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MARCELO YUKA NO CAMINHO DAS SETAS


por Beto Besant

Baterista e ex-líder da banda O Rappa, o filme aborda os altos e baixos na vida e carreira de Marcelo Yuka.
Já de início, vemos o músico baleado, sendo posto em uma ambulância enquanto seu pai se irrita com as insistentes perguntas não muito inteligentes da imprensa mais sensacionalista.

A partir daí somos apresentados ao protagonista do documentário. Do sucesso atingido pela banda, passando pela tragédia ocorrida em sua vida, até sua expulsão e retomada de sua carreira. 


O excelente documentário foi dirigido por Daniela Broitman, jornalista e amiga de Yuka, motivo pelo qual conseguiu livre acesso à vida do músico e teve o mérito de deixá-lo à vontade para expor sua vida e sua luta diária.

Com muita transparência, Yuka revela todos os problemas que vem enfrentando desde o fatídico dia em que deparou-se com uma falsa blitz e na tentativa de voltar de marcha à ré viu seu espelho retrovisor explodir, e em seguida seu braço esquerdo. 

Passada a fase onde os médicos cogitaram amputar seu braço, sua rotina é de muita dor e tentativas primárias de uma fisioterapia feita de forma intuitiva por seus amigos.

Yuka conta que após um ano do ocorrido foi surpreendido com uma reunião onde sua banda já tinha decidido expulsá-lo. Algo que considera desumano, pois não tinha condições físicas de ir aos ensaios e seus colegas não queriam ensaiar em sua casa. Em seguida vemos que o verdadeiro motivo foi financeiro, pois como letrista de todas as músicas da banda, o baterista recebia 50% dos lucros, e como cocriador das músicas levava mais 10%. Restando 10% para cada integrante.

Neste ponto é muito digna a forma com que a direção e a montagem apresentam os fatos de forma imparcial, deixando a conclusão para o público.

Após a expulsão, acompanhamos a banda F.U.R.T.O, criada pelo baterista e seu trabalho solo, onde fez uma apresentação no Rock in Rio com a cantora Cibele.

O melhor do filme é ver a rotina de dor e sofrimento do músico, que se nega qualquer tipo de autopiedade mas conta de forma franca que já cogitou o suicídio. Há momentos engraçados, onde seus pais separados discutem e ele conta vive numa guerra entre Estados Unidos e União Soviética. Também há momentos emocionantes, onde seu irmão mais jovem (fruto de um segundo casamento de seu pai) deita-se sobre seu corpo tentando demonstrar todo o carinho possível. É tocante o momento onde Yuka oferece sua prancha de surf ao irmão mas este recusa, dizendo já ter a sua. E diante da insistência diz: "Você desistiu de viver?"

Por mais que pareça contraditório, o fato de ter ficado paraplégico fez com que o músico desenvolvesse um trabalho social nas cadeias do Rio de Janeiro, pois diz que não foi vítima de um marginal, mas sim de um sistema que faz com que a população pobre tenha que viver uma vida marginal. Os próprios presidiários demonstram surpresa com a atitude de Yuka, que sempre foi engajado nas causas sociais.


Fica claro que o sofrimento diário faz com que o baterista se sujeite a qualquer tipo de tratamento, independente dos riscos envolvidos, para se livrar das dores, uma vez que, por questões minimas perdeu as chances de um tratamento que poderia fazê-lo voltar a andar.

É um filme maduro, delicado e isento de julgamentos. Apenas se propõe a mostrar, de forma respeitosa, a dura vida do agora cadeirante.


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