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A TEORIA DE TUDO (The Theory of Everything)


por Tiago Paes de Lira

O tom de A Teoria de Tudo é, em grande parte, acertado. É a biografia de um dos maiores físicos teóricos da história mas também é um romance, uma visão simplificada de um gênio. E ainda assim, eficiente numa direção firme e com atuações excelentes. E apesar da produção centrar na parte de um homem que era muito mais do que foi retratado, a história agrada ao discursar tanto sobre a física do amor, quanto ao amor à física.

A cinebiografia acompanha Stephen Hawking (Eddie Redmayne) durante seus estudos sobre o tempo e como conheceu sua primeira esposa, Jane Wilde (Felicity Jones). Os dois enfrentam a grave doença do astrofísico que, mesmo preso às limitações de seu corpo, levantou algumas das mais extraordinárias teorias sobre a origem do universo.

Por ser baseado num livro escrito pela própria Jane, é compreensível que a história se concentre menos nas descobertas de Stephen e mais na relação dos dois. E há uma leve tendência para o lado da personagem, apesar do diretor não isentá-la de culpa, ainda que sutilmente. Portanto, não espere longas discussões sobre as teorias e teses do físico. Apesar de elas existirem, a atmosfera é mais leve em geral.

Então, enquanto há momentos para marcar grandes momentos da carreira dele – o desenvolvimento das teorias, a discussão sobre o Cygnus X-1, o lançamento do livro Uma Breve História do Tempo – existem outros mais romantizados (e não necessariamente românticos). O primeiro beijo dele e de Jane acontece numa ponte, onde a câmera segue num plongée suave; o desaparecimento das pessoas em volta na cena em Stephen recebe o diagnóstico de um médico; o inferno particular na fotografia avermelhada em que o físico se encontra acompanhado da terrível televisão – logo ele, vindo de uma família que tinha costume de levar livros à mesa de jantar; ou ainda a vitória que é cada ano que se passa, marcado pelo nascimento de cada um dos filhos dos dois.

É interessante perceber também como o cenário ganha personalidade nas mãos do diretor. Junto do diretor de fotografia Benoît Delhomme, Marsh usa de luzes diferenciadas para apresentar Jane para a audiência e para Stephen pela primeira vez. E há vários planos em que vemos as coisas escondidas por janelas fumês ou cortinas, como uma deficiência imposta ao espectador que irá se refletir nas limitações futuras do físico. E há algo de Pi (de Darren Aronofsky, 1998) quando o diretor coloca no encalço de Stephen a espiral: no desenho básico da teoria dos buracos negros, no café com leite que ele toma no trem, na dança explicativa dele com Jane e na escada que leva ao quarto na universidade. Tudo numa metáfora visual que traduz a busca desse gênio.

Curtamente abordada na história, há um leve embate entre ciência e religião. Stephen se declara ateu desde o começo para Jane, que é uma católica praticante. E o diretor fez bem em não esconder a decisão dela, ainda que sutilmente, de trair o marido com Jonathan (Charlie Cox). Em uma cena no meio da noite, num acampamento, ela chama pelo amigo depois de deixar os filhos dormindo e não fazer barulho para deixa-los dormindo. Apesar de ser bem sutil, é óbvio que há uma crítica na pessoa que abraçou uma fé que proíbe terminantemente a relação extraconjugal. Isso é, porém, uma crítica à instituição da fé, e não da pessoa Jane. Algo que o diretor reforça ao desenhar uma cruz invertida no pescoço de Stephen na operação da traqueia.


O que vemos durante a história de A Teoria de Tudo é uma lição de como se dar e aceitar as coisas como são e, apesar disso, ir em frente. É uma lição simples, tantas vezes explorada na literatura e no cinema, mas que continua sendo verdadeira. Ainda que a maioria de nós não entenda o que se passa na mente desse homem extraordinário, a leveza das palavras e das ações do físico servem de inspiração. Em uma das suas palestras, Stephen Hawking diz “onde há vida, há esperança”. Sábias palavras para ecoar no filme e na mente dos espectadores.


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