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ERA UMA VEZ EU, VERÔNICA


por Beto Besant

Verônica (Hermila Guedes) é uma médica recém formada que trabalha num hospital público de Recife. Solteira, mora com o pai idoso e se questiona se quer mesmo viver da profissão. Sentimentalmente, não consegue se apaixonar por ninguém, se questionando se não encontrou a pessoa certa ou se tem "coração de pedra", como diz a personagem.

 
Terceiro filme do pernambucano Marcelo Gomes (dos ótimos Cinema, aspirinas e urubús e Viajo porque preciso, volto porque te amo), teve seu roteiro baseado em depoimentos de dezenas de jovens recifenses e não segue o padrão do cinema clássico a que o público está acostumado, onde a história divide-se em três atos. Ao contrário desses filmes (onde algo acontece para desestabilizar os personagens, até que o problema é solucionado), em Era uma vez eu, Verônica pequenos fatos vão acontecendo e causando pequenas transformações na personagem.
 
Como já era de se esperar, o filme traz uma ótima direção e roteiro. É ousado nas cenas de nu, sexo e beijos mais quentes, cenas pertinentes para contar a história da personagem que foge do padrão das "mocinhas à procura de romance", pois como ela não se apaixona, procura dos homens apenas satisfazer-se sexualmente.
 
Em determinado momento, um personagem tem uma doença mortal, e é muito interessante ver que o roteiro não mostra qual a doença e a direção não cai no clichê de utilizar de uma trilha melodramática para acentuar a cena, contenta-se em colocar apenas os ruídos da cidade. Aliás, a trilha sonora de Tomaz Alves Souza e Karina Buhr (que faz uma participação especial) mantém a boa qualidade do filme, pois fica ressoando em nossa cabeça após os créditos finais.
 

O único problema é que, ao ter usado um hospital em pleno funcionamento durante as filmagens, os figurantes destoam do elenco, tem sempre um deles olhando para a câmera.
 
Por outro lado, o elenco principal está impecável. Hermila Guedes, por mais que já saibamos de seu talento, neste filme está excepcional. Encara as cenas polêmicas com o despudor e desprendimento que a personagem teria.
 
É o tipo de atuação que faz com que não consigamos pensar em outra atriz para o papel. Além dela, dois atores coadjuvantes estão ótimos, são eles W. J. Solha (melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília) e João Miguel, que interpretam o pai e o namorado de Verônica, respectivamente.
 
Não é à toa que o filme ganhou sete prêmios no Festival de Brasília e foi elogiado por crítica e público.
 
Em resumo, é um grande filme, porém o talento de Hermila é ainda maior.  
 
 

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