por Antonio Carlos Egypto
Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) é um adolescente de 14 anos, em busca de espaço para sua privacidade e autonomia. Tem problemas e dificuldades no relacionamento com colegas, já que é um tanto intolerante e ríspido. Em casa, com a mãe, o conflito é ainda mais intenso, já que envolve um amor edipiano explicitado, em meio a constantes brigas e discussões.
Olívia (Tea Falco), irmã mais velha de Lorenzo por parte de pai, fazia com muito talento fotografia artística, até afundar na dependência de drogas, especialmente da heroína, de forma intensa.
Lorenzo e Olívia são os dois personagens que conduzem a trama do novo filme do grande diretor Bernardo Bertolucci. Por razões diversas, eles acabam convivendo, por um período de tempo, num porão, escondidos das outras pessoas. O encontro se dá de modo fortuito, inesperado para ambos. É por aí que se apresenta a oportunidade do convívio que resulta em conhecimento mútuo, já que, apesar de irmãos, eles estavam separados e nunca se viam.
Criar uma situação que confina dois personagens por um período de tempo facilita a exposição das diferenças do mundo de ambos, do que é difícil de enfrentar para cada um e de que modo esses mundos podem se tocar e se entender. O que interessa ao diretor é trabalhar sentimentos, expectativas e as relações possíveis entre os irmãos. Consequentemente, o que muda em cada um com esse convívio forçado e confinado.
A transformação dos personagens e da relação entre eles vai sendo mostrada de forma progressiva e realista, apesar da situação artificial criada. “Io e Te” não cai na cilada da redenção, traz esperanças, mas mantém os limites. Crescer e mudar é possível, mas não esperemos milagres. É por aí.
Bernardo Bertolucci, um dos grandes nomes do cinema italiano, faz mais um trabalho rico e intrigante, focado em relacionamentos humanos, o que é uma constante na sua obra. Basta lembrar de “Os Sonhadores”, de 2004, ou de “O Último Tango em Paris”, de 1972, ótimos filmes que também colocam personagens em espaços fechados por um bom tempo.
Evidentemente, a trajetória de Bertolucci é tão marcante que há muito mais do que isso em filmes notáveis, como “Antes da Revolução”, de 1964, “O Conformista”, de 1970, “1900”, de 1973, “La Luna”, de 1981, “O Céu que nos Protege”, de 1990, “Beleza Roubada”, de 1996, ou “Assédio”, de 1998. É um autor cinematográfico, que sempre tem muito a dizer, com belas imagens.
Io e Te foi um dos filmes exibidos na mostra contemporânea do 8º. Festival de Cinema Italiano no Brasil, em 2012, e agora chega ao circuito comercial dos cinemas.
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