por Tiago Paes de Lira
A trama de Sétimo é assustadora para qualquer pai. E a tensão por se passar em espaços confinados e relativamente conhecidos preocupa mais ainda a busca ao parecer tudo muito improvável ou, ainda, impossível. A trama se desenvolve com alguns bons momentos e com boas atuações. Porém, em algum momento perde-se o interesse inicial e o que temos é mais uma história que ficará num limbo, num sentimento de filme mediano, mas que não desperta a vontade de revê-lo a curto – sequer médio – prazo.
Sebastián (Ricardo Darin) é um advogado que está para se separar de Delia (Belén Rueda). Já vivendo assim, ele se encarrega de levar os dois filhos à escola. O pai entra em desespero quando descobre que seus filhos desapareceram enquanto desciam as escadas do sétimo andar até o térreo.
O roteirista e diretor Patxi Amezcua faz uma desconstrução interessante do personagem. Um advogado que, ao menos no storytelling, deveria ser equilibrado e justo é acusado de trabalhar somente para corruptos e delinquentes. E os questionamentos que a audiência faz demoram em acontecer com o protagonista. Enquanto vamos assistindo, aos poucos as possibilidades passam por nossa cabeça: um sujeito estranho que Sebastián cruzou no elevador, o caso recente que está cuidando, o porteiro que seria o único a ter acesso aos filhos antes dele. Uma desculpa é que naquela tensão, nem mesmo as perguntas mais óbvias passavam pela cabeça dele. Se isso serve, vai de cada cabeça.
O espaço confinado do elevador e do prédio de poucos andares funciona para aumentar a tensão e levanta outra questão que se reflete no final do filme: quanto se conhece a pessoa que está do seu lado? Sebastián interpela todos os seus vizinhos, e nenhum se dispõe a ajudar, a não ser o delegado Rosales (Osvaldo Santoro). Ainda assim, a paranoia e o medo do pai se espalham o que o faz desconfiar de quase todos, o que também tira seu foco.
É importante sempre fazer perguntas num filme de suspense. Em primeiro lugar, quem lucra? Em segundo, como poderiam pessoas desaparecer num lugar desses sem que se passasse pela porta da frente? Ao apresentar as respostas, o filme mostra mais furos do que uma situação sólida necessária. Funciona por uns poucos momentos para depois entrar em colapso dentro de si mesmo.
Sétimo tem alguns momentos interessantes, como notamos quando a fotografia do apartamento onde as crianças moram está iluminado enquanto eles ainda estão lá, e depois do sumiço delas, o lugar perde o brilho, dizendo que elas eram a luz daquele lugar. Com pouca afetividade, vai ser considerada uma obra menor de Ricardo Darín – e do excelente cinema argentino –, ainda que valha ser assistido simplesmente por sua presença, um ator que carrega uma aura de quase herói de ação – ou seja, não mexam com ele.
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