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A GRANDE APOSTA (The Big Short)


por Tiago Lira


A Grande Aposta é um filme hilariante e genial. E ao mesmo tempo causa asco ao espectador. O diretor Adam McKay destrinchou uma história bem complicada para os mais leigos e tentou trazer para um nível mais popular uma das piores crises financeiras da história. A maneira que ele faz isso é de bater palmas. Ao mesmo tempo não deixa de lado os culpados de lado nessa questão. É aí que o espectador tem vontade não de levantar e bater palmas, mas sim bater no primeiro banqueiro que encontrar.

De maneira um tanto documental, McCkay acompanha três núcleos que previram de um jeito ou outro a futura crise. Para entender suas motivações ou visão de mundo, o diretor conta a história deles por meio de flashbacks e por depoimentos de outros personagens. E nesse meio caminho entre dramatização e documentário, temos fatos sendo explicados por narrações off e de maneira espetacular por pessoas mais próximas da nossa realidade: as atrizes Margot Robbie e Selena Gomez, o economista Richard Thaler e o chef Anthony Bourdain explicam as dezenas de siglas e como o mercado funciona em situações de crise. É tão inesperado e tão engraçado que esses momentos mereciam aplausos no meio da sessão. Mesmo que você saia confuso com as explicações.

A Grande Aposta (The Big Short)O diretor quebra a quarta parede com as explicações dos que estão de fora e dentro daquele mundo tão complicado, numa interação espectador/filme pouco vista no cinema atual. E ao invés de usar esses elementos de narração como muleta, o diretor serve a narrativa com ela. Por exemplo, ao contar a história de como Michael Burry (Christian Bale) perdeu um olho McCkay humaniza o personagem. E ele faz o contrário quando Jared Vennett (Ryan Gosling) faz uma piada racista com o seu contador oriental – que é tão americano quanto ele – para reforçar a imagem escrota desse personagem.

Apesar da comédia que permeia todo o filme, McCkay é competente o suficiente para manter os pés da audiência no chão. De vez em quando, ele nos lembra de que muita gente sofre nesse ínterim – enquanto aponta o dedo para aqueles que merecem. Vejam Mark Baum (Steve Carell), que tem um nojo por esse mercado que participa – um sentimento atrelado a um evento recente – e por isso vai com afinco na proposta de Vennett, que poderia prejudicar as víboras de Wall Street. Numa marcante cena que ocorre em Las Vegas, vemos que o personagem estava a ponto de esmurrar um banqueiro que se vangloria do jeito que ficou rico.

A Grande Aposta (The Big Short)
McCkay continua divertindo os espectadores sem esquecer-se da realidade. Ainda na primeira metade do filme, quando Baum e seus sócios começam a pesquisar in loco grandes propriedades em bairros de alto padrão praticamente vazios, conhecemos um homem que paga seu aluguel em dia, mas que não faz ideia como o dono da casa está financeiramente. Um pouco mais a frente os amigos Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock) entram na jogada e percebem que podem ganhar muito dinheiro. E quase inocentemente começam a dançar de alegria e são repreendidos por Ben Rickert (Brad Pitt) que explica para os jovens – consequentemente para nós – a real dimensão da crise.

Determinado momento uma frase sem autor conhecido aparece na tela: “A verdade é como poesia, e a maioria das pessoas detesta poesia”. A Grande Aposta fala algumas verdades, coisas que nós, dentro de um relativo conforto, preferimos ignorar. É uma história sobre ganância e de como podemos ser facilmente enganados por aqueles que nunca vão sofrer numa crise. Criamos ódio desses personagens tão torpes, principalmente no tom mais sombrio do terceiro ato. E o que mais faz mal é saber que nada mudou. Talvez produções que atinjam as massas possam abrir os olhos de mais gente. Mas a verdade é que é preciso muito otimismo para esperar isso.


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