Amigos Inseparáveis– mais um exemplar de péssimo título em português – é um filme que alterna de lado o tempo todo. Ora vai para o lado de um filme que constrói com muita correção o peso de seus personagens, assentados na amizade de velhos tempos, na velhice e nas consequências de suas escolhas; ora cruza a fronteira para o lado do filme previsível, com piadas óbvias e desfecho condescendente.
Investidos do charme e da segurança que só o tempo proporciona, Christopher Walken e Al Pacino estão na pele de dois criminosos aposentados pela idade. Aposentadoria que se deu prematuramente, quando Val (Pacino) foi preso, há 28 anos, cumprindo sua pena sem nunca delatar os amigos. É Doc (Walken) quem vai buscá-lo no dia de sua liberdade.
Do reencontro amistoso, logo surgem as contas do passado que ainda não foram pagas. Uma questão de vingança e ameaça, que Doc se viu obrigado a carregar por 28 anos. Por ordem de um implacável e vingativo chefão do crime, ele deve matar Val até a manhã do dia seguinte. E Val não demora a perceber isso.
A direção de Fisher Stevens (ator de rosto conhecido em séries e filmes menores que vem se aventurando na direção) aproveita muito bem o charme e a experiência de seu elenco, que conta ainda com Alan Arkin no papel do antigo piloto de fuga. O filme mantém uma cadência sem pressa, boa parte dela ambientada como uma notívaga aventura irresponsável.
Sem abusar de maneirismos, Stevens salpica a narrativa com referências pontuais. A mais clara é a Quentin Tarantino, presente na participação de Vanessa Ferlito. Ela, que protagonizou em A Prova de Morte (2007) a ótima cena da lap dance, faz uma moça violentada por uma gangue local que terá sua “justiça” com a ajuda dos velhinhos nem tão aposentados assim.
Por outro lado, o filme não deixa de caminhar com frequência para um tipo de registro que passa pela obviedade de situações e pelo subaproveitamento do drama dos personagens. Parece sempre hesitar entre ser uma aventura de “velhinhos batutas” e uma história de redenção com peso e responsabilidade. Não cabe aqui apontar o caminho certo, ainda que o segundo seria mais proveitoso dramaticamente. O problema é a indefinição, que prejudica a boa atmosfera que se cria em alguns momentos.
Pacino está bem em seu papel, mas repete performance, como em alguns momentos que parece estar de volta ao papel do sujeito cego que lhe rendeu o Oscar em Perfume de Mulher (1992). Mas quem carrega de verdade o filme é Christopher Walken. Em seu gestual e expressões, transmite com grande autenticidade não apenas o peso do tempo – com aquele verniz de que algo se perdeu definitivamente –, como também pelo peso da tarefa de que está incumbido. Toda densidade ensaiada pelo filme passa pela atuação de Walken.
Na onda de produções sobre aposentadoria (ou o adiamento dela) de velhos durões, Amigos Inseparáveis é mais um a rondar o tema do peso do tempo. Com esperado saudosismo melancólico, coloca seus personagens com as rugas claras e os vincos dos rostos expostos. Tem momentos autênticos muito bons, mas perde-se na falta de equilíbrio entre ser legal e divertido ou apresentar uma esfera dramática com peso mais sólido. Paira então no superficial, com momentos de brilho espontâneo e outros de total desperdício.
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