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EU, MAMÃE E OS MENINOS (Les Garçons et Guillaume, à table)


por Antonio Carlos Egypto

A identidade de gênero, ou seja, ser e se sentir homem ou mulher, depende não apenas de um corpo biológico masculino ou feminino, mas também de determinantes socioculturais. Se as pessoas ao seu redor o veem de um modo diferente do que você se vê, o que prevalecerá? O que é ser masculino, quando seus modelos de referência são femininos?


É possível questionar os padrões, condutas e vestimentas atribuidos ao seu gênero, sem por isso negá-lo? Ou seja, inovar no gênero? Não é fácil, mas é possível. Vejamos o exemplo do cartunista Laerte, que atualmente se utiliza de um vestuário caracterizadamente feminino, mas não deixou de ser visto como homem, com identidade e nome masculinos, apesar das roupas, digamos, dissonantes. Acontece que ele já tinha uma larga história de vida, vivida e reconhecida no seu meio e pelo público. Sua mudança surpreendeu, foi debatida e assimilada. Se se tratasse de uma criança ou jovem desconhecidos teria sido igual?



Guillaume é um menino, ou poderia ser. Mas não é tratado como tal. A mãe individualiza sua pessoa, distinguindo-a dos outros meninos. Essa é a razão do título Les Garçons et Guillaume, à Table ou, na versão brasileira, Eu, Mamãe e os Meninos. Quem seria eu?


Há mães, como parece ser o caso da de Guillaume, que, após ter dois meninos, desejava uma menina para se espelhar, se identificar com ela. Se a biologia não colaborar, que tal ignorá-la? Guillaume segue o desejo materno e mimetiza de tal modo a mãe que até se confunde com ela, ocupa o seu lugar sem que outros percebam, quando fala sem ser visto. Improvisa com suas roupas de garoto, criando sempre um modelito mais feminino. Inspira-se não só na mãe, mas em outras mulheres que observa e admira, da família ou fora dela.


Isso significa que Guillaume será gay? Não, porque nada disso tem a ver com o desejo sexual pelo mesmo sexo. A identificação com o gênero feminino não significa, necessariamente, a orientação homossexual ou bissexual da atração, do desejo.


O filme Eu, Mamãe e os Meninos lida com isso inteligentemente e cria situações divertidas e inesperadas. O ator, roteirista e diretor Guillaume Gallienne dá um show de interpretação na caracterização desse personagem especial e, também, no de sua mãe. O público francês adorou, mais de 3 milhões de ingressos foram vendidos por lá. A crítica também: o filme foi indicado a dez prêmios César 2014, o Oscar francês. Venceu cinco, inclusive o de melhor filme e melhor ator.


Divertido e inteligente o filme é. Engraçado, nem tanto. Há poucas cenas que provocam o riso, que podem ser capazes de levar o público às gargalhadas. De qualquer modo, é uma boa comédia e tem um enfoque muito interessante e adequado ao tema de que trata. Em tempos em que é raro encontrar uma comédia de qualidade, sem maiores apelações, é bem-vinda. Se todos os prêmios e o sucesso de público se repetirão fora da França, só o tempo dirá. Aparentemente, não é para tanto. Mas vale a ida ao cinema. Há originalidade nesse trabalho.


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