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O CONCURSO


por Tiago Paes de Lira
 
Vejam a analogia surpreendente que nos é colocada no começo desse petardo: um número sobre a quantidade de pessoas que prestam concursos e em média quantos cada pessoa passa para conseguir entrar em um desses concorridos cargos. O diretor parece ter se espelhado na sua própria carreira, com um dezena de novelas dirigidas, emulando o seu preparo para o cinema, a tão desejada tela grande. É a vida de Pedro Vasconcelos, figuradamente, em película. E ele conseguiu? Não! Junto do roteirista LG Tubaldini Jr, esta produção é irritante em praticamente todos os sentidos, e figura facilmente na lista de piores produções do ano.

Num começo que emula “Se Beber, Não Case” (The Hangover, 2009), o filme centra em quatro personagens que concorrem ao disputado cargo de juiz federal, num
concurso que ocorrerá no Rio de Janeiro. O diretor usa estereótipos ambulantes para seus personagens: Caio (Danton Mello) é o carioca malandro; Rogério Carlos (Fábio Porchat) é o gaúcho com a masculinidade questionável; Bernardo (Rodrigo Pandolfo) o interiorano nerd de cabelo lambido que ainda mora com a mãe, e Freitas (Anderson Di Rizzi) que apela para a religião como sua sorte. Quando Caio sugere aos colegas que eles devem comprar o gabarito da prova das mãos de mafioso do morro carioca, as coisas fogem do controle, e essa turma só vai arranjar confusão – frase no melhor estilo narrador Sessão da Tarde.

 
Prefiro começar com o único aspecto que esse filme tem alguma qualidade: a fotografia. Entendam, não é nada de diferente ou impressionante. É bem comum, mas está anos à frente do estilo hiper-iluminado das novelas, que não existem nuances, e onde as pessoas vão dormir de luz acessa. Então, Vasconcelos e o diretor de fotografia usam mudanças na cena onde cada um imagina como seria voltar como um derrotado para suas cidades de origem, depois na festa que acontece no morro, e só. Depois, é tudo ladeira abaixo.

Em suma, esse filme é o mundo cão dentro da tela grande. Os produtores esperam que o espectador ria de coisas que parecem ter sido tiradas de programas de auditório do pior tipo. Então, vemos uma luta entre dois pequenos – anões, se preferirem – draq queens se espancando, piadas bairristas – “gaúcho que fracassa é catarinense” -, piadas repetidas – Caio usa a mesma em menos de quinze minutos: “Isso não é crime. No máximo, uma contravençãozinha” – e a triste presença da atiradora de facas Martinha Pinéu (Sabrina Sato) que apela para palavras de baixo calão para arrancar alguma risada que seja.

 
 
Mas quando a ex-BBB fala para Bernardo “se você não me comer, eu te mato” o sentimento é repulsa, talvez vergonha. A graça passou longe daqui. É uma tentativa pífia de criar uma personagem feminina forte, desbocada e dominadora sexual, mas que ao mesmo tempo é submissa e se sujeita a qualquer coisa pelo suposto amor da vida dela. Resumindo, apesar do diretor ter comparado o talento da apresentadora com o de Fernanda Montenegro, você sente vê claramente que Sabrina Sato não é atriz. E ela mesmo admite isso em outra entrevista.

Uma piadinha ou outra dá certo, como o sonho da mãe de Bernardo dele ser alguém importante como “funcionário público dos Correios ou do Banco do Brasil”, e a questão dos cupons de compras coletivas de internet serem uma dor de cabeça, mas a maioria não se salva. Nem mesmo as que aparecem no trailer, o que é bem raro. E, se você gostar do assunto, Sabrina Sato aparece de calcinha e sutiã na tela grande. A cena é antecedida por outra bem ridícula, envolvendo chimarrão e a propaganda descarada de uma empresa de lâminas de barbear. Considerem como uma recompensa pelo tanto que o diretor já te fez passar.
O Concurso representa o que há de pior no cinema nacional: é uma comédia fraca, cheia de momentos preconceituosos e que espera chamar mais público com uma carinha famosa na divulgação. Infelizmente, a comédia brasileira no cinema continua sendo usada como antítese do seu próprio gênero. Os produtores tem que aprender mais com os dramas para que o estigma do nosso próprio com o cinema nacional – as máximas “é bom, apesar de brasileiro” ou “é ruim, tinha que ser brasileiro" – desapareça. Não falta gente disposta, mas sim empenho e uma determinação de não aceitar qualquer coisa que se apresente como roteiro. Infelizmente, se quisermos da risada com o cinema nacional vamos ter que esperar mais um pouco. Aqui, se acha pouco, se é que existe algum.
 
 


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