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FEBRE DO RATO


por Beto Besant

O filme conta a história de Zizo (Irandhir Santos), um poeta que vive de produzir seu pequeno jornal (com título homônimo ao filme) para divulgar seus ideais de liberdade e anarquia.
Na sua vida pessoal, costuma manter relações sexuais com mulheres mais velhas e feias. Tudo começa a se alterar ao conhecer Eneida (Nanda Costa). A jovem percebe a imediata atração sexual que causa em Zizo e passa a fazer um jogo de "gato e rato" com ele. Tem interesse por ele mas não se deixa levar por seus desejos, o que faz com que o poeta fique cada vez mais atraído e perturbado com a garota.
Paralelamente, o sempre sensacional Matheus Nachtergaele interpreta Pazinho, um coveiro que vive um casamento conturbado com a travesti Vanessa (Tânia Granussi).
Completam a história, Juliano Cazarré, Mariana Nunes, Vitor Araújo e Hugo Gila, que moram juntos e se relacionam sexualmente de forma concensual e libertária.
Febre do Rato, terceiro longa metragem do polêmico diretor pernambucano Cláudio Assis, levou oito prêmios no Festival de Paulínia (ator, atriz, fotografia, montagem, filme, direção de arte, trilha sonora e melhor filme pela crítica).
Não é o melhor trabalho do diretor, porém ainda está muito acima da média das produções brasileiras (mesmo sendo um filme de baixo orçamento). O personagem Zizo é quase uma personificação do diretor, como se estivéssemos assistindo um documentário sobre Assis.
Perguntado sobre isso, Assis diz que é um misto de Zizo e Pazinho, pois quer "transar com a menina bonita e gostosa mas pode sentir amor por um travesti".
A fotografia de Walter Carvalho mostra a cidade de Recife de forma crua e visceral, utilizando-se um um preto e branco, apresentando a cidade na ótica da população da periferia. O roteiro de Hilton Lacerda tem o grande mérito de ser o reflexo da personalidade expansiva do diretor.
Febre do Rato tem várias cenas de nu (como costumam ser os filmes de Cláudio Assis) que podem incomodar o público mais conservador, porém não estão lá gratuitamente, são um meio de expressar o ideal de liberdade propagado pelo diretor e consequentemente pelos personagens.
Assis é o típico diretor do "ame ou odeie", seus filmes (Amarelo Manga, Baixio das Bestas e Febre do Rato) nunca passam despercebidos, sempre carregam críticas positivas e negativas e uma leva enorme de defensores e "rivais". Mas se tem algo que seja indiscutível é sua paixão pelo cinema e a forma passional com que conduz sua obra.
O título refere-se a uma expressão nordestina usada para dizer que alguém está fora de controle. O que podemos perceber é que a população do filme pensa se tratar do caso do protagonista, que por outro lado entende que este seja o caso da população. Algo como aquele tradicional símbolo oriental onde a cobra come o próprio rabo.
Normalmente se diz que poetas se alimentam de amores não correspondidos para realizarem sua obra. Como no caso deste filme, o tema é tratado mais como função orgânica do que como ligação emocional, o sexo que não acontece entre Zizo e Eneida alimenta a verve poética do artista.

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