O cinema brasileiro sempre viveu de "ondas". As mais recentes foram Favela Movie e comédias conhecidas como Neo Chanchadas. Porém, as mesmas pessoas que criticam o cinema monotemático, rechaçam as poucas tentativas de se fazer algo diferente, genuíno.
Neste caso, Reza a Lenda foi vendido como o "Mad Max brasileiro". Obviamente, um filme que custou poucos milhões de reais não pode ter o mesmo resultado de outro que custou centenas de milhões de dólares. Portanto, este marketing é uma "faca de dois gumes".
O filme conta a história de um grupo de motoqueiros de uma região árida nordestina que não chove há muito tempo, liderados por Ara (Cauã Reymond) e Severina (Sophie Charlotte). Segundo a crença local, a santa padroeira - roubada pelo fazendeiro Tenório (Humberto Martins) e exposta a visitação mediante cobrança - é responsável para que volte a chover.
Os motoqueiros roubam a santa com o objetivo de devolvê-la ao seu lugar original, o que provoca uma caçada sangrenta por parte do coronel.
Reza a Lenda começa muito bem, com uma cena de grande impacto que só ocorreria cronologicamente uns vinte minutos depois se não fosse a bela "sacada" do experiente montador Manga Campion. Nos seriados americanos, essa abertura instigante é chamada de Tease.
Com uma bela produção - fotografia, direção de arte e figurinos impecáveis - o filme causa muita curiosidade sobre seu desfecho, mas como o cinema não vive só de técnica, por algum motivo a história não se completa. Talvez porque o elenco seja composto basicamente de rostos conhecidos do grande público mas não exatamente as pessoas ideais para interpretar essa história. Não que Cauã, Humberto e Sophie não estejam bem - estão bem melhor do que habitualmente - porém ainda deixam a desejar ao interpretarem personagens tão fortes e rústicos. Ainda assim, deve ser a melhor interpretação de Cauã até o momento.
Os dois melhores atores do elenco - Júlio Andrade e Jesuíta Barbosa - estão subaproveitados, Júlio, por exemplo, interpreta uma espécie de xamã, personagem completamente dispensável à trama.
Filme de estreia de Homero Olivetto - que assina o roteiro com Patrícia Andrade e Newton Cannito - lembra uma espécie de Mad Max misturado com Easy Rider, e peca ao lapidar mais a forma do que o conteúdo. De qualquer forma, é sempre bom ver cinema nacional bem produzido e tentando apresentar algo diferente do padrão. Fica o gostinho na boca ao imaginarmos se tivesse sido escrito, dirigido e atuado por artistas que fizeram do cinema pernambucano o melhor cinema do país.
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