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SERRA PELADA


por Beto Besant

No início dos anos 80, o professor Joaquim (Júlio Andrade) deixa sua mulher grávida e parte para o estado do Pará com seu amigo de infância Juliano (Juliano Cazarré) com o intuito de enriquecer no garimpo de Serra Pelada. Lá a ganância vai transformando os amigos e deixando-os cada vez mais distantes entre si e de suas famílias. Logo tomam contato com a terra sem lei que é o garimpo, onde se mata por nada e pobres tornam-se ricos do dia pra noite, literalmente.


Escrito por Vera Egito e seu marido, o diretor Heitor Dhalia, Serra Pelada é uma grande produção, daquelas que até poucos anos não se via no cinema nacional. O casal encontrou uma forma eficaz de abordar o universo do garimpo, contando a história dos amigos que deixam suas casas e famílias em busca do sonho de enriquecerem encontrando ouro. O roteiro “bem amarrado” consegue se aprofundar e constrói um belo arco dramático (forma com que a história se desenvolve), mostrando como o dinheiro é capaz de mudar a cabeça do ser humano. 

Após encontrar sua primeira pedra de ouro, Joaquim fica seduzido pela riqueza e busca cada vez mais dinheiro, até o ponto onde vê que a busca daqueles homens acaba por transformá-los em semianimais, que passam por cima de qualquer coisa para terem cada vez mais dinheiro. Forçado a matar, para que pudessem continuar no garimpo, Juliano sente gosto pelo feito e se importa cada vez menos com o ser humano. Seduzido pela ganância de fortuna e poder, passa por cima até de seu amigo/irmão.

Os roteiristas criaram o personagem Lindo Rico, um dono de morro violento e sarcástico, especialmente para Wagner Moura, que teve de deixar o personagem Juliano por conta de um filme no exterior. Moura também é um dos produtores do filme. O único problema do roteiro é o excesso de voz off (de Júlio Andrade), como querendo explicar até cenas autoexplicativas. Este pequeno “problema” não deve incomodar ao público médio, mais acostumado com filmes mais “mastigados”. 

A direção de Dhalia é impecável, dando tensão na movimentação de câmera, porém sem exagero e extraindo o melhor de cada ator. O elenco formado por ótimos atores, merece destaque para Matheus Nachtergaele e Wagner Moura, este último consegue o tom perfeito, misto de engraçado e mau caráter. Em cada uma das poucas vezes que aparece em cena faz o filme ganhar novo sabor, com seus momentos mais engraçados. O talento de Moura faz com que este “tome conta da tela” a cada aparição.


Sophie Charlote estreia na tela grande interpretando Teresa, uma ex-prostituta que foi “adotada” aos treze anos pelo personagem de Nachtergaele. Charlote apesar de estar entre a “nata” do cinema nacional, não decepciona em sua participação.

O filme insere imagens documentai do garimpo, o que ressalta o excelente trabalho da direção de arte de Tulé Peake, pois quase não se nota a mudança da parte documental para a parte ficcional. A direção de fotografia de Ricardo Della Rosa também é precisa, transmitindo a aridez do garimpo e os corpos suados e bronzeados de seus trabalhadores.

Serra Pelada é um filme incrível, daqueles que nos dão orgulho de ver como o cinema nacional pode ser bem realizado. Infelizmente não é o tipo de trabalho que lota as salas de cinema.


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