por Roberto Bouchiglioni
O diretor Scott Derrickson, cuja carreira se alterna entre o bom Hellraiser: Inferno, o ótimo O Exorcismo de Emily Rose e a medíocre refilmagem O Dia em que a Terra Parou, parece que vai nos contemplar com mais uma boa obra, ao menos assim eu penso até os primeiros 30 minutos do filme.
A Entidade inicia de forma interessante, onde o escritor Ellison (Ethan Hawke, muito bem no papel) pretende alcançar momentos de glória com a criação de novo livro, sabor este causado por seu best-seller há mais de 10 anos. Especializado em histórias cujo tema central é o assassinato em sequência, Ellison decide mudar-se com a família para uma pequena cidade, acomodando-se propositadamente em uma casa onde ocoreu o assassinato de uma família. No sótão, descobre uma caixa um projetor e filmes caseiros, mostrando várias famílias sendo assassinadas, o que o instiga a seguir suas investigações.
A mulher de Ellison, Tracy (Juliet Rylance), apoia o trabalho do marido, apesar de sofrer com a perturbação psicológica do filho mais velho - eles tem um casal, ainda são crianças em idade escolar. Sua desconfiança de que aquela casa vem amplificando o problema do menino passa a ser fonte de desentendimentos, enquanto Ellison procura convencê-la de que sua investigação a respeito do crime hediondo ocorrido naquela cidade é a chave do sucesso do livro a ser editado.
Ao esconder de sua esposa que o assassinato foi cometido no jardim do imóvel onde estão morando, Ellison toma para si toda a responsabilidade acerca dos fatos sobrenaturais.
Na tentativa de acrescentar tensão à história, o roteiro convoca o protagonista a resolver sozinho a questão, antes que a família seja posta em perigo. A trama então se acomoda numa repetição de cenas cotidianas. Na tentativa de dinamizar, o diretor opta por incluir sustos que no decorrer do filme se tornam previsíveis, embora não exista aquele desespero por “mostrar serviço” utilizando computação gráfica em excesso e jogando monstros contra a câmera. Esta opção se revela malsucedida, pois a segunda metade causa impaciência e o desejo de que ele acabe logo.
A construção do suspense é razoavelmente eficiente, deixando algumas resoluções a serem trabalhadas na imaginação do espectador. A trilha sonora de Christopher Young (A Casa de Vidro) ajuda a compor a atmosfera necessária, ainda que opte pelo lugar comum na maioria das vezes.
Apesar da minha esperança - afinal, a história intercala os sustos de ordem sobrenatural com momentos interessantes de pesquisas e investigações - a obra não supera a expectativa de identificação do público vendida em sua proposta, tampouco instiga a inteligência do espectador. E quando este fator acontece, o risco da previsibilidade do final torna-se eminente. À Entidade, falta-lhe identidade.
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