por Beto Besant
A divulgação do desaparecimento do repórter investigativo Tim Lopes em 2 de junho de 20002, que pouco tempo depois teve sua morte constatada, instantaneamente tornou-se comoção nacional. Parecia inacreditável que os traficantes da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro tivessem a ousadia de executar um jornalista da primeira emissora de TV do país, e de forma abominável: o micro-ondas.
É assim que é chamada a morte onde a vítima é colocada entre diversos pneus onde é ateado fogo - muitas vezes com a pessoa ainda viva.
A comoção foi ainda maior quando se tomou conhecimento de quem era o jornalista: uma pessoa de origem simples e que sempre buscou revelar os problemas sociais em suas matérias investigativas.
O caso trágico - porém fascinante, é um "prato cheio" para os cineastas. Na história do cinema brasileiro diversos de comoção nacional transformaram-se em filmes de sucesso, desde O Caso dos Irmãos Naves (Luís Sérgio Person, 1967) até Carandiru (Hector Babenco, 2003).
A vida do jornalista poderia ter sido encenada, mas aqui a opção foi pelo documentário. O filme, dirigido por Guilherme Azevedo, foi escrito e conduzido por Bruno Quintella - filho de Tim Lopes. Por esse motivo, sua condução é muito afetiva, contando curiosidades como surgiu a origem do apelido e como iniciou na profissão, além das matérias mais importantes.
Os momentos onde a mãe e irmãos do jornalista falam sobre o relacionamento entre eles são carregados de dramaticidade, assim como o momento onde a viúva de Chico Mendes conta sobre amizade que tinham.
Outro momento de muita emoção é quando Bruno vai pela primeira vez até o local onde seu pai foi executado. Algo como um exorcismo de seus medos e "fantasmas".
A montagem comete um equívoco no começo do filme. Mostra imagens erais do jornalista indo com a câmera escondida a uma clínica de reabilitação de dependentes químicos, em seguida combina com o motorista o encontro em alguns minutos. O problema é que as duas imagens não são da mesma reportagem, e esta seria a última vez que Tim Lopes seria visto. Quando percebemos do que se tratavam tais imagens ficamos na expectativa de que haveria uma continuação ou mesmo a repetição, mas isto não acontece.
Se o filme fosse conduzido por uma pessoa distante do retratado, provavelmente buscaria ouvir a outra parte, colhendo o depoimento dos assassinos, liderados pelo traficante Elias Maluco, mas devido à condução de seu filho, provavelmente sentiu que não teria "sangue frio" suficiente para chegar a este ponto.
Tim Lopes - Histórias de Arcanjo é um filme importante de ser visto, tanto para conhecer sua história quanto para acompanhar a dificuldade natural de seu filho em superar o assunto.
É daqueles filmes que a gente assiste com o "peito apertado". Impossível não se colocar no lugar de Bruno Quintella e refletir sobre qual seria nossa reação caso o fato acontecesse conosco.
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