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Coletiva: O TEMPO E O VENTO


por Beto Besant

Livremente adaptado da obra O Continente (de Érico Veríssimo), o filme parte de uma noite de conflito entra duas famílias gaúchas rivais onde Bibiana (Fernanda Montenegro) recebe a visita de seu grande amor, o capitão Rodrigo, morto há décadas. Assim, ela lhe conta 150 anos de história de sua família. 





A máxima de que “cinema é imagem” neste filme deveria ser mudada para: cinema não é apenas imagem. Alardeado como o primeiro filme no mundo finalizado em 4K (algo como uma super definição) logo percebemos a velha máxima: quando um filme não se sustenta sozinho, usa-se argumentos de ineditismo em algum outro quesito. Dirigido pelo renomado diretor de telenovelas Jayme Monjardim, O Tempo e o Vento é uma sucessão de equívocos. 


Na coletiva, o diretor já começou se justificando que gosta de fazer histórias populares, fáceis de entender, com início meio e fim. Isso mostrou que ele sabia que seria criticado pelo tom novelesco da trama. Tudo no filme nos dá a estranha sensação de estarmos assistindo a uma novela em tela grande: da forma didática com que Bibiana conta a saga da família ao elenco recheado de estrelas da TV Globo, que parece querer atrair para as salas de cinema o público habituado às produções televisivas. Nem os 27 tratamentos do roteiro, escrito por Tabajara Ruas e Letícia Wierzchowski, foram capazes de salvá-lo. Na ânsia de querer contar o romance, a guerra entre as famílias e tudo que aconteceu com a família de Bibiana e com o Capitão Rodrigo, o roteiro não consegue se aprofundar em nada, como se fosse o trailer de uma série de TV. 

Vemos tudo acontecer numa velocidade assombrosa e não nos identificamos com nenhum dos personagens. A trilha sonora (belíssima composição de Alexandre Guerra) além de sempre acentuar o melodrama ou heroísmo, é de uma constância ensurdecedora. Não sei se foi um erro do compositor ou do diretor, mas o fato é que o filme parece querer fazer com que a trilha sonora obtenha do público a emoção que o roteiro não consegue. E não dá um minuto de descanso aos nossos ouvidos, como um longo trailer de publicidade. 


O elenco em geral está bem. Thiago Lacerda, que carrega a pecha de um galã de novela, está muito convincente como capitão Rodrigo. Principalmente na cena em que ele está bêbado e não dá importância ao grave estado de saúde de sua filha recém-nascida. Fernanda Montenegro está bem como sempre, mas não excepcional. Cléo Pires e Suzana Pires são o ponto fraco entre as atuações, que contam ainda com dois estrangeiros: o argentino Martin Rodriguez e o uruguaio César Troncoso (sempre ótimo). 

Apesar de tudo, o filme conta com a belíssima fotografia de Affonso Beato (que trabalhou até com Pedro Almodóvar) em lindas paisagens alaranjadas bem ao estilo E O Vento Levou. Monjardim confessa que filmou a mais para que o filme possa ser alongado para a exibição na TV Globo como minissérie. E diz que não teria feito o filme se Fernanda Montenegro não aceitasse interpretar Bibiana. Talvez fosse o caso da atriz ter pensado melhor antes de aceitar o personagem.



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