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ENTREVISTA: Até que a Sorte nos Separe 2

Beto Besant entrevista a atriz Camila Morgado, o roteirista Paulo Cursino e o diretor Roberto Santucci, do filme "Até que a Sorte nos Separe 2".



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EU & VOCÊ (Io e Te)


por Antonio Carlos Egypto

Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) é um adolescente de 14 anos, em busca de espaço para sua privacidade e autonomia. Tem problemas e dificuldades no relacionamento com colegas, já que é um tanto intolerante e ríspido. Em casa, com a mãe, o conflito é ainda mais intenso, já que envolve um amor edipiano explicitado, em meio a constantes brigas e discussões.
Olívia (Tea Falco), irmã mais velha de Lorenzo por parte de pai, fazia com muito talento fotografia artística, até afundar na dependência de drogas, especialmente da heroína, de forma intensa.


Lorenzo e Olívia são os dois personagens que conduzem a trama do novo filme do grande diretor Bernardo Bertolucci. Por razões diversas, eles acabam convivendo, por um período de tempo, num porão, escondidos das outras pessoas. O encontro se dá de modo fortuito, inesperado para ambos. É por aí que se apresenta a oportunidade do convívio que resulta em conhecimento mútuo, já que, apesar de irmãos, eles estavam separados e nunca se viam.
Criar uma situação que confina dois personagens por um período de tempo facilita a exposição das diferenças do mundo de ambos, do que é difícil de enfrentar para cada um e de que modo esses mundos podem se tocar e se entender. O que interessa ao diretor é trabalhar sentimentos, expectativas e as relações possíveis entre os irmãos. Consequentemente, o que muda em cada um com esse convívio forçado e confinado.
A transformação dos personagens e da relação entre eles vai sendo mostrada de forma progressiva e realista, apesar da situação artificial criada. “Io e Te” não cai na cilada da redenção, traz esperanças, mas mantém os limites. Crescer e mudar é possível, mas não esperemos milagres. É por aí.

Bernardo Bertolucci, um dos grandes nomes do cinema italiano, faz mais um trabalho rico e intrigante, focado em relacionamentos humanos, o que é uma constante na sua obra. Basta lembrar de “Os Sonhadores”, de 2004, ou de “O Último Tango em Paris”, de 1972, ótimos filmes que também colocam personagens em espaços fechados por um bom tempo.
Evidentemente, a trajetória de Bertolucci é tão marcante que há muito mais do que isso em filmes notáveis, como “Antes da Revolução”, de 1964, “O Conformista”, de 1970, “1900”, de 1973, “La Luna”, de 1981, “O Céu que nos Protege”, de 1990, “Beleza Roubada”, de 1996, ou “Assédio”, de 1998. É um autor cinematográfico, que sempre tem muito a dizer, com belas imagens.
Io e Te foi um dos filmes exibidos na mostra contemporânea do 8º. Festival de Cinema Italiano no Brasil, em 2012, e agora chega ao circuito comercial dos cinemas. 

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ALÉM DA FRONTEIRA (Out in the Dark)


por Beto Besant

Nimer (Nicholas Jacob) é um jovem palestino que estuda numa faculdade de Tel Aviv. Acaba conhecendo e se apaixonando pelo advogado israelense Roy (Michael Aloni). O romance sofre os problemas de serem de nacionalidades rivais. Além disso, um amigo dos jovens é executado por sua homossexualidade e Nimer tem seu romance descoberto pela família - isso numa cultura onde homossexuais não tem nem o direito à vida.
Os personagens são colocados numa situação limite e forçados a tomarem medidas extremas.


Filme de estreia do israelense Michael Mayer, começa como uma espécie de versão gay de Romeu e Julieta, mas, ao contrário de mais uma versão melodramática sobre o tema - como tantas feitas até hoje, este desenvolve-se de forma primorosa, mostrando-se um filme forte e maduro.

Não é preciso muito esforço para entender por que este filme arrebatou prêmios por diversos festivais onde passou, como: Toronto, São Francisco, Miami, Filadélfia, Nashville, Rochester, Guadalajara, Torino e Haifa. Além da Fronteira mescla de forma magistral: romance, suspense, ação e policial.

O romance, que tem como pano de fundo a rivalidade entre palestinos e israelenses, expõe a violência de uma cultura árabe, onde homossexuais não são aceito nem em sua própria casa e muitas vezes são executados. Ainda no âmbito da sexualidade, o personagem judeu tem sua orientação aceita por sua família, apesar de que esta não suporta ter que conviver com seu namorado. Isto mostra outra virtude do filme, a de não ser maniqueísta, caso a família judaica aceitasse a sexualidade do rapaz.

Os problemas políticos de se viver na fronteira são muito bem apresentados pelo roteiro, onde palestinos tem dificuldade para ir à Israel e porque seus habitantes temem que informações sejam levadas ao país rival.

O ritmo do filme é preciso, segurando o público durante seus 96 minutos, não deixando um minuto sequer sem necessidade (a chamada barriga).
Além disso, roteiro e montagem não cometem o erro de duvidarem da inteligência do espectador, não dando informação mais do que o necessário.

É um dos melhores filmes dos últimos tempos e vai agradar não apenas o público gay, mas a qualquer pessoa que queira ver uma boa trama.


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coletiva de CRÔ - O FILME


por Beto Besant

Crô, o personagem Clodoaldo Valério (Marcelo Serrado) da novela Fina Estampa (TV Globo - 2012/13) que enriqueceu no final do folhetim, com a herança deixada pela sua patroa (Cristiane Torloni). Com isso contrata o antigo mordomo Baltazar (Alexandre Nero) e a governanta Marilda (Katia Moraes).

O novo rico cansa de sua vida tediosa e se lança como cantor, monta um salão de beleza e uma grife de roupas, mas nada dá certo. Certo dia sonha com sua mãe (interpretada por Ivete Sangalo) e decide voltar a ser mordomo porque acredita que seu destino é servir.

Anuncia uma "seleção" para encontrar sua patroa e acaba conhecendo Vanusa (Carolina Ferraz), dona de tecelagem que explora imigrantes bolivianas junto com seu marido Riquelme (Milhen Cortaz).

Crô acaba por descobrir a forma desumana com que as funcionárias são tratadas e dá uma de James Bond pra salvar as bolivianas, dentre elas uma menina de cerca de dez anos.


Escrito por Agnaldo Silva, o autor de novelas com os maiores índices de audiência, Crô - o filme é uma tentativa rasteira de fazer dinheiro rápido unindo a atual moda de comédias brasileiras com um personagem de grande sucesso nacional a partir da telenovela.

O filme é uma sucessão de erros. Do roteiro, que tenta ser engraçado a todo custo mas está muito longe disso. Na desculpa de se fazer um "humor popular" parte-se pra um humor apelativo e estereotipado. O protagonista encarna o gay de programas populares, afetado e fútil, seu mordomo o homofóbico. A dona da tecelagem a nova-rica fútil que quer fama e dinheiro, e seu marido o latino violento e sem escrúpulos. E pra piorar, um filme que se pretende ser diversão pra família toda, tem uma morte que sai totalmente dos padrões do gênero.

Com estes personagens, o bom elenco não tinha o que fazer, a não ser representá-los da forma mais digna possível.
E pra piorar, a direção do experiente Bruno Barreto ("Flores Raras", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", entre outros) só reforça as limitações do roteiro, repetindo à exaustão bordões bobos que não agradariam nem a uma criança. Outro erro - se é que isso seria possível, é um filme que, fadado a ter muitos rostos "televisivos", ainda completar seu elenco com nomes como Ivete Sangalo, Ana Maria Braga e Gaby Amarantos. Nada mais oportunista.

No último dia 13 de novembro, ocorreu em São Paulo a Coletiva de Imprensa para a divulgação do filme. 
A produtora Paula Barreto disse que fez o filme sem dinheiro de incentivo fiscal, pois queria lançar o filme pouco tempo após o final da novela. Por isso, o filme foi financiado por: Telecine, Paris Filmes, Downtown e LC Barreto, num total de cinco milhões e duzentos mil reais e lançamento em 400 salas de cinema.

Barreto conta que recebeu o convite de Marcelo Serrado para dirigir o filme, pois gostava do personagem, considerando-o uma espécie de Jerry Lewis.

É o típico filme-titanic, que tudo tem grife, roteirista, diretor, elenco e personagem, e o resultado é catastrófico. Pode até dar uma boa bilheteria, uma vez que quantidade não é sinônimo de qualidade, porém a única coisa que desejo é que Jerry Lewis não esteja se revirando em seu túmulo com tal comparação.


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TATUAGEM


por Antonio Carlos Egypto

“A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua furando nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão...
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão...”


Esses são os versos finais de “Chão de Estrelas”, letra de Orestes Barbosa para um grande clássico da música popular brasileira, que teve sua primeira gravação realizada em 1937 por Sílvio Caldas, também autor da canção.

O que tem isso a ver com o filme de Hilton Lacerda, “Tatuagem”? Chão de Estrelas é o nome de uma casa de shows e teatro alternativo, onde os personagens provocavam a ditadura brasileira da época, em 1976, no Recife. Um momento em que a ditadura militar já dava sinais de esgotamento, mas a censura permanecia ativa. Os espetáculos de cabaré do Chão de Estrelas procuravam mexer com a moral estabelecida, por meio do escracho, da nudez, do homoerotismo, de um modo um tanto histérico, alternando cantos, danças e performances, que usam letras chulas e palavrões, com belas canções da MPB. Daí se vê que o nome do estabelecimento não é gratuito, é uma homenagem à canção brasileira. Assim como a interpretação de “Esse Cara”, de Caetano Veloso, por Clécio (Irandhir Santos), marca o momento da conquista do soldado Fininha (Jesuíta Barbosa). Ou, ainda, o encerramento pregando a paz, após a guerra vivida, que convoca a gravação de Dalva de Oliveira para cantar, a plenos pulmões, “Bandeira Branca”. O que é mais alternativo reverencia a velha e nova MPB.



“Tatuagem” é um filme que mostra a resistência pelo lado da contestação anárquica, comportamental e de valores. É um filme libertário e, ao mesmo tempo, provocador, também para os dias de hoje. Podemos relacioná-lo na nossa história recente às contestações do teatro Oficina, do Zé Celso, dos Dzi Croquettes ou dos primeiros trabalhos provocadores do cinema de Pedro Almodóvar, na Espanha recém-liberada do franquismo. Para se contrapor à repressão, nada melhor do que a festa, correndo o risco de acabar na cadeia.


O diretor pernambucano Hilton Lacerda é um experiente roteirista de filmes, como “Baile Perfumado”, de 1997, “Amarelo Manga”, de 2003, “Árido Movie”, de 2004, “A Febre do Rato”, de 2011, entre outros. Codirigiu, com Lírio Ferreira, o ótimo documentário “Cartola – Música para os Olhos”, de 2007, outra incursão dele na música brasileira. Dirige agora seu primeiro longa de ficção, com muito vigor.

No elenco, o grande destaque vai para o protagonista Irandhir Santos, que a cada filme se afirma como um dos melhores atores do cinema brasileiro. Mas Jesuíta Barbosa e Rodrigo Garcia também dão bem conta de seus papéis, assim como o restante do elenco. “Tatuagem” venceu o Festival de Gramado, obtendo o Kikito de melhor filme. Foi exibido também no Festival do Rio 2013 e na 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.


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LAURA


por Beto Besant

Laura é uma atriz argentina criada no Brasil que vive em Nova Iorque em busca do estrelato.
Para isso, passa seus dias entrando nas festas baladas frequentadas por atores como Clive Owen, como se assim ela chegasse mais perto de sua grande chance em Hollywood.
Por trás de uma imagem glamourizada, esconde-se uma mulher de terceira idade com sérios problemas financeiros que alimenta desejos e sonhos de uma adolescente.


Dirigido por Fellipe Barbosa, grande amigo de Laura, o filme registra as aventuras e desventuras da atriz, cuja maior participação "artística" foi na plateia de um show do Roberto Carlos.

A rotina de filmagem, que começa como algo muito prazeroso e envaidecedor pra ela, torna-se um tormento e faz com que tenha crises de humor.

O filme começa com promessas de ser interessante, mas a fraca direção faz com que se torne uma espécie de Rodovia Transamazônica - pois leva "do nada para lugar nenhum".

Em determinados momentos, a atriz discute com o diretor - seja porque este quer que ela simule algo, e assim deixe de ser a realidade, seja porque não suporta mais uma câmera ao seu lado todo o tempo. Por se tratar de uma atriz, nunca sabemos se o que ela faz é totalmente espontâneo ou se é algo dramatizado.

Num dos bons momentos, vemos a atriz ao lado de Clive Owen tentando abordá-lo, mas é ignorada como se não estivesse lá.

Talvez com um montador experiente o filme se saísse melhor, explorando mais o contraste da vida que ela possui com a vida que almeja ao invés de ser um filme que não sabe se quer mostrá-la como uma pessoa admirável ou uma desequilibrada.


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SERRA PELADA


por Beto Besant

No início dos anos 80, o professor Joaquim (Júlio Andrade) deixa sua mulher grávida e parte para o estado do Pará com seu amigo de infância Juliano (Juliano Cazarré) com o intuito de enriquecer no garimpo de Serra Pelada. Lá a ganância vai transformando os amigos e deixando-os cada vez mais distantes entre si e de suas famílias. Logo tomam contato com a terra sem lei que é o garimpo, onde se mata por nada e pobres tornam-se ricos do dia pra noite, literalmente.


Escrito por Vera Egito e seu marido, o diretor Heitor Dhalia, Serra Pelada é uma grande produção, daquelas que até poucos anos não se via no cinema nacional. O casal encontrou uma forma eficaz de abordar o universo do garimpo, contando a história dos amigos que deixam suas casas e famílias em busca do sonho de enriquecerem encontrando ouro. O roteiro “bem amarrado” consegue se aprofundar e constrói um belo arco dramático (forma com que a história se desenvolve), mostrando como o dinheiro é capaz de mudar a cabeça do ser humano. 

Após encontrar sua primeira pedra de ouro, Joaquim fica seduzido pela riqueza e busca cada vez mais dinheiro, até o ponto onde vê que a busca daqueles homens acaba por transformá-los em semianimais, que passam por cima de qualquer coisa para terem cada vez mais dinheiro. Forçado a matar, para que pudessem continuar no garimpo, Juliano sente gosto pelo feito e se importa cada vez menos com o ser humano. Seduzido pela ganância de fortuna e poder, passa por cima até de seu amigo/irmão.

Os roteiristas criaram o personagem Lindo Rico, um dono de morro violento e sarcástico, especialmente para Wagner Moura, que teve de deixar o personagem Juliano por conta de um filme no exterior. Moura também é um dos produtores do filme. O único problema do roteiro é o excesso de voz off (de Júlio Andrade), como querendo explicar até cenas autoexplicativas. Este pequeno “problema” não deve incomodar ao público médio, mais acostumado com filmes mais “mastigados”. 

A direção de Dhalia é impecável, dando tensão na movimentação de câmera, porém sem exagero e extraindo o melhor de cada ator. O elenco formado por ótimos atores, merece destaque para Matheus Nachtergaele e Wagner Moura, este último consegue o tom perfeito, misto de engraçado e mau caráter. Em cada uma das poucas vezes que aparece em cena faz o filme ganhar novo sabor, com seus momentos mais engraçados. O talento de Moura faz com que este “tome conta da tela” a cada aparição.


Sophie Charlote estreia na tela grande interpretando Teresa, uma ex-prostituta que foi “adotada” aos treze anos pelo personagem de Nachtergaele. Charlote apesar de estar entre a “nata” do cinema nacional, não decepciona em sua participação.

O filme insere imagens documentai do garimpo, o que ressalta o excelente trabalho da direção de arte de Tulé Peake, pois quase não se nota a mudança da parte documental para a parte ficcional. A direção de fotografia de Ricardo Della Rosa também é precisa, transmitindo a aridez do garimpo e os corpos suados e bronzeados de seus trabalhadores.

Serra Pelada é um filme incrível, daqueles que nos dão orgulho de ver como o cinema nacional pode ser bem realizado. Infelizmente não é o tipo de trabalho que lota as salas de cinema.


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Entrevista: MEU PASSADO ME CONDENA - por Beto Besant

Entrevista feita com a diretora Júlia Rezende e os atores Fábio Porchat e Miá Mello.



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MATO SEM CACHORRO

por Beto Besant

Deco (Bruno Gagliasso) é um carioca que vive estirado no sofá do apartamento herdado de seus pais. Certo dia quase atropela um cão com narcolepsia – doença que provoca desmaios repentinos, e ao socorrê-lo conhece Zoé (Leandra Leal), uma radialista apaixonada por cães. Os dois se envolvem rapidamente e vão morar juntos e adotam o cão de nome Guto.
Como Deco continua jogado no sofá, Zoé lhe deixa e vai com seu cão morar com Fernando (Enrique Diaz), um ex-namorado empresário "natureba" bem-sucedido dono de um SPA canino.
Para completar, Leléo (Danilo Gentili) - primo paulistano de Deco, vai morar em seu apartamento no Rio de Janeiro, tirando o pouco sossego que lhe restava. Então Deco planeja sequestrar o cão com a ajuda de seu primo.



Longa-metragem de estreia na direção do ator e montador Pedro Amorim, Mato sem Cachorro é uma comédia romântica que, apesar dos diversos trunfos, não “decola”. A começar pelo elenco, que tem como casal protagonista os sempre excelentes Leandra Leal e Bruno Gagliasso (ainda subvalorizado no cinema). Leandra e Bruno são convincentes em seus papeis e tem química suficiente para que o público torça para que eles terminem juntos. Danilo Gentili (que faz sua estreia no cinema) já tem uma participação mais contida. Por ter no improviso seu maior trunfo, no filme perde um pouco a graça – mesmo tendo liberdade para colocar diversos “cacos” (palavras que não estavam no roteiro), apelando muitas vezes para piadas sem graça e palavrões.

Pedro Amorim e Bruno Gagliasso
Enrique Diaz também está muito bem, encontrando o tom certo para viver o empresário “bonzinho e natureba”. Sandy faz uma divertida participação especial no papel dela mesma, brincando com a imagem de pureza que a mídia lhe apregoa. O mesmo pode-se dizer de Rafinha Bastos, que interpreta um veterinário excêntrico. Gabriela Duarte é provavelmente o maior erro de elenco, que tenta ser engraçada e sedutora, mas não convence nem ao cão do filme.  Mesmo acontece com a participação de Marcelo Tas, que interpreta dois irmãos gêmeos que mais parece filme da Xuxa.

O cão estrela do filme e seu adestrador americano
Amorim não consegue juntar todo este belo elenco de maneira satisfatória. O roteiro de André Pereira se perde na história e o diretor também não é capaz de salvá-lo. A abertura do filme, onde há uma mixagem de John Lennon é engraçada mas a repetição da fórmula perde a graça. A fotografia do experiente Gustavo Hadba é interessante mas não tem muito o que fazer num filme do gênero.


Uma coisa estranha numa comédia do gênero é o fato do personagem carioca ser “paradão” enquanto o paulistano ser “malandro esperto”. Resumo: diversão mediana ou para quem tem o riso muito solto.


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O CONSELHEIRO DO CRIME (The Counselor)


por Tiago Paes de Lira

Existem filmes densos e que nos fazem refletir. E existem outros que são puramente um soco no estômago, como esse ótimo exemplo trazido por Ridley Scott e Cormac McCarthy, voltando ao violento mundo do crime que havia visitado em Onde os Fracos Não tem Vez (livro que os Coen basearam seu filme No country For Old Man, de 2007). É uma história pesada e tensa, que mostra cicatrizes que nunca curam, e como uma série de eventos, que pode vir da má sorte, atinge os inocentes.

O Conselheiro (Michael Fassbender) é um advogado que por um motivo não detalhado na história se envolve com um pesado tráfico de drogas. Junto do conhecido Reiner (Javier Bardem) e do contato dos dois, Westray (Brad Pitt), ele entra num negócio que pode render um lucro de bilhões. Prestes a se casar com Laura (Penélope Cruz), ele se sente seguro. Até que a carga da droga é desviada de seu caminho e os donos acreditam que o Conselheiro é o culpado.


Existem grandes momentos no filme, e um dos melhores é a construção dos personagens. A cena inicial do Conselheiro e Laura fazendo formas no lençol, depois para dentro dele para closes dos dois, com cortes lentos, mostram um casal apaixonado. Desde o começo, o diretor nos faz simpatizar com o casal, por mais torpe que seja a atitude do advogado. A cena de Reiner e Malkina (Cruz) também é cheia de simbolismos, um tanto óbvios até, que é a caça de duas chitas de estimação – se é que se pode dizer isso – caçando coelhos no deserto. A personalidade de Reiner e completada por seu visual exagerado – bronzeamento artificial, cabelo estilo Brian Grazer – e Malkina por suas tatuagens que mimetizam um felino. E quando o Conselheiro e Westray se conhecem, ele usa cores claras, é colocado na luz, mostrando-se mais experiente no assunto, em oposição ao advogado, sempre de preto, mais escondido.

Malkina é a personagem mais interessante da trama, apesar de ser impossível não saber que Scott colocasse a atriz apenas para ser par romântico de um senhor das drogas. Isso não estraga a experiência, mas com certeza fica mais fácil de entender o desfecho. Ela é dissimulada, como uma gata é, e suas frases mostram que ela é uma mulher forte. Sedenta por dinheiro, ela até deixa de lado a sutileza ao usar um canino de ouro na boca. Ela tem uma personalidade impossível e imprevisível, desde os momentos que ela tenta “comer” Laura, ao mesmo tempo em que tem uma fixação estranha com a fé da noiva do advogado, finalizando na bizarra história de quando ela transou com um carro de Reiner. Sim, é tão estranho quanto parece.

A história tem poucas sutilezas, mas é difícil de entender o jeito que o diretor trata do sexo. Como é de costume, a violência é mais aceita pelas audiências tradicionais. Então, temos pessoas executadas de variadas maneiras – uma das mais interessantes é a do motoqueiro que tem a cabeça decepada – mas é pudico com os corpos dos personagens, tanto homens como mulheres. Conseguimos ver um "sideboob" de Cameron Diaz e Penélope Cruz, e só. Não é demérito, apenas um detalhe que nesse universo seria uma coisa natural de acontecer.

Todos os elementos estão bem encaixados. Começando com uma moto que cruza ao fundo a cidade onde o Conselheiro e Laura estão, as advertências que vem de todos os lados, inclusive de Westray que dá um conselho importante ao advogado – “saia fora” – as conversas que parecem esparsas e até uma parede completamente pintada de roxo, um símbolo ligado à morte, na casa de Reiner enquanto ele e o Conselheiro conversam sobre o negócio.

O Conselheiro do Crime - Scott consegue segurar a atenção de nós espectadores do começo ao fim. Enquanto vamos participando da história, Ridley nos prende num sentimento de humano, onde existe uma esperança mínima que tudo de certo no final, e que o desfecho iminente seria muito injusto. Afinal, por que não punir aquele que é o verdadeiro pecador? Mas não seria uma história tão boa, apenas menos chocante se o culpado fosse o sofredor físico. E tudo acaba com uma entrega e com uma felina dizendo que está com fome. Mais um prova de boníssimo cinema.


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11º CURTA SANTOS



por Beto Besant

Nesta terça-feira, 15 de outubro houve a Cerimônia de Abertura do 11º CURTA SANTOS, o principal evento cinematográfico do litoral paulista. O evento aconteceu no SESC Santos, tradicional parceiro do festival.


A cerimônia teve seu início com o ator Sidney Herzog, que entrou pela plateia cantando e caminhando até o palco. Em seguida, foi a vez da banda Tarja Preta apresentar suas músicas, com destaque para Falsa Abolição, concorrente a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.


Depois foram apresentados os 10 curtas-metragens que concorrem na categoria Olhar Caiçara e mais 10 da categoria Olhar Brasilis, seguidos pelos 10 concorrentes a Melhor Videoclipe Olhar Caiçara.

O diretor do evento Ricardo Vasconcellos, em tom de desabafo, subiu ao palco e falou sobre as dificuldades que um festival tão tradicional como o Curta Santos enfrenta, mesmo após 11 edições realizadas. Tendo que suprir todas as limitações impostas, inclusive algumas de última hora, deixando-os apreensivos sobre a viabilização do festival. Convidou ao palco o prefeito de Santos, Sr. Paulo Gomes e a Deputada Estadual Sra. Telma de Souza, que naquele dia conseguiu viabilizar com o Governo do Estado a verba que faltava para a realização do evento.

O ator Raffa Oliveira entrou em cena pelo mezzanino do teatro, onde faz um monólogo enquanto descia as escadas e alcançava o palco para anunciar o grande homenageado da noite: o ator Caio Blat. Ele fez um discurso emocionado, sobre a importância que o festival alcançou entre os eventos do gênero do país, sobre a dificuldade de um ator viver da profissão e sua felicidade em ter participado de 26 longas-metragens. Mas o momento mais especial foi quando revelou que, há vários anos, esteve num hotel da cidade e uma pessoa muito carismática e apaixonada por artes chegou até ele e falou que estava começando um festival de cinema na região e que ele tinha que participar. Essa pessoa era o querido Toninho Dantas, idealizador e Diretor Artístico do Festival, falecido em 2010.

Júnior Brassalotti, diretor artístico do evento, subiu ao palco e fez um discurso muito inflamado que contagiou a plateia. Em suas palavras citou as dificuldades que um evento do tipo enfrenta por ter políticas públicas mais interessadas em angariar votos do que levar cultura à população. Citou pessoas que lhe influenciaram a ingressar na vida artística e a se posicionar como cidadão, que luta pelos direitos de acesso à cultura, e como artista, que necessita de espaço público para apresentar seu trabalho e de condições financeiras para viver dignamente de seu ofício. Convocou os artistas da região a buscarem seu espaço, a irem à luta em cada local e exigirem seu direito de apresentarem sua arte. Com sua forma firme porém tranquila, conseguiu empolgar a plateia que lotava o teatro do SESC Santos.

O DJ Wagner Parra apresentou suas músicas simultaneamente à projeção de trechos de importantes obras da cinematografia nacional.
Depois os diretores convocaram o público a falarem o que julgassem pertinente, levando seus microfones a eles.
Resumo, foi uma grande festa, marcada pela reivindicação de políticas públicas que deem condições para que a classe artística possa viver de seu ofício. Pequenos problemas técnicos ocorreram, pois a forma não convencional de atores entrarem pela plateia e descerem escadas, fez com que, por vezes o microfone falhasse. A apresentação de Parra e a parte final, onde o público diz o que achar pertinente tiveram certa morosidade e deveriam ser mais enxutos. Mas nada que diminuísse o brilho dos discursos apaixonados e engajados de Blat e Brassalotti.

Durante os 4 dias de festival, aconteceram oficinas de direção de arte, interpretação e realização cinematográfica, além de debates mediados pelo jornalista e crítico de cinema Celso Sabadin. Também aconteceram mostras paralelas e exibições dos longas-metragens convidados: O dia que durou 21 anos (de Camilo Tavares), A memória que me contam (de Lúcia Murat) e Cores (de Francisco Garcia). Hoje o festival faz seu encerramento, apresentando os premiados de cada categoria.

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GRAVIDADE (Gravity)


por Tiago Paes de Lira

É fantástico como uma ideia tão simples pode render algo tão excelente. Gravidade tem uma premissa mínima, mas que desenvolvida nos carrega durante seus 90 minutos, passando por ótimos momentos dramáticos e com senso de urgência. O que Alfonso Cuarón trouxe foi uma experiência cinematográfica incrível, cheia de lirismo, coragem e, no fim das contas, uma homenagem à humanidade.

Durante uma missão espacial, a Dra Ryan Stone (Sandra Bullock), em seu primeiro voo orbital, é acompanhada pelo veterano Matt Kowalski (George Clooney), que está na sua última expedição fora do planeta. Enquanto trabalham no telescópio Hubble, a NASA informa que um teste conduzido pelos russos deu errado, destruindo vários satélites, e que os destroços se dirigem à localização deles. A reação em cadeia destrói a nave dos dois, que ficam à deriva no espaço. Sem transporte, eles tem que chegar até outra estação espacial para voltar à Terra com vários perigos iminentes: a volta dos destroços que estão orbitando o planeta, a comunicação interrompida com a agência, e o baixo suprimento de oxigênio de suas roupas.

Você vai concordar que esse é um argumento simples. Personagens tem que ir do ponto A ao ponto B antes que o pior aconteça. Porém, o excelente desenvolvimento da história dirigida por Cuarón faz com que essa seja uma jornada de descoberta. Em determinado ponto, Ryan diz que o que ela mais gosta no espaço é o silêncio, e que lá temos momentos para reflexão. Durante os minutos iniciais da história filmada em plano sequência – em uma ótima junção de tecnologia digital e a técnica do plano sequência em si – vivenciamos esse espaço silencioso e com a câmera acompanhando o flutuar na gravidade zero. O diretor, com enorme competência, nos torna parte desse cenário, onde o silêncio é quebrado pela conversa dos astronautas e belíssima trilha de Steven Price.

Numa guinada, Cuarón transforma toda essa paz de espírito em desespero quando os destroços atingem a nave. É desesperador, e a vontade que temos é de gritar para que os personagens olhem para trás é monstruosa. É uma pequena percepção do que é ficar sem parte dos sentidos, guiando-se só pelo que se vê, sem os sons para ajudar. Para piorar, apesar da urgência tátil, os astronautas se movimentam com lentidão própria do espaço, não havendo a ser feito.

Pela primeira vez um filme 3D convertido tem sucesso e ajuda a trama. Em vários momentos, Cuarón nos coloca na visão subjetiva de Ryan. Assim como ela, não temos experiência no espaço sideral. O desespero dela é o nosso, a desorientação dela é a nossa. Poucas vezes no cinema recente houve uma imersão tão profunda entre protagonista e plateia. Afins de comparação, o efeito é o que deveríamos ter visto em O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spiderman, 2012), mas infinitamente menos tímido.

A construção dos personagens é outro elemento digno de palmas. Ao invés de apelar para flashbacks ou narrações em off, Cuarón faz que Matt tranquilize Ryan falando de seu passado. Não precisamos de cenas dela com a filha, ou mostrando a casa em que cresceu para criarmos identificação, ou entender que a morte da filha a fez buscar isolamento. Já Matt é retratado pela música que ouve, e pela sua tranquilidade e vontade de quebrar o recorde de permanência no espaço, características que fazem entender o destino do personagem.

Assim como a própria condição humana, o filme tem camadas e mais camadas para serem destrinchadas. Existem homenagens à outros filmes espaciais, com a voz do controlador da NASA ser de Ed Harris, reprisando seu papel Apollo 13 (Apollo 13, 1995) e uma brincadeira com um extintor no estilo Wall-E (Wall-E, 2008). A fotografia de Emmanuel Lubezki lida com momentos chaves do filme, passando pela urgência banhada em vermelho pelo sol no momento do acidente, e da escuridão logo depois quando Ryan se encontra girando no meio do vácuo do espaço, além de trabalhar incrivelmente bem quando as luzes precisam ser diferentes nos momentos dentro dos módulos, por causa da suas várias mudanças de posição. E é impossível não falar sobre a mise en scène, belamente construída, atingindo seu ápice na cena que emula uma gravidez, com direito à cabos soltos, que funcionam como o cordão umbilical. Não existe outra palavra além de linda para a sequência toda. E para provar que consegue manipular a audiência mais ainda, o diretor brinca mais uma vez com a relação de Ryan e Matt na cena do reencontro, mas mantém a personagem feminina forte, sem precisar apelar para um salvador masculino.

Passando por despedidas inesperadas, e momentos envolvidos pela beleza do espaço – por mais que não dê tempo de curti-las, já que a uma missão deve ser concluída –, o filme nasce para se tornar um novo clássico. Não apenas da ficção científica, mas como um todo. É uma produção espetacular, desde questões técnicas, movimentos e enquadramentos de câmera e direção dos dois fantásticos atores.

[E se você não viu o filme, pule o próxima parágrafo para evitar spoilers]

Não é exagero dizer que em Gravidade é, no final, uma homenagem de Cuarón à própria raça humana. Existe um motivo para tudo em cena. Então, quando o diretor filma Ryan em posição fetal na Estação Espacial Internacional, ele mostra a crença na teoria de que a vida começou no espaço. E para completar essa visão, Cuarón faz com que a astronauta caia no mar, nade até a superfície, e com pernas bambas, chegue à terra firme, transformando assim Ryan na representação poética do ser humano.

[Fim dos spoilers]

Profundo e brilhante são poucos elogios à essa obra de arte, que figurará por muitos anos na imaginação dos apreciadores dessa arte que é o cinema.


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NOVE CRÔNICAS PARA UM CORAÇÃO AOS BERROS


por Beto Besant

Como diz o título, o filme conta nove histórias do cotidiano de pessoas comuns com problemas existenciais.
Simone (Simone Spoladore) cansou de ser prostituta e procura um homem que a assuma e tire-a da prostituição. Leopoldo (Leonardo Medeiros) tenta criar coragem para abandonar seu trabalho e mudar o rumo de sua vida. Júlio (Júlio Andrade) tem uma vidinha medíocre que se divide em morar com a mãe e ir para um trabalho entediante. Um músico (André Frateschi) faz um anúncio no jornal para formar uma banda.
Estes e outros personagens vivem seus problemas e desilusões sentimentais e de vida.



Construído na intenção de formar um mosaico de personagens e suas vidas, Nove crônicas para um coração aos berros é uma sucessão de erros. O roteiro de Gustavo Galvão e Cristiane Oliveira não consegue dar uma unidade aos personagens e a impressão que temos é que foram feitos vários curtas e unidos aleatoriamente para virarem um longa-metragem.


As situações não tem verossimilhança, conceitos como o que se evita ao máximo o uso de diálogos fazem com que aconteçam situações completamente sem sentido. A direção de Galvão tenta fazer planos sequência que fazem o filme ficar mais lento e entediante ainda.
Além disso, toda a direção de arte ambienta o filme no início dos anos 80, mas no final mostra um Fiat 96.

É realmente difícil de acreditar como atores do gabarito de Simone Spoladore, Leonardo Medeiros e Marat Descartes aceitaram participar de um filme tão imaturo.


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Coletiva: O TEMPO E O VENTO


por Beto Besant

Livremente adaptado da obra O Continente (de Érico Veríssimo), o filme parte de uma noite de conflito entra duas famílias gaúchas rivais onde Bibiana (Fernanda Montenegro) recebe a visita de seu grande amor, o capitão Rodrigo, morto há décadas. Assim, ela lhe conta 150 anos de história de sua família. 





A máxima de que “cinema é imagem” neste filme deveria ser mudada para: cinema não é apenas imagem. Alardeado como o primeiro filme no mundo finalizado em 4K (algo como uma super definição) logo percebemos a velha máxima: quando um filme não se sustenta sozinho, usa-se argumentos de ineditismo em algum outro quesito. Dirigido pelo renomado diretor de telenovelas Jayme Monjardim, O Tempo e o Vento é uma sucessão de equívocos. 


Na coletiva, o diretor já começou se justificando que gosta de fazer histórias populares, fáceis de entender, com início meio e fim. Isso mostrou que ele sabia que seria criticado pelo tom novelesco da trama. Tudo no filme nos dá a estranha sensação de estarmos assistindo a uma novela em tela grande: da forma didática com que Bibiana conta a saga da família ao elenco recheado de estrelas da TV Globo, que parece querer atrair para as salas de cinema o público habituado às produções televisivas. Nem os 27 tratamentos do roteiro, escrito por Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, foram capazes de salvá-lo. Na ânsia de querer contar o romance, a guerra entre as famílias e tudo que aconteceu com a família de Bibiana e com o Capitão Rodrigo, o roteiro não consegue se aprofundar em nada, como se fosse o trailer de uma série de TV. 

Vemos tudo acontecer numa velocidade assombrosa e não nos identificamos com nenhum dos personagens. A trilha sonora (belíssima composição de Alexandre Guerra) além de sempre acentuar o melodrama ou heroísmo, é de uma constância ensurdecedora. Não sei se foi um erro do compositor ou do diretor, mas o fato é que o filme parece querer fazer com que a trilha sonora obtenha do público a emoção que o roteiro não consegue. E não dá um minuto de descanso aos nossos ouvidos, como um longo trailer de publicidade. 


O elenco em geral está bem. Thiago Lacerda, que carrega a pecha de um galã de novela, está muito convincente como capitão Rodrigo. Principalmente na cena em que ele está bêbado e não dá importância ao grave estado de saúde de sua filha recém-nascida. Fernanda Montenegro está bem como sempre, mas não excepcional. Cléo Pires e Suzana Pires são o ponto fraco entre as atuações, que contam ainda com dois estrangeiros: o argentino Martin Rodriguez e o uruguaio César Troncoso (sempre ótimo). 

Apesar de tudo, o filme conta com a belíssima fotografia de Affonso Beato (que trabalhou até com Pedro Almodóvar) em lindas paisagens alaranjadas bem ao estilo E O Vento Levou. Monjardim confessa que filmou a mais para que o filme possa ser alongado para a exibição na TV Globo como minissérie. E diz que não teria feito o filme se Fernanda Montenegro não aceitasse interpretar Bibiana. Talvez fosse o caso da atriz ter pensado melhor antes de aceitar o personagem.



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OBSESSÃO (Paperboy)



por Rogério de Moraes

Por mais óbvio que seja, nunca é demais repetir que literatura e cinema são linguagens diferentes. Por esse motivo, a transposição de um para o outro, as chamadas adaptações para o cinema, como o próprio nome diz exige... adaptação. É aí que mora o perigo, já que a fidelidade ao original nem sempre funciona na tela.

Obsessão é a transposição para o cinema do livro “Paperboy”, de Pete Dexter (trad. Ivar Panazzolo Junior, ed. Novo Conceito, 336 págs. R$29,90). A direção é de Lee Daniels, nome que ganhou destaque em 2010 ao dirigir Preciosa – Uma História de Esperança e concorrer a seis Oscars, incluindo o de melhor filme e melhor direção (levou dois: melhor atriz coadjuvante para Mo’Nique e melhor roteiro adaptado).



Para esta adaptação, Daniels reuniu um elenco de rostos conhecidos. Matthew McConaughey interpreta Ward, um jornalista que nos anos 60 retorna à cidade natal na Flórida para investigar um julgamento que resultou em uma condenação à pena de morte para Hillary Van Wetter, interpretado por John Cusack.
Para tentar provar que o julgamento não foi justo, Ward conta com a ajuda de Charlotte Bless, uma mulher vulgar que se corresponde com presidiários e se apaixona por Wetter. Interpretada por Nicole Kidman, ela despertará o desejo e a paixão do irmão caçula do jornalista, Jack, vivido por Zac Efron.

Ao final de Obsessão, não é preciso ter qualquer informação prévia sobre a fonte da história para deduzir que se trata de uma adaptação literária. A transposição da história para o cinema é tão falha que revela na sua própria estrutura e má funcionalidade o ruído entre uma linguagem em outra.


Da ambientação aos personagens, passando pelas situações vividas por todos e pelas diversas questões que o filme pincela (preconceito racial, direitos civis, moralidade e inocência), tudo está montado e amarrado como um livro, não como um filme. Não há uma fruição, mas solavancos que denunciam capítulos condensados, enfileirados e filmados.


Mais do que perder-se na tradução (risco inevitável em qualquer adaptação), Obsessão não se esforça em transformar uma coisa em outra. Seu roteiro não busca uma linguagem que amarre e faça fluir a história com naturalidade, deixando transparecer uma resistência em cortar, em condensar.

Não que os 107 minutos de duração sejam prolixos, eles são apenas mal aproveitados ao tentarem espremer o que poderia ser cortado e substituído por um olhar mais próximo dos personagens e suas motivações. Isso porque quase todos os personagens da trama têm um visível potencial dramático que o filme simplesmente desperdiça com a superficialidade.

Também não colaboram para melhorar o resultado as atuações que se vê na tela. Elas vão de um Zac Efron sem atributos dramáticos, passam por um Matthew McConaughey no piloto automático, revelam uma Nicole Kidman irregular para finalmente chegar ao ápice de um John Cusack várias notas acima do tom.

Entre cenas constrangedoramente ruins e algumas boas promessas nunca concretizadas narrativamente, Obsessão é um filme que se mostra preguiçoso como adaptação, ineficiente como thriller e frágil como arco dramático.


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INVOCAÇÃO DO MAL (The Conjuring)


por Tiago Paes de Lira

Creio que dentro do imaginário coletivo, o gênero terror é mal visto por dois motivos: a sequencia infindável de filmes tidos com trash ou B e a recente leva de filmes que não assustam. Os últimos anos tem sido particularmente ruins para o gênero, mas Invocação do Mal escapa disso. Não é um filme brilhante, e visualmente tem características de outros grandes clássicos do terror. Mas é digno de sustos genuínos e provavelmente vai perturbar os mais sensíveis, e os que creem em possessão, demônios e outras coisas macabras.

Baseado numa história supostamente real que aconteceu em 1971, Carolyn (Lili Taylor) e Roger Perron (Ron Livingston) se mudam para uma casa de campo em Rhode Island. Eles e suas cinco filhas logo começam a se deparar com estranhos sons e cheiros na casa. Quando os eventos começam a ficar mais constantes e perigosos, Carolyn consegue entrar em contato com Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), um famoso casal especializado em demonologia e no oculto. Constatando que a família corre perigo por causa de uma antiga maldição, eles se preparam para enfrentar um mal que nenhum dos dois tinha visto até então.

O diretor James Wan consegue transformar um mundo alegre de uma família grande e que tem um sonho realizado num verdadeiro horror. Começa pela paleta de cores da fotografia, mais cinza e com tons pasteis, quase vintage. Além de emular cores setentistas, o diretor de fotografia John R Leonetti usa desse artifício para saturar toda a experiência que os Warren estavam passando. Com exceção de uma fotografia colorida de um período de férias, que Carolyn diz ter sido o último momento feliz deles, todo o clima é muito carregado e melancólico. É um peso que acompanha toda a projeção, como uma névoa que permeia todos os envolvidos.

Os movimentos de câmera são ótimas adições na trama. O diretor mistura estática e movimento para criar tensão. Numa investida inteligente, Wan mantém o tripé fixo nas cenas do lado de fora da casa dos Perron. E do lado de dentro, a câmera na mão é usada na maior parte, indicando uma presença, um observador que não é o espectador do filme. Os planos longos também são opressivos porque seguem os personagens na exploração de barulhos e vultos. E é ótimo quando os sustos vem dessa situação, porque o elemento não é jogado na nossa cara, e estava ali o tempo todo, mas você só percebe com a mudança de ângulo quando já é tarde. A cena da escada, quando Roger acorda e investiga barulhos e se espanta com a presença de uma das filhas parada na escada, é um susto genuíno.

Existem elementos que já foram usados em outros filmes de terror e repetidos aqui, mas isso não tira a qualidade da história. O design de som é muito vívido, e é interessante quando Wan consegue sincronizar as batidas sinistras com as do coração dos personagens. E não se surpreenda ao perceber que o diretor conseguiu perceber quais são as suas batidas. É essa é uma impressão que fica.

A surpresa fica pela pergunta que tanto fazem. O filme assusta ou não? Os mais sensíveis provavelmente darão mais pulos, e alguns mais céticos repetirão que é só mais um filme. É uma pena que Wan não consiga manter o ritmo de sustos subjetivos, quando na metade do filme tira a presença que estava nas sombras e a mostra de corpo inteiro. Ainda assim, até mesmo quem é mais acostumado com filmes de terror, deve levar um susto ou dois. Outras decisões técnicas também agradam, como na cena de investigação do porão, onde a razão de aspecto muda e se transforma num plano sequência. Por outro lado, Wan usa muitas vezes zooms da câmera, ao invés de se aproximar com ela do seu foco. Isso tira beleza do filme, deixando-o mais artificial.

A maior força de “Invocação do Mal” é a empatia criada com os personagens. Você simpatiza por causa do que aquela família está passando, desde a perda do cachorro até quando a entidade torna a situação pessoal e perigosa, na marcante cena em que todos os retratos dos Perron pendurados caem subitamente no chão. É uma pena que a mesma relação não é estabelecida com Ed e Lorraine. No fim das contas, é digno de se assistir. Se possível, numa sala grande de cinema, com pouca gente em volta. Mergulhar assim na tensão vai ser interessante.

Não há cena pós-créditos, mas fique um pouco durante eles para ver fotos e relatos reais dos Perron e dos Warren – uma necessidade presente nos cineastas para provar que a história foi realmente baseada em fatos reais . O filme provavelmente terá uma sequência, por causa da relação estabelecida entre uma casa e outra, envolvendo um espírito vingativo, numa cena que com a perturbadora boneca Anabel, criando gordura para a um novo capítulo.


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