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TESE SOBRE UM HOMICÍDIO (Tesis sobre un homicidio)



por Roberto Bouchiglioni

A importância dos detalhes é uma ideia que se repete ao longo desta “Tese Sobre um Homicídio”, uma coprodução hispano-argentina dirigida pelo argentino Hernán Goldfrid (de Música em espera, 2009). O roteiro, escrito por Patrick Vega, é baseado em um romance homônimo, do escritor Diego Paszkowski.

Roberto Bermudez (Ricardo Darin), especialista em Direito Penal, está envolvido na investigação de um crime que aconteceu no estacionamento da Faculdade de Direito, a poucos metros da sala de aula onde leciona, em Buenos Aires.

Bermudez toma a solução do caso como um desafio pessoal depois de um pouco de pesquisa e reflexão, pois tem razão para acreditar que o culpado é Gonzalo Cordera (Alberto Ammann), um dos alunos que mais se sobressaem no seminário ministrado por ele.

Gonzalo, idealista, não mora na Argentina. É um advogado promissor em início de carreira e decidiu especializar-se na pós-graduação, escolhendo ser orientado por este a quem aprendeu a admirar, mesmo à distância: Bermudez formou-se com o pai dele - Felipe Ruiz Cordera, hoje juiz na Espanha - e foi, por longos anos, amigo íntimo da família. A fim de aproveitar ao máximo a proximidade com o mestre, Gonzalo sempre busca o diálogo. Num dos encontros, na tarde de autógrafos de lançamento do livro escrito por Bermudez, Gonzalo faz menção a Nêmesis, deusa grega da indignação e do castigo, que perseguia os perpetradores de crimes impunes. Na concepção do mestre, Nêmesis é a deusa da vingança.

A obsessão germina na mente de Bermudez e se espalha por seu corpo como uma doença. O professor estimado, bem relacionado também no meio policial de Buenos Aires, se convence de que o assassino vai matar novamente, para demonstrar seu ideal de justiça. Bermudez fará todo o possível para proteger quem poderia ser, em sua visão, a próxima vítima, no caso a irmã da jovem assassinada. A menina que corre perigo chama-se Laura Di Natale (Calu Rivero). Ela passa a ocupar a lacuna deixada pela irmã no restaurante em frente à Faculdade de Direito, trabalhando como garçonete.

Neste aspecto, a adaptação do roteiro segue um caminho diferente do material original: enquanto no livro a história é contada a partir de dois diferentes pontos de vista (a atuação da polícia de Buenos Aires também é levada em conta), o filme centra-se em Bermudez. Se por um lado a decisão permitiu melhor emprego do suspense ao criar sequências de investigações do especialista, com narrativa em primeira pessoa, propiciou a contrapartida de tornar a trama condutora em excesso, deixando pouco espaço para as conclusões do espectador. Será?


Há evidências sutis de que Bermudez, desde o início do seminário, não se sente confortável com a presença de Gonzalo, em razão do passado, da convivência que teve com a família Cordera. Ao resgatar de sua estante antigo projetor de slides, há muito aposentado, Bermudez demonstra inquietação. As imagens do aniversário de sete anos do garoto Gonzalo, na casa dos Cordera, mesclam-se com os pensamentos obsessivos de Bermudez. Parece que todos nós, na sala de cinema, desvendamos o crime junto com o protagonista. Será?

Aspecto fundamental - talvez mais importante que trazer à luz o autor do crime - é tratado no diálogo de Bermudez com a psicóloga que é sua ex-mulher (interpretada por Mara Bestelli), a quem ele recorre para melhor entender os traços psicóticos do criminoso. Ela questiona, enfim: qual o destino que Bermudez quer dar ao final deste excelente filme? Trata-se de sustentar aquilo que ele crê que seja a verdade, ou de criar condições para que se faça a justiça? Muitas vezes - nem sempre - duas perguntas tem a mesma resposta.


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O CONCURSO


por Tiago Paes de Lira
 
Vejam a analogia surpreendente que nos é colocada no começo desse petardo: um número sobre a quantidade de pessoas que prestam concursos e em média quantos cada pessoa passa para conseguir entrar em um desses concorridos cargos. O diretor parece ter se espelhado na sua própria carreira, com um dezena de novelas dirigidas, emulando o seu preparo para o cinema, a tão desejada tela grande. É a vida de Pedro Vasconcelos, figuradamente, em película. E ele conseguiu? Não! Junto do roteirista LG Tubaldini Jr, esta produção é irritante em praticamente todos os sentidos, e figura facilmente na lista de piores produções do ano.

Num começo que emula “Se Beber, Não Case” (The Hangover, 2009), o filme centra em quatro personagens que concorrem ao disputado cargo de juiz federal, num
concurso que ocorrerá no Rio de Janeiro. O diretor usa estereótipos ambulantes para seus personagens: Caio (Danton Mello) é o carioca malandro; Rogério Carlos (Fábio Porchat) é o gaúcho com a masculinidade questionável; Bernardo (Rodrigo Pandolfo) o interiorano nerd de cabelo lambido que ainda mora com a mãe, e Freitas (Anderson Di Rizzi) que apela para a religião como sua sorte. Quando Caio sugere aos colegas que eles devem comprar o gabarito da prova das mãos de mafioso do morro carioca, as coisas fogem do controle, e essa turma só vai arranjar confusão – frase no melhor estilo narrador Sessão da Tarde.

 
Prefiro começar com o único aspecto que esse filme tem alguma qualidade: a fotografia. Entendam, não é nada de diferente ou impressionante. É bem comum, mas está anos à frente do estilo hiper-iluminado das novelas, que não existem nuances, e onde as pessoas vão dormir de luz acessa. Então, Vasconcelos e o diretor de fotografia usam mudanças na cena onde cada um imagina como seria voltar como um derrotado para suas cidades de origem, depois na festa que acontece no morro, e só. Depois, é tudo ladeira abaixo.

Em suma, esse filme é o mundo cão dentro da tela grande. Os produtores esperam que o espectador ria de coisas que parecem ter sido tiradas de programas de auditório do pior tipo. Então, vemos uma luta entre dois pequenos – anões, se preferirem – draq queens se espancando, piadas bairristas – “gaúcho que fracassa é catarinense” -, piadas repetidas – Caio usa a mesma em menos de quinze minutos: “Isso não é crime. No máximo, uma contravençãozinha” – e a triste presença da atiradora de facas Martinha Pinéu (Sabrina Sato) que apela para palavras de baixo calão para arrancar alguma risada que seja.

 
 
Mas quando a ex-BBB fala para Bernardo “se você não me comer, eu te mato” o sentimento é repulsa, talvez vergonha. A graça passou longe daqui. É uma tentativa pífia de criar uma personagem feminina forte, desbocada e dominadora sexual, mas que ao mesmo tempo é submissa e se sujeita a qualquer coisa pelo suposto amor da vida dela. Resumindo, apesar do diretor ter comparado o talento da apresentadora com o de Fernanda Montenegro, você sente vê claramente que Sabrina Sato não é atriz. E ela mesmo admite isso em outra entrevista.

Uma piadinha ou outra dá certo, como o sonho da mãe de Bernardo dele ser alguém importante como “funcionário público dos Correios ou do Banco do Brasil”, e a questão dos cupons de compras coletivas de internet serem uma dor de cabeça, mas a maioria não se salva. Nem mesmo as que aparecem no trailer, o que é bem raro. E, se você gostar do assunto, Sabrina Sato aparece de calcinha e sutiã na tela grande. A cena é antecedida por outra bem ridícula, envolvendo chimarrão e a propaganda descarada de uma empresa de lâminas de barbear. Considerem como uma recompensa pelo tanto que o diretor já te fez passar.
O Concurso representa o que há de pior no cinema nacional: é uma comédia fraca, cheia de momentos preconceituosos e que espera chamar mais público com uma carinha famosa na divulgação. Infelizmente, a comédia brasileira no cinema continua sendo usada como antítese do seu próprio gênero. Os produtores tem que aprender mais com os dramas para que o estigma do nosso próprio com o cinema nacional – as máximas “é bom, apesar de brasileiro” ou “é ruim, tinha que ser brasileiro" – desapareça. Não falta gente disposta, mas sim empenho e uma determinação de não aceitar qualquer coisa que se apresente como roteiro. Infelizmente, se quisermos da risada com o cinema nacional vamos ter que esperar mais um pouco. Aqui, se acha pouco, se é que existe algum.
 
 


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TRUQUE DE MESTRE (Now You See Me)


por Beto Besant


Quatro jovens mágicos são recrutados para montarem um espetáculo digno da Broadway. São eles: a bela Henley Reeves (Isla Fisher), especialista em fuga, Merritt McKinney (Woody Harrelson), um mentalista capaz de descobrir tudo que quiser de quem estiver à sua frente, Jack Wilder (Dave Franco), especialista em "bater carteira", J. Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), especialista em truques de cartas e líder do grupo. O espetáculo chamado Os Quatro Cavaleiros faz enorme sucesso em Las Vegas, apresentando truques inéditos, como teletransportar um homem para o cofre de um banco francês e promover uma chuva de dinheiro na plateia.

Por conta deste número, a polícia francesa envia a investigadora francesa Alma (Mélanie Laurent) aos EUA investigar o caso junto com o policial do FBI Dylan Rhodes (Mark Ruffalo). Thaddeus Bradley (Morgan Freeman), é quem faz sucesso na TV desmascarando ilusionistas, que neste caso não consegue entender o que se esconde por trás dos Quatro Cavaleiros.


A direção é de Louis Leterrier (Fúria de Titãs, O Incrível Hulk, Carga Explosiva), que apesar de ter um orçamento modesto para suas pretensões tenta fazer um espetáculo de imagens extremamente impactante. Isso ajuda a disfarçar os furos no roteiro de Boaz Yakin, Ed Solomon e Edward Ricourt, que apresenta uma reviravolta a cada dez minutos, o que também ajuda a desviar a atenção dos problemas de roteiro e falta de realismo.


No meio do filme, como se pode esperar de todo filme com pretensões a blockbuster, acontecem as famosas perseguições de carro, um elemento típico deste tipo de filme.

A fotografia do filme é impecável e o elenco estelar convincente.

As imagens são bonitas e os efeitos especiais dos truques tão bem feitos, que realmente vale à pena ver o filme, claro que, como diz um amigo "deixando o cérebro em casa".
Pelo sucesso que o filme vem fazendo, percebe-se que o público não se importa mesmo com isso.


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HANNAH ARENDT


por Rogério de Moraes

Hannah Arendt já era uma pensadora de prestígio em 1962 quando se ofereceu à revista The New Yorker para cobrir, em Jerusalém, o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann.

Foi a partir do julgamento de Eichmann, conhecido como o principal responsável por arquitetar a logística da chamada “solução final” – encarregada de exterminar judeus durante os anos de Hitler no poder –, que Arendt passou a formular seu pensamento para aquilo que ela viria a denominar de a “banalidade do mal”.
Hannah era uma judia que fugira para os EUA durante os anos de perseguição na Alemanha, chegando ser presa em um campo de prisioneiros na França ocupada. Na América, tornou-se uma respeitável pensadora e professora universitária, tendo publicado obras importantes como As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958) e Sobre a Revolução (1963).

É a partir da decisão da pensadora, interpretada pela atriz Barbara Sukowa, em presenciar e relatar o julgamento do “monstro” Eichmann, que o filme Hannah Arendt inicia seu caminho em retratar a coragem da escritora e o inferno que se tornou sua vida ao levar essa coragem às últimas consequências: a publicação do artigo na revista e, depois, a publicação do livro intitulado Eichmann em Jerusalém.
Essa coragem está nas consequências que Hannah sofreu ao ter a ousadia de não demonizar Eichmann como o monstro que todos queriam ver descrito em suas palavras, especialmente a comunidade judaica. Para ela, o tal monstro não era mais que um burocrata medíocre que cumpria suas ordens sem refletir moralmente sobre suas consequências.

Para ainda maior descalabro da comunidade, Hannah não apenas afirmava que não via Eichmann como um antissemita, como teve ainda a ousadia de tocar em assuntos-tabus, como a colaboração de alguns judeus no extermínio de seu próprio povo.

Ainda que ver o filme e conhecer este aspecto da história do século 20 seja algo quase obrigatório, não se pode deixar de notar que, como narrativa de cinema, Hannah Arendt resulta numa obra burocrática, de amarração frágil e condução irregular.

Seus problemas como narrativa vão da obviedade exageradamente sublinhada à construção sem resultado de uma memória em flashback. Muitas vezes, a direção adota uma construção e encadeamento de quadros que lembram um telefilme – lembrando que a diretora, Margarethe von Trotta, tem boa parte de sua carreira na televisão. Nas vezes em que se busca um efeito cinematográfico o resultado é artificial; ora deslocado, ora dramaticamente ineficiente.
Logo na abertura do filme, pode-se perceber uma abordagem óbvia ao mostrar a protagonista, uma pensadora, pensando. Mesmo recurso televisivo que ao final fecha a narrativa, semelhante ao desfecho de qualquer episódio de telessérie. Além disso, dos enquadramentos à montagem, o filme muitas vezes insiste em sublinhar o que deveria ser sutil.

Exemplo disso é o momento em que Arendt, observando Eichmann durante o julgamento, tem o “click” para a compreensão daquilo que seria o pilar de seu artigo. O que poderia ser algo sutil torna-se um exagero de construção óbvia, com a câmera se aproximando da personagem, a música acentuando o momento e a atriz, aparentemente, sendo instruída a mudar sua expressão. Tudo isso para remeter o público a uma forçosa denotação de descoberta, de revelação.

Do artificial, fica o modo como se constrói em flashback a relação amorosa entre uma Hannah juvenil, ainda na Alemanha, e seu professor Martin Heidegger (Klaus Pohl), 17 anos mais velho. A seriedade do quão escandaloso seria para a época esta relação com um homem casado e professor universitário passa ao largo dessa lembrança, assim como não se preenche nesses flashbacks qualquer sentimento ou laço mais forte. Tudo fica no campo da burocrática amostragem a conta-gotas.

A presença dessa memória no filme pretende reforçar o efeito de uma cena perto do final, como se os flashbacks fossem a construção de um sustentáculo para amparar no fim todo um sentimento de perda emocional e sentimental a partir de um rompimento intelectual e político.

Contudo, apenas uma pequena parte desse sentimento é alcançado, muito mais pela atuação de Barbara Sukowa do que pela pretensa construção emocional da narrativa.

Ficam ainda arestas abandonadas sem maiores consequências, como é o caso da secretária de Hannah, Lotte Köhler (Julia Jentsch). O filme insiste em atribuir a ela uma devoção oblíqua, com momentos que vão da adoração à tensão homoerótica. Mas deixa pelo caminho qualquer desdobramento dessa personagem.

Enquanto filme, Hannah Arendt é uma experiência pobre, ainda que tenha o mérito de nunca descer ao ponto de se tornar cansativo. Mas esse mérito talvez esteja mais na história que o embasa do que nos seus atributos fílmicos. Mesmo assim, merece ser visto como registro de um pensamento, o pensamento de Hannah Arendt, que provoca o senso comum e instiga debates até os dias de hoje.


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GUERRA MUNDIAL Z (World War Z)


por Beto Besant

Uma misteriosa doença contamina rapidamente a população mundial. Na tentativa de conter a epidemia, o governo do Estados Unidos forma uma equipe para viajar o mundo na direção dos infectados afim de descobrir a solução. Gerry Lane (Brad Pitt) é um ex-investigador da ONU (Organização das Nações Unidas) que é convocado para formar a equipe. Apesar de sua intenção de dedicar-se mais tempo à sua mulher Karen (Mireille Enos) e suas filhas, mas decide enfrentar o problema por saber que se não for solucionado, todo o planeta estará condenado.


Aproveitando a "onda" de filmes de zumbi, Guerra Mundial Z desvia da temática sobrenatural justificando o problema como uma doença que atinge a população. Isso serviu para uma redução drástica da quantidade de sangue, o que permite com que um público de idade mais reduzida possa entrar nas salas de cinema.
Além do tema zumbi suavizado, o filme aborda o gênero cinema-catástrofe. Nada mais comercial.

Como era de se esperar de um autêntico blockbuster, o filme é uma correria sem fim. Estrelado pelo ídolo Pitt, segue a receita dos filmes comerciais. Não é preciso mais de cinco minutos para sabermos o que acontecerá durante toda a trama. Nem mesmo o patriotismo típico dos filmes americanos foi deixado de lado.

Filmes com grandes pretensões comerciais costumam ter atuações são "pasteurizadas", o elenco não passa de "peças de xadrez". Porém, para piorar, Pitt está com um cabelo "à la galã das adolescentes" que nada combina com o personagem. Nada como ser um ator influente e produtor para poder se dar a esses luxos...

Baseado no livro Guerra Mundial Z – Uma História Oral da Guerra dos Zumbis, de Max Brooks (filho e Mel Brooks), o filme começou a ser rodado antes mesmo de ter seu roteiro finalizado. Após divergências de opinião entre o astro Brad Pitt, o diretor Marc Forster, as filmagens foram paralisadas até que o roteiro fosse finalizado. Somando os problemas foram gastos quase 200 milhões de dólares. Este foi outro motivo que fez com que o filme seguisse à risca a "receita do cinema comercial".



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