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OS MISERÁVEIS (Les Miserables)

 
por Rogério de Moraes

Primeiro, avalie o elenco formado por Hugh Jackman, Anne Hathaway, Russel Crowe, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter. Em seguida, pondere: são eles que vão preencher, sempre cantando, as duas horas e trinta e sete minutos de duração do filme.
Antes de tudo, é este o quadro que inicialmente deve ser informado ao leitor a respeito de Os Miseráveis, musical dirigido por Tom Hooper que estreia nesta sexta (01) e disputa o Oscar em oito categorias.
Na esteira dos fatos, cabe lamentar que o livro homônimo de Victor Hugo, obra máxima da literatura ocidental do século 19, seja mais conhecido como o musical de extraordinário sucesso da Broadway do que como o importante romance que é. Nada em demérito aos 25 anos de merecido sucesso do musical, mas a real grandeza de uma obra literária só se alcança lendo-a. De preferência, sem música.

É como melhor se poderá conhecer a história de Jean Valjean (Hugh Jackman), condenado a 19 anos de prisão por roubar um pão que tenta reconstruir sua vida. Ou a prostituta Fantine (Anne Hathaway), mulher que cai em desgraça por ser
mãe solteira. E o oficial de polícia Javert (Russel Crowe), implacável perseguidor de párias, não importando seu estado de fome e miséria. Assim vai-se à doce e apaixonada Cosette (Amanda Seyfried) e ao idealista e bravo Marius (Eddie Redmayne). Todos eles e mais outros presentes, fielmente ao livro, no longo musical de Hooper.


Mas nesta adaptação, é preciso dizer que o problema não está em atravessar sua longa duração, passada de cantoria em cantoria. A história que Victor Hugo escreveu há mais de 150 anos é suficientemente fascinante e comovente para segurar nossa atenção. Da mesma forma, as canções do musical, como comprovam seus 25 anos de sucesso nos palcos, são boas o bastante. Por isso, mesmo a esticada duração, quase inevitável ao se buscar fidelidade (ao livro ou à Broadway), poderia ser facilmente suportada se o
trabalho de direção fosse um pouco mais dinâmico. Pois é justamente na má direção que o filme perde sua força e seu poder de fazer as horas passarem.


Esse arrasto das horas acontece porque, ao contrário do que pode parecer num primeiro momento, essa adaptação sofre de uma cansativa pobreza de recursos visuais. Não que a direção de arte seja ruim. Ao contrário, o trabalho foi bastante bem feito, ainda que não de forma brilhante.


A pobreza de Os Miseráveis está no modo apequenado como ao longo do filme se desenha sua mise en scène*. E isso fica patente no uso exagerado de planos fechados, em especial no rosto dos atores cantando, revelando a falta de criatividade na construção da narrativa visual.


Essa opção de aproximação empobrece o cenário e empobrece também o inevitável tom operístico do musical. Ao exceder-se no modo como aproxima os atores do público, deixa-os descontextualizados na cena, o que acaba por burocratizar a narrativa e o dinamismo das cenas. Perde-se com isso a fluidez, algo indispensável para um musical, mesmo que a opção tenha sido por pouquíssimas cenas de dança e coreografia.


Quando à questão dos atores e suas canções, admitindo minha ignorância na seara da música e do canto, não soaram ruim aos ouvidos, como tampouco sobressaem-se nas interpretações. Na atuação, pode-se destacar Anne Hathaway e Hugh Jackman, mas sem grandes entusiasmos.

Figurando entre os candidatos ao Oscar de melhor filme, mas sintomaticamente, não ao de melhor direção, Os Miseráveis é um musical que se pretende grandioso (e a primeira cena do filme até faz crer que assim será), de épicas emoções. Mas fica mais na pretensão. De grandeza mesmo, o mais perto que chega é no tempo de sua duração.
-
(*) expressão francesa que, grosso modo, diz respeito à câmera em relação aos atores e ao cenário, os movimentos dentro do enquadramento ou do próprio enquadramento, a composição do plano etc.


 

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