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Entrevista: A NOITE DA VIRADA

Beto Besant entrevista o diretor Fábio Mendonça e os atores João Vicente de Castro, Luana Martau e Paulo Tiefenthaler, do filme A Noite da Virada.



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Entrevista: IRMÃ DULCE

Beto Besant entrevista o diretor Vicente Amorim e os atores Regina Braga, Bianca Comparato, Malu Valle e Amaurih Oliveira - do filme "Irmã Dulce".


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SÉTIMO (Septimo)

por Tiago Paes de Lira

A trama de Sétimo é assustadora para qualquer pai. E a tensão por se passar em espaços confinados e relativamente conhecidos preocupa mais ainda a busca ao parecer tudo muito improvável ou, ainda, impossível. A trama se desenvolve com alguns bons momentos e com boas atuações. Porém, em algum momento perde-se o interesse inicial e o que temos é mais uma história que ficará num limbo, num sentimento de filme mediano, mas que não desperta a vontade de revê-lo a curto – sequer médio – prazo.

Sebastián (Ricardo Darin) é um advogado que está para se separar de Delia (Belén Rueda). Já vivendo assim, ele se encarrega de levar os dois filhos à escola. O pai entra em desespero quando descobre que seus filhos desapareceram enquanto desciam as escadas do sétimo andar até o térreo.

O roteirista e diretor Patxi Amezcua faz uma desconstrução interessante do personagem. Um advogado que, ao menos no storytelling, deveria ser equilibrado e justo é acusado de trabalhar somente para corruptos e delinquentes. E os questionamentos que a audiência faz demoram em acontecer com o protagonista. Enquanto vamos assistindo, aos poucos as possibilidades passam por nossa cabeça: um sujeito estranho que Sebastián cruzou no elevador, o caso recente que está cuidando, o porteiro que seria o único a ter acesso aos filhos antes dele. Uma desculpa é que naquela tensão, nem mesmo as perguntas mais óbvias passavam pela cabeça dele. Se isso serve, vai de cada cabeça.

O espaço confinado do elevador e do prédio de poucos andares funciona para aumentar a tensão e levanta outra questão que se reflete no final do filme: quanto se conhece a pessoa que está do seu lado? Sebastián interpela todos os seus vizinhos, e nenhum se dispõe a ajudar, a não ser o delegado Rosales (Osvaldo Santoro). Ainda assim, a paranoia e o medo do pai se espalham o que o faz desconfiar de quase todos, o que também tira seu foco.

É importante sempre fazer perguntas num filme de suspense. Em primeiro lugar, quem lucra? Em segundo, como poderiam pessoas desaparecer num lugar desses sem que se passasse pela porta da frente? Ao apresentar as respostas, o filme mostra mais furos do que uma situação sólida necessária. Funciona por uns poucos momentos para depois entrar em colapso dentro de si mesmo.

Sétimo tem alguns momentos interessantes, como notamos quando a fotografia do apartamento onde as crianças moram está iluminado enquanto eles ainda estão lá, e depois do sumiço delas, o lugar perde o brilho, dizendo que elas eram a luz daquele lugar. Com pouca afetividade, vai ser considerada uma obra menor de Ricardo Darín – e do excelente cinema argentino –, ainda que valha ser assistido simplesmente por sua presença, um ator que carrega uma aura de quase herói de ação – ou seja, não mexam com ele.

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Entrevista: BOA SORTE



Beto Besant entrevista a diretora Carolina Jabor, o roteirista Jorge Furtado e os atores Deborah Secco e João Pedro Zappa, do filme Boa Sorte.

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Entrevista: TRINTA

Beto Besant entrevista o ator Matheus Nachtergaele e o diretor Paulo Machline - do filme TRINTA.


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Coletiva de imprensa: MADE IN CHINA


por Beto Besant

No último dia 29 de outubro aconteceu na cidade de São Paulo a Coletiva de Imprensa do filme MADE IN CHINA.
Estavam presentes o roteirista e diretor Estevão Ciavatta, a atriz Regina Casé, o músico e ator Xande de Pilares, a atriz Juliana Alves, o ator Luis Lobianco e o produtor Pedro Buarque de Hollanda.

O filme conta a história de Francis (Regina Casé), uma funcionária da loja do Seu Nazir (Otávio Augusto) que resolve descobrir por que os chineses - que há pouco passaram a fazer parte dos comércios da popular rua do Saara - vendem produtos a preços tão baixos. Para que o plano dê certo, conta com a ajuda do seu namorado Carlos Eduardo (Xande de Pilares) e da sua colega Andressa (Juliana Alves).

Ciavatta conta que a ideia surgiu por querer bordar a convivência pacífica entre árabes e judeus no Saara. Conforme foram conhecendo melhor a rua, perceberam a "invasão" dos chineses, e achou que isso deveria fazer parte do filme.

Regina Casé elogiou a direção de arte: "Eu sou o tipo de atriz que gosta de atuar no lugar real, então achava que não conseguiria atuar num estúdio. Mas o cenário era tão perfeito e detalhista que no segundo dia já tinha me esquecido que não era no Saara de verdade".
Casé e seu marido Ciavatta contam que a intensão era fazer uma comédia leve e para toda a família.

Luís Lobianco, que interpreta Perê - filho do Seu Nazir, conta sempre frequentou o Saara para compor seus figurinos como ator de teatro, com isso, tinha bastante conhecimento para "defender" o personagem.

Uma surpresa foi a participação de Xande de Pilares, cantor e compositor do grupo de samba Revelação: "Eu sou sambista, quando surgiu esse personagem eu procurei trazer minha infância, trazer o samba, e ouvir muito as pessoas. E gostei tanto que vou estudar mais a profissão".

Realmente o desempenho do músico surpreende pela naturalidade. 
Escrito por Ciavatta, o filme parte de uma premissa interessante, mas peca por não se aprofundar nos temas e se perder entre clichês e piadas bobas e vazias. É o tipo de filma que não se justifica ir para as salas de cinema, porque nada mais é do que mais um daqueles programas especiais de fim de ano, e certamente terá este destino em breve.




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Entrevista: TIM MAIA - o filme

Beto Besant conversa com os atores Babu Santana e Robson Nunes, protagonistas de Tim Maia - o filme.


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O JUIZ (The Judge)


por Beto Besant

Apresentado como um "filme de tribunal", O Juiz tem um subtexto muito mais profundo e maduro.

Na trama, Hank Palmer (Robert Downey Jr) interpreta o típico advogado bem sucedido e sem escrúpulos, rico e casado com  uma bela mulher. Ao ser informado da morte de sua mãe, volta à cidade natal para participar do funeral, reencontrando seus dois irmãos (Vincent D'Onofrio e Jeremy Strong) e seu pai Joseph Palmer (Robert Duvall), com quem não mantém nenhum relacionamento. O velho Palmer é um juiz "à moda antiga", daqueles que levam a justiça à últimas consequências - no melhor sentido.

A volta traz à tona o passado do advogado, com os problemas pessoais de seus irmãos e o reencontro com sua ex-namorada Samantha (Vera Farmiga).

Sendo pai e filho pessoas diametralmente opostas, Hank se põe o mais rápido possível num avião para voltar à sua rotina, mas é informado que seu pai se envolveu em séria confusões por conta de um atropelamento que nega-se a admitir.

É aí que entra em jogo a questão mais importante e sutil do filme: tentando aproveitar cada minuto com a pessoa que mais ama - e que não consegue manter um simples diálogo sem terminar em discussão, o filho tenta perceber em que momento pai e filho se afastaram emocionalmente.

Produzido pela Team Downey - de Downey Jr e sua mulher Susan Downey, tem uma estrutura clássica com claros pontos de virada na trama. O que poderia ser uma limitação se mostra eficiente para dar suporte a este verdadeiro "filme de ator". Mais do que um filme de tribunal, um filme de família ou um filme de volta às origens, O Juiz aborda com delicadeza o sentimento de perda iminente de filho para pai. Talvez seja um tema que seja mais sensível aos que possuem maior experiência de vida - não necessariamente os mais velhos.

O roteiro é do estreante Bill Dubuque com Nick Schenk (Gran Torino) e peca no excesso de tramas, como o passado de atleta do irmão mais velho de Hank, sua quase retomada do romance juvenil e a suspeita de incesto.



Dirigido por David Dobkin (de Penetras Bons de BicoBater ou Correr em Londres e Eu Queria ter a sua Vida), acerta em não tentar fazer exercício de estilo, deixando o filme ser conduzido pelos protagonistas Duvall e Downey Jr. É o típico filme de ator, onde Duvall dá um show de interpretação, ofuscando até o excelente parceiro. O filme trás ainda uma bela participação de Billy Bob Thornton como promotor obcecado.

A montagem erra ao se alongar para arrematar as diversas (e dispensáveis) tramas, levando a película a duas horas e quarenta minutos.

Se o filme tem alguns excessos, é certamente uma boa opção em épocas onde se busca o público de forma acomodada com histórias de super-herói ou recorre-se a efeitos especiais para suprir a falta de bons roteiros.



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THRASH - A esperança vem do lixo


por Eduardo Oliva

Trash talvez seja um dos filmes brasileiros mais forçados que já assisti nos últimos anos. Em se tratando de favela movie, é uma carona requentada – para gringo sambar e contemplar – de sucessos vanguardistas que vem lá de Rio 40º (do cineasta Nelson Pereira dos Santos), passa por Cidade de Deus (com a participação especial de Zé Pequeno - Leandro Firmino da Hora, um pouco mais acima do peso), e aterrissa nas participações sem sintonia de Martin Sheen e Rooney Mara.


Produzido pela O2 Filmes (de Fernando Meirelles) e dirigido por Stephen Daldry (As Horas, Billy Eliot), Trash é uma coprodução de Brasil, Inglaterra e Alemanha. O longa já começa com uma cena de perseguição envolvendo o personagem de Wagner Moura (José Ângelo) para logo em seguida desencadear numa série de acontecimentos envolvendo o seu paradeiro. No meio deste jogo, somos apresentados a um policial corrupto (Frederico, interpretado por Selton Melo) e a três meninos sobreviventes de um lixão, especialmente construído para o filme.

Raphael, Gardo e Rato são o fio condutor do roteiro, escrito por Felipe Braga e Richard Curtis a partir do livro de Andy Mulligan. É curioso como a estética da favela, os sotaques cariocas e o jeito malandro típicos da ambientação do Rio de Janeiro caem no lugar comum sem trazer, absolutamente, nada de novo à narrativa. O Cristo Redentor aparece discretamente, bem como o Pão de Açucar.

Durante a exibição deste esquecível slum movie, me vieram à mente, várias vezes, cenas de Quem Quer Ser Um Milionário?, de  Danny Boyle, e Capitães da Areia – o livro. O primeiro, pelo cartaz oficial do filme com a chuva de cédulas, o contexto religioso e a personificação de uma personagem que surge como uma Santa Deus Ex Machina. O segundo, pela amizade e cumplicidade de meninos pobres que agem como anjos justiceiros diante da opressão dos adultos (aqui representada pela Polícia).

Qualquer que seja a análise que se faça de Trash, a sensação que fica é a de um longa confuso, raso, com situações e conflitos inverossímeis – as perseguições entre o trio de crianças e os policiais são sofríveis –, interpretações maniqueístas e sussurrantes (Selton Mello não convence como vilão), além de um jogo gato & rato que funciona mais como videogame, e menos como filme.

Apesar da narrativa de retalhos, Trash deve fazer carreira internacional e conquistar premiações. Acontece que santo de casa conhece bem mais os seus fiéis e, consequentemente, os seus pecados. Prova disso é o brilhante discurso de longas como Tropa de Elite 2, de José Padilha. A mensagem do Capitão Nascimento sobre a confraria do Congresso Nacional é algo que toca o espectador ao final do filme, o que não se pode dizer deste.


O ingresso vale pela trilha-musical, uma ótima opção para balada de festa americana entre amigos, em algum apartamento de classe média brasileira. Quem dá mais? 


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LIBERTEM ANGELA DAVIS (Free Angela & all political prisoners)


por Beto Besant

Ao nos deparar com um documentário como este, ficamos pensando por qual motivo documentários vão tão mal de bilheteria no país.

Dirigido por Shola Lynch e produzido por Will Smith e sua mulher, o filme conta uma história tão pouco conhecida em terras tupiniquins: Angela Davis, uma professora negra norte-americana, dona de um carisma arrebatador e discurso muito bem articulado, que decide dedicar sua vida na luta pelos direitos dos negros, provocando a ira do governo vigente.

O filme alterna depoimentos atuais de Angela e outros envolvidos com imagens e reportagens de época. Os fatos contam ainda com pequenas reconstituições para dar mais dinamismo ao filme.

A biografada conta que chegou a se relacionar com os Panteras Negras (grupo radical de luta pelos direitos dos negros) mas logo percebeu que aquele não era seu lugar, pois o machismo impediria que ela tivesse total liberdade de pensamento e atuação.

Ao se destacar em sua militância, Davis passa a receber ameaças de morte diariamente, vindo a comprar uma arma. Apaixona-se por um presidiário e logo uma tentativa de libertá-lo produz quatro mortes, onde são encontradas armas registradas em seu nome. Com isso é processada com pedido de três penas de morte.
Dessa forma acompanhamos desde a rotina de sua fuga até seus dias de prisão e julgamento.


Apesar de Angela Davis não ter o "padrão de beleza" de nenhuma modelo - ostentando uma enorme cabeleira black power e dentes afastados, ao aliar um belo e contundente discurso com um corpo esbelto e bem torneado, dá para termos a noção de quanto sua figura emblemática cativava as pessoas e incomodava o governo daquele tempo. Fica patente o objetivo de Richard Nixon (presidente), Ronald Reagan (governador) e o lendário Edgar Hoover (líder do FBI) de se livrarem dela.

Mesmo com as restrições que documentários enfrentam, este é um exemplo de uma bela trama, com elementos de policiais com suspense. Numa época em que jovens sem nenhuma consciência política vão às ruas apenas por modismo e líderes de movimentos os utilizamo apenas como trampolim para uma carreira política, é muito bom assistir a esse tipo de história verídica.

Lamentavelmente, como dito no início deste texto, pouquíssimas pessoas se sujeitarão a assistir a este belo filme.



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Cinema Grego atual: MISS VIOLENCE e METEORA



por Antonio Carlos Egypto

É fato sabido que as crises econômicas, os regimes políticos totalitários, a censura, as guerras, estimulam a criatividade artística. Grandes expressões da arte resultaram de momentos de crise, em sentido coletivo, mas, também, individual. Crises existenciais são geradoras de grandes obras. Já que a crise é também oportunidade de rever, repensar, ressignificar, buscar alternativas, o que se poderia esperar da produção cinematográfica do país que foi mais abalado, na comunidade europeia, pela crise do euro?

A Grécia está representada no circuito exibidor com dois filmes que merecem ser vistos e que se vinculam a uma expressiva produção atual, como ficou evidente na 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2013, com títulos colhidos nos festivais pelo mundo. Uma presença bem mais significativa do que habitualmente acontecia no evento paulistano. O cinema grego apareceu com força e qualidade.


MISS VIOLENCE. Grécia, 2013. Direção: Alexandros Avranas. Com Themis Panou, Reni Pittaki, Eleni Roussinou. 98 min.

O melhor dos filmes gregos exibidos, para mim, foi Miss Violence, segundo longa-metragem dirigido por Alexandros Avranas, vencedor do Leão de Prata de direção e melhor ator em Veneza. O filme, corajosamente, expõe a violência, o abuso e a prostituição forçada das mulheres de uma família, em suas várias gerações, e todas as consequências trágicas que daí resultam, com total realismo e procurando produzir suspense. A crise está presente no desemprego e na dificuldade de sobreviver que agravam o quadro ou, por outro lado, servem para tentar justificar ou validar a monstruosidade apresentada.

Outra leitura é possível, alegórica da situação, se olharmos para a família como representante da sociedade como um todo. A carência alimenta a opressão, o estupro, a exploração das pessoas e da mãe-pátria. Também faz sentido. E uma coisa não exclui a outra. Ao tratar do tema da exploração sexual da mulher, o contexto subjacente é o da crise social e moral em que se vive na sociedade grega atual. Mais difícil de aceitar é a visão de uma patologia individual determinando os fatos. Há um eloquente sentido de opressão coletiva, que se evidencia no desenrolar da trama e nas interpretações do elenco.




METEORA. Grécia, 2012. Direção: Spiros Stathoulopoulos. Com Theo Alexander, Tamila Koulieva. 81 min.

Outro belo filme grego que pude ver naquela Mostra refere-se a uma outra dimensão. Meteora vai em busca de monastérios ortodoxos situados acima de pilares de arenito, suspensos entre o céu e a terra, conforme explica a sinopse que consta do catálogo da Mostra. Aqui, o que se vai viver é a relação entre a fé, o afeto e o desejo sexual humanos, presentes nas figuras de um casal de religiosos. Mesmo separados em duas montanhas de pedras diferentes, uma para cada sexo, e uma escadaria interminável para galgá-las, haverá modos de se encontrar e viver essa história de amor.

Meteora é o segundo longa do diretor Spiros Stathoupoulos. É o filme mais bonito visualmente dessa leva de gregos. Tem locações belíssimas, um clima que o situa fora do mundo real e uma muito eficiente atuação do desenho de animação, que se insere ao longo de toda a trama, pontuando o imaginário, o temido e o desejado. O fato de se distanciar tanto da realidade atual da Grécia não significa, no entanto, que não dialogue com ela. A busca da beleza, do amor e da fé, não deixa de ser um caminho alternativo, idealizado, quando o mundo real parece tão duro de enfrentar.

Os filmes gregos de novos diretores mostram que está germinando um novo cinema por lá. Ninguém espere a sofisticação e a estética maravilhosa do mestre grego do cinema, Theo Angelopoulos (1936—2012), é claro. Mas nem é possível, mesmo, exigir tanto de jovens cineastas. Que o cinema grego atual mostra talento, não há dúvida. Isso é muito promissor.


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SE EU FICAR (If I Stay)


por Beto Besant

Vendo o trailer de "Se eu ficar" fica clara a proposta do filme: contar a história de Mia (Chloë Grace Moretz), uma adolescente que sofre um acidente de carro e passará o filme inteiro vagando fora do corpo, sem saber se sobreviverá no fim da história.


Cientes disso, acompanhamos à trama, que não tarda a nos entregar seu "prato principal". A jovem garota, desde a infância apaixonada por música erudita, para o desespero de seus pais roqueiros, estuda violoncello dia e noite e torna-se uma exímia instrumentista. Na escola apaixona-se por Adam (Jamie Blackley) iniciando um breve mas tórrido romance. Numa viagem familiar, sofre um acidente de carro e passa a vagar fora de seu corpo enquanto acompanha a luta dos médicos para salvarem seus familiares.

Adaptado por Shauna Cross, o filme é baseado no best seller de Gayle Forman e dirigido pelo estreante em longas-metragens R.J Cutler.

A narrativa é muito eficiente, - aliada a uma boa montagem, alterna momentos anteriores ao acidente com momentos que precedem o início do namoro. E depois, momentos posteriores ao acidente intercalados com momentos que sucedem o início do namoro.

Apesar da famigerada voz off, neste caso ela não chega a incomodar. Quando Mia conta o início de namoro de seus pais e sua infância, o filme tem um bom momento ao apresentar a história em fotos e os pais da jovem muito bem caracterizados como jovens roqueiros.

Com competência, o filme conduz o público pela história com bom ritmo. Apesar do clima romântico, não é chato, e o público envolve-se com os personagens. Claro que os mais experientes já podem prever o resultado e passam a torcer para serem surpreendidos pelo roteiro. O que não acontece - afinal, é um filme comercial visando milhões de dólares de bilheteria.


O grande problema é que o filme fica apenas na superfície da história. Mesmo com o final previsível, poderia ser explorado o que realmente se torna importante para uma pessoa nesta situação, e não somente quem é importante. Com tantas coisas que a situação poderia levantar, limita-se a destacar o momento em que a menina se sente, finalmente, parte de um grupo. Isto acontece durante um flashback de uma pequena festa familiar, onde ela toca seu instrumento acompanhada por seu namorado e todos os presentes admiram e se divertem. 

Apesar do filme flertar com o melodrama, consegue evitar o gênero por completo nas consequências do acidente. Destaque para a cena em que seu avô (interpretado por Stacy Keach) tem uma emocionante conversa com a neta, e também para as cenas em que Mia e Adam aparecem tocando seus instrumentos. O ator Jammie Blackley realmente canta e toca guitarra com sua banda - e se Moretz não toca, no mínimo se preparou muito bem para dar credibilidade nas cenas em que toca seu violoncello.

É o tipo de filme que quem se propõe a assistir vai preparado para se emocionar, mas a película emociona muito menos do que poderia.



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MERCENÁRIOS 3 (The Expendables 3)


por Tiago Paes de Lira


Há coisas que nunca mudam, e Stallone e companhia apostam nessa máxima de novo em Os Mercenários 3: divertido, mas não muito mais que isso. Mesmo apelando para o clichê de justificativas prontas – o que mais se esperar de um filme desses – é notória que a fórmula se esgotou e a tentativa de trazer personagens novos funciona apenas em parte. Se antes o efeito era quase orgástico para os fãs de filmes de brucutus, a introdução de caras jovens sofre o reverso, com atores e personagens com pouco ou nenhum carisma, numa tentativa falha de atualizar esse novo-velho universo.

Durante uma missão, os Mercenários – Barney Ross (Sylvester Stallone), Lee Christmas (Jason Statham), Gunnar Jensen (Dolph Lundgren), Toll Road (Randy Couture) e Hale Caesar (Terry Crews), juntos do recém-liberto Doutor Morte (Wesley Snipes) – descobrem que um antigo desafeto chamado Conrad Stonebanks (Mel Gibson) é seu alvo. Fantasmas do passado voltam para assombrar Barney e para acabar com eles e cuidar para que seus amigos não morram, ele contrata um novo time para caçar Stonebanks e captura-lo para o novo contato de Barney na CIA, o agente Max Drummer (Harrison Ford).

Com dois filmes pré-estabelecidos, o diretor Patrick Hughes utiliza o prólogo para poucas palavras e muita ação, representadas principalmente nas ações do Doutor, que só vai abrir a boca depois. Diferente dos anteriores, onde a ação inicial tem algum tipo de reflexo posterior – no primeiro, a personalidade questionável de Gunnar. No segundo, o resgate de Trench Mauser (Arnold Schwarzenegger), que deverá um favor ao grupo –, a destruição da prisão serve apenas para introduzir o novo personagem. Logo após, é bom ver Snipes se desprender de críticas pessoais ao permitir que seu personagem, em uma piada, diga que foi preso por evasão de impostos – motivo que o manteve preso na vida real entre 2010 e 2013. Divertido também é o Doutor mostrar ao mesmo tempo sua habilidade com facas e sua masculinidade quando faz a barba à seco com uma faca que tem o tamanho de um antebraço. É dele também a frase mais marcante do filme, que se mistura com onomatopeia, ao ver as placas de identificação dos antigos Mercenários mortos, imitando o som do tilintar delas batendo.

Outra coisa nítida é a diminuição do gore em relação ao anterior. Em Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012, Dir Simon West) apelava-se para um sangue digital, o que dava um tom falso àqueles momentos. Isso não quer dizer que não continue um filme violento, visto que ambos filmes têm censura PG-13 nos EUA. Pelo contrário, continuam os muitos tiros, explosões e agora se adicionam alguns cortes de gargantas, que são sutilmente cortados (piada pronta) na montagem.

Mesmo sendo um filme com ação desenfreada, há lampejos de uma boa direção. O mais marcante é quando Hughes não apela para o caminho mais fácil de um flashback para mostrar a relação entre Barney e Stonebanks. Ao contrário, ele segura essa informação para mostra-la depois para um dos jovens contratados por Barney para caçar o vilão por meio de um dossiê. Só ali é que descobrimos que Stonebanks é um ex-Mercenário, o que podemos ver pela tatuagem que tem.

A fotografia também tem destaque, apostando em tons amarelos – com a formação clássica – depois azul, como se fosse algo mais high tech e moderno. Nota-se claramente isso quando Barney, John Smilee (Kellan Lutz), Luna (Ronda Rousey), Thorn (Glen Powell) e Mars (Victor Ortiz) invadem o prédio em que Stonebanks vai fazer negócio. A cor reforça a modernidade do prédio de vidro e aço, com luzes que parecem neon.

Pena que a qualidade não se mantenha, a começar pelo jovem elenco. Os personagens são desinteressantes, e é difícil lembrar quem é quem – com exceção de Luna, obviamente – tão grande é a falta de carisma deles. A inclusão do Doutor e de Galgo (Antonio Banderas) funciona melhor. Mas se a tentativa dessa mistura de atores vindos de produções questionáveis – Lutz, por exemplo, da Saga Crepúsculo, onde era Emmett Cullen – e do mundo do UFC/MMA serviu para atrair o público mais jovem, isso pode ter sido um tiro no pé da franquia.

Indo além, o roteiro parece não decidir qual é a personalidade de Barney. Ele parece inteligente e observador num momento, enquanto no outro é só mais uma montanha de músculos com pouco cérebro. Ele troca de uma arma para outra porque sabe que é mais rápido fazer isso do que recarregar, e presta atenção na história de Galgo, apesar dele falar sem parar. Mas também esquece de revistar Stonebanks quando este é capturado – mesmo com sua trupe de jovens acostumados com tecnologia – e caí numa armadilha muito óbvia, que se via de longe que ia acontecer.

Além de faltar força para a produção deslanchar, é preocupante a alternância entre bons e maus momentos. Ainda que seja engraçado ouvir frases como “O Church está fora da jogada”, que tem muito mais sentido em inglês – “Church is out of the Picture” – e as homenagens prestadas – como Drummer dar uma de Han Solo para salvar o dia –, fica difícil de aceitar coisas como o CGI fraco e a insistência em Barney reforçar duas ou três vezes que o Doutor é um bom Doutor, no sentido médico da palavra, e isso não ser aplicado na prática no filme, dando a impressão que seria alguma coisa importante para o desenvolvimento da história.

Os Mercenários 3 tenta emular a evolução do estilo do brucutu – comentada no TigreCast 7: Brucutu Style – onde músculos são trocados por alguém mais técnico e ágil, mas ficou apenas na caricatura. Sim, o próprio filme diz, e há de se concordar: diversão é importante. Só faltou alguém dizer que simplesmente jogar esses atores tão queridos na tela não funciona sozinho, como foi no começo da franquia. Que venha um Mercenários 4 para arrumar essa situação, e fechar com chave de ouro esse encontro que esperamos praticamente 30 anos para ver.


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AMANTES ETERNOS (Only Lovers Left Alive)


por Antonio Carlos Egypto

Uma história de amor que dura séculos, como a de Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton) não chega a ser surpresa, num filme de vampiros. Adam and Eve? Seriam os vampiros mais ancestrais do nosso planeta? Não importa muito. 

O que mais me chamou a atenção no filme “Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch, foi o modo como ele trata das velhas e conhecidas questões vampirescas que sempre estiveram presentes na história do cinema e nas suas constantes atualizações.


Vampiros do século XXI , refinados e sofisticados, já não saem por aí atacando as jugulares das pessoas. Que coisa mais primitiva e arriscada! Muito mais elegante e atual é subornar um profissional de saúde de um bom hospital, o que garante não só a boa qualidade do sangue, como já o entrega devida e adequadamente embalado para transporte e armazenagem. E, em vez de se lambuzar todo de sangue, que tal sorvê-lo convenientemente em pequenas taças, como se faz com o melhor vinho? Também é possível inovar e fazer picolés de sangue em forma de sorvete, mantidos no congelador.


Vampiros sofisticados será que ainda têm medo de alho? Não se vê alho no filme e, a não ser por uma frase en passant, o assunto já não se coloca. E aquela história de cruzes e outros símbolos religiosos, capazes de destruir os seres vampirescos? Esqueça, isso é um papo antigo, que lembra o período medieval das caças às bruxas. Bem, é claro que os vampiros se lembrarão não apenas desse episódio histórico, mas de muitos outros que eles viveram nos últimos quinhentos anos. Só que o mundo mudou e eles mudaram, também. Hoje, os medos e os perigos que os envolvem são outros.

Adicionar legenda
É preciso evitar a luz solar, viver à noite, afinal, isso é da natureza dos vampiros por todos os séculos. Mas um risco maior, atualmente, é o do sangue contaminado. Especialmente num mundo globalizado não se pode consumir qualquer sangue, não. Isso, sim, é capaz de pôr fim à existência de um vampiro que, por exemplo, foi contemporâneo de Shakespeare e, como ele, escritor: Marlowe (John Hurt).


O problema também é que nem todos os vampiros alcançam o nível dos nossos protagonistas. Ava (Mia Wasikowska), a irmã mais nova de Eve, é um caso sério: é bagunceira, nunca se sacia e não resiste a uma jugular atraente. A ponto de matar seu fornecedor. Uma coisa é morder e vampirizar a presa, outra, é matá-la. Tudo tem limite.

Quanto aos zumbis, os mortos-vivos que convivem com os vampiros, eles podem estar em qualquer lugar, seja na indústria do cinema, em Los Angeles, seja na indústria fonográfica, e atrapalhar muitas coisas. Mas também podem ser muito úteis em diversas situações, como a relação entre Adam e Ian (Anton Yelchin), que aparece no filme, demonstra. 


Essas são questões que surgem no filme “Amores Eternos”. Eu pincei algumas das que me pareceram mais atraentes. Elas perpassam a história de amor, dando-lhe um sabor especial (epa!). Não significa que façam do filme uma comédia. “Amantes Eternos” tem muito humor, mas se desenvolve num registro sério e romântico, até com baixo astral. Adam, por exemplo, é um vampiro sofisticado, que compõe e adora música e instrumentos musicais maravilhosos e especiais, mas é um ser desanimado com a vida, depressivo. Coisas que acontecem com o passar de tanto tempo. Só mesmo o reencontro com Eve poderá mudá-lo. Então, não espere agilidade, rapidez, correria. Afinal, os vampiros têm todo o tempo do mundo, quando o sangue está à disposição e devidamente armazenado. Essa estabilidade será rompida e aí as coisas se complicam. Nem por isso o filme se acelera, mas o suspense cresce.


Se você gostou do que apresentei neste meu relato, não vai deixar de ver esse filme, claro. Se você acha tudo isso irrelevante, tente uma outra estreia cinematográfica. Simples assim.


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Entrevista: VESTIDO PRA CASAR

Beto Besant entrevista a atriz Júlia Rabello e os diretores Gerson Sanginitto e Paulo Aragão, do filme Vestido pra Casar.

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O HOMEM DAS MULTIDÕES


por Antonio Carlos Egypto

“O Homem das Multidões”, ou melhor, o homem solitário em meio à multidão. Que caminha só, no mar de gente que circula pelas plataformas urbanas de trens. Que caminha junto aos trens e aos seus trilhos. Que entra no trem. Que observa do alto a passagem dos trens. Sua vida parece se resumir aos trens.


Esse homem é Juvenal (Paulo André), maquinista de metrô em Belo Horizonte. Vive e mora só e cumpre bem sua função no trabalho. Relaciona-se na função com Margô (Sílvia Lourenço), controladora do fluxo dos trens. Há mais silêncios do que contatos verbais nessa relação.

Margô está para se casar, põe convite para seu casamento na oficina de trabalho. Mas é igualmente uma mulher solitária. O casamento resultou de um site de relacionamentos na Internet, em que encontrou o perfil ideal para ela. E, supõe-se, valha o mesmo para o consorte. Relacionamentos virtuais se complicam quando passam para o mundo real. Coisas prosaicas, como ter um padrinho, podem se tornar um problema, porque aí não valem as categorias utilizadas pelas redes sociais. Amigos não se obtêm com um toque.


É dessa substância reflexiva -- solidão, isolamento, incomunicabilidade, virtualidade – no esgarçado tecido urbano das grandes cidades, que se nutre o filme de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.

Há muita beleza nas imagens que eles produzem, nos enquadramentos expressivos, que dizem muito, nos tons esmaecidos, sem vida, que compõem com precisão a forma que relata o que experimentam os personagens. Mas há outro fator que é ainda mais marcante: a redução intencional da imagem.

Quando a projeção começa, você vê que o filme ocupa pouco mais do que o terço central da tela do cinema. Quase dois terços estão vazios, há espaço semelhante ao projetado, tanto à direita, quanto à esquerda. E mais: o tamanho da tela parece pequeno para o que se quer mostrar. As coisas estão espremidas na imagem, pessoas que interagem ficam fora do quadro, às vezes, ou alguém cobre parte do quadro, como que a mostrar que o resto da tela que não está sendo usado faz falta. O mundo se apequena, se espreme, se reduz. As possibilidades humanas de viver estão limitadas pela solidão profunda em meio à multidão. Isso está na utilização da tela, tanto quanto ou mais do que nas cenas mostradas.




A redução da existência incomoda, prende, limita também o espectador. O tempo custa a passar, dá vontade de sair dali, respirar com desenvoltura, ocupar o espaço e interagir com os outros. Sair do sufoco.

Como se pode ver, o filme incomoda porque é muito bem feito, atinge seus objetivos. Certamente, não diverte. É um filme experimental, que está buscando outras coisas. E explorando as múltiplas possibilidades da linguagem cinematográfica.

O trabalho do pernambucano Marcelo Gomes e seus parceiros, no caso, aqui, o mineiro Cao Guimarães, tem sido marcado pela busca de renovação dessa linguagem, como atestam filmes como “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de 2005, e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, de 2009, trabalhos indispensáveis para quem quer apreciar o que de melhor se fez no cinema brasileiro, nos últimos anos. “Era Uma Vez Eu, Verônica” (veja crítica publicada aqui, em novembro de 2012), embora menos inovador, é um trabalho igualmente denso e consistente. “O Homem das Multidões” é um filme que merece toda a atenção, embora se dirija a um público restrito, por sua concepção.


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MOSTRA IMOVISION 25 ANOS

Abel Ferrara e Jacqueline Bisset
por Beto Besant

Na última quarta-feira, dia 23 de julho, foi realizada na capital paulista a Cerimônia de Abertura da Mostra Imovision de Cinema. O evento aconteceu no Espaço Reserva Cultural, cinema que se tornou referência em filme de arte, seja nacional ou internacional, e exibe todos os filmes da distribuidora.

Martinho da Vila
Estavam presentes diversos convidados internacionais, dentre eles o diretor norte-americano Abel Ferrara, a atriz britânica Jacqueline Bisset, que vieram apresentar o filme Bem-vindo a Nova Iorque, que abre as comemorações. Ferrara comentou que o filme apresentado é polêmico, mas que se não for assim, não tem "graça". Muito aplaudida, Bisset comentou sobre a honra de poder trabalhar com Ferrara e Gerard Depardieu.

Também estavam presentes o cantor Martinho da Vila e o diretor francês Georges Gachot, representando o filme Samba. Martinho fez um trocadilho de sua música famosa aconselhando o público a ver os filmes "devagar, devagarinho" - despertando aplausos e risos da plateia. 

Com sua simpatia habitual, o proprietário da Imovision Jean Thomas Bernardini falou sobre o sucesso que vem alcançando ao apostar em títulos elogiados pela crítica que tem agradado também ao público. Afirmou sua preocupação de sempre dar a oportunidade de os frequentadores do cinema terem acesso às pré-estreias especiais e agradeceu aos funcionários da distribuidora, pedindo que todos se levantassem para serem aplaudidos.

Jean Thomas Bernardini
Um dos pontos altos da noite foi a presença internacional do ator mirim francês Mathéo Boisselier, estrela do filme As Férias do Pequeno Nicolau. Em seu discurso, agradeceu a oportunidade de estar no Brasil dizendo que não sabe se terá oportunidade de voltar, arrancando risadas do público presente devido à sua tão pouca idade.

A comemoração traz sete filmes inéditos com pré-estreias temáticas e representantes dos filmes. Também acontece a retrospectiva de sete títulos que foram escolhidos pelos mais renomados críticos do país dentre um catálogo de cerca de trezentos. São eles: A Fita Branca, Amor à Flor da Pele, Dançando no Escuro, Vincere, Amor, A Separação e Cinema, Aspirinas e Urubus.

Representando o filme Geronimo, estavam presentes o diretor Tony Gatlif e a compositora de trilhas-sonoras Delphine Manthoulet.

Esta semana a distribuidora foi a homenageada do VI Paulínia Film Festival e sua parceria com o cinema Reserva Cultural completa nove anos. O cinema foi eleito pelo jornal Folha de São Paulo como tendo a melhor programação da cidade durante três anos.

As exibições comemorativas vão até o próximo dia 30. Os filmes inéditos são exibidos em tecnologia digital, já os da retrospectiva são exibidos em película, o que deve agradar a muitos recém saudosistas, pelo costume estar se tornando cada vez mais raro.


Delphine Manthoulet, Tony Gatlif e Mathéo Boisselier

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TRANSFORMERS - A Era da Extinção (Transformers: Age of Extinction)


por Tiago Paes de Lira

É preciso deixar uma coisa bem clara. Não importa o que eu ou outra infinidade de críticos digamos. Transformers: A Era da Extinção é Michael Bay sendo mais uma vez Michael Bay. Se for isso que você busca, irá se divertir muito. Mas está claro que essa cinesséerie precisa de um descanso, semplots gigantescos que não se fecham e sempre pedindo uma continuação. É triste, mas nem tudo por ser salvo por um robô gigante montando um dinossauro robô gigante. Por mais incrível que isso soe.

Quatros anos depois da batalha que devastou Chicago no filme anterior, Optimus Prime (Petter Cullen) e os outros Transformers estão sendo caçados pela CIA e por Harold Attinger (Kelsey Grammer) – sejam eles Autobots ou Decepticons – para um propósito escuso com a ajuda de outro ser robótico, Lockdown (Mark Ryan). Os caminhos de Optimus e do inventor Cade Yeager (Mark Whalberg) se cruzam por acidente, e uma nova aliança entre humanos e Autobots se forma contra uma força que tem maior número e poder de fogo.

Bay, apesar de sua insistência em gastar tempo de filme, não consegue avançar na história que conta, como se quisesse reiniciar o universo criado em 2006. Para isso ele usa dos mesmos arquétipos: um líder, um aprendiz, a dama em perigo, cavaleiro no cavalo branco e o guerreiro. Pior, ele mantém Bumblubee (também voz de Ryan) o eterno imaturo, como vemos na cena em que ele e Shane (Jack Reynor) invadem o show room da KSI. Hound (John Goodman) e os outros Autobots citam que, na ausência de Optimus, Bumblubee foi o líder deles. Só se for para ficar tirando onda de Camaro Amarelo (oquei, péssima piada).

O diretor pode ser criativo, quando muito, nas cenas de ação. Mas não consegue fazer uma transição ou cena dramática. Vejam por exemplo a cena inicial, onde seres orgânicos em espaçonaves transformam parte da vida da Terra em metal, e logo depois há um pulo de bilhões de anos: não há um movimento, um raccord que seja para dar suavidade ou continuidade ao momento. De novo é Michael Bay sem saber o que fazer quando precisa de uma cena que não seja regada de explosões e transformações de robôs.

É importante admitir que, pelo menos nisso, o filme funciona. A transformação de Transformers para automóveis e outros tipos de máquinas da Terra é impressionante, e com detalhes que enchem os olhos para o design de produção. Principalmente o visual escolhido para Lockdown. Tendo algo de caçador de recompensas em si, ele transforma-se não apenas em um Lamborghini Aventador, mas no momento da perseguição seu rosto transmuta-se num canhão: o que ele vê é morte, destruição, guerra. A nova geração dos novos Decepticons tem um conceito interessante com seus construtos voando pelo ar e montando-se novamente. Ao mesmo tempo, é bem menos interessante visualmente, como se fossem milhares de pixels que se juntam para dar forma a Galvatron (Frank Welker) e os outros inimigos dos Autobots.

Por causa desse cuidado que é difícil de aceitar falhas essências no visual. Enquanto a nave-prisão de Lockdown impressiona pelo tamanho e pelo design gigeriano – uma bela homenagem a filmes como Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979, Dir Ridley Scott) – Bay e Kruger esquecem alguns conceitos básicos de artilharia. Chega a ser engraçado Cade encontrar dentro de um Optimus Prime danificado cápsulas de projéteis. Parece que diretor e roteirista estavam vendo desenhos animados demais, onde as cápsulas saem inteiras do tambor. Eu me pergunto quem é o consultor técnico dessa produção, e como deixou passar uma coisa dessas. Além disso, fazer Drift (Ken Watanabe) se personificar como um Samurai, mas usando um chassi de um carro francês – um Bugatti Veyron – é imperdoável.

Mas há tantas decisões erradas nesse filme que chega a doer. Além do roteiro arrastado – com 2h45min você sabe que a cada ponto de virada ainda vem mais coisa por aí – Bay exagera nosslow-motions, nos ângulos de baixo para cima focando James Savoy (Titus Welliver) – já entendemos na primeira vez que ele é perigoso – e na moralidade que vem de qualquer lugar quando resolvem matar um personagem que seria o traidor, por assim dizer.

Todo filme precisa de receita, sabemos disso. Mas quem pensou no Marketing Indireto (ou product placement) deveria ser demitido. Aparições totalmente sem sentido da marca IMAX e de uma cerveja light – que sem motivo Cade resolve beber depois de atropelar um caminhão da marca enquanto foge da nave espacial – são, no mínimo, ridículas.

E a preguiça do roteiro continua nas suas grandes conveniências. A primeira é o fato de Shane ser um experiente piloto de corridas e estar, por acaso, na fazenda de Cade e Tessa (Nicola Peltz) – personagem que consegue ser mais sem graça ainda do que a mocinha do filme anterior – quando Savoy e seu grupo procuram por Optimus. Mais tarde, na nave de Lockdown, os Autobots desligam alguma parte qualquer do sistema de navegação e, como efeito colateral, acionam arpões que se prendem num arranha-céu ao lado, possibilitando uma fuga do trio humano. E claro, ainda há espaço para artes marciais salvarem o dia quando Joshua Joyce (Stanley Tucci) se acha acuado na China e é salvo por Su Yueming (Li Bingbing) que, apesar de ser uma SEO de uma empresa de tecnologia, achou espaço na agenda para aprender com maestria o kung-fu.

O filme é um exagero até nos erros. Sem nenhuma noção de como construir uma cena tensa de ação, Bay joga ao fundo da luta entre Optimus e Lockdown uma trilha sonora cantada – provavelmente pela banda Imagine Dragons, mas não temos certeza porque o design de som não permite que se escute nada da letra – ao invés de apostar no silêncio, ou numa música orquestrada que seja.

Esse não é um filme agradável. Entendo a fan-base criada, mas é preciso senso crítico. As piadas (Cade perguntando o preço do caminhão, referenciado o primeiro filme; a brincadeira da cópia barata feita na China que não funciona direito) e questões filosóficas que são apenas pinceladas (alma, a procura pelo criador) não salvam o filme. Vejam questões pequenas que se resolveriam facilmente, como a caça aos Transformers: Cade é genial suficiente para hackear uma câmera espiã baseada na tecnologia de Cybertron e acessar as imagens dela, mas não pensou no mais óbvio para expor os culpados, fazendo um upload para algum serviço de streaming? Uma criança de 12 anos teria essa ideia.

Transformers: A Era da Extinção é mais um amontoado de ideias recicladas, que busca inspiração nos clássicos – impossível não nos lembrarmos do mito do Rei Arthur quando Optimus saca uma espada e é chamado de Cavaleiro – mas não dá sequer um minuto para pensar no que estamos vendo. O 3D é dispensável, e só vai contribuir para a sua dor de cabeça. Porém, tem público cativo e que, aparentemente, não vai se importar nem um pouco com o que estou dizendo.


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O MELHOR LANCE (La Migliore Offerta)


por Beto Besant

Como diz um amigo crítico, o cineasta que faz uma grande obra se torna quase um escravo dela. Cada filme que faz depois ficam todos esperando a nova obra-prima. No caso de Giuseppe Tornatore, seu público sempre espera seu novo Cinema Paradiso (1988) - sem trocadilho com o título original do filme: Novo Cinema Paradiso.

Confesso que tive o mesmo sentimento ao assistir Baaria (2009), em outros filmes isso não aconteceu por eu não saber de antemão que eram de Tornatore. Apesar de chegar com a expectativa de ver um bom filme - devido ao fato de ser um dos milhares admiradores de sua obra-prima, me preparei para ver o filme sem cair no erro citado acima. E foi gratificante ver O Melhor Lance, que apesar de não lembrar em nada a filmografia do diretor, é uma bela história de romance e suspense.



Na trama, Virgil Oldman (Geoffrey Rush) é um respeitado leiloeiro de obras de arte e antiguidades que aplica diversos golpes com a ajuda de Billy (Donald Sutherland), arrematando obras valiosas por preços irrisórios.

Virgil é um homem milionário e solitário, com sérios problemas de relacionamento - refletidos num par de luvas que usa o tempo todo para não encostar em nada nem ninguém. Guarda uma paixão por retratos femininos, uma centena deles que guarda numa sala secreta.


Como se poderia imaginar, apesar de ancião nunca teve uma experiência sexual. Sua fama faz com que Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks) o procure para avaliar os objetos antigos herdados de sua família, porém começa a estranhar que só consegue contato com ela por telefone. Começa então um "jogo de gato e rato", e o interesse pelas antiguidades somado ao mistério que envolve a mulher o deixam fascinado. Apesar de jovem e bonita, Claire possui problemas psicológicos ainda mais grave, pois há anos não consegue se aproximar de ninguém. 

O clima de romance e mistério é mantido até os últimos minuto de filme. Também existem elementos estranhos aos personagens que caracterizam a obra de Tornatore, como uma mulher anã que passa os dias em uma lanchonete repetindo números incessantemente.

Talento e experiência de Tornatore estão nítidos na telona, refletindo o rigor e excelência técnica das pinturas leiloadas por Virgil em rebuscada direção de arte, direção de fotografia precisa e movimentos de câmera bem acabados.


O roteiro - também assinado por Tornatore, é o grande trunfo do filme, por manter o público atento até o final, virtude que a direção e montagem conseguiram manter. Também as interpretações estão ótimas, Rush é o tipo do ator que consegue "segurar" uma cena apenas com o olhar.

Talvez pelo mesmo motivo que comentava no início do texto, quando vemos um filme cuja trilha-sonora é do maestro Ennio Morriconi - responsável por diversas trilhas geniais como Cinema Paradiso, Era uma Vez no Oeste (de Sergio Leone, 1968), Era uma vez na América (de Sergio Leone, 1984) e A Missão (de Roland Joffé, 1986), e para mim o melhor de todos, esperamos algo tão grandioso e marcante. Porém, até os minutos, a trilha é excessiva, como que tentando pontuar cada detalhe, um erro comum aos iniciantes. Apenas na cena final é que ouvimos algo à altura do maestro genial, nos dando vontade de ficar na sala até que os créditos terminem.

Para os saudosistas ou que não viram sequer o trailer de O Melhor Lance antes, pode ficar um gosto de decepção, por soar estranho um filme do cineasta rodado na Inglaterra e todo falado em inglês, mas se souber disso e assistir sem a expectativa de ver outro Cinema Paradiso, será uma bela experiência, seja para aqueles que gostam do chamado filme de arte, seja para aqueles que querem apenas duas horas de bom entretenimento.



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