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RENOIR (idem)


Antonio Carlos Egypto

Pierre-Auguste Renoir (1851-1919), o grande pintor impressionista francês que celebrava a vida, a alegria das pessoas, as festas, a beleza da natureza e o corpo feminino na Paris luminosa de antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, é o personagem principal do filme de Gilles Bourdos.



Só que a película “Renoir” remete ao final da vida do pintor, quando ele só consegue andar de bengala e pinta numa cadeira de rodas, com pincéis amarrados aos dedos, por conta do reumatismo que o afligia. Mas continuava demonstrando otimismo, vitalidade e serenidade, em que pese o esvair da vida. Perdera a mulher e seus dois filhos foram feridos na frente de batalha. Estamos em 1915.


É quando irrompe em sua residência, no sul da França, em Cagnes, uma jovem linda e exuberante, que será sua musa e lhe dará um novo alento e entusiasmo. Pierre-Auguste (Michel Bouquet) se encantará com a nova modelo para seus quadros: Andrée (Christa Theret). Ao mesmo tempo, Jean Renoir (Vincent Rottiers), filho do pintor e que se tornaria um dos diretores de cinema mais importantes da história, retorna à casa paterna com ferimentos de guerra e se envolve com a musa do pai, a tal ponto que ela será sua primeira esposa. A última grande musa do pintor será o primeiro amor do cineasta.


É dessa história e desse momento final da vida do pintor Renoir que se nutre o filme de Gilles Bourdos. A narrativa flui lenta e até um tanto rotineira, procurando mostrar um clima e uma situação de vida de um homem idoso no seu ocaso, mas de um talento e otimismo tão grandes que tudo isso pode ser muito estimulante para ele, consubstanciando-se na figura de uma mulher jovem, cheia de vida.


Para o espectador, acompanhar a história do modo como ela é contada não é tão estimulante assim. Chega a ser até aborrecida, em alguns momentos. Mas o filme tem um grande mérito: procura reconstruir em imagens as cores que caracterizavam os quadros impressionistas de Renoir. O ambiente da residência remete à pintura, com suas luzes e tons tão característicos.


O vínculo do pai pintor famoso com o filho que irá criar obras-primas da arte cinematográfica, como A Regra do Jogo, de 1939, e A Grande Ilusão, de 1937, também interessa. A pintura e o cinema, convivendo numa época, primeiro, dourada, depois conturbada da Europa, e sendo retratados no trabalho de um e de outro, merecem atenção. Embora o filme não explore isso, como poderia.


A figura do pintor é convincentemente vivida por Michel Bouquet. Já o futuro cineasta tem pouca força no filme. Aparece como jovem amante e filho, mas sem maiores referências ao grande artista que ele será. O ator Vincent Rottiers também não dá a dimensão devida ao personagem. A musa desejada por ambos, vivida por Christa Theret, tem vigor, energia e beleza para iluminar um filme, que é bonito, sem chegar a empolgar.


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