Tecnologia do Blogger.
RSS

PAIS E FILHOS (Soschite chichi ni naru)


por Antonio Carlos Egypto

Troca de bebês em maternidade acontecem e causam enormes transtornos. Imagine, então, se essa troca só for descoberta seis anos depois do acontecido... 

Os pais cuidam da criança, a educam, criam vínculos muito fortes, estabelece-se um padrão de identidade, um tipo e estilo de vida e de relacionamento familiar. Hábitos e costumes se solidificam. O que fazer? Esse é o dilema moral que o filme Pais e Filhos expõe, por meio de dois casais, as duas crianças trocadas, irmãos e familiares.

Um casal tem alto padrão de vida, um executivo que se dedica ao trabalho prioritariamente e um modo discreto de viver. O menino em questão tem tudo de que precisa e se dá bem com os pais. Como se pode imaginar, nem sempre pode contar com a presença do pai, que tem muitos compromissos. Mas isso não impede que vivam bem, sem maiores problemas ou sobressaltos.


A outra família tem posses bem mais modestas, o dinheiro pode fazer falta e impedir algumas coisas. A figura do pai é a de um homem simples, que não conquistou muitas coisas em termos econômicos, nada refinado, mas muito afetivo e brincalhão. Extremamente disponível para os filhos.

A eventual troca, como se vê, implicará grandes mudanças e questionamentos para todos, tanto para os pais, quanto para os filhos. Para se chegar a uma decisão, que terá de ser de consenso, muitas experiências serão feitas e avaliadas, passo a passo. 

O executivo, em especial, colocará em questão o seu papel de pai, pondo em cheque a hierarquia de valores das necessidades humanas. Os dois meninos, inevitavelmente, compararão os comportamentos, tanto paternos, quanto maternos, e as grandes diferenças que separam as duas famílias, sem condições de avaliá-las realmente. Sofrem, têm sentimentos intensos, mas também se divertem e descobrem coisas novas.

O dilema moral colocado pelo filme é isso: um festival de descobertas, sem necessidade de qualquer explicação. Os personagens bem construídos, especialmente os pais e as crianças, vivem o desafio de uma decisão que, em qualquer sentido, será dura, cruel e, talvez, equivocada. Não há verdades, nem certo ou errado, muito menos vilões e mocinhos. São gente de carne e osso, tentando se entender e fazer a coisa certa. Sofrendo para tentar acertar. As diferenças de classe social são reveladas, mas não são decisivas para a resolução do conflito. É de pessoas vivendo um drama familiar sem precedentes que se trata.

Pais e Filhos é um belo trabalho do diretor Kore-Eda, que tem se dedicado a lidar com questões atuais ligadas à família, destacando o papel das crianças, seus desejos e limitações. Foi assim em O Que Eu Mais Desejo, de 2010, ou Ninguém Pode Saber, de 2004. Estamos todos, crianças ou adultos, sujeitos a perdas, o tempo todo. O cinema de Hirokazu Kore-Eda, de forma leve, suave e até divertida, reflete sobre isso e nos faz pensar.

Pais e Filhos foi um dos maiores destaques da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e segue, agora, sua carreira comercial no cinema. Ótima pedida.


  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário