Segundo longa metragem do parisiense Marc Fitoussi, Copacabana conta a história de uma mulher inconsequente. Apaixonada por música brasileira, a personagem interpretada pela talentosíssima Isabelle Huppert sonha morar no Rio de Janeiro. Até o dia em que descobre que sua filha não a quer em seu casamento, então passa a sentir necessidade de conseguir um emprego para poder dar um presente digno a ela. Muda-se para a Bélgica para trabalhar com venda de apartamentos populares e lá se vê num ambiente hostil, onde todos buscam desesperadamente seu sustento e detestam as funções que realizam.
A experiente atriz domina com maestria todos os meandros da personagem, consegue encontrar o perfeito tom de Dramédia necessário para tornar a personagem “real”.
A personagem inicia o filme de forma irritante e desprezível, causando confusão por onde passa e tentando sempre obter vantagem sobre as coisas. Aos poucos vamos notando que ela “não é de todo mal” e lentamente vamos simpatizando com ela, ao mostrar seu lado divertido, escrachado e humano de encarar a vida.
É o tipo do filme que se perderia sua essência se a atriz escolhida para o papel principal não tivesse pleno domínio do personagem.
Quem interpreta a filha da protagonista “Babou” é a atriz Lolita Chammah (filha de Isabelle Huppert na vida real). A jovem atriz está muito bem interpretando uma filha que tem vergonha de sua mãe e de certo modo mimada, chegando até a provocar repulsa e um sentimento oposto ao do início do filme, onde nos solidarizamos com ela ficando contra a imagem repulsiva de sua mãe.
Apesar de ser anunciado como uma comédia, o filme é muito mais do que isso, pois oscila entre comédia, drama, romance, road movie e outros gêneros com “precisão cirúrgica”.
A direção é concisa, não deixa os personagens caírem em estereótipos (o que seria fácil para filmes do gênero), os atores estão muito bem situados (existe uma “química” entre eles) e o roteiro, assinado pelo próprio diretor, consegue desviar de piadas obvias (o que este tipo de filme poderia sugestionar a um roteirista menos experiente).
A trilha sonora (especialmente para nós brasileiros) é muito agradável, recheada de música brasileira da melhor qualidade, passando por Jorge Bem (na época em que ainda não tinha o “Jor” no nome), Chico Buarque, Astrud Gilberto, etc.
A única coisa que o filme “peca” é quando apresenta mulatas dançando samba. Para nós que estamos acostumados a ver as grandes escolas de samba, sabemos que o que elas dançam no filme é “samba de gringo”. E que qualquer criança de comunidade carioca dança cem vezes melhor do que as mulatas mostradas no filme. Problema que dificilmente será percebido em outros países. Mas este problema é “perdoável”, considerando que é uma produção europeia (e que por isso não tem o conhecimento que nós brasileiros temos sobre o assunto) e todo o resto do filme, que é de esmerada qualidade.
É muito bom (talvez ufanismo de minha parte) assistir a um filme feito na Europa, com uma das grandes atrizes francesas do momento, onde nossa música é tão valorizada. Até mesmo ouvir bossa–nova com claro sotaque francês se torna agradável. Talvez isso também seja pelo fato de que essa música (tão respeitada em todo o mundo) seja tão desvalorizada em seu próprio país. Mas isso já é uma outra história...
São 107 minutos que passam de forma muito agradável, o filme tem duração adequada para contar a história de forma plena. Com este filme, Marc Fitoussi nos deixa uma boa expectativa sobre seus futuros trabalhos. Demonstra ser um roteirista e diretor maduro, para a pouca idade e experiência que possui. Deve ser um dos cineastas que irão manter a dignidade do cinema francês por mais algumas décadas.
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