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MINUTOS ATRÁS


por Beto Besant

"Cinema é imagem" - máxima cinematográfica quase unânime que provavelmente encabeçaria "Os Dez Mandamentos do Cinema", se existisse tal lista, vez ou outra é posta em cheque por cineastas que buscam um caminho mais autoral ou pelos egressos do teatro. Aqui temos um bom exemplo de como regras podem ser quebradas por quem tem talento.
Em Minutos Atrás, Alonso (Vladimir Brichta) e Nildo (Otávio Muller) são mendigos que seguem pela estrada com uma carroça puxada pelo cavalo Ruminante. Nessa viagem, que não tem caminho determinado nem destino, os amigos reavaliam suas vidas pregressas e futuras, sendo testados sobre suas convicções e capacidade de resiliência. O cavalo Ruminante é interpretado pelo ator/cantor Paulinho Moska que por vezes é revezado com o animal real.

Dirigido pelo poeta e dramaturgo Caio Sóh (que estreou no cinema com o filme Teus Olhos Meus, de 2011), o longa-metragem é uma adaptação de sua peça teatral homônima e consegue um belo resultado na telona. Os atores estão impecáveis em papéis que facilmente poderiam cair no caricato. Um exemplo disso é que o filme consegue uma justificativa para que Brichta pinte o rosto de branco, como numa maquiagem teatral, de forma bem verossímil. Moska alcança um bom resultado em sua interpretação de cavalo.
 
Os pontos fortes são a fotografia - muito precisa e interessante, ao colocar os personagens coloridos em paisagens preto e branco e a direção de arte - rica e detalhista naqueles personagens miseráveis.
 
O grande problema do filme foi a opção do diretor em manter a narrativa teatral da peça, onde há um excesso verborrágico. Apesar dos diálogos interessantes, chega um momento em que precisamos lutar a todo custo para não perdermos a atenção no que eles dizem. Para piorar, a trilha sonora de André Abujamra e Paulinho Moska opta por sonorizar o filme a ponto de não deixar um minuto de "respiro" (ou de descanso aos ouvidos), o que somados resultam em algo cansativo.
Esta fábula poderia ser entendida como se os dois amigos fossem aspectos de uma mesma pessoa - Alonso a face mais esperançosa e alegre e Nildo a face mais melancólica e desiludida. A viagem pode ser interpretada como nossa existência e suas dificuldades, que nos propulsiona a enfrentar as dificuldades diárias.

Por vezes acontecem tentativas de subverter a máxima citada no início do texto, o que raramente resulta de forma positiva. Mas este filme consegue mesclar teatro e cinema de forma bastante interessante.


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