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OS 33 (Los 33)


por Beto Besant

Desde o início do cinema que histórias de comoção nacional são alvos preferidos de diretores e produtores, quando alcança repercussão internacional então, torna-se irresistível.
Dirigido pela mexicana Patricia Riggen, o filme conta a história dos 33 operários soterrados numa mina do Chile em 2010. 

Como seria impossível se aprofundar nas histórias de todos os operários, o roteiro destaca Mario Sepulveda (Antonio Banderas), o líder dos operários, Maria Segovia (Juliette Binoche), irmã de um dos operários, e Laurence Gouborne (Rodrigo Santoro), ministro que luta para que os mineiros sejam salvos.

Com todos os elementos pra se construir uma boa trama, a diretora não consegue ir além do mediano. Se por um lado, tem bons atores encabeçando a história, por outro, a presença deles eleva muito o custo a produção, fazendo com que optassem por fazer o filme todo falado em inglês com um sotaque que "lembre" o espanhol. Isso para facilitar a distribuição ao mundo todo.

A barreira da língua faz com que fique impossível se identificar completamente com a história, uma vez que soa falso o tempo todo.


A melhor "sacada" do filme foi apresentar uma última refeição - fazendo alusão à Última Ceia - onde uma espécie de alucinação faz com que cada um veja seu maior desejo. Uma cena bastante poética em contraponto à dura ralidade dos personagens.

Também faltou uma mão mais "pesada" da diretora, ou um diretor com estilo mais autoral. Talvez o formato ideal para a história fosse uma minissérie, assim seria possível desenvolver melhor a história de cada um dos operários.

Uma ideia interessante foi de apresentar imagens dos mineiros verdadeiros ao final do filme. Apesar de Os 33 ser bem "palatável", de belas atuações e produção cuidadosa, é um filme para se esquecer pouco após sua exibição.


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PONTE DOS ESPIÕES (Bridge of Spies)


por Tiago Lira

Uma das magias da arte do cinema é ser universal, ainda que certos personagens e histórias não falem exatamente sobre nós. Quase sessenta anos nos separam dos eventos Ponte dos Espiões e da Guerra Fria. Milhares de quilômetros entre o nosso país e os envolvidos naquele conflito. Ainda assim, podemos achar paralelos e perceber que a história tende a se repetir. Vivemos num mundo de extremos, onde parece que se você não está do nosso lado é automaticamente tachado de uma dezena de termos depreciativos. Essas posições polarizadas deixam pouco espaço para o diálogo, criando uma cortina de ódio perigosa e talvez sem volta. Olhar o outro lado e perceber que estamos lidando com pessoas é a maior mensagem do novo filme de Steven Spielberg, um dos maiores fãs da humanidade.

O diretor não perde tempo com rodeios e nos primeiros minutos de projeção sabemos sem sombra de dúvida que Rudolf Abel (Mark Rylance) é um espião. Essa decisão coloca a audiência, pelo menos nos primeiros momentos, numa luta de nervos contra a decisão do advogado James Donovan (Tom Hanks) de não só defende-lo, mas de ir às últimas consequências por uma convicção. Nada disso é simplesmente jogado na tela por Spielberg e pelo trio de roteiristas, mas é traçado em poucos momentos. Na primeira cena vemos Abel pintando um autorretrato mostrando não só sua veia artística, mas como um homem que está conhecendo a si mesmo. James é apresentado como alguém firme e seguro de si, observador e engraçado – tudo isso em menos de cinco minutos com poucas e precisas linhas de diálogo.

Percebemos que Jim também sabe da origem de Abel e que luta com sua fibra contra o senso comum de culpa-lo sem um julgamento justo. Ele próprio vivendo numa sociedade polarizada hesita por um curto momento em aceitar o caso, mas a batalha interna não é nada comparada com a externa. Jim, um homem que serve a lei, tem que ouvir de outras esferas da sociedade que ele estaria fazendo alguma coisa errada: um juiz, um policial e a própria família está repetindo uma propaganda sobre o medo de um ataque nuclear vindo dos seus inimigos. O que é uma crítica monstruosa de como o Estado pode segurar seu povo dentro de uma bolha de perigo constante.

Spielberg coloca diversos paralelos na história e os aplica na narrativa tanto por meio da montagem de Michael Kahn e raccords para ligar e contrapor certos momentos. No primeiro julgamento o diretor mostra Jim e Abel (e toda a corte) se levantando à presença do juiz do caso, enquanto algumas crianças na escola do filho do advogado fazem o mesmo movimento para saudar a bandeira americana. Em outra situação, Jim é mostrado entrando na Suprema Corte enquanto no outro campo de batalha Powers (Austin Stowell) embarca na sua aeronave de reconhecimento. Por meio desse elemento fílmico, Spielberg faz a junção de dois momentos que são ideologicamente estejam separados, mas que tratam da mesma coisa: uma crença.

Esse é um filme bem direto e, como já é a assinatura de Spielberg, muito humano. Assim como fez com Oscar Schindler o diretor ousa, por assim dizer, defender outro inimigo jurado dos EUA. O comunista e espião tem medos e receios, se preocupa com seu advogado verdadeiramente e é mostrado frágil – porém, não idiota. Quando o FBI invade o apartamento onde Abel está trabalhando, em meio à certa truculência, o russo está praticamente sem roupas decentes e sem os dentes. É nessa fragilidade que Spielberg continua mostrando o destino de Abel e no que Jim se segura para fazer a coisa certa. E esses três personagens – Jim, Abel e Powers – não são tão diferentes um do outro. Eles se mantêm naquilo que acreditam.

É um ponto de vista diferente. Filmes do período da Guerra Fria tem sido raros – apesar de O Agente da U.N.C.L.E também ser de 2015 – então vale a pena experimentar o que Spielberg nos trouxe. Nos perdemos junto com Jim na Alemanha Oriental, ao ponto de o estúdio não legendar as falas em alemão. Apesar da língua ser a 10ª mais falada no mundo, quantas pessoas você conhece que são fluentes nela? Assim, temos que nos orientar com a pouca experiência da língua que o advogado tem. Aliás, a mudança de foco aparece também em fatos poucos vistos por nós como o desejo de reconhecimento da República Democrática Alemã – RDA – ou a construção do muro de Berlim, já que o mais comum é o vermos já levantado.

A produção consegue em certos momentos ter uma leveza, mesmo que não durem muito. Os minutos iniciais com Jim aprontando para que o assistente não leve sua filha para sair, a perplexidade na diferente Berlim Oriental com bicicletas nos corredores ou a constante preocupação com a falta de preocupação de Abel são momentos que trarão sorrisos ao rosto da plateia. Em oposição é um filme bem sério no campo político. A fotografia de Janusz Kaminski usa cores frias tanto nos encontros de Jim com Abel quanto na congelante Berlim. Há outras cenas marcantes que valem a pena serem lembradas, em especial a do tiroteio que Jim presencia nos limites do muro e depois a tensão representada pela figura de duas duplas de atiradores de elite.

Ponte dos Espiões funciona tanto como retrato de uma época quanto a representação de que se algo é justo e certo para um, deve ser assim para todos. Há momentos de emoção e revolta, outros que deixam no ar a pergunta de como duas nações tão poderosas influenciaram negativamente o mundo, mostrando como o medo é uma arma eficaz. Longe de ser um filme de guerra nos moldes clássicos, tão pouco um de júri, é uma produção que veio em boa hora, considerando essas discussões acaloradas que hoje vemos. Pode servir para aprendermos a nos entender e discutir ao invés de agredir.


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EU ESTAVA JUSTAMENTE PENSANDO EM VOCÊ (Comet)


por Beto Besant

"Em briga de marido e mulher, não se mete acolher". Como sugere o velho dito popular, histórias de casal não são interessantes e deve-se manter distância.
O filme Eu estava justamente pensando em você trata-se justamente de uma DR (discussão de relacionamento) de quase duas horas de duração.

Para nossa sorte, aqui temos uma agradável experiência, onde uma história simples  - que é o período de início ao fim de um namoro - é o que conduz a narrativa de forma leve e inteligente.



O filme do estreante Sam Esmail tem praticamente só dois personagens - os outros aparecem rapidamente e sem nenhuma grande relevância - e conta a história de Dell (Justin Long), que vai a um evento onde as pessoas irão assistir a passagem de um cometa. Quase é atropelado por um carro e é Kimberly (Emmy Rossum) quem o salva. A tensão sexual entre ambos surge instantaneamente, mas ela está com seu namorado, um bonitão que não tem "muito o que dizer". Daí em diante passamos a acompanhar o relacionamento do casal ao longo de três anos. A partir daí, o filme apresenta paralelamente quatro momentos importantes do casal: o dia em que se conheceram, uma discussão por telefone, uma viagem a Paris e um encontro casual no trem.


O que tinha tudo pra ser um filme chato e arrastado, resulta num filme interessante graças aos diálogos inteligentes, à montagem ágil e fora de ordem cronológica, e à fotografia esmerada e cuidadosa, que subverte regras fotográficas, colocando os personagens no canto do quadro, na maior parte do tempo, dando a sensação de desequilíbrio, sufoco e instabilidade.

A sensação de desequilíbrio é tanta que os atores - que tem características físicas que em muito lembram filmes latino-americanos - causam estranhamento por viverem Estados Unidos e falarem inglês. Algo como se fosse um filme argentino dublado em inglês.

Não é um filme extremamente palatável, mas vai agradar aos que preferem filmes mais cerebrais e de casais. Tem grande chance de se tornar cultuado pelos casais como aconteceu com Closer (Mike Nichols, 2004).



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Entrevista: OPERAÇÕES ESPECIAIS

Beto Besant entrevista os atores Cleo Pires, Thiago Martins, Fabrício Boliveira e o diretor Tomás Portella - do filme Operações Especiais.


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Coletiva: OPERAÇÕES ESPECIAIS

Veja como foi a Coletiva de Imprensa do filme Operações Especiais, acontecida dia 5/10 em São Paulo.
Presença do diretor Tomás Portella e dos atores Cleo Pires, Thiago Martins, Fabrício Boliveira e Antonio Tabet.



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HORAS DE DESESPERO (No Scape)


por Tiago Lira

Há uma mistura de sentimentos depois de assistirmos Horas de Desespero, uma sensação que está ao alcance de um braço, mas ainda fica difícil de notar. Ainda que seja uma produção embalada nos mesmos moldes dos filmes de ação, o diretor John Erick Dowdle consegue afastar seus personagens de gente como Bryan Mills ou Frank Martin e ainda é seguro o suficiente na direção para criar uma trama tensa. Por outro lado, a problemática desenvoltura dos inimigos como se fosse uma horda de zumbis é o ponto mais fraco do filme. Um pouco mais de tato nessa questão destacaria mais a produção que, infelizmente, resolver tomar o caminho mais fácil.

Uma das qualidades do filme é perceber os ecos estão acontecendo em algumas partes do oriente. Sinais de uma ditadura – fotos e bustos do primeiro ministro em todos os lugares, cidade às escuras à noite lembrando Pyongyang, sem sinal de TV, telefone ou internet – e situações parecidas com o Isis e o Boko Haram dão atualidade à história. Tanto quanto a intervenção americana e inglesa representada Jack (Owen Wilson) e Hammond (Pierce Brosnan). E no meio da guerra desse Camboja (ou um Laos) fictício, nos apegamos à família de Jack principalmente por causa da doçura das filhas dele e de Annie (Lake Bell).

É claro o contraste exagerado das tropas orientais, onde um comandante sem nome e extremamente mal lidera um mar de pessoas desumanizadas que caçam os estrangeiros no seu país. Não é que isso seja mentira – as notícias que chegam para nós mostram tais barbáries –, mas seria tarefa do diretor mostrar um pouco mais de empatia para com a família de Jack. Para minimizar a situação, Dowdle mostra um encontro da família Dwyer com duas boas almas: um jovem que está no meio da horda e depois um senhor idoso que os esconde. O interessante na cena em que os quatro estão fugindo e cruzam com esse jovem é o fato dele não estar mascarado como seus companheiros, que estão representando um sistema ou algum regime.

Fazendo o papel de advogado do diabo, o filme leva a outra possibilidade se nos colocarmos na pele de Jack, pego no meio do fogo cruzado. Vejam a emblemática cena em que ele se encontra no meio do conflito dos revoltosos e da força policial, por exemplo. Aquela é a percepção do protagonista: perdido num conflito que ele desconhece – se bem que é difícil acreditar que não sabia que o país estava à beira de um conflito armado –, num lugar que não fala a língua e ainda com a família em perigo é bem aceitável que ele veja os cidadãos como inimigos. Assim como os orientais sobre os estrangeiros em sua terra. Pensando assim, não é tão difícil entender o posicionamento tanto um como o do outro.

Ainda que o filme seja acusado de ser racista e xenofóbico, é inegável que Dowdle sabe dirigir os quase 100 minutos de filme equilibrando momentos de ação e de extrema tensão. A não ser por uma pequena inserção cômica de Kenny Roger (Boonthanakit) a produção não perde o pique, efeito auxiliado pela montagem que coloca os problemas logo no começo. Depois de voltar na narrativa, sabemos que falta pouco para descobrir qual é o resultado de um assassinato. A cena de Jack subindo pelo elevador para encontrar a família parece infinitamente mais longo do que realmente é por não sabermos qual é a situação real. Além disso, o diretor sabe quando usar o silêncio, emudecendo tanto a trilha quanto os sons ambientes numa agoniante cena envolvendo as duas filhas pequenas do casal.

Dowdle é competente também em contar a história visualmente sem apelar para narrações ouflashbacks. Ele mostra rapidamente as marcas no rosto de Hammond, ali já definindo sua personalidade e dando uma dica de suas intenções. No figurino é interessante notar que Jack passa pelos piores momentos da sua vida usando por baixo da camisa social uma camiseta da sua cidade natal (Austin, Texas) que representa a saudade que ele tem de casa. A câmera na mão e os ângulos holandeses completam o estado de tensão que o diretor quis transmitir para a audiência, e nisso obtém sucesso.

A ironia do final e a boa jogada de não usar o clássico herói de ação são outros pontos positivos de Horas de Desespero. As qualidades da história não devem ser postas de lado quando analisamos os problemas já apresentados, principalmente na caracterização de um povo, mesmo que esse país não tenha um nome para que ninguém aponte dedos. Mas, como thriller, é eficaz. E se essa foi a intenção do diretor, de nos deixar respirar só quando um personagem diz que podemos, a missão foi cumprida. O que não quer dizer que devemos desviar os olhos para as outras questões.


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Coletiva: VAI QUE COLA


por Beto Besant

Aconteceu na última segunda-feira na capital paulista a Coletiva de Imprensa do filme Vai que Cola. Estavam presentes os atores Fernando Caruso, Cacau Protásio, Samantha Schmutz, Catarina Abdalla, Fiorella Matheis, Emiliano D'Ávila e o diretor César Rodrigues.

Baseado na serie de TV paga, o filme conta a história do empresário Valdomiro (Paulo Gustavo), que tem uma boa vida no Leblon mas perde tudo num esquema fraudulento em que é colocado por seu sócio (Márcio Kieling). Dessa forma vai morar na pensão da Dona Jô (Catarina Abdalla) no bairro periférico do Méier. 
Os outros moradores são os caricatos Ferdinando (Marcus Majella) - homossexual que se intitula consierge da pensão, Jéssica (Samantha Schmutz) - "periguete" que sonha namorar alguém famoso e assim se tornar uma "celebridade", Velna (Fiorella Matheis) - a loira fatal, Maicou (Emiliano D'Ávila) - o musculoso burro e Teresinha (Cacau Protásio) - a gorda divertida.

César Rodrigues e Catarina Abdalla
Após a pensão ser interditada, todos vão morar com o protagonista no bairro do Leblon. Lá conhecem o síndico Brito (Oscar Magrini) e o morador Quaresma (Werner Schünemann).

Completam o elenco o humorista Fernando Caruso - no papel de um eletricista apaixonado pela dona da pensão - e Klebber Toledo - no papel dele mesmo.

De forma talvez um pouco forçada, os atores procuraram demonstrar o tempo todo o quanto estavam entrosados e tinham liberdade de provocar uns aos outros, principalmente Caruso e Samantha.

Samantha Schmutz e Fiorella Matheis
O diretor conta que estava muito feliz em levar a série para as telonas e sobre o limite entre brincarem e improvisarem à vontade: "Apesar de  serem todos muito talentosos e criativos, as brincadeiras eram sempre equilibradas. Tínhamos cinco semanas de filmagem então diariamente todos sabiam exatamente o que teriam que fazer" - disse César Rodrigues.

Num plano-sequência (cena sem corte) onde Paulo Gustavo e Majella conversam na praia, o diretor conta que parecia "certinha demais". Com isso, o protagonista pediu pra rodar de novo, e sem avisar ninguém passou uma rasteira em seu colega. César usou esse exemplo pra explicar o quanto o ator é talentoso e criativo na improvisação. 

Fernando Caruso, Cacau Protásio e Emiliano D'Ávila

A série do Canal Multishow é um imenso sucesso, e apesar do filme ter tudo pra ser outro enorme sucesso nas bilheterias, se perde no seu estilo televisivo. Tudo é falado demais, durante os 90 minutos Paulo Gustavo conversa com o público - olhando pra câmera - explicando cada pensamento e cada situação. Em nome de uma pseudo-espontaneidade, o filme fica mais com cara daqueles vídeos de internet que pipocam diariamente.

Um dos melhores momentos é quando a trupe faz a mudança para o Leblon e Majella vai sentado sobre a Kombi, numa sátira ao filme Priscila, a Rainha do Deserto (1994). 

Apesar do trailer divertidíssimo, o filme não corresponde à expectativa, se limitando a personagens estereotipados, piadas forçadas e humor histriônico.


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