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O CAVALO DE TURIM (Wa Turinói Ló)


O Cavalo de Turim : Poster

                                                                                           Antonio Carlos Egypto

Béla Tarr é um cineasta húngaro, nascido em 1955, que tem um trabalho autoral rigoroso e radical. Seu cinema é feito de longos planos sequência, com muitas repetições de atos silenciosos e brigas ou desentendimentos verbais, onde as palavras e expressões de ofensa ou mágoa também podem se repetir muito. É um trabalho artístico, que põe sua beleza a serviço de uma visão desesperançada do mundo.

Para quem nunca viu um filme de Béla Tarr, o que escrevi aqui pode assustar ou desestimular o interesse por seu cinema. Sim, é um cinema sofrido, porém, desafiador, capaz de nos transportar a universos e situações em que mergulhamos tão intensamente que saímos da experiência tocados por sensações e sentimentos fortes, mas que nos levam a refletir sobre o que vivenciamos ali.

O mais recente filme do diretor, concluído em 2011 e agraciado com o Urso de Prata do Festival de Berlim, é O Cavalo de Turim, que o cineasta afirma que deve ser sua última produção cinematográfica. Uma pena, se essa intenção se confirmar.

No texto de abertura do filme lê-se o seguinte: “Em Turim, em 03 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche sai do imóvel da Via Carlo Albert, número 6. Não muito longe dali, o condutor de uma carruagem de aluguel está tendo problemas com um cavalo teimoso. O cavalo se recusa a sair do lugar, o que faz com que o condutor, apressado, perca a paciência e comece a chicoteá-lo. Nietzsche aparece no meio da multidão e põe fim à cena brutal, abraçando o pescoço do animal, em prantos. De volta à sua casa, Nietzsche então permanece imóvel e em silêncio, durante dois dias, estendido em um sofá, até que pronuncia as definitivas palavras finais (“mãe, eu sou um idiota”) e vive por mais dez anos, mudo e demente, sendo cuidado por sua mãe e suas irmãs. Não se sabe que fim levou o cavalo.”

O filme passa, então, a mostrar a vida de um condutor de uma carroça, de sua filha e do cavalo. Não há qualquer referência a Nietzsche, além do texto inicial. O Cavalo de Turim, na realidade, nos mostra a vida miserável desses personagens, numa habitação do século XIX. Os únicos pertences são uns poucos móveis rústicos, alguma roupa, lenha, fogão, água e batatas.

Fora da casa, um poço que provê a água e o estábulo, com o cavalo e a carroça. Passamos a viver intensamente o cotidiano dessa casa, onde os movimentos e os gestos se repetem, quase nada se fala e um vento forte e permanente aparece quando se sai da casa, se abre a porta ou se olha pela janela. A paisagem externa é desoladora, assim como o interior da casa. Se não existisse uma reserva de batatas, a fome se imporia de forma absoluta. Ou se o poço um dia secar...

As imagens em preto e branco, os enquadramentos perfeitos, mas quase imutáveis e a rotina minimalista dos personagens, captadas por meio de planos sequência longuíssimos, conseguem nos transportar para a vida no limite da fome e da morte, em pleno final do século XIX.

Os poucos elementos em cena são também essenciais para a obtenção desse efeito. Estamos em outra época, em outro mundo. No entanto, nos deparamos com uma questão que permanentemente tem desafiado a existência humana em todas as épocas: a erradicação da miséria. Impossível não se sensibilizar para essa questão, após assistir a O Cavalo de Turim.

O símbolo do cavalo é também muito bem explorado, desde a sua movimentação intensa, no início do filme, até sua paralisia completa, em que ele prenuncia e como que escolhe seu fim.

Uma obra de arte soberba, extremamente sofrida, difícil mesmo de assistir. Mas uma obra maiúscula. Radical em todos os sentidos. É até uma surpresa que esteja sendo lançada comercialmente nos cinemas, embora com muito atraso. De qualquer modo, atingirá um público reduzido, que terá condições de apreciar tal experiência cinematográfica. Os que entrarem no cinema desavisados ou serão tocados fortemente pelo filme, ou se ausentarão antes do seu final. Experimentos radicais geralmente produzem respostas de amor intenso ou ódio profundo. Não é assim?


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WHITE GOD (Fehér Isten)

White God : Poster
por Beto Besant

De tempos em tempos, surgem no cinema histórias de ataques de animais, seja ratos, aranhas, piranhas, tubarão, ou qualquer outro. Da mesma forma que Lars von Trier mostrou com Melancolia (2011) que é possível fazer filme de catástrofe sem ser um enlatado acéfalo, aqui, o diretor Kornél Mundruczó mostra que é possível fazer filme de revolta animal sem ser uma bobagem rasa.

Na trama, a mãe de Lili (Zsófia Psotta) viaja e deixa a filha e seu cão Hagen com o pai da menina (Sándor Zsóter). Recusando-se a pagar a taxa cobrada pela prefeitura de Budapeste para ficar com um cão sem raça pura, o pai abandona-o na rua. Enquanto a menina faz de tudo para recuperar seu animal de estimação, o cão passa por um sério processo de embrutecimento, tornando-se completamente diferente do que era.

White God : Foto

O filme é bem conduzido - ao contar de forma fria e racional uma história que facilmente resvalaria num melodrama ao estilo Disney ou num terror thrash ao estilo A Invasão das Aranhas Gigantes (1975) - mas deixa várias arestas elo caminho. Desde o roteiro (que deixa algumas pontas soltas) à realização (que abusa de câmera tremida).

A montagem também tem seus altos e baixos. No 2º ato, o filme perde seu ritmo, vindo a recuperá-lo no 3º ato, onde flerta com o terror de forma muito sólida.

White God : Foto Sándor Zsótér, Zsófia PsottaOs cães foram muito bem treinados e realmente convencem durante todo o filme. Para quem é apaixonado por cães (como eu) algumas cenas dão aflição, porque, mesmo sabendo que existem truques de montagem e toda uma legislação que protege os animais, alguns momentos dão a sensação de que os cães estão realmente sendo judiados para que as cenas se tornem realistas.

É praticamente impossível não associar a discriminação que sofrem os cães de raças misturadas do filme com a discriminação entre os homens. Obviamente - e muito por conta do cinema - pensamos primeiramente na segregação judaica da Segunda Guerra Mundial, mas depois começamos a levar o raciocínio a outros povos que passam pelo mesmo problema até os dias atuais.

Com erros e acertos, White God é uma experiência muito interessante de cinema, daquelas raras de se ver. E com uma condução mais rara ainda.
Portanto, para quem gosta do cinema que vai além de pipocas enlatadas, não deve perder este filme.



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O ABRAÇO DA SERPENTE (El Abrazo de la Serpiente)

O Abraço da Serpente : Poster

por Antonio Carlos Egypto

Os relatos de dois cientistas e exploradores da região amazônica são a base do roteiro do filme colombiano O Abraço da Serpente, dirigido por Ciro Guerra. O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1862-1924) explorou a região amazônica da América do Sul e estudou os povos da floresta. Morreu no Brasil, na cidade de Boa Vista. O botânico norte-americano Richard Evans Schultes (1915-2001) explorou a mesma região, interessado especialmente em uma planta, descoberta e citada nos relatos de Koch-Grünberg: a yakruna.


O filme constrói uma narrativa que dá vez e voz aos conhecimentos, crenças, lendas e tradições dos povos indígenas da região da Amazônia colombiana, a partir do personagem Karemakate, em dois tempos. Primeiro, como último sobrevivente de seu povo, vivendo isolado selva adentro. Desconfiado e crítico, por razões óbvias, do homem branco e da exploração da borracha, que trouxe a desgraça e dizimou seu povo. Depois, em outro tempo, como um xamã esquecido, perdido na sua mata, vivendo problemas de identidade em decorrência das faltas de referência e de memória.


Nos dois tempos, há o convívio complexo e conflitivo com os cientistas exploradores. E também a possibilidade de aprender com brancos que não desejam destruir os aborígenes ou explorá-los, mas conhecê-los, valorizá-los, divulgar seus conhecimentos.

A narrativa se desenvolve na forma de uma aventura, que traz perigos, desencontros e vai revelando o que se encontra nessa floresta: o que resta de seus povos de origem, a exploração a que estão expostos, o uso religioso equivocado e autoritário, encontrado em alguns locais. Com direito a manifestações tresloucadas e messiânicas, que não libertam, oprimem.

A natureza é exuberante, evidentemente. E bem explorada nessa aventura. Uma bela fotografia em preto e branco se encarrega de ressaltá-la. O nosso anseio estético pediria que o filme fosse a cores. Seria ainda mais atraente. Poderia se tornar mais exótico, turístico e não tão propenso ao uso reflexivo? Não creio. Em dois momentos, no início e no fim do filme, imagens de formas geométricas a cores são inseridas. Remetem ao futuro? À passagem do tempo?

Sem dúvida, o tempo joga um papel relevante em O Abraço da Serpente. Coisas, lembranças, memórias, são levadas pelo tempo. Povos inteiros se desfazem e desaparecem, ao longo do tempo. Pela ação predatória dos seres humanos, toda uma tradição e uma identidade tendem a desaparecer. Se considerarmos que metade da superfície da Colômbia está na região amazônica, há aí uma forte perda do próprio significado de nacionalidade.

Que sentido tem hoje para todos nós a busca por uma planta divina que cura e ensina a sonhar? Essa foi a razão de ser de uma expedição científica em busca dessa planta, a yakruna, que, na realidade, simboliza a própria existência de, pelo menos, um povo indígena que está desaparecendo.


O resgate do conhecimento dos povos na floresta, intimamente relacionado à vivência com a selva, sua água, seus animais, sua multiplicidade de plantas, envolve uma questão cultural, antropológica, da maior relevância. O filme contribui para valorizar tudo isso, apontar para o que está sendo perdido e o que ainda pode ser recuperado, por meio de um personagem indígena que é o centro da narrativa. Através dele nos integramos à realidade da floresta amazônica, que também nos diz respeito e muitas vezes nem nos damos conta disso.

O elenco de O Abraço da Serpente nos leva para dentro da dimensão amazônica, como se estivéssemos fazendo parte daqueles povos e dos exploradores que vêm do mundo desenvolvido, em busca de sua cultura. É muito convincente o desempenho dos atores. Trata-se de uma experiência que vale a pena e mostra a força do cinema colombiano atual. O filme está entre os cinco finalistas do Oscar 2016 de filme estrangeiro, o que é um reconhecimento importante, em termos de mercado.


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PRESSÁGIOS DE UM CRIME ( Solace)


por Leonardo Granado

O paranormal John Clancy (Anthony Hopkins) é chamado pelo FBI quando dois agentes - Joe Merriwether (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine Cowles (Abbie Cornish) - se veem diante de um serial killer que não deixa nenhuma pista (salvo as que ele escolhe deixar). No decorrer da investigação o trio se vê diante de uma nada grata surpresa: o assassino também é paranormal. E é um paranormal mais talentoso que o novo aliado do FBI. Ou seja : Fo deu

Confesso que sou o tipo de cara que vai ver um filme apostando no trabalho de um ator ou atriz que eu goste, ou então um diretor. E claro que como bom cinéfilo eu pago um pau pro Anthony Hopkins. O nosso eterno Hannibal Lecter/Odin é aquele tipo de ator que mesmo atuando no automático já apresenta um desempenho acima da média. E nesse filme, não é excessão. Ele tá no automático, mas porra cara, é o Hopkins, he fucking earned! O filme é dele (literalmente, uma vez que ele também é um dos produtores executivos), pra ele, o personagem dele é o de maior destaque, mas não espere a melhor atuação dele, nem de longe. Em contraponto, o seu personagem é um tipo bem interessante de se acompanhar e torcer: um herói sofrido, atormentado pelo seu dom e pela morte prematura da sua filha. John Clancy é desses personagens de várias camadas que só um bom ator como o Hopkins poderia interpretar com tamanha naturalidade. Legal acompanhar as camadas do personagem se desvendando em sutilezas pra gente, por sinal a última camada na última cena foi a mais dahora. 

Presságios de um Crime : Foto Anthony HopkinsOutros dois destaques do elenco são os atores que fecham o trio que caça o assassino: o talentosíssimo Jeffrey Dean Morgan (o "comediante" do filme Watchmen) e também a boa atriz Abbie Cornish (fez Robocop do Padilha e também aquele filme Sem Limites, em ambos os casos ela interpretou o par romântico dos protagonistas). São dois atores que eu gosto, mas que aparecem em poucas produções. Eu chamo isso de "ser mal aproveitado por Hollywood" uma vez que são bonitos, talentosos e carismáticos, mas aparecem em poucos filmes. Talvez o jogo mude pro Jeffrey uma vez que ele vai interpretar O vilão nessa sexta temporada de The Walking Dead. Bora torcer pra ele ganhar mais visibilidade e novos papeis depois dessa série. 

Por último no elenco temos o assassino, mas eu deixei por último porque pra mim não tem essa de "at last, but not least": Collin Farrell (Miami Vice, Demolidor da Fox). Ele não é um mau ator, mas também não é bom. Considero mediano pra baixo, mas ele tá em filmes legais. Sei lá, pra mim ele é como o Tom Cruise, faz sempre a mesma atuação em todo filme. O que no caso do Farrell é arregar o olho e mandar o texto, enquanto o Tom Cruise abre aquele sorriso e mete o texto. Mas sei lá, é só a minha opinião e confesso que pode ser implicância também. Posso dizer que nesse filme em questão ele foi bem dirigido.

Presságios de um Crime : Foto Abbie Cornish, Anthony Hopkins
E falando em direção... (sentiu a preparação pro gancho, né? eh eh eh) o brazuka Afonso Poyart. Lembra quando eu falei no começo que sou o tipo de cara que vai no filme pra ver alguém que admira? Pois bem, eu fui seco pra ver Odin - pai de todos - e também o Afonso Poyart, diretor do excelente filme nacional 2 Coelhos (sério, se você não conhece esse filme tá marcando touca). Eu gostei, gosto muito do 2 Coelhos, apostei nele desde que vi o trailer e foi uma grata surpresa naquele ano. Sabe aquele máxima que falam às vezes que "cinema nacional não tem filme de ação porque não tem diretor brasileiro que saiba fazer"? Então, esse cara sabe fazer. Tanto que no longa de estréia mandou tão bem que foi chamado pra esse filme em questão. Então, eu fui muito curioso pra ver esse filme, essa nova empreitada do cara, agora em solo americano. Mas também fui com medo de me decepcionar sim, porque cinema lá fora fazer cinema é diferente daqui, diretor tem menos liberdade, menos voz ativa e tal. Poucos foram os brasileiros que saíram daqui pra dirigir lá e mandaram bem, os dois últimos exemplos que me vem a cabeça são o Fernando Meireles (Cidade de Deus) que dirigiu lá fora o Ensaio sobre a Cegueira - que eu adoro - e mais dois outros filmes, esses medianos na minha opinião (O Jardineiro Fiel e 360); e também temos como exemplo o diretor José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2) que lá fora mandou bem pra caramba no remake Robocop e na série Narcos. Mas voltando ao Poyart, ele foi tão bem na direção do Presságios de um crime quanto seus dois colegas que citei. Ouso dizer que talvez em alguns momentos ele tenha sido ainda melhor que eles, porque em algumas cenas você vê nitidamente a "mão do diretor". E um diretor brasileiro no seu segundo longa conseguir isso em um trabalho de estréia nos EUA, é de tirar o chapéu. Foi uma direção competente, fluida e harmoniosa. Trilha sonora bem pautada também que nos coloca no clima. Curti mesmo a direção, até deu vontade de rever o 2 Coelhos uma vez que eu vi "cheiro de 2 coelhos" em duas cenas bem legais do filme (da mina na banheira e a perseguição no estacionamento - duas das mais legais visualmente).

Último destaque da equipe do filme que eu gostaria de ressaltar é o montador Lucas Gonzaga. É uma edição fluida, gostosa de assistir, te prende e tal. E qual não foi a minha surpresa ao ver outro nome brasileiro nos créditos? Fui pesquisar agora o nome do cara e vi que ele editou outros filmes que eu adoro também: "A Busca", "Entre Nós" e o próprio 2 Coelhos - do Poyart. Achei isso super do caralho do Afonso Poyart, ter a liberdade de levar um montador que ele conhece e confia. Sucesso.

Se vira nos 20

Eu tenho uma regra que venho seguindo nos últimos tempo ao ver filmes em casa, a "regra dos 20 minutos" que basicamente é: o filme apresentou de forma clara e precisa o tema do filme, conflito e protagonistas em 20 minutos ou menos? Te prendeu e deu vontade de ver o desfecho da história? É o tempo em média que os filmes levam pra fazer isso, mas claro que há excessões do tipo o filme te ganhar na primeira cena e tal. E cara, fatal, se não me ganhou nesse tempo, desculpa mas eu desencano do filme.

Então tendo isso em mente, surge a pergunta: o filme se vira nos 20? Cara, com o pé nas costas. Em 20 segundos só ouvindo a voz do Hannibal tu que é fã já fica animado, rsrsrsrs. Mas falando sério: de forma simples e eficaz o diretor consegue apresentar os personagens, te coloca no filme e tu não quer sair mais. Cativa e te prende. E o melhor, não deixa a peteca cair no decorrer da história (mal de muitos filmes).

Presságios de um Crime : Foto Colin FarrellE a pergunta mais importante que me fizeram hoje : "Presságios de um crime" vale a pena? Cara, vale! Se você é fã de suspense, thillers policiais, vale sim. Filme que te prende e te leva junto sem você nem ver. Deixa apreensivo também sem apelar. 

Eu não vi trailer e nem li a sinopse, já confessei que o que me chamava a atenção era o ator e o diretor e confesso ainda que ao ficar sabendo que tinha personagem paranormal ajudando em investigações eu fiquei meio cético, achei quase bobo. Mas na boa, no desenrolar do filme e ao ver como o diretor transformou em imagens as premonições do personagem do Hopkins, o filme ficou bem mais interessante.

E pra finalizar, outra grata surpresa foi a ausência de clichês básicos que filmes do gênero uma hora ou outra acabam usando. Não que seja "O" filme originalzão, mas sei lá, filmes americanos ultimamente tem me irritado por excessos de clichês mais ainda do que os exageros. Tipo, começa e eu já sei o que vai acontecer de tanto que um filme chupa de um outro. Já o Presságios de um crime não incomodou nesse sentido, se teve clichê eu nem senti, foi super de boa. 

Curti mesmo o filme, típico filme que eu assisto fácil de novo. Recomendo. Pode xavecar a namorada de ir pro cinema que nem ela vai reclamar.


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O BONECO DO MAL (The Boy)


por Diego Castro

Filmes de terror são sempre uma incógnita. Quando você está no cinema nunca sabe o que vai ser, uma obra prima ou uma bobagem cinematográfica. Às vezes você tem sorte, as vezes não, e assim fui ver o Boneco do Mal: bem otimista.

O enredo, conta sobre Greta (Lauren Cohan), que acabara de sair de uma relação abusiva, conseguindo um emprego em uma mansão onde vive um casal idoso que tem como filho um boneco de porcelana. Greta precisa cuidar do suposto "filho" do casal enquanto eles estão de viagem, até que começam a acontecer coisas estranhas na casa, talvez relacionadas ao boneco.

Boneco do Mal : Foto Lauren Cohan

A produção começa prometendo um bom filme, com reviravoltas e tensão em cada canto da mansão mal-assombrada. O clima nos 20 minutos iniciais são sólidos - nada grandioso - contudo bem sólido. O problema é quando as peças do quebra-cabeça começam a se formar e não fazem sentindo algum, a consistência do roteiro fica risível. Ao chegar no segundo e terceiro ato, o público não consegue levar o filme a sério, mesmo tentando ser assustador.

Boneco do Mal : Foto Lauren Cohan
Existem muitos clichês, o que não é um problema se o diretor sabe usar esses clichês como vantagem. Aqui eles prejudicam o ritmo do filme, tudo dentro da premissa de um boneco possuído é subutilizado, nada é desenvolvido. A direção poderia ter desenvolvido o clima de tensão, os atores não sabem o que estão fazendo, falta precisão para conseguir uma performance convincente.

Não foi dessa vez que o sai do cinema feliz. Esta - sem dúvida - não foi uma obra prima. O roteiro de Stacey Menear e a direção de Willian Brent Bell são fracos, os atores entregam performances dignas de novela brasileira ruim, deixando a premissa ficar boba e sem lógica. Em últimas palavras O Boneco do Mal é uma bobagem cinematográfica.


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13 HORAS - OS SOLDADOS SECRETOS DE BENGHAZI (13 Hours - The Secret Soldiers of Benghazi)


por Diego Castro

Filmes do diretor Michael Bay nunca foram sucesso entre os críticos, contudo sempre tiveram êxito de bilheteria. Ao menos era assim. Apesar de ainda alcançarem quantias exorbitantes de dinheiro, o lucro desses arrasa-quarteirões, vem caindo e as críticas aumentando. Até mesmo os fãs ardorosos reclamam dos longas, acusando de serem sem conteúdo, apenas focados nas cenas de ação. Agora o diretor faz um novo trabalho, baseado em fatos reais.

13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi : Foto Dominic Fumusa

O filme começa com Jack (John Krasinski), um soldado que deixou sua família para poder servir a CIA em uma base secreta - onde sua equipe precisa proteger o local - depois da morte do embaixador.

Você entra em um filme dirigido por Michael Bay, esperando certas peculiaridades: câmera girando, humor constrangedor, cenas ao pôr do sol, bandeira dos EUA ao vento. O curioso é que neste filme ele parece contido, tentando mudar sua imagem de "Senhor das Explosões" para algo sério, e é aí que está o problema, o resultado não é satisfatório.

13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi : Foto Max Martini
Michael Bay não consegue colocar as nuances necessárias para atingir esse objetivo, se rendendo ao estilo que o transformou no que é hoje. Todas as peculiaridades dele estão lá, é visível que os atores - apesar de trabalharem com pouco - estão se esforçando ao máximo.

O roteiro é competente, e outro diretor poderia ter a habilidade de deixar a história ambígua, explorando os tons de cinza que este conflito pode gerar, ou até a psique do soldado. Apesar de que é justo dizer que o diretor consegue arranhar esses conceitos, que deixariam o longa-metragem mais forte. O filme entretém quando tem ação, balas voando, explosões, etc.

Resumindo: essa história emocional e humana virou outro filme, com o selo Michael Bay, cheio de explosões e sem conteúdo.


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HORAS DECISIVAS (The Finest Hours)


por Diego Castro

Um verdadeiro filme Disney. Mas vamos do início. Baseado em um livro - que por sua vez é baseado em fatos reais - contando uma história de resgate feita pelo navio da Guarda Costeira, que tenta salvar um petroleiro divido pela metade, com poucas horas para o retirar os marujos antes do naufrágio.

Dentro dessa tempestade de acontecimentos (trocadilho não intencional), temos vários núcleos espalhados nessa epopeia, o principal sendo liderado por Bernie Webber (Chris Pine), o piloto que precisa fazer esse resgate impossível. O segundo pertencendo à tripulação do petroleiro, que tenta encontrar uma solução desesperada para não afundar, guiados por Raymond Sibert (Casey Affleck).

Horas Decisivas : Foto

O enredo é de fato incrível, sem dúvida daria um ótimo filme ao estilo Titanic (1997). O longa tenta fazer algo parecido com o filme de James Cameron, falhando em muitos aspectos importantes, perdendo o foco e não conseguindo evoluir em nenhuma das tramas abordadas.

Diferente do casal protagonista de Titanic, Chris e Holliday não funcionam como casal, não possuem carisma. A química entre os dois parece forçada, o diretor não consegue expelir o necessário para alcançar o drama do resgate.  É perceptível o desconforto do diretor Craig Gillespie durante as desnecessárias cenas em terra, extremamente expositivas, que acabam com o ritmo.

Horas Decisivas : Foto Abraham Benrubi, John Ortiz, Michael Raymond-JamesO filme ganha fôlego com o elenco do petroleiro, percebe-se que nessas cenas, o diretor está confortável, o perigo é real, é quase outro filme. Casey consegue puxar o elenco do navio, numa performance sólida. Os efeitos das ondas são incríveis e o navio afundando no escuro do mar é realmente assustador. Basicamente, era o que o filme deveria ser e não foi. Quando os núcleos se misturam é um desastre, nada funciona, parece que está tudo fora de lugar.

Era para ser um filme tão épico quanto Titanic, mas alguns momentos não funcionam como deveriam e o desconforto do diretor é perceptível. Apesar da ação entreter e os marujos do navio entregarem uma boa atuação, o ritmo é prejudicado, além do excesso de clichês. Acho que não foi desta vez que a Disney conseguiu sua epopeia, quem sabe na próxima.


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OVELHA NEGRA (Hrútar)

A Ovelha Negra : Poster

Antonio Carlos Egypto

Na Islândia, um país nórdico de baixa densidade populacional, há mais carneiros e ovelhas do que gente. São cerca de 800 mil desses animais, para um contingente populacional de 320 mil pessoas. Compreensível, portanto, que Ovelha Negra construa sua narrativa em torno desse relacionamento dos seres humanos com os animais. Os irmãos Gummi (Sigurour Sigurjónsson) e Kiddi (Theodór Júlíusson) criam e cuidam de rebanhos de ovelhas e disputam entre si não só os prêmios anuais para os melhores espécimes, mas o próprio espaço comum que herdaram dos pais. E o mais incrível: não se falam há quarenta anos. O meio de contato, quando necessário, é um cachorro que serve de mensageiro.


A Islândia tem vulcões e água quente disponível em grandes proporções, mas tem um clima muito frio, em que a neve abunda e as paisagens dominadas por montanhas glaciais encantam. A terceira maior geleira do mundo se encontra lá. As geleiras ocupam 15% do seu território. Muito apropriado que no filme Ovelha Negra terríveis nevascas entrem na história e, de quando em quando, alguém tenha de ser socorrido em meio à forte neve, antes de que congele.

Grandes espaços se abrem para serem enquadrados pelas câmeras numa região de fazendas agrícolas, nos arredores das montanhas nevadas. Tudo muito bonito e tão convincente que dá para sentir o frio dentro do cinema, mesmo acabando de passar por uma temperatura de mais de 30 graus lá fora. Claro que o cinema tem ar condicionado, mas é mais do que um simples refresco o que se sente diante das imagens cobertas de gelo que ocupam a telona.


Tudo isso pode ser interessante e exótico, mas o filme de Grímur Hákonarson vai muito além. Ele nos coloca diante do problema da difícil convivência humana, que pode comprometer relações fraternas, da competitividade, do orgulho ferido, da complexa teia de comportamentos que avançam e retrocedem no afeto que as envolve, na solidariedade, a necessária e a possível, no desmoronar de barreiras aparentemente indestrutíveis.

É um filme humanista e sensível, cercado de uma natureza exuberante e muito branca, em belos enquadramentos e ovelhas por todos os lados, brancas ou negras. Conta com dois atores veteranos como protagonistas, que conduzem com muita força e dedicação seus personagens.

Ovelha Negra representou a Islândia na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, depois de ser escolhido como o melhor filme da mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes.


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DEADPOOL (idem)

Deadpool : Poster

por Diego Castro

Finalmente, o mercenário tagarela ganha as telas do cinema. Depois de 11 anos tentando emplacar o projeto, Ryan Reynolds consegue o papel da sua vida.

Após ser diagnosticado com câncer terminal, Wade Wilson recebe a proposta de curar-se, precisando passar por uma experiência secreta. Durante o processo adquire poderes incríveis e cicatrizes horríveis. Perde sua sanidade, desenvolve um senso de humor incomum e transforma-se em Deadpool, na busca por vingança do homem que arruinou sua vida. 

Deadpool : Foto Brianna Hildebrand, Ryan Reynolds

O filme passou por inúmeros problemas para sair do papel, passando de estúdio em estúdio até a Fox engavetar o projeto. Depois das críticas negativas do personagem nos testes de filmagem feitos com o próprio Ryan Reynolds em X-Men: Origins Wolverine, do mesmo diretor Tim Miller, o longa não foi para frente. Seus envolvidos cansaram de esperar - indo para diferentes projetos - parecendo que o filme nunca veria a luz do dia. 

Até que o esse mesmo teste de filmagem caiu na internet e tomou os fãs por assalto. A aprovação do teste foi maciça, fazendo com que a Fox desse o sinal verde para começarem as filmagens. Os envolvidos não perderam tempo, agora temos o filme que muitos esperavam. 

Deadpool : Foto Morena BaccarinA história é direta, não existe nenhum tipo de inovação na forma como é contada: um básico conto de vingança. Estranho é seu humor - que pondera entre extremamente inteligente e totalmente bobo - chegando a ser vulgar em algumas cenas. Isso é a prova de quanto a adaptação é fiel aos quadrinhos.

Este tipo de humor pode deixar algumas pessoas desconfortáveis com sua comedia politicamente incorreta, contudo essa é a essência do personagem: ser uma paródia dos heróis nos quadrinhos (e agora nos cinemas), constantemente quebrando a quarta parede, conversando diretamente com o público e ganhando a sua audiência com essa empatia direta. 

Além das cenas de ação competentes, vale lembrar que o esse é o primeiro longa-metragem do diretor Tim Miller que se segura bem na cadeira de diretor. Deapool tem um roteiro simples e bem amarrado, mostrando que com competência, tendo o coração no lugar certo e sendo fiel, é possível fazer um bom filme de quadrinhos, apostando em um público maduro. Um ótimo pontapé inicial para os quadrinhos no cinema em 2016.


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O REGRESSO (The Revenant)

O Regresso : Poster

por Antonio Carlos Egypto

Certa vez, Alfred Hitchcock comentou que no cinema se morre facilmente, mas que matar um homem é muito mais complicado e difícil de executar. Exemplificou isso na famosa cena do assassinato no fogão, do filme Cortina Rasgada, de 1966.

O filme O Regresso, um dos mais fortes concorrentes ao Oscar 2016, mostra o personagem Hugh Glass (Leonardo Di Caprio) com sete vidas, ou seja, sobrevivendo a tudo, ao impossível, ao inimaginável. O regresso do título se refere ao retorno à vida após a morte iminente, decretada, com direito até à cova e à terra por cima do corpo. Sobreviver significa uma luta sem tréguas, uma tenacidade, uma disposição de espírito invejável, nas condições mais adversas.

Trata-se, na narrativa, de um explorador/caçador nas florestas selvagens norte-americanas, convivendo com exploradores rivais e suas armas de fogo, grupos indígenas e suas flechas, com um inverno cruel, de tão rigoroso, e com os animais na selva, ursos, entre eles. E, claro, com a cobiça e a competitividade humanas, em seus aspectos mais agressivos. 

É uma aventura épica de sobrevivência das mais incríveis e viscerais. Mostrada com muita técnica e efeitos especiais, mas de forma realista, informando que se baseia em fatos reais. Não se assemelha às habituais batalhas ao estilo videogame, em que a morte nunca parece uma questão real e possível de alcançar o herói. 


Aqui, não, o protagonista está em risco de vida o tempo inteiro. Destruído, semimorto ou renascendo das cinzas. É uma trama intensa, sofrida, violenta e, também, sangrenta. Trata-se, porém, de um filme magnificamente bem realizado, espetaculares movimentos de câmera exploram uma locação de grande beleza, que nos possibilitam uma forte imersão nessa selva inóspita, que cheira a morte, com muita ação.

A caracterização dos personagens, os figurinos, a maquiagem e um esplêndido trabalho de som, além da música também espetacular, do conhecido talento de Ryuchi Sakamoto, fazem de O Regresso um forte espetáculo cinematográfico. Capaz de aproveitar os recursos tecnológicos do cinema atual e de suas salas de exibição contemporâneas.

Não por acaso, esse espetáculo foi o que recebeu mais indicações para o Oscar. São 12, vejam só: filme, direção, figurino, fotografia, ator e ator coadjuvante, efeitos especiais, mixagem de som, edição de som, direção de arte, maquiagem e edição. Já recebeu o Globo de Ouro de melhor filme, diretor e ator. Está com tudo, no momento.

O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu tem uma carreira de grande prestígio no cinema norte-americano, pelos grandes filmes que realizou e pelos prêmios já conquistados, a partir de Amores Brutos, em 2000, premiado com o BAFTA, indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e 21 gramas, em 2003, Babel, em 2006, e com Birdman, que levou no ano passado os principais Oscar, de melhor filme e diretor.


Leonardo Di Caprio, que já levou o Globo de Ouro, desta vez leva o Oscar? Bem provável, e será merecido, sem dúvida. Aliás, até já amadureceu demais a sua vez. Será novamente a vez de Iñárritu no Oscar? Vai saber. Méritos como realização O Regresso tem, especialmente se o olharmos pelo prisma do grande espetáculo. Mas não é um filme vazio, é uma celebração da luta pela vida, uma obsessão permanente para os humanos. Nossos tempos parecem ser especialmente difíceis e desafiadores para essa luta, com tantas guerras, terrorismo, intolerância religiosa e radicalizações de todos os tipos. É, portanto, bem-vinda essa celebração.


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Entrevista: UM SUBURBANO SORTUDO

Beto Besant entrevista os atores Carol Castro, Rodrigo Sant'anna e o diretor Roberto Santucci - do filme UM SUBURBANO SORTUDO.


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TIRANDO O ATRASO (Dirty Grandpa)

Tirando o Atraso : Poster
por Beto Besant

O cinema sempre cultuou suas estrelas, responsáveis por levarem uma horda de pessoas às salas de exibição. Apesar de terem enorme cuidado ao se associarem a um novo projeto, alguns atingem um ponto que pode ser considerado "acima do bem e do mal". Este é o caso de Robert De Niro.

Muitos atores poderia ter caído no ostracismo após um ou dois filmes mal escolhidos, mas não com De Niro. Há anos vem escolhendo maus projetos - como se quisesse sabotar a própria carreira - e mesmo assim mantém sua aura intocável.

Tirando o Atraso : Foto Robert De Niro, Zac Efron

Na trama - se é que podemos chamar assim - Jason (Zac Efron) é o advogado mauricinho prestes a se casar com a controladora Meredith (Julianne Hough). Com a morte de sua avó, se vê forçado a levar seu avô Dick (De Niro) até a Flórida, numa viagem de carro. A experiência é a típica aventura adolescente, recheada de drogas, bebida e farra. Aí vem o título "tão original": tudo que o avô quer - após tantos anos casado - é fazer sexo.

Tirando o Atraso : Foto Robert De Niro, Zac EfronDirigido por Dan Mazer - que já teve melhores dias como roteirista de Borat (2006) e Bruno (2009) - o filme é uma coleção de clichês e berrações que estão longe de terem qualquer graça. É o típico filme de jovens inconsequentes sem as virtudes que o gênero possa ter. Quando o roteiro tenta criar um conflito, é tão frágil que nem uma criança de dez anos poderia acreditar que algo diferente do esperado poderia acontecer.

Além de tantos clichês mal usados, Tirando o Atraso utiliza todo tipo de nudez e escatologia possível. É o politicamente incorreto sem a ousadia e perspicácia necessários. Não pude deixar de pensar o que as pessoas diriam, se isso acontecesse num filme brasileiro.

A impressão nítida é que os produtores subestimaram o público de tal forma, que acharam que reunir um ídolo adolescente e um ícone do cinema fosse o suficiente para lotar as salas de cinema com uma história insossa. Fuja.


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CAROL (idem)


por Antonio Carlos Egypto

Uma jovem, na faixa dos 30 anos de idade, trabalhando numa loja de departamentos, setor de brinquedos, na época do Natal. Uma mulher elegante, de mais de 40 anos, vestida num vistoso casaco de peles, à procura de um brinquedo para dar de presente à filhinha de 4 anos. Seus olhares se cruzam e vê-se que uma se interessou pela outra, uma compra se efetiva e nasce daí um romance entre as duas.

Esse é o começo do filme Carol, de Todd Haynes, diretor de Não Estou Lá, em 2007, Longe do Paraíso, em 2002, e Velvet Goldmine, em 1998. De modo geral, um cineasta que faz um bom trabalho.

Aqui, o envolvimento homossexual de Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara) vai sendo contado, de forma linear, mas sutil. Cuidadosamente, as peças começam a se encaixar e ficamos entendendo a natureza do desejo, seu histórico e os condicionantes que o cercam, no final dos anos 1940.

Se Therese estava à toa na vida, sem se entusiasmar nem pelo seu emprego, nem pelo namorado que planejava com ela uma viagem à Europa, Carol era uma mulher casada, com uma filha pequena, posição que a colocava de modo complicado, tanto perante a família e a sociedade, quanto perante a lei. O filme mostra isso de um jeito suave nas aparências, o grande drama está por trás. Tanto que as soluções surpreendem, soam abruptas. A história adapta o romance The Price of Salt, de Patrícia Highsmith, a mesma de O Talentoso Ripley, que teve duas adaptações de sucesso para o cinema.

A australiana Cate Blanchett é um grande atriz, seu desempenho está valendo uma indicação para o Oscar 2016, mas faria mais sentido que seu personagem fosse mais jovem, para ser mãe de uma criança de apenas 4 anos. O casaco de peles que marca Carol é hoje um item mais do que incorreto, política e ecologicamente falando, mas era o máximo do charme no Natal de 1948.

A jovem norte-americana Rooney Mara é uma linda mulher, que faz lembrar Audrey Hepburn neste papel, bem diferente da investigadora louquinha, cheia de piercings, que ela representou em Millennium, Os Homens que Não Amavam as Mulheres, em 2011. O que mostra sua versatilidade e seu talento.

Enfim, duas atrizes que seguram magnificamente bem uma narrativa de amor lésbico, com estilo, afetividade e doçura. Um filme de alma feminina.

A trilha sonora da época permeia o filme, dando um charme especial à história contada, já que traz a marca indelével da etapa que retrata. A caracterização do período, com suas casas, lojas, ruas, carros, roupas, telefones, ambientes, é perfeita e nos transporta àquela situação vivida. Isso é essencial, no caso, para dar força e credibilidade a essa trama que, a partir desses elementos constitutivos, flui muito bem.


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CAÇADORES DE EMOÇÃO - Além da Emoção (Point Break)


por Diego Castro

Gosto do gênero ação, minha escola foram os anos 90: Comando para Matar, Rambo e Caçadores de Emoção, sendo este o meu favorito, pois contém dois atores que adoro Keanu Reeves e Patrick Swayze. Além da ótima diretora Kathryn Bigelow - ganhadora do Oscar - que sabe contar uma história com tensão e dilemas. Mesmo com um roteiro problemático, os atores trazem o peso necessário para o filme funcionar, e virou um marco para os filmes de ação. 

Agora um 2016 vem sua refilmagem, nada do elenco original, nada da direção original. A história é a mesma: jovem agente do FBI Johnny Utah, investiga uma organização que está fazendo roubos pelo planeta, contudo eles não são como outros ladrões, pois usam esportes radicais para tirarem vantagem dentro dos roubos.

Caçadores de Emoção - Além do Limite : Foto

Não que seja contra refilmagens, existem várias muito boas, contudo, quando existe contexto para elas, pois não pode ser uma repetição. Se for assim é melhor ver o original. E é esse o problema desta versão. Existem cenas bem realizadas - o trabalho dos dublês é impressionante - a sequência durante wing suiting, é de tirar o fôlego. 
Um dos problemas do longa é se apoiar nos esportes radicais, esquecendo de desenvolver os personagens. Utah - o mais desenvolvido - tem um início promissor, mas a péssima atuação não consegue trazer à tona o conflito que o personagem sofre durante o filme.

Por outro lado, falta empatia com o vilão Bodhi (Edgar Ramirez), o que é uma pena, pois os dois antagonistas ficam sem conflito, peça fundamental na trama. Na versão original, Patrick Swayze conseguia trazer isso com facilidade para o papel,

A falta de experiência do diretor é nítida, o que não justifica, uma vez que o filme original foi o primeiro longa de Kathryn Bigelow. Com filtro acinzentado e realista, perde um pouco do brilho, virando apenas um filme genérico de ação.

Ao invés de ir ao cinema, procure uma cópia em DVD do Caçadores de Emoção original e assista em casa, é diversão garantida.


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