, podemos notar que o diretor Josh Boone eficientemente trocou as narrações do começo por coisas mais visuais. Podemos citar algumas mais simples – como ospop-ups que pulam na tela a cada vez que Hazel e Gus trocam mensagens pelo celular – ou outras mais sutis no figurino – Hazel se veste várias vezes de roxo (sinal ligado à morte), ou quando em Amsterdã os dois compartilham tons de azul (segurança) e no ambiente – para reforçar que Hazel é uma mulher forte, a vemos assistir na TV dois personagens com essa característica: Buffy (de Buffy – A Caça Vampiros) e Ripley (da Quadrilogia Alien), além de um pôster com uma figura de lâmpada que os dois compartilham. Esses pequenos pedaços montam uma relação muito rica, mas que teve pouco tempo para florescer.

A Culpa é das Estrelas lida com o amor e esquecimento. Talvez as duas coisas mais difíceis de se lidar no mundo. A história romântica à primeira vista funcional apenas para o público feminino tem tudo para agradar mais gente. Mesmo num filme desses, o primeiro “eu te amo” aparece somente no 3º ato, quebrando alguns paradigmas do estilo. E pode não parecer à primeira vista, mas é um filme inteligente demais, abordando metáforas, discussões sobre vida e morte e o amor. Vinícius de Moraes disse que amor é chama, e que é imortal enquanto dure. Hazel coloca em outras palavras, dessa vez num cunho matemático – onde ela tenta racionalizar o que sente – o que se transforma num belo discurso. Ao fim, percebemos melhor porque o diretor focou a frase de Anne Frank “Pense em toda a beleza que ainda resta em torno de você, e seja feliz”: pegue essa mensagem, a de Hazel e por que não a de Vinícius e se emocione, porque é justo. Ok?


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TIM LOPES - Histórias de Arcanjo


por Beto Besant

A divulgação do desaparecimento do repórter investigativo Tim Lopes em 2 de junho de 20002, que pouco tempo depois teve sua morte constatada, instantaneamente tornou-se comoção nacional. Parecia inacreditável que os traficantes da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro tivessem a ousadia de executar um jornalista da primeira emissora de TV do país, e de forma abominável: o micro-ondas.
É assim que é chamada a morte onde a vítima é colocada entre diversos pneus onde é ateado fogo - muitas vezes com a pessoa ainda viva.

A comoção foi ainda maior quando se tomou conhecimento de quem era o jornalista: uma pessoa de origem simples e que sempre buscou revelar os problemas sociais em suas matérias investigativas.
O caso trágico - porém fascinante, é um "prato cheio" para os cineastas. Na história do cinema brasileiro diversos de comoção nacional transformaram-se em filmes de sucesso, desde O Caso dos Irmãos Naves (Luís Sérgio Person, 1967) até Carandiru (Hector Babenco, 2003).


A vida do jornalista poderia ter sido encenada, mas aqui a opção foi pelo documentário. O filme, dirigido por Guilherme Azevedo, foi escrito e conduzido por Bruno Quintella - filho de Tim Lopes. Por esse motivo, sua condução é muito afetiva, contando curiosidades como surgiu a origem do apelido e como iniciou na profissão, além das matérias mais importantes.

Os momentos onde a mãe e irmãos do jornalista falam sobre o relacionamento entre eles são carregados de dramaticidade, assim como o momento onde a viúva de Chico Mendes conta sobre  amizade que tinham.

Outro momento de muita emoção é quando Bruno vai pela primeira vez até o local onde seu pai foi executado. Algo como um exorcismo de seus medos e "fantasmas".

A montagem comete um equívoco no começo do filme. Mostra imagens erais do jornalista indo com a câmera escondida a uma clínica de reabilitação de dependentes químicos, em seguida combina com o motorista o encontro em alguns minutos. O problema é que as duas imagens não são da mesma reportagem, e esta seria a última vez que Tim Lopes seria visto. Quando percebemos do que se tratavam tais imagens ficamos na expectativa de que haveria uma continuação ou mesmo a repetição, mas isto não acontece.

Se o filme fosse conduzido por uma pessoa distante do retratado, provavelmente buscaria ouvir a outra parte, colhendo o depoimento dos assassinos, liderados pelo traficante Elias Maluco, mas devido à condução de seu filho, provavelmente sentiu que não teria "sangue frio" suficiente para chegar a este ponto.

Tim Lopes - Histórias de Arcanjo é um filme importante de ser visto, tanto para conhecer sua história quanto para acompanhar a dificuldade natural de seu filho em superar o assunto.
É daqueles filmes que a gente assiste com o "peito apertado". Impossível não se colocar no lugar de Bruno Quintella e refletir sobre qual seria nossa reação caso o fato acontecesse conosco.


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UMA LONGA QUEDA (A Long Way Down)


por Tiago Paes de Lira

Nem todos os filmes podem ser resumidos em uma palavra. O que não é necessariamente bom, tampouco ruim. Para Uma Longa Queda, a palavra é “aconchegante”. Essa comédia acerta em mostrar que todos tem problemas, e uns podem ser mais perturbados que outros, mesmo face ao suicídio. Pode ser um filme que mudará a sua vida, ou só para assistir em um reprise. É uma produção doce, engraçada e que trará reações diferentes, e sem consenso algum.

Em uma noite de passagem de ano, Martin (Pierce Brosnan) resolve se suicidar. Quando está pronto para se atirar do alto de um prédio, Maureen (Toni Collette) aparece no mesmo lugar para fazer a mesma coisa. Em meio à discussões, juntam-se à eles Jess (Imogen Poots) e J.J. (Aaron Paul) com a mesma intenção. Uma série de eventos os fazem postergar o ato, e os quatro acabam virando alvo da mídia sensacionalista. Dispostos a virar o jogo, eles se unem para tentar acabar com assédio e, quem sabe, ganhar um pouco de dinheiro com isso.

A maior qualidade do diretor é nos fazer rir do assunto tão sério. O suicídio é uma patologia da nossa sociedade, e que deveria ser visto de um prisma diferente. Bem da verdade, nos sentimos um pouco culpados de rir de Martin enquanto está se equilibrando na escada, ou da suadiscussão com Maureen sobre o assunto. Aquele é um momento que, na teoria, é tenebroso. É nesse humor sombrio que começamos a gostar dos personagens. Mesmo de Jess, que tentava se atirar com convicção. Ali se cria o vínculo entre ela e Martin – tanto um quanto o outro estavam decididos à tirar a própria vida, com Martin carregando uma escada por vários lances de escada e Jess sair correndo em direção à beirada –, que se espalhará entre os quatro. E vendo o desespero da jovem, Martin toma as dores dela como um pai. Ainda que perceba isso tardiamente, quando vai buscá-la em uma festa rave. Relutantemente, ele a salva e ali se forma uma estranha ligação/família. Mesmo que seja pouco provável que quatro pessoas queiram se jogar do mesmo lugar ao mesmo tempo, mas são concessões que damos à comédia.

O diretor decide por contar o resto da história em quatro pontos de vista diferentes, acompanhados por narrações off, que no episódio de Martin são irritantes, aparentemente intermináveis e óbvias no estilo “eu não imaginava que iria encontrar aqueles três de novo. E então…”. Quando centrada nos outros, as narrações diminuem e funcionam melhor. Ainda assim é muito falatório.

A divisão em capítulos serve para conhecermos melhor os personagens e nos importarmos com eles. Cada um tem a sua pequena tragédia, e mesmo no caso de Martin, que traiu a esposa e foi preso – injustamente, diga-se de passagem – o diretor procura não julgar. Assim como Jess, que tem uma personalidade que varia entre o irritante e o doce; Maureen, que é uma mulher com um grande fardo – que ela não vê desse jeito – e J.J., talvez o mais perdido de todos.

E ali vemos os universos de cada um. Jess é fechada: reparem na cena em que enquanto caminha fica olhando os próprios pés, e para a bagunça que é seu quarto, assim como a sua vida – interessante a cena em que ela vai para o lugar onde a irmã foi sequestra e, ao fundo, o diretor mostra um pub chamado White Rabbit (algo vindo de “Alice no País das Maravilhas”). Maureen toma praticamente todo seu tempo à cuidar do filho com paralisia cerebral, e por isso tem medo de se distanciar dele – ela tinha ideia de que seu suicido daria conforto financeiro ao rapaz – e assiste à comédias na TV, para dar um pouco mais de graça à sua vida. J.J. é o que leva o momento com mais tranquilidade, apesar de ser, aparentemente, o que deveria estar mais desesperado – mas a mentira é como um câncer, vai consumindo. A narração de Martin é a mais desinteressante. Ele fala tanto das filhas e da ex-esposa, mas elas não participam da narrativa – não até o fim, pelo menos.

Há grandes acertos em Uma Longa Queda. O toque de humor britânico pode ser um desafio, mas as risadas vem fácil, assim como nos conectarmos à essas pessoas, mesmo que a ideia de suicídio estejalonge de nossas mentes. Suas dificuldades podem ser as mesmas, parecidas, ou nada similares com as deles. Porém, quando Maureen se surpreende ao perceber que amizades podem ser formadas depois de tanto tempo, o diretor e roteirista dizem à que vieram. Perto do desfecho, Martin complementa essa percepção ao mostrar a J.J. que essa família – por assim dizer – pode não ser a ideal, mas é o melhor que eles podem ser. Isto deveria ser o suficiente: laços se criam e, sendo toda a vida importante, vale a pena nos segurarmos, nem que seja nesse fiapo.


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SETENTA


por Beto Besant

Em tempos de Copa do Mundo, quando nos deparamos com um filme intitulado Setenta, logo pensamos na lendária taça vencida por Pelé e companhia no auge da ditadura militar brasileira. Porém, o título faz referência aos setenta presos políticos libertos em troca do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher - sequestrado pelo VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) no ano de 1970.

Todos foram levados num avião até o Chile socialista de Salvador Allende, porém logo tiveram que fugir, após a invasão americana e o golpe militar liderado por Pinochet.



Dirigido pela estreante e ex-presa política Emília Silveira, o documentário segue uma narrativa tradicional, mesclando entrevistas com fotos de época e filmes que abordam o tema. A virtude neste caso foi a opção da cineasta em se concentrar nas histórias pessoas dos libertos na ação. É interessante ver que hoje, já na terceira idade, eles mesmos se surpreendem de como eram engajados e destemidos, e como não tinham noção dos riscos que corriam.

Momentos dramáticos - como o depoimento do homem se refugiou com sua mulher na Alemanha após a prisão, mas não suportando os traumas sofridos, atirando-se na frente de um trem, são intercalados com momentos divertidos, como aquele em que o entrevistado ri ao lembrar-se da péssima qualidade dos documentos falsificados, e mesmo assim conseguiam fazer viagens internacionais com eles.

Setenta é mais um ângulo de fatos sangrentos de nossa história e que podem gerar mais uma infinidade de filmes. Conta a história de pessoas - ao contrário dos jogadores de futebol, que literalmente lutaram pelo país e saíram derrotadas.



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X-MEN: DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO (X-Men: days of future past)



por Tiago Paes de Lira

Com Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Halle Berry, Anna Paquin, Ellen Page, Nicholas Hoult, Peter Dinklage, Ian McKellen e Patrick Stewart. Argumento de Simon Kinberg, Matthew Vaughn e Jane Goldman. Roteirizado por Simon Kinberg, baseado na história de Chris Claremont e John Byrne. Dirigido por Brian Synger (Jack – O Caçador de Gigantes).

O maior problema de uma franquia – e principalmente uma da Marvel que tem tanta histórias pregressas e tantos fãs para agradar – é a repetição: temas, atores, protagonistas, antagonistas até mesmo vilões. Percebendo isso, Kinberg e um renovado Singer apresentam um filme de ação empolgante, misturando temas de ficção científica/viagem no tempo e abrem um leque de vastas possibilidades. X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é um filme para se ver mais de uma vez, e é a melhor adaptação do universo X nos cinemas.

Num futuro próximo, tanto a raça mutante quanto a humana estão à beira da extinção. Um grupo de mutantes liderados pelo Professor Charles Xavier (Stewart) e Erik Lehnsherr/Magneto (McKellen) são a última resistência contra as temidas Sentinelas. Existe uma esperança nos poderes de Kitty Pride (Page), que pode enviar a consciência de outra pessoa através do tempo. Por causa de suas habilidades de cura, Wolverine (Jackman) é o escolhido para a missão de convencer as versões mais jovens de Xavier (McAvoy) e Erik (Fassbender) a se unirem e impedir que Mística (Lawrence) assassine Bolivar Trask (Dinklage), o que desencadeara a guerra contra os mutantes no futuro.

A estrutura da história é baseada em flashbacks, o que é pertinente para o tema. Suas variadas linhas de tempo são tanto continuações de X-Men 3: O Confronto Final (The X-Men: Last Stand, 2006, Dir Brett Ratner) e X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011, Dir Matthew Vaughn), além de ter relação com a cena extra de Wolverine: Imortal (The Wolverine, 2013, Dir James Mangold). E uma das qualidades do filme é unir esse universo que já é bem grande, até mesmo o malfadado primeiro filme solo de Logan.

O futuro mostrado é um inverno constante, um novo holocausto – esse nuclear– onde os prisioneiros são marcados na face à fogo com a letra M. A morte vem realmente do alto, com os Sentinelas chegando em naves que tem o formato de caixões de cabeça pra baixo. Ainda que esconda o sangue, as cenas de violência são pesadas, com muitos desmembramentos e decapitações promovidos pelas máquinas. Porém, elas acontecem na penumbra ou enquanto os poderes estão ativados. Por exemplo, Colossus tem membros arrancados enquanto em sua forma metálica, o que diminuí a violência gráfica. Mas só um pouco. Quando Wolverine enfrenta alguns bandidos já em 1973, suas garras de osso não são mostradas ensanguentadas.

Existe a possibilidade de os fãs mais ardorosos da Marvel reclamarem ser Wolverine, e não Kitty que viaja no tempo, como é nos quadrinhos. Há dois bons motivos para isso. Um: Marketing. Hugh Jackman é o nome mais conhecido do elenco (veja que os pôsteres internacionais mencionam apenas o nome dele). Dois: Plausibilidade. A viagem pode causar danos cerebrais se o viajante for muito longe e por muito tempo. Por isso, quem melhor que alguém com um poder de cura para resolver o assunto? E, como sempre, esta é uma crítica do filme e não da fonte original. O que importa é que dentro do universo adaptado funciona.

De volta à 1973, Logan age como um espectador – como nós da audiência – e com ligeira surpresa aos fatos que está revivendo. De vez em quando, o mutante esquece que naquela época seus ossos ainda não estavam revestidos de adamantium, e fica com uma cara de decepção ao constatar o fato, que não impede de manter o espírito desafiador e um tanto piadista. Quando ele encontra o jovem Hank McCoy (Hoult) na Escola de Xavier, há uma provocação de Logan para ver o verdadeiro Fera. Vai render boas risadas que não são soltas. Elas servem para reforçar a personalidade de Xavier dessa época. Apesar de estar andando, ele está perdido, constantemente com um copo de whisky na mão. Por passar nos anos 1970, há um paralelo com o mundo das drogas, e a palavra “viciado” está em todo lugar, apesar dela não ser usada. Há uma cena bem marcante, onde Charles chega a lamber os lábios quando vê uma seringa.

A Mansão X está tão caída quanto seu dono, com janelas fechadas, poeira por todos os cantos e a dor de Xavier representada em dois totens: um para Raven/Mística – que ganha um memorial com velas, como os que fazem vigília para seus entes queridos desaparecidos – e um tabuleiro de xadrez com um jogo não finalizado, um símbolo usado entre ele e Erik desde o primeiro filme X.

Há uma preocupação clara em deixar tudo equilibrado. Se há o futuro sombrio, existe um passado mais colorido – na fotografia de Newton Thomas Sigel, que trabalhou em filmes como Drive (Drive, 2011) – e com algum blur. Onde existe a seriedade de acabar com apocalipse, há no outro extremo Pietro (Peters) que, por ser um adolescente, não vê o mundo com muita seriedade. A cena em que ele lida com uma dúzia de homens armados que cercam Logan, Xavier e Erik é de um extremo bom gosto, e podemos ver por um momento como é ser alguém que pode se deslocar à velocidade do som (ao som de Time in a Bootle). É um alívio cômico, e a frase “minha mãe conheceu um cara que fazia isso” é uma dica que provavelmente só fãs conhecem. A opção de Singer de fazer que os efeitos da movimentação dele comecem sutis faz todo o sentido: para o espectador comum, é assim que vemos.

O universo X tenta ser um pouco mais realista – na medida de estarmos falando de um mundo fantástico, claro – desde o primeiro filme, com roupas de couro preto ao invés das coloridas dos quadrinhos. Isso se reflete no visual mais simples de Pietro (mesmo que as cores prateadas façam um relação com o futuro). Também é assim nas relações com o John Kennedy, o presidente do filme ser o mesmo da época, as referências à Guerra do Vietnã, as filmagens em Super 8 e uma piada sobre naquela época Hank conseguir uma aparelho que grave “todos” os três canais.

Podemos notar um extremo cuidado no design de produção. As locações remetem não só aos seus lugares reais – Muralha da China, a Casa Branca – mas a metáforas bem construídas. No começo do filme, os mutantes se refugiam num monastério (buscam paz). Já no segundo ato, Trask aparece num corredor que tem a sua altura (busca se adequar ao mundo normal). E os efeitos especiais são ótimos e usados com moderação: as cenas do começo mostram os poderes das Sentinelas – apesar do design modernizado lembram os modos do Destrutor de Thor (Thor, 2011) – para depois desacelerar para um ponto de vista humano, para só depois vermos com quem estamos lidando.

É difícil entender como Singer está tão bem aqui e tão desleixado em seu filme anterior. Sem receio de me repetir, há um cuidado na sua visão que ficamos impressionados. Determinado ponto do filme, Trask está com todas as cartas na mão. Nesse poder, o diretor começa a filmá-lo de costas, mas põe a câmera na altura dos ombros dele – um ator que tem 1,35m – e ali diz que ele tem as rédeas da situação. Ou quando Erik persegue Mística, notem que ele em roupas civis usa roxo e vermelho, tanto tons do uniforme clássico quanto representativos de morte e ódio. E, para o bem da história, Singer e Kinberg apenas pincelam teorias quânticas, mas é o suficiente para a discussão da ideia.

É até poético que X-Men: Dias de um Futuro feche um ciclo iniciado em 2000. Singer consegue costurar toda a franquia e homenageando os universo que ajudou a criar, com as aparições de Tempestade/Ororo (Berry), Bobby/Homem de Gelo (Ashmore) e outros mutantes, e do jovem William Stryker (Helman). Se há alguma que incomoda é a ressurreição do Professor Xavier, ainda que exista a cena extra de X-Men 3 que, ao meu ver, não explica propriamente o fato. Perder mais três minutos de elucidação não faria mal. Mas isso não é suficiente para diminuir a ótima experiência. Tudo na continuação é maior e melhor que o filme de 2011, e o resultado traz inúmeras possibilidades para o Universo X. Ao se reinventar, é com gosto que esperaremos a sequência.

E não preciso explicar isso, mas vamos lá: há uma cena extra. Uma que vai matar do coração os fãs da série.




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OLHO NU


por Beto Besant

A música tem forte presença na memória emotiva de quase todos. Frequentemente somos pegos de surpresa por uma música que nos leva a um tempo que gostaríamos de congelar. Porém existem artistas que superam qualquer barreira, passando a fazer parte de nossas vidas como se tivessem laços sanguíneos conosco. E Ney de Souza Pereira, conhecido como Ney Matogrosso, surge na telona com uma força raramente vista.


Olho Nu, documentário de Joel Pizzini, trás raras imagens de arquivo do artista que somam cerca de 300 horas e foram cuidadosamente guardadas em quatro décadas de carreira. Ele conta que sempre que se apresentava na TV pedia uma cópia do material.

No ano passado, Ney doou todos os seus figurinos guardados para o Senac, pois sabia que assim teria mais condições de restauro e manutenção, e por acreditar que seu acervo estaria melhor se exposto para quem tivesse interesse. O mesmo fez com suas imagens, que colocou à disposição do diretor para a realização do filme, e comenta que gostaria que a vasta quantidade de imagens gerasse outros filmes.

Como já era de se esperar, o documentário tem muita música, além dos muitos depoimentos do artista - quase como num musical. O maior problema é que não segue uma narrativa tradicional, para que o público que não conhece sua história passe a conhecê-la, nem uma narrativa transgressora - maior característica do artista. A impressão que se tem em certos momentos é que a montagem foi aleatória.

Quem conhece a riquíssima história do biografado, sabe que o filme não apresenta 1% dela, que inclui ameaças da ditadura, o convite para formar uma banda internacional que transformou-se na Banda Kiss, a descoberta da bissexualidade, o contato direto com a AIDS, o rápido namoro com Cazuza, drogas, Santo Daime, etc. Foi premiado pelo Voto Popular no Festival In-Edit - São Paulo, provavelmente graças ao fato dele ser um dos únicos casos de unanimidade nacional.

Olho Nu é interessante pelo valor histórico de suas imagens e pela qualidade musical, mas não inova nem apresenta o artista.  Apesar disso, a força de sua música e a articulação de seus depoimentos tornam o filme importante de se conhecer.


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PRAIA DO FUTURO


por Antonio Carlos Egypto

Muita luminosidade. Sol. Água. Estamos na Praia do Futuro, em Fortaleza. Bela e perigosa. Um salva-vidas, Donato (Wagner Moura), tenta em vão evitar o afogamento de um banhista. A cena que abre o filme e mostra essa luta no mar, entre a vida e a morte, nos indica que muita tensão e muita dor podem vir por aí.

Jesuita Barbosa, Wagner Moura, Karim Ainouz e Clemens Schick
Virá, também, uma história de amor homossexual, que nos remeterá da ensolarada Praia do Futuro para o colorido acinzentado de Berlim no inverno. E conhecemos Konrad (Clemens Schick), piloto alemão, objeto de amor do brasileiro Donato.


Há mais. Em busca não só do amor, mas do risco, da aventura e da liberdade, Donato abandona sua família, deixa para trás o irmão menor, que tinha nele um ídolo: Ayrton (Jesuíta Barbosa). E que, mais crescido, vai cobrar a fatura do abandono que teve de amargar.

Jesuita Barbosa, Wagner Moura e Karim Ainouz
Gente que ama. Gente que perde. Gente que se aventura. Gente que cobra. Gente que se enraivece. Frustrações, decepções, surpresas, arrependimento. É de tudo isso que se trata. O novo filme do conceituado diretor Karim Aïnouz é um trabalho autoral, que penetra nos sentimentos mais fortes e nas relações mais intensas. Valendo-se de uma câmera que invade e escancara a intimidade. Também dos corpos, mas principalmente das emoções. Com interpretações viscerais de atores que nem sempre falam a mesma língua (é uma coprodução brasileira-alemã) ou que juntam muita experiência com o vigor da juventude em que a experiência começa a aflorar. Com muito ensaio, o resultado sai muito bom.


De Wagner Moura nem é preciso dizer, é um dos grandes atores da atualidade brasileira. No cinema, ficou famoso como o Capitão Nascimento, de Tropa de Elite 1 e 2, pelo menos para o grande público. Na verdade, é um ator versátil, que dá credibilidade a qualquer papel: aqui, como salva-vidas e gay, ele, mais uma vez, brilha. Até quando emite algumas falas decoradas em alemão, ele é capaz de convencer.

Clemens Schick

O mesmo se dá com Clemens Schick, que atuou com um elenco brasileiro sem falar português. Mas teve poucas falas decoradas aproveitadas. O filme tem pouco diálogo, é muito visual. Ficou com ainda menos diálogos porque nem sempre as falas decoradas passaram pelo crivo do diretor. Melhor assim: é um cinema que mostra, não fica explicando.

Jesuíta Barbosa, que faz o irmão menor do protagonista, é um ator muito talentoso. Já havia demonstrado isso em Tatuagem, de Hilton Lacerda, de 2013. Tem lugar garantido na nova geração de atores brasileiros que começa a se destacar.




É mais um filme brasileiro que ousa sair do que o chamado “mercado” possa esperar. Que está mais interessado em cutucar vespeiros emocionais, refletir sobre caminhos e escolhas e que não se satisfaz em oferecer o conhecido, o já assimilado, o que vende. Busca expressar o que lhe parece importante e relevante. É por aí mesmo.



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Coletiva: A GRANDE VITÓRIA


por Beto Besant

Na última segunda-feira, dia 5/5 aconteceu na cidade de São Paulo a coletiva de imprensa do filme A Grande Vitória. Estavam presentes o diretor Stefano Lapuzzi Lapietra, os atores Caio Castro, Sabrina Sato, Moacyr Franco, Suzana Pires, Tato Gabus, Felipe Folgosi e o biografado Max Trombini.

ator Felipe Folgosi e o judoca Max Trombini

O filme é baseado no livro Aprendiz de Samurai - de Max Trombini, uma autobiografia sobre o judoca de origem pobre - interpretado por Felipe Falanga e Caio Castro - cujo pai (Domingos Montagner) o abandonou e acaba por extravasar sua energia na arte marcial, tornando-se um dos maiores atletas do país. Seu instrutor é vivido por Gabus, sua mãe por Suzana Pires e seus avós por Moacyr Franco e Tuna DwekO próprio Trombini faz uma participação como professor de educação física. Folgosi interpreta um colega do protagonista.

ator Caio Castro e o diretor Stefano Lapietra

Dirigido pelo estreante Stefano Capuzzi Lapietra, A Grande Vitória tem ainda a participação especial de Sabrina Sato e trilha-sonora assinada também pelo estreante maestro João Carlos Martins. O roteiro é assinado pelo próprio Lapietra com Paulo Marcelo do Vale e Wagner Hilário.



Lapietra conta que a ideia surgiu ao ouvir no rádio uma entrevista de Trombini, o judoca, por sua vez, conta que sempre soube que um dia fariam um filme sobre sua história. Tão logo o filme foi acertado, Castro foi contratado: "Quando conheci o Max houve simpatia mútua, então decidi ficar 'na sua cola', chegando a morar com ele por dois meses. Quando conheci sua mãe e ela perguntou por que falávamos igual, aí veio a emoção" - conta Castro.


Trombini revela que ficou surpreso com a dedicação de Castro para o papel: "Ele queria passar pelo treinamento real de um atleta e eu falei que não suportaria, mesmo assim ele insistiu. Além de ter aguentado um treinamento que muitos atletas desistem, na cena final suportou tantos tombos que teve que tomar relaxante muscular para aliviar as dores, e mesmo assim não pediu para que interrompesse as filmagens".

atores Suzana Pires e Moacyr Franco
A atriz Suzana Pires falou sobre a oportunidade de conhecer pessoalmente a mãe de Trombini: "Ela pediu para falar comigo em particular, essa conversa secreta - já que ela não me autorizou revelar o que foi dito - foi importantíssima para a construção do personagem".

O cartaz sugere que Sabrina Sato e Caio Castro formam a trama central do filme, porém a participação dela não chega a dez minutos. 

A Grande Vitória busca um gênero não muito explorado no cinema nacional: o filme de esporte com a auto-ajuda como "pano de fundo". 


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