por Beto Besant
A música tem forte presença na memória emotiva de quase todos. Frequentemente somos pegos de surpresa por uma música que nos leva a um tempo que gostaríamos de congelar. Porém existem artistas que superam qualquer barreira, passando a fazer parte de nossas vidas como se tivessem laços sanguíneos conosco. E Ney de Souza Pereira, conhecido como Ney Matogrosso, surge na telona com uma força raramente vista.
No ano passado, Ney doou todos os seus figurinos guardados para o Senac, pois sabia que assim teria mais condições de restauro e manutenção, e por acreditar que seu acervo estaria melhor se exposto para quem tivesse interesse. O mesmo fez com suas imagens, que colocou à disposição do diretor para a realização do filme, e comenta que gostaria que a vasta quantidade de imagens gerasse outros filmes.
Como já era de se esperar, o documentário tem muita música, além dos muitos depoimentos do artista - quase como num musical. O maior problema é que não segue uma narrativa tradicional, para que o público que não conhece sua história passe a conhecê-la, nem uma narrativa transgressora - maior característica do artista. A impressão que se tem em certos momentos é que a montagem foi aleatória.
Quem conhece a riquíssima história do biografado, sabe que o filme não apresenta 1% dela, que inclui ameaças da ditadura, o convite para formar uma banda internacional que transformou-se na Banda Kiss, a descoberta da bissexualidade, o contato direto com a AIDS, o rápido namoro com Cazuza, drogas, Santo Daime, etc. Foi premiado pelo Voto Popular no Festival In-Edit - São Paulo, provavelmente graças ao fato dele ser um dos únicos casos de unanimidade nacional.
Olho Nu é interessante pelo valor histórico de suas imagens e pela qualidade musical, mas não inova nem apresenta o artista. Apesar disso, a força de sua música e a articulação de seus depoimentos tornam o filme importante de se conhecer.
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