por Antonio Carlos Egypto
Muita luminosidade. Sol. Água. Estamos na Praia do Futuro, em Fortaleza. Bela e perigosa. Um salva-vidas, Donato (Wagner Moura), tenta em vão evitar o afogamento de um banhista. A cena que abre o filme e mostra essa luta no mar, entre a vida e a morte, nos indica que muita tensão e muita dor podem vir por aí.
Jesuita Barbosa, Wagner Moura, Karim Ainouz e Clemens Schick |
Há mais. Em busca não só do amor, mas do risco, da aventura e da liberdade, Donato abandona sua família, deixa para trás o irmão menor, que tinha nele um ídolo: Ayrton (Jesuíta Barbosa). E que, mais crescido, vai cobrar a fatura do abandono que teve de amargar.
Jesuita Barbosa, Wagner Moura e Karim Ainouz |
Gente que ama. Gente que perde. Gente que se aventura. Gente que cobra. Gente que se enraivece. Frustrações, decepções, surpresas, arrependimento. É de tudo isso que se trata. O novo filme do conceituado diretor Karim Aïnouz é um trabalho autoral, que penetra nos sentimentos mais fortes e nas relações mais intensas. Valendo-se de uma câmera que invade e escancara a intimidade. Também dos corpos, mas principalmente das emoções. Com interpretações viscerais de atores que nem sempre falam a mesma língua (é uma coprodução brasileira-alemã) ou que juntam muita experiência com o vigor da juventude em que a experiência começa a aflorar. Com muito ensaio, o resultado sai muito bom.
De Wagner Moura nem é preciso dizer, é um dos grandes atores da atualidade brasileira. No cinema, ficou famoso como o Capitão Nascimento, de Tropa de Elite 1 e 2, pelo menos para o grande público. Na verdade, é um ator versátil, que dá credibilidade a qualquer papel: aqui, como salva-vidas e gay, ele, mais uma vez, brilha. Até quando emite algumas falas decoradas em alemão, ele é capaz de convencer.
Clemens Schick |
O mesmo se dá com Clemens Schick, que atuou com um elenco brasileiro sem falar português. Mas teve poucas falas decoradas aproveitadas. O filme tem pouco diálogo, é muito visual. Ficou com ainda menos diálogos porque nem sempre as falas decoradas passaram pelo crivo do diretor. Melhor assim: é um cinema que mostra, não fica explicando.
Jesuíta Barbosa, que faz o irmão menor do protagonista, é um ator muito talentoso. Já havia demonstrado isso em Tatuagem, de Hilton Lacerda, de 2013. Tem lugar garantido na nova geração de atores brasileiros que começa a se destacar.
É mais um filme brasileiro que ousa sair do que o chamado “mercado” possa esperar. Que está mais interessado em cutucar vespeiros emocionais, refletir sobre caminhos e escolhas e que não se satisfaz em oferecer o conhecido, o já assimilado, o que vende. Busca expressar o que lhe parece importante e relevante. É por aí mesmo.
0 comentários:
Postar um comentário