por Eduardo Oliva
Trash talvez seja um dos filmes brasileiros
mais forçados que já assisti nos últimos anos. Em se tratando de favela movie, é uma carona requentada –
para gringo sambar e contemplar – de sucessos vanguardistas que vem lá de Rio
40º (do cineasta Nelson Pereira dos Santos), passa por Cidade de Deus (com a
participação especial de Zé Pequeno - Leandro Firmino da Hora, um pouco mais
acima do peso), e aterrissa nas participações sem sintonia de Martin Sheen e
Rooney Mara.
Produzido pela O2 Filmes (de Fernando
Meirelles) e dirigido por Stephen Daldry (As Horas, Billy Eliot), Trash é uma coprodução de Brasil,
Inglaterra e Alemanha. O longa já começa com uma cena de perseguição envolvendo
o personagem de Wagner Moura (José Ângelo) para logo em seguida desencadear
numa série de acontecimentos envolvendo o seu paradeiro. No meio deste jogo,
somos apresentados a um policial corrupto (Frederico, interpretado por Selton
Melo) e a três meninos sobreviventes de um lixão, especialmente construído para
o filme.
Raphael, Gardo e Rato são o fio
condutor do roteiro, escrito por Felipe Braga e Richard Curtis a partir do
livro de Andy Mulligan. É curioso como a estética da favela, os sotaques
cariocas e o jeito malandro típicos da ambientação do Rio de Janeiro caem no
lugar comum sem trazer, absolutamente, nada de novo à narrativa. O Cristo
Redentor aparece discretamente, bem como o Pão de Açucar.
Durante a exibição deste esquecível slum movie, me vieram à mente, várias
vezes, cenas de Quem Quer Ser Um
Milionário?, de Danny Boyle, e Capitães da Areia – o livro. O primeiro, pelo cartaz oficial do
filme com a chuva de cédulas, o contexto religioso e a personificação de uma
personagem que surge como uma Santa Deus Ex Machina. O segundo, pela amizade
e cumplicidade de meninos pobres que agem como anjos justiceiros diante da
opressão dos adultos (aqui representada pela Polícia).
Qualquer que seja a análise que se
faça de Trash, a sensação que fica é
a de um longa confuso, raso, com situações e conflitos inverossímeis – as
perseguições entre o trio de crianças e os policiais são sofríveis –,
interpretações maniqueístas e sussurrantes (Selton Mello não convence como
vilão), além de um jogo gato & rato que funciona mais como videogame, e
menos como filme.
Apesar da narrativa de retalhos, Trash deve fazer carreira internacional
e conquistar premiações. Acontece que santo de casa conhece bem mais os seus
fiéis e, consequentemente, os seus pecados. Prova disso é o brilhante discurso
de longas como Tropa de Elite 2, de
José Padilha. A mensagem do Capitão Nascimento sobre a confraria do Congresso
Nacional é algo que toca o espectador ao final do filme, o que não se pode
dizer deste.
O ingresso vale pela trilha-musical,
uma ótima opção para balada de festa americana entre amigos, em algum
apartamento de classe média brasileira. Quem dá mais?
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