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CAROL (idem)


por Antonio Carlos Egypto

Uma jovem, na faixa dos 30 anos de idade, trabalhando numa loja de departamentos, setor de brinquedos, na época do Natal. Uma mulher elegante, de mais de 40 anos, vestida num vistoso casaco de peles, à procura de um brinquedo para dar de presente à filhinha de 4 anos. Seus olhares se cruzam e vê-se que uma se interessou pela outra, uma compra se efetiva e nasce daí um romance entre as duas.

Esse é o começo do filme Carol, de Todd Haynes, diretor de Não Estou Lá, em 2007, Longe do Paraíso, em 2002, e Velvet Goldmine, em 1998. De modo geral, um cineasta que faz um bom trabalho.

Aqui, o envolvimento homossexual de Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara) vai sendo contado, de forma linear, mas sutil. Cuidadosamente, as peças começam a se encaixar e ficamos entendendo a natureza do desejo, seu histórico e os condicionantes que o cercam, no final dos anos 1940.

Se Therese estava à toa na vida, sem se entusiasmar nem pelo seu emprego, nem pelo namorado que planejava com ela uma viagem à Europa, Carol era uma mulher casada, com uma filha pequena, posição que a colocava de modo complicado, tanto perante a família e a sociedade, quanto perante a lei. O filme mostra isso de um jeito suave nas aparências, o grande drama está por trás. Tanto que as soluções surpreendem, soam abruptas. A história adapta o romance The Price of Salt, de Patrícia Highsmith, a mesma de O Talentoso Ripley, que teve duas adaptações de sucesso para o cinema.

A australiana Cate Blanchett é um grande atriz, seu desempenho está valendo uma indicação para o Oscar 2016, mas faria mais sentido que seu personagem fosse mais jovem, para ser mãe de uma criança de apenas 4 anos. O casaco de peles que marca Carol é hoje um item mais do que incorreto, política e ecologicamente falando, mas era o máximo do charme no Natal de 1948.

A jovem norte-americana Rooney Mara é uma linda mulher, que faz lembrar Audrey Hepburn neste papel, bem diferente da investigadora louquinha, cheia de piercings, que ela representou em Millennium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, em 2011. O que mostra sua versatilidade e seu talento.

Enfim, duas atrizes que seguram magnificamente bem uma narrativa de amor lésbico, com estilo, afetividade e doçura. Um filme de alma feminina.

A trilha sonora da época permeia o filme, dando um charme especial à história contada, já que traz a marca indelével da etapa que retrata. A caracterização do período, com suas casas, lojas, ruas, carros, roupas, telefones, ambientes, é perfeita e nos transporta àquela situação vivida. Isso é essencial, no caso, para dar força e credibilidade a essa trama que, a partir desses elementos constitutivos, flui muito bem.


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